19 de dez. de 2014

A FORMATURA

   


   
 A chuva no dia da minha formatura começou cedo, muito cedo e entre abraços e beijos entrei no carro do meu irmão Robson entre alguns pingos que insistiam em molhar meu lindo vestido de formatura.
      A primeira marcha foi engatada e entre vários faróis vermelhos e verdes minha alma estava muita branda e meus olhos um pouco lacrimejados de emoção pelo momento único da minha vida. 
    Sentei-me delicadamente no banco traseiro do carro, abri minha bolsinha e retirei um terço e comecei a rezar agradecendo a longa caminhada e toda a minha felicidade não cabia na grande metrópole.Ah...como eu estava feliz! Gostaria que todos estivessem presentes naquele momento...mas nem todos estavam presentes, algumas pessoas não estariam lá, pois já tinham partido para outro mundo
     .O carro parou em frente a uma linda faculdade e ouvi a voz do meu irmão: Podem descer e desçam rápido pois terei que estacionar o carro um pouco mais na frente. Paramos e ainda faltavam mais algumas orações para serem rezadas e entre alguns pingos de chuva corremos para dentro da grande festa de formatura.  
     Entramos e logo avistei várias colegas de classe com um brilho nos olhos e entre abraços e beijos fiquei humildemente parada em frente a uma grande janela  observando os pingos da chuva que escorriam pela grande janela.
     Alguns raios e trovões faziam-se presentes e logo fiz uma comparação com aqueles dias de provas difíceis, as saídas rápidas de casa para não perder a aula. Abaixei a cabeça e pensei nos meus pais: José da Silva e Thereza Miranda da Silva e um pouco trémula balbuciei algumas palavras entre algumas lágrimas que desciam pelo meu rosto.
    Repentinamente uma colega de classe tocou o meu braço e disse: Você está feliz Silvinha? Abracei-a e agradeci a todos por estarem presentes naquele momento.
      Entre fotos e lágrimas a chuva continuou a cair e entre abraços e beijos senti-me plenamente feliz e novamente agradeci ao Senhor. Formei-me! Obrigada Senhor! Obrigada a todos que passaram por aquele momento todo especial.Nossa formatura.

28 de set. de 2014

SER FELIZ

      

       Ás vezes não é necessário caminhar muito para ser feliz, basta abrir a janela e observar o nascer do Sol e os primeiros raios solares invadindo seu quarto sem pedir licença e então aprumarmos a alma, despir-nos do pijama e sentar-se ao redor da mesa para degustarmos o nosso café matinal.
        Os sonhos que tivemos durante toda a noite aos poucos vão se diluindo entre a fumaça do aromático café preparado com muito carinho por mamãe que já estava de pé há vários minutos a espera do sorriso dos filhos que entram na cozinha e pedem a benção e sentam-se ao redor da mesa de madeira.
        Após servir o café para todos os filhos pequenos e vê-los comendo o apetitoso pedaço de pão quentinho que tinha acabado de sair do forno encosta o flácido corpo na parede e deixa rolar algumas lágrimas de satisfação e felicidade em ver todos os pequenos serem alimentados.
        Ainda estava faltando alguém ao redor da farta mesa e quando se escuta a porta da cozinha abrindo sorrateiramente surge papai que com o seu sorriso encantador dizendo o alto e sonoro: Bom dia!

        A gurizada se assanha e todos recebem um carinhoso beijo na testa e entre algumas observações sobre a dura semana passada sempre surgia alguma piadinha enaltecendo as alegrias e frustrações do cotidiano. Todos riam e cobriam-se com o manto da Felicidade de um domingo. Domingo de manhã!

20 de set. de 2014

ZEZINHO - O VENDEDOR DE CAFEZINHO



    
    Todos os dias Zezinho acordava bem cedinho e enquanto tomava um banho sentia o aroma agradável de café que sua mãe estava coando no pequeno cômodo de um barraco onde residia com a mãe e mais três irmãos pequenos.

