31 de ago. de 2015

A DESPEDIDA

             Após quatro meses morando na casa do meu querido primo José Siqueira Junior em Guarulhos, São Paulo, Brasil, chegou a hora de partir. Tinha feito concurso público para trabalhar na Prefeitura de Ilhabela e me chamaram para assumir o cargo e foi em um domingo de fevereiro de 2015 que entre abraços e beijos  coloquei minha surrada barraca de camping nas costas e segui rumo a Ilha...Ilhabela.
               Eu estava muito feliz com a minha convocação e ao mesmo tempo bastante triste em ter que partir e deixar a linda família Siqueira. A despedida foi breve e assim que fechei o portão da casa e comecei a descer a rua sem saída algumas lágrimas brotaram nos meus olhos, respirei fundo, aprumei a barraca de camping no ombro e cheguei no ponto de ônibus da avenida Guarulhos. A mente vagava entre o movimentado trânsito  da avenida, encolhi minha alma, respirei fundo e peguei o ônibus para a rodoviária do Tietê. Ainda na avenida Guarulhos lembrava dos dias ensolarados em que eu vendia sorvetes para o comércio local e quando o ônibus entrou na via Dutra ainda coube a doce lembrança da querida Ednéia, proprietária da sorveteria e que tanto me ajudou. A escassez financeira assustava minha alma e planos mirabolantes movimentavam meus carcomidos neurônios em busca de soluções em como manter me em uma ilha com apenas alguns míseros trocados.
                 A movimentada rodoviária do Tietê estava repleta de pessoas chegando e partindo, num vai e vem frenético como pulsa a veia da querida cidade de São Paulo. Abraços de chegadas e lágrimas de partidas misturavam-se com gritos e alegria de algumas crianças que corriam  pelo imenso corredor da plataforma de embarque. Fechei os olhos e fiz mentalmente uma oração a todos que me ajudaram e me acolheram, persignei-me e entrei calado no ônibus com destino a São Sebastião. Sentei na poltrona dezesseis, abri meu livro e comecei a ler e quando percebi já estávamos na estrada. Alguns sorrisos de felicidade eram interrompidos  por algumas brecadas do motorista do ônibus ...a viagem prosseguia. Na região de Jacareí até São José dos Campos fechei as cortinas da janela do ônibus para apagar algumas lembranças  de pessoas, lugares..mas nada adiantou...As pessoas que tanto amei bailavam na minha mente  e algumas lágrimas de plantão apareceram nos meus olhos durante este trajeto. Na descida da Tamoios consegui cochilar e quando acordei já estávamos em São Sebastião..Ilhabela.

23 de jan. de 2015

O GUARDA-CHUVA




         



           Todas as vezes que chove em me lembro de você e ainda tenho aquele lindo guarda-chuva cor de rosa que você me deu naquele dia que sai de casa em busca de um abrigo. O tempo passou e fiz questão de guardar o guarda-chuva no meu velho guarda-roupa do meu quarto e todas às vezes que abro a porta do mesmo sinto uma saudade imensa de você.
           O tempo passou e hoje estou internado em um asilo, sozinho, rodeado de muitas árvores e muita solidão a espera de uma visita sua, todos os dias ao entardecer fico horas na frente do portão esperando sua presença que nunca acontece. 
         Outro dia começou a chover e eu retirei carinhosamente o guarda-chuva do guarda-roupa e fui até o portão esperá-la e como chovia muito o enfermeiro veio e perguntou quem eu estava esperando e quando eu disse que era você, ele sorriu carinhosamente, passou o braço sobre o meu ombro e pediu que eu entrasse pois ninguem viria visitar-me naquele dia tão chuvoso.                 Entrei silenciosamente e fui direto para o meu quarto e fiquei olhando a sua foto que fiz questão de colocá-la na parede para lembrar dos momentos felizes que passamos juntos .Talvez hoje você até esteja casada morando em outro país, muito feliz ao lado de seu marido e lindos filhos e até tenha esquecido da minha pessoa, mas saiba que jamais esqueci você.
           As pessoas por aqui são muito atenciosas comigo e na hora do almoço quando a comida é servida  faço questão de amassar todos os grãos de feijão e levar a colher a boca vagarosamente assim como fazia para alimentá-la quando você era apenas uma garotinha.
           Outro dia eu estava sentado em um banco do jardim do asilo quando avistei uma garotinha andando de bicicleta pela calçada na frente do asilo e imediatamente veio a doce lembrança de quando a ensinei a andar de bicicleta no Parque Brasil, lembra-se? 
            As alegrias por aqui resumem-se em folhear meus livros que escrevi diversas crônicas relatando os sublimes momentos vividos ao seu lado, fico horas lendo as crônicas embaixo de uma frondosa árvore, fecho-o, algumas lágrimas correm pelo meu enrugado rosto e entro para jantar e juntar-se com minha amiga solidão. Fecho os olhos e sonho com você e repentinamente sou acordado pelo enfermeiro dizendo que tenho uma visita e quando abro os olhos vejo você a minha frente sorridente trazendo um lindo buquê de flores. Entre abraços e lágrimas fecho novamente meus olhos e volto a dormir o sono eterno.