        As dificuldades eram enormes para conseguir alimentos para a pobre família, a mãe era diarista em algumas casas na zona leste e o pequeno Zezinho vendia café na Rua 25 de Março no período da manhã e a tarde voltava para casa para ir para a escola.
        Após colocar as duas enormes garrafas de café em um tabuleiro de madeira rústica dirigia-se até a estação de trem para começar mais um dia de vendedor ambulante na Rua 25 de Março.
        O garoto era muito comunicativo e carismático e no próprio trajeto já ia vendendo alguns cafezinhos para os passageiros e quando descia na estação metrô São Bento pegava a Ladeira Porto Geral e ficava encostado em frente a um shopping e lá ia oferecendo os cafezinhos para todas as pessoas que passavam apressadamente com enormes sacolas entrando e saindo das lojas.
        Salim todos os dias via o garotinho vendendo cafezinho e em um determinado dia resolveu conhecer quem era aquele próspero garotinho falante e sorridente e cautelosamente aproximou-se de Zezinho e disse:
- Parabéns garoto, Qual é o seu nome?
Zezinho esboçou um sorriso tímido e disse:
- Meu nome é Zezinho e estou vendendo cafezinho quentinho que minha mãe preparou para o senhor!
Salim sorriu e pediu um café para Zezinho e enquanto estava bebendo o aromático café disse para Zezinho:
- Você não está com fome? Não quer comer algumas esfias?
Zezinho disse que necessitava terminar de vender todo o café e foi então que Salim disse:
- Quantos cafés falta para você vender?
Não sei.. mas creio que ainda faltam uns vinte cafezinhos!
Salim passou a mão no cabelo de Zezinho e disse:
- Ora Zezinho eu compro os vinte cafezinhos e vamos comer algumas esfias que estou morrendo de fome.
Salim e Zezinho seguiram desviando da lotada multidão da Rua 25 de Março para uma casa Árabe, entraram e sentaram-se em alguns bancos altos e pediram vários tipos de salgados e enquanto os dois comiam os quitutes Salim movido por uma inquietante nostalgia começou a contar os primeiros anos em que chegou ao Brasil:
Sabe Zezinho eu quando era jovem e chegamos aqui nesta terra maravilhosa eu tinha muita vontade de estabelecer-me como um grande comerciante e assim que desembarquei no porto de Santos segui direto para casa de um primo que tinha lojinha aqui na Rua 25 de Março e recebeu-me muito bem e assim comecei a comercializar quase todo o tipo de mercadoria em duas grandes malas que eu carregava com muito esforço pelo interior do estado de São Paulo.
        Vida difícil naquela época porque tinha que bater de casa em casa oferecendo de tudo um pouco, desde canivetes, perfumes, carteiras, cintos e lindos cortes de panos e ainda sofria muito porque não sabia a língua dos brasileiros.
        Zezinho deu mais uma dentada na espiha e perguntou:
- Mas como o senhor fazia para falar com as outras pessoas?
- Ah..(Salim deu um sorriso encantador) e disse:
Eu pedia ajuda para o povo e dizia que estava tudo bem e até podia pagar depois e o povo gostava porque minha mercadoria era muito baratinho e assim eu fui negociando por vários meses e até aconteceu uma história engraçada em um determinado dia eu cheguei em uma casa e a mulher pediu para que eu levasse na próxima visita um radinho e como eu não entendi muito bem levei pra ela um ratinho de pano e ela ficou muito brava e depois sorriu muito e convidou Salim para beber um café e ainda comprou muitos perfumes de Salim.
Notava-se que Zezinho estava encantado com as histórias de Salim e foi então que perguntou:
- Mas amigo, e sua família, você não ficava com muitas saudades?
Os olhos de Salim lacrimejaram e com a voz embargada disse:
- Sabe Zezinho, às vezes eu ia dormir em pequenos quartos das cidades em que eu ia comercializar e meus pensamentos estavam todos na minha terra, nos meus pais, mas tinha que prosseguir e assim entre uma conversa aqui e outra conversa ali conseguia forças para seguir sempre sorrindo embora meu coração sofresse calado de saudades...
        As pessoas que entravam na casa de quitutes observavam a conversa daquele senhor idoso e aquele garotinho que deixava o ancião falar e apenas restringia a ouvir as histórias com muita admiração.
        Zezinho, você está estudando atualmente?
Zezinho balançou a cabeça afirmativamente e balbuciou um sim.
- Tem irmãos, pai, mãe?
- Sim, tenho três irmãozinhos e apenas mamãe.
Onde você mora?
- Moro muito longe daqui, Zona Leste, tenho que pegar o trem todos os dias para vir vender os meus cafezinhos.
Salim disse que gostaria de conhecer a família de Zezinho e foi então que Zezinho sorriu e disse:
- Mas o senhor vai ter que andar de trem, o senhor já andou de trem alguma vez na vida?
Salim riu e disse:
- Mas Zezinho o que eu mais fiz na minha vida foi andar de trem que saia da Estação da Luz com destino as cidades do interior e depois voltava de trem também.
- Senhor Salim, naquela época os trens eram lotados também ou não?
- Não Zezinho, naquela época os trens que seguiam para o interior todos tinham que estar sentados para poder viajar...era muito bom poder observar as paisagens com várias árvores, gados, lindas casinhas na beira da ferrovia..ainda sinto saudades...muitas saudades daquele nostálgico tempo.
As perguntas de Zezinho não cessavam e Salim procurava responder todas as perguntas com muita atenção e foi que repentinamente Zezinho levantou-se do banco em que estava sentado e disse:
- Desculpa-me senhor Salim, mas necessito ir embora senão minha mãe irá ficar muito preocupada com minha ausência.
Salim pagou a conta e saíram conversando até o estacionamento onde Salim pegou o carro e foi levar Zezinho até sua casa para conhecer a família daquele pequeno garoto morador da periferia e assim que chegou à residência a mãe de Zezinho ficou muito espantada e perguntou o que estava acontecendo e foi então que Salim disse:
- Não é nada não, apenas fiz questão de trazer o Zezinho até aqui para conhecê-los melhor e poder oferecer alguma ajuda para vocês caso concordem.
Dona Matilde, mãe do Zezinho não tinha palavras e convidou Salim para entrar e beber uma xícara de café enquanto ouvia mais algumas histórias de Salim.

A partir daquele dia todos os meses Salim fazia questão de levar mantimentos, roupas para as crianças e ajudar aquela pobre família que ficou muito feliz com o bondoso Salim. Um próspero comerciante da Rua 25 de Março.

20 de jul. de 2014

O REENCONTRO

           

           Desci apressadamente as escadas do metrô Sé para embarcar para a Zona Leste da cidade de São Paulo e naquela época às dezoito horas a estação sempre estava lotada de pessoas querendo retornar para casa depois de um árduo dia de trabalho.
         Olhei as enormes filas para comprar o bilhete e optei por uma que parecia um pouco menor que as outras e lá eu fiquei aguardando pacientemente minha vez enquanto terminava de ler um livro entre um olho na página e outro na frenética movimentação de passageiros e barulho das locomotivas chegando e partindo da estação.
         A fila movia-se lentamente e quando chegou minha vez de comprar o bilhete, cheguei bem perto do arrecadador e disse:
- Uma passagem única! E foi quando ouvi o arrecadador dizer:
- Luiz! Quanto tempo! Espera um minutinho que irei sair para dar um abraço em você.
O rapaz saiu do guichê de arrecadação e simplesmente abandonou a fila e veio todo sorridente dizendo:
- Caramba amigão, que saudades! Por onde você anda, lembra-se de mim?
Fiz uma cara de interrogação e respondi nervosamente:
- Não, não lembro de você não, o que quer comigo? De onde nos conhecemos? O rapaz barbudinho sorriu e disse:
- Fomos amigos de classe em 1.971 no Ginásio Estadual Cidade de Hiroshima em Itaquera, lembra-se?
Passei a mão na cabeça e novamente disse:
- Desculpa “amigo” mas não estou lembrando da sua nobre pessoa, que tal entrar para o guichê e vender o bilhete, caso contrário irei a outro guichê.
O rapaz sorriu novamente e disse:
- Meu nome é Marcelo que namorava a Berenice na quarta série do curso ginasial e após alguns meses de namoro com a Berenice você começou a namorá-la deixando eu muito triste, lembra-se agora?
Afastei-me um pouco do Marcelo e meio sem graça disse:
- Claro que lembro, mas tudo já passou e agora nem mais sabemos por anda a Berenice e apertei a mão do antigo aluno da escola.
O rapaz sorriu e disse: A Berenice está em casa, pois ela é minha esposa!
Novamente fiquei muito surpreso e enquanto o Marcelo entrava para o guichê para vender-me o bilhete ainda sobrou tempo de escutarmos dos passageiros apressados: Encontros de velhos amigos!

- Aparece lá em casa para fazermos um churrasco, aqui está o meu cartão! Disse o velho amigo. Enfiei o cartão no bolso traseiro da minha calça e desci rapidamente a escada rolante pensando no reencontro depois de trinta anos. 

8 de jul. de 2014

O CIRCO DA VIDA

           Todos os dias ao abrir a janela do meu trailer avisto a grande lona azul do circo da vida recebendo os primeiros raios de sol e convidando-me para o passeio matutino ao redor do grande terreno destinado a nossa apresentação diária.
         O caminho não é longo e entre um obstáculo e outro vou inalando a suave brisa daquela linda manhã de inverno entre recordações de personagens que passaram pela minha vida e contracenaram comigo embaixo daquela imensa lona azul.
         Algumas galinhas ciscam ao redor dos trailers e o cantar de um galo desperta-me uma saudosa recordação de um personagem que tive o grande prazer de atuar sob a grande lona azul.
         Existem alguns personagens que são convidados a participarem do show da nossa vida e simplesmente sorriem e dizem: Claro que aceito, quando será a estreia?
         Entre sorrisos abraçam-se e caminham vagarosamente até o camarim para prepararem-se para a grande estreia e entram em cena sob aplausos da plateia e após um longo período atuando juntos aquele personagem diz que irá estrear em outro circo.
         Após a última apresentação as cortinas fecham-se, todas as pessoas saem silenciosamente comentando a maravilhosa atuação daquele saudoso personagem, (Acácio), que agora atuará em outra dimensão.

         Todos os dias novos atores estão estreando e sempre ouvindo histórias fantásticas daqueles que partiram e deixaram muitas saudades entre nós. O espetáculo não pode parar, abrem-se as cortinas e ouve-se um novo chorinho dentro da grande lona azul, do circo da vida.

22 de jun. de 2014

SENESCÊNCIA

    

    E quando somos detentores de uma vasta experiência de vida somos convidados a preparar nossa malinha para a morte. Para algumas pessoas até este direito é negado e não há tempo suficiente para despedidas, simplesmente é ceifado o convívio entre os mortais e pronto.
         Mas antes das despedidas a maioria das pessoas conseguem ficar velhas, é como se fosse um preparatório para a passagem para outra vida esta etapa é a mais difícil, pois já não temos mais aquela disposição em encarar a vida com muita naturalidade, os passos tornam-se lentos, a memória começa a dar os primeiros sintomas de esquecimento e toda aquela alegria de outrora fica acanhadamente entre sorrisos em bocas desdentadas.
         As primeiras dores começam a aparecer pelo flácido corpo que insiste em estar ereto, as praias são trocadas por farmácias, os cassinos e puteiros dão lugar aos consultórios médicos e a contabilidade da vida é atualizada diariamente entre pensamentos repletos de nostalgias.
         As missas que outrora eram acompanhadas somente em batizados ou casamentos tornam-se constantes e aquele sentimento de tentar cavar um lugarzinho no céu faz da fé a prioridade do cotidiano.
         A visão um pouco turva requer lentes mais espessas e perder os óculos em um canto qualquer da casa faz parte do todo envelhecimento saudável, feliz é quem tem alguém que possa ajuda-lo nesta árdua tarefa.
         Os banhos são mais demorados e os movimentos bem mais lentos e quando cai o sabonete no chão a única opção é pegar outro sabonete, pois caso opte em agachar corre o sério risco em ficar curvado por bons pares de dias.

         Ao olhar para o espelho e observar tantas rugas traz aquele sentimento de caminho trilhado entre morros e mares em busca da felicidade e a satisfação mistura-se com um sorriso de alegria em receber este troféu dado por Deus. Envelhecer.

20 de jun. de 2014

Simples, Alegre e Inteligente

   
Andando por este mundo de vez em quando tropeçamos com pessoas de todo o tipo e às vezes temos sorte em encontrar pessoas que conseguem nos cativar pelo sorriso e pelas primeiras palavras.
       Levantei-me as duas horas da manhã com uma vontade enorme de beber algumas cervejas em um quiosque na praia do Perequê-Açu em Ubatuba, São Paulo, Brasil.
       A princípio não haveria a necessidade de ir até o quiosque, pois eu já tinha passado o dia todo naquela mesma praia vendendo sorvetes, mas algo impulsionava a minha ida para conversar com pessoas jamais vistas, respirar o delicioso ar da madrugada e receber a maravilhosa brisa vinda do mar.
       Em poucos minutos coloquei-me em pé e fui caminhando pela rua deserta pensando nas novas amizades feitas na praia e às vezes ria alto de alguma piada que eu escutara entre a venda de um picolé e outro.
       Cheguei sorrateiramente no quiosque e logo fui saudado pelo Rodrigo, um dos sócios do quiosque que disse:
- Caramba Luiz, isto é que é gostar de praia! Acabou de sair daqui agora a pouco e já está de volta?
Sorri amigavelmente, balancei a cabeça e respondi:
- Pois é Rodrigo, senti falta do barulho das ondas e como não conseguia dormir vim aqui para ver o amanhecer do dia enquanto degusto algumas porções de camarão e algumas cervejas bem geladas.
       Não foi necessário mais nenhuma palavra, o Rodrigo afastou uma cadeira e disse:
- Pode sentar amigo, hoje você encontrará duas pessoas muito especiais assim como você.
       Não demorou muito e a cerveja já estava servida em um copo decorado com o logo do quiosque e eu com os olhos perdidos no mar a imaginar os pescadores que já estavam se preparando para colocar os barcos no mar e entre um gole e outro eu olhava o quiosque totalmente vazio, alguns galos a cantar ao longe e o Rodrigo sempre dizendo que as pessoas especiais já estavam chegando.
       Repentinamente entrou um casal no quiosque e foram saudar o proprietário Rodrigo e depois de vários abraços e sorrisos caminharam em direção a mesa em que eu estava sendo servido e o Rodrigo disse:
- Ai está Luiz, estas duas pessoas são as mais raras que conheci ao longo dos meus dez anos de praia. Cumprimentamo-nos e o casal sentou-se educadamente ao meu lado e apresentaram-se:
Mayara e Luigi eram casados e não moravam no Brasil, eram italianos e uma vez por ano faziam questão de reservar um mês para passear pelas belas praias brasileiras e Ubatuba sempre estava no roteiro dos dois.
       Fiquei um pouco apreensivo com os dois e quando acabamos de nos apresentar, Mayara levantou-se e deu um abraço bem apertado em mim e assim procedeu o Luigi que disse:
- Se vocês soubessem como gostamos de vocês, é algo inexplicável!
E eu perguntei: O que vocês mais gostam da gente, de nós brasileiros?
Luigi pediu licença e disse: Da maneira espontânea de fazer amizade, do sorriso, da alegria, do gingado, da maneira como somos tratados em todos os lugares por onde passamos por aqui, do clima.
       Sutilmente perguntei o que eles faziam da vida, se trabalhavam ou simplesmente passeavam pelo mundo e a resposta veio da voz pausada e um pouco rouca da nova amiga Mayara.
- Sabe Luiz, trabalhamos em um asilo, com pessoas que estão nos seus últimos momentos entre nós e adoramos aquilo que fazemos.
Foi então que nossa porção de camarão chegou e eu perguntei:
Sim, entendo perfeitamente, mas o que vocês fazem neste asilo?
- Somos voluntários, somos médicos e nossa missão é atender todos com muito carinho e amor e os olhos de Mayara lacrimejaram momentaneamente.
       Então eu estava diante de dois médicos e aproveitei o momento e pedi licença para contar uma piada de médicos e ambos balançaram a cabeça positivamente e após o término da piada ríamos muito e Mayara disse:
- É isto que nos leva a gostar de vocês: A alegria, o sorriso leve e solto esparramado por onde anda, pessoas simples e de bem com a vida, exalando bem estar e sem neuras.
       Contei um bom pedaço da minha vida e ficaram encantados em saber que eu era apenas um simples vendedor de sorvetes na praia, sabia falar inglês e adorava a madrugada, ver o raiar do Sol e conhecer novas pessoas.
       Ouvi calado entre um gole de cerveja e outro um pouco da vida dos meus novos amigos e levantamo-nos para apreciar o raiar do Sol que naquele exato momento já estava começando a aparecer no horizonte.
       Demos as mãos e rezamos a Deus agradecendo aquele momento sublime que nos dera de presente e após alguns minutos calados e encantados com rara beleza voltamos a nossa mesa e foi quando eu disse que iria embora e o Luigi disse:
- Mas Luiz, já vai? Gostaríamos de convidá-lo a mostrar algumas praias que você conhece, ficaríamos encantados com sua presença entre nós!
Esbocei um sorriso de satisfação e alegria e aceitei o convite e após nos despedirmos do Rodrigo caminhamos até o Trailer em que eles estavam dirigindo por Ubatuba e fomos conhecer novas praias durante duas semanas repletas de alegria, conforto, simplicidade.

Uma bela amizade feita na simplicidade de uma noite em um quiosque entre muitos risos e alegria de viver: Viver com pessoas simples, alegres e inteligentes assim como Mayara e Luigi. Obrigado amigos!

16 de jun. de 2014

AS PELADAS DE RUA

       

  


      Feliz foi o garoto que morou na periferia de uma grande metrópole na década de 60 onde a maioria das ruas eram de terra.   

Não existia hora marcada para iniciarmos nossa partida de futebol na esburacada rua de terra chamada Caxinguelê que ficava no bairro da Cidade A.E.Carvalho, zona leste da cidade de São Paulo.
      Sempre que conseguíamos reunir mais de dez moleques nós caminhávamos até a casa do Nelsinho para convidá-lo para o jogo, pois o mesmo era proprietário da bola.
       Quase sempre dona Neusa, mãe do Nelsinho atendia nosso pedido e liberava o filho e a surrada bola de capotão tão maltratada pelos nossos grosseiros pés.
       A nossa alegria contagiante era notada por todos os moradores do bairro e lá íamos nós sorrindo entre abraços para nossa pelada de rua.
       Não existia técnico de futebol e as escolhas dos jogadores eram feitas por dois garotos considerados os melhores entre nós e os piores jogadores sempre acabavam indo para o gol.
       Tudo era improvisado e qualquer objeto ao alcance dos nossos olhos serviam para marcarmos as traves, desde pedaços de tijolos, latas vazias e até mochilas de alguns garotos vindos da escola que apareciam por lá e queriam participar do nosso jogo de futebol.
       Não existia juiz e as faltas e encontrões erram marcadas pelo excesso de energia nos dribles sempre que algum jogador caia a mais de um metro de distância da bola ou quando o Marcão que era o garoto mais forte pedia para paralisarmos o jogo.
       Não existia tempo de jogo e sim um placar pré-definido: Vira cinco acaba dez.
       A bola era posicionada no meio da rua e nós saíamos correndo dando chute até na alma, similar a uma vaca brava e não demorava muito estávamos transpirando muito e bastante cansados pelo esforço físico.
       A única recomendação do Marcão era para evitarmos chutar a bola na casa do senhor Nicolau, pois se a mesma caísse no quintal do mesmo o jogo teria que terminar pois o velhinho não devolvia a nossa bola, somente para nossas mães.
       O momento mais triste das nossas peladas de rua era quando avistávamos a mãe do Nelsinho que vinha pedir para o filho entrar porque já estava ficando tarde e ele pegava a bola de capotão colocava embaixo do braço e saia muito triste pedindo desculpa para todos nós.
       O melhor jogador das nossas peladas de rua chamava cazuza, era um garoto muito franzino e tinha um drible desconcertante e quantas vezes fui para casa com dores no corpo todo de tanto ser enganado com a agilidade do cazuza.
       O suor descia pelos nossos rostos e o contato do suor com os nossos olhos cegavam nos momentaneamente e nem sempre o que chutávamos era a bola e sim a canela de quem estivesse na nossa frente.
       Nosso jogo era imediatamente interrompido quando havia a necessidade de alguma mulher com criança no colo, mulher grávida, velhinhos e algum carroceiro pediam licença para passar pela rua, fora estas pessoas o restante que se atrevia a passar pela rua era imediatamente driblado e entre alguns palavrões avistávamos a bola sendo arremessada na casa do senhor Nicolau dando por encerrado a partida de futebol de rua.
       Os meus joelhos sempre ralados e os dedões dos pés sem os tampões denunciavam que naquela semana tinha acontecido várias peladas de rua.
       Foram raros os gols que eu fiz, mas os poucos gols feitos faziam eu alimentar a ilusão em querer ser um jogador de futebol no futuro o que era imediatamente desfeito com um comentário de mamãe:
- Melhor estudar meu filho pois para jogador de futebol você não leva nem um pouquinho de jeito.
       Abria a Cartilha Caminho Suave e ficava sonhando em ser um jogador de futebol, apenas sonho, apenas um sonho bem distante da realidade. Mas valeu sonhar e poder participar das gostosas e divertidas peladas de rua.
       

10 de mai. de 2014

UMA VISITA INESPERADA

Ai tudo começou a ficar um pouco mais lento na minha vida e senti necessidade de dar uma acelerada no cotidiano e juntar somente aquilo que seria mais importante nesta fugaz vidinha.
       Preparei o local com muito esmero, abri todas as janelas e deixei entrar uma suave brisa vindo de ventos muito distantes, abri as cortinas e esparramei todos os meus arquivos pelo chão da sala.
       A alegria em ver tudo esparramado pelo chão fez os olhos da minha querida netinha brilharem de tanta felicidade e imediatamente ela disse:
- Nossa, quanta coisa, que lindo! Posso ajudar?
Coloquei a mão não queixo e dei algumas voltas ao redor da pequena mesa colocada no meio da sala e disse:
Claro querida, desde que você mostre aquilo que você quer jogar fora para eu poder dizer se é possível ou não.
       A bagunça era enorme e eu não sabia por onde começar, desviei meu olhar para o céu azul e foi quando a minha querida netinha gritou:
- Vovô, que foto linda é esta?
- É a foto da minha mãe quando ela tinha apenas 50 anos de idade.
- Mas ela é linda! Conta sobre ela para eu saber quem foi a minha querida avó?
- Claro querida, com todo o prazer, mas ela não é sua avó e sim sua bisavó!
- Mas eu quero clamá-la de avó, pode? Perguntou minha neta com ar de surpresa.
       Peguei a foto carinhosamente e algumas lágrimas correram sobre a minha face e entre o passar das mãos no rosto para enxugar as insistentes lágrimas que não queriam cessar passei a descrever quem era minha querida mãe Thereza Miranda da Silva.
       Sabe querida Mellyssa, minha mãe era uma pessoa muito boa e era espírita e ajudava todas as pessoas que necessitavam de alguma ajuda.
- Nossa que legal, então se ela fosse viva ela poderia até a ajudar nas minhas lições da escola? Disse minha neta.
- Claro querida, embora ela não tivesse muito estudo mas existia uma alegria muito grande em ajudar a todos e com certeza ajudaria você com suas lições de casa e até iria ao parquinho com você.
       Senti um vento entrando pela porta da sala e esparramando alguns papéis escritos fazia muito tempo e naquele exato momento pude ter a certeza que minha mãe estava presente entre nós observando nossa despretensiosa conversa entre neta e avô.
       Tentei mudar de assunto mostrando para minha neta os meus diplomas do curso de inglês que eu tinha feito há muitos anos e surpreendentemente ela disse:
- Nossa vovô, está na hora da gente regar nossas plantinhas!
Saímos da sala vagarosamente e fomos encher o regador e enquanto estávamos regando os pezinhos de alface que tínhamos acabado de plantar pousou um sabiá laranjeira em um pé de limão e lá ficou a cantar até terminarmos de molhar todas as plantas.
       Voltamos para a sala para terminarmos a arrumação da minha vida e minha netinha abraçou-se carinhosamente a uma bonequinha chamada Neneca e ficou olhando eu arrumar toda a bagunça e disse:
- Não chora não vovô, ela nos ama muito e está olhando por nós!

       Querida mãe Thereza Miranda da Silva, esteja onde a senhora estiver aceite um enorme abraço deste filho que jamais irá esquece-la e obrigado pela visita. Feliz dia das Mães!

27 de abr. de 2014

COPA DO MUNDO

E a copa do mundo já estava em andamento em 2002 e eu resolvi fazer uma visita a minha irmã no bairro da Vila Maria Alta em São Paulo, Brasil.
         E lá estava eu sentado confortavelmente no sofá da casa da minha irmã Sônia conversando sobre tudo com o meu cunhado Antelmo e o meu querido sobrinho Evandro fez-me um pedido:
- Tio, que tal a gente fazer alguns desenhos e pintar a rua Santa Fé do Sul?
         Aprumei-me e fiquei pensando se poderia ajuda-lo e questionei se já existia infraestrutura para começarmos a pintar a rua e foi quando ele disse:
- Ora tio não há necessidade de nada, queremos apenas que o senhor desenhe a bandeira do Brasil e alguns desenhos na rua e amanhã eu vou de casa em casa solicitando ajuda para comprarmos as tintas necessárias para pintarmos os desenhos.
         Olhei para relógio e os ponteiros assinalavam 18h30min, levantei-me e disse: Posso desenhar a rua toda mas necessito beber algumas cervejas, é possível? O meu sobrinho disse: Claro tio, dinheiro para comprar as cervejas nós temos.
         Imediatamente subi vagarosamente as escadas da casa da minha irmã com alguns giz nas mãos e resolvi iniciar o desenho da bandeira do Brasil bem em frente da casa da minha irmã e vários garotos moradores da rua e os meus sobrinhos começaram a ajudar a esticar o barbante que serviria para começar a esboçar os primeiros traços da nossa querida bandeira nacional.
         Passados alguns minutos a bandeira já estava totalmente desenhada e foi quando eu disse:
- Mas onde está a cerveja que vocês prometeram? Não existe cerveja, não existe desenho e resolvi abandonar tudo e voltar a sentar no sofá da sala da minha irmã.
         Meu sobrinho apareceu na porta da sala e pediu para eu ir até a rua e ver a surpresa que eles tinham preparado para mim e foi quando eu cheguei no portão e avistei uma enorme mesa de madeira colocada bem no meio da rua e ao lado uma imensa caixa de isopor lotada de garrafas de cervejas nadando em gelos e eu disse: Os desenhos continuam e por favor enche o primeiro copo de cerveja e arrumem uma maneira de interditar a rua para podermos trabalhar com mais segurança.
         Comecei a desenhar o piu piu chutando uma bola de futebol e quando eu estava concentrado no desenho e a rua já estava totalmente interditada com um carro do meu irmão em uma ponta e outro carro na outra ponta apareceu um garoto e questionou-me:
- O senhor é desenhista? Faz grafite? E eu agachado levantei-me e disse:
- Eu não sou nada, apenas aprendi alguns traços rudimentares de desenho e atendendo ao pedido do meu sobrinho resolvi traçar estas pífias linhas no asfalto.
         O garoto sorriu e disse se eu aceitava uma ajuda para desenhar a rua e eu imediatamente disse que qualquer traço seria bem-vindo. Sentei-me sobre a mesa e enchi meu copo de cerveja e fiquei a apreciar a habilidade daquele pequeno garoto que em apenas alguns minutos desenhou vários desenhos sobre o asfalto.
         Calmamente aproximei-me do nosso recém chegado desenhista e disse: rapaz, quanto talento! Onde aprendeu tudo isto? O jovem sorriu e disse: Trabalho como desenhista em uma agência de publicidade e vendo toda esta alegria e todo o esforço do senhor resolvi ajudar.
         A partir daquele momento eu era apenas um mero coadjuvante do desenhista que tinha chegado sorrateiramente e estava colocando todo o talento sobre o asfalto.

         Terminamos de desenhar já passava das quatro horas da manhã e o mais lindo era observar a felicidade estampada no rosto dos garotos da rua que reunidos agradeceram a nós e foram dormir prometendo que no dia seguinte todos os desenhos seriam pintados.

23 de abr. de 2014

MISSA NA ROÇA

A missa acontecia no último domingo de cada mês na pequena igreja do bairro do Ripiado em Salesópolis, estado de São Paulo.
         A simplicidade das poucas casas de pau a pique ao redor da igreja era herança dos tropeiros que cortavam estreitos caminhos carregando vários tipos de mercadorias em lombos de mulas para serem negociadas no litoral paulista.
         Neste dia todo o povoado aguardava ansiosamente a chegada do padre que vinha a cavalo abrindo e fechando porteiras e quando o mesmo chegava na vila todos reverenciavam desejando boas-vindas com muita alegria.
         Aos poucos os cavalos iam sendo amarrados ao redor do grande casarão e após a missa era servido café com vários biscoitos preparados por senhoras moradoras na roça.
         A igrejinha ficava no alto de um morro e as pessoas iam chegando lentamente e cumprimentando-se e passados alguns minutos a missa começava com o padre agradecendo a presença de todos e abrindo a bíblia pedia silêncio e ficava a orar caladamente.
         Algumas moças olhavam para o lado e para trás para poder avistar algum moço de outras vilas e serem notadas para uma posterior paquera após a missa.
         A presença de um moço morador da capital paulista chamava atenção da jovem Thereza Miranda da Silva que neste domingo tinha levado o irmão Evaristo Miranda para poder assistir à missa e assim que o moço José da Silva entrou na igreja e sentou-se ao lado daquela jovem e lá ficaram entreolhando-se entre uma oração e outra o pequeno Evaristo queria sair do banco para observar o padre mais de perto.
         Terminada a missa a jovem deixou o garoto Evaristo em frente a um altar com algumas velas na mão e disse que esperasse um pouco que iria conversar com o jovem José da Silva e assim saiu para uma conversa e possíveis paqueras entre os mesmos.
         Passados alguns minutos a jovem Thereza voltou para dentro da igrejinha para pegar o garoto Evaristo para irem beber o café com biscoitos que já estavam sendo servidos no casarão e ficou muito surpresa quando perguntou sobre as velas e soube que o garoto tinha comido todas as velas. A jovem ficou um pouco zangada com o irmão e pediu para o mesmo limpar a boca e lá seguiram para o delicioso café com biscoitos que estavam sendo servidos entre animadas conversas entre os moradores da roça.
         O padre após servir-se de alguns copos de café e comer alguns biscoitos acenava pedindo muita paz para todos e ainda teve tempo de ouvir a história das velas comidas pelo pequeno garoto.

         Aos poucos todos iam desamarrando os cavalos e cumprimentavam-se pois era chegada a hora de retornar para suas casas e aguardar a próxima missa e assim a jovem Thereza seguia para casa segurando a mão do garoto comedor de velas e assim que chegaram em casa os seus pais perguntaram se tinha tudo corrido bem e ela dizia que tudo estava ótimo e ouviu a garoto dizer: Os biscoitos estavam ótimos, mas gostei mesmo foi das velas! Entre sorrisos ia deitar-se apaixonadamente pensando na próxima missa na roça e reencontrar o querido namorado José da Silva.

15 de abr. de 2014

FELIZ ANIVERSÁRIO!

   












                                                            
                                                                  O dia estava terminando e  o  Sol ia   desaparecendo   mansamente    no horizonte atrás de grandes montanhas existentes  em  um  distante  bairro da querida cidade   de Guarulhos.
         Sentei-me em um tronco de madeira que estava embaixo de uma frondosa árvore e fiquei a admirar aquele espetáculo maravilhoso da natureza
         O Sol tinha desaparecido atrás das montanhas deixando meus olhos um pouco embaraçados e resolvi conferir se todas as pesquisas estavam feitas naquele bairro e notei que faltava apenas uma casa para ser pesquisada e pelo mapa a casa ficava na rua paralela a que eu estava.
         Desci a estreita viela e ao longe eu podia ouvir gritos e risadas de crianças que pareciam muito felizes. Parei em frente da casa e observei várias crianças correndo em todas as direções, bati palmas e logo fui atendido por um grupo de crianças que perguntaram o que eu queria.
         Esbocei um sorriso de boas-vindas e pedi para falar com o dono da casa e imediatamente um garotinho gordinho abriu a tramela do portão corroído pelo tempo, pegou minha mão e disse:
- Pode entrar moço para participar do meu aniversário, meu nome é Francisco e o pessoal me chama de Chiquinho e o nome do senhor como é?
Tentei explicar para o garotinho que eu tinha ido fazer uma pesquisa naquela residência e ele não entendeu absolutamente nada e levou-me até um banco de madeira posicionado ao lado de uma pequena mesa totalmente enfeitada e pediu para eu sentar que ele iria chamar o papai.
         O tempo foi passando e eu lá aguardando o proprietário da residência aparecer e todos que passavam  cumprimentavam-me alegremente e foi quando apareceu uma garota com uma bandeja lotada de deliciosos salgadinhos e vários copos de refrigerantes e ofereceu educadamente os salgadinhos tentei recusar mas a fome era maior e aceitei alguns salgadinhos e um copo de refrigerante.
         Passados alguns minutos apareceu uma senhora muito gorda e depositou delicadamente um enorme bolo de chocolate em cima da enfeitada mesinha e advertiu a garotada que não era para “beliscar”” e nem furar o bolo com os dedinhos inquietos até a hora que o mesmo fosse servido e ainda pediu educadamente para eu ficar vigiando a criançada para que o bolo não fosse mexido.
         Sem entender nada do ocorrido fiquei a admirar a alegria contagiante das crianças correndo por todos os cantos da casa entre gritos estridentes, bexigas estouradas e sorrisos altos.
         Algumas senhoras começaram a chamar todas as crianças existentes na casa e posicioná-las ao redor da mesa, a luz foi apagada e começaram a cantar o “Parabéns” entre alguns cliques de uma máquina fotográfica. Fui servido com uma generosa fatia de bolo e após os ânimos estarem um pouco menos acirrados fui perguntar pelo proprietário da casa que sorridente disse:
- Pois é senhor, este nome que o senhor está procurando não mora nesta casa e sim ao lado, come mais um pedaço de bolo!
         Desejei um Feliz Aniversário para o Chiquinho e lá fui eu para a casa vizinha fazer minha pesquisa.