24 de fev. de 2012

O PODER DAS PALAVRAS


          Entrei na lanchonete e sentei-me num enorme balcão repleto de lindas meninas pré-universitárias. Levantei a mão e imediatamente o atendente veio ver o que eu queria e eu disse:
- Quero um lanche de pernil, uma cerveja bem gelada e se sobrar algum tempinho pede para aquela linda morena vir falar comigo!
O atendente riu e saiu apressado para preparar o meu pedido e eu fiquei esperando pacientemente com os olhos vidrados naquela linda menina toda vestida de branco, cabelos longos e pretos, um corpo escultural e uns olhos verdes maravilhosos.
O atendente chegou com meu pedido e eu imediatamente disse a ele que o pedido estava incompleto e ele sorriu e saiu sem dizer nada.
          Todos os dias eu passava naquela lanchonete e sempre encontrava a linda garota dos olhos verdes que já tinha notado meu interesse por ela através dos meus olhares diretos e freqüentes piscadas. Às vezes ela esboçava algum sorriso e virava o rosto sempre passando as mãos pelos lindos cabelos. 
         Numa sexta-feira a lanchonete estava repleta de lindas garotas e lá estava minha musa sentada no mesmo banquinho de sempre e resolvi arriscar todo o meu insignificante poder de persuasão e além da cerveja pedi ao atendente uma boa dose de conhaque para animar meus ânimos e criar coragem suficiente para abordar aquela oitava maravilha do Mundo. Após ingerir a dose de conhaque, levantei-me discretamente e dirigi-me calmamente até a linda garota e pedi gentilmente se podia conhecê-la e quando já estava esperando um surpreendente e fatídico “Não” ela disse “Sim”. Quase tive um enfarto e minha garganta secou e engasguei e consegui com muito esforço apresentar-me e dizer que estuda..... e ela imediatamente disse:
- Você faz Medicina?  Fiquei vermelho e perguntei a ela como tinha adivinhado e ela apontou uma linda jaqueta branca que eu estava usando e tinha emprestado do meu amigo Takeo que fazia Medicina na USP.
Rapidamente disse que sim e ela disse:
- Que legal eu também quero ser médica, estou estudando muito no cursinho para prestar o Vestibular para Santa Casa. Ela perguntou-me onde eu estava indo e eu disse que iria estudar na casa de um amigo da Faculdade, foi então que ela disse:
- Minhas aulas terminam às 23 horas, você não quer passar aqui no cursinho para a gente se conhecer melhor?
“Já tinha mentido sobre o que eu fazia e resolvi sustentar a “mentira” para conseguir namorar aquele “monumento” e pensava:” Caramba, a menina além de linda ainda é inteligente! Vou ficar milionário e nunca mais serei humilhado pelo meu colega Israel em falar que eu só conseguia namorar com garotas feias. 
          Cabulei as aulas do curso Colegial e fiquei sentado numa praça pensando profundamente o quê iria dizer aquela linda garota, fazia um verdadeiro teatro mental.
          Faltando alguns minutos para as 23 horas lá estava eu esperando a garota descer os degraus do cursinho e finalmente ela apareceu no topo da escada sorridente e enviando-me um beijinho entre as colegas que desciam discutindo os assuntos abordados na sala de aula.
          A garota chegou e abraçou minha cintura e deu-me um carinhoso beijinho no meu rosto e falou:
- Pronto, aqui estou, você poderia levar-me até minha casa?
A resposta demorou a sair e disse imediatamente que sim e seguimos pelas escuras ruas do bairro trocando informações pessoais, até o momento que ela começou a fazer várias perguntas sobre o curso de Medicina e eu não sabia responder e resolvi falar a verdade e disse:
- Olha querida, sou apenas um pobre garoto da periferia e estudante do curso colegial e esta jaqueta que estou vestindo é de um amigo que realmente faz Medicina na USP... mas....Esperei alguns segundos e já estava preparado para o tradicional pontapé no traseiro quando surpreendentemente ela disse:
- Sabe Luiz, adorei sua “cantada” e até que você saiu-se muito bem neste seu maravilhoso teatro da mentira, ainda bem que você redimiu-se e admitiu sua ignorância. E riu mostrando uns dentes alvos e brilhantes, mas mesmo assim gostaria de namorar você! 
          Com as mãos trêmulas e suadas e morrendo de vergonha abracei-a e dei um “saboroso” beijo nos seus lábios carnudos.
Despedimo-nos e prometi que na outra semana a gente se encontrava, pois assim que saísse da aula passaria no cursinho e levaria ela para casa.
          Os minutos, os dias foram passando-se e eu consegui apaixonar-me perdidamente pela linda garota até que num determinado dia ela pediu que fosse buscá-la mais cedo que tinha algo muito importante para falar comigo. Já estava preparado, daquele dia não passaria, iria acontecer o fim do nosso relacionamento e quando nos encontramos as palavras foram bem claras:
- Olha Luiz, você é um “cara” muito lindo, mas não há como continuarmos a namorar, pois existe um abismo cultural muito grande entre nós e fica a dica: Procure estudar e quem sabe daqui uns 10 ou 20 anos a gente consegue conversar algo em comum.
          Confesso que algumas lágrimas esboçaram em cair, os olhos marejaram e sai perambulando pelas ruas sem destino, com o coração despedaçado e muito humilhado e segui pra casa com um único objetivo: A partir daquele dia começaria a estudar muito e tornar-me-ia alguém muito inteligente ou no mínimo equiparar-se-ia aquela garota que mudou o destino da minha vida.
          Contei o acontecido ao meu pai e ele riu muito e disse que queria conhecer a garota, pois ela realmente estava falando a verdade. Nova humilhação e passados alguns meses vim morar em Jacareí com apenas um propósito na minha vida. Estudar, estudar e estudar. 
          Estes são os poderes das palavras que quando proferidas por alguém que a gente ama pode transformar nossas vidas.
          Obrigado linda garota por tão sinceras e transformadoras palavras que até hoje ecoam na minha mente. Vamos estudar!

VENDEDORES DE VASSOURAS

          E novamente encontrava-me sem vínculo empregatício e via-me obrigado a encarar os “bicos da vida” para poder dar algum dinheiro para minha irmã Sônia, visto que morava em sua residência e tinha uma vergonha danada em dormir, comer e não contribuir com absolutamente nada.
          Num determinado dia convidei meu querido sobrinho Evandro para irmos até uma fábrica de vassouras e comprar algumas vassouras e rodos e sairmos pelas ruas vendendo de casa em casa.
          Imediatamente ele aceitou e lá fomos nós até a fábrica fazer a aquisição das tais vassouras que seriam vendidas no dia seguinte. Compramos uma dúzia de vassoura e uma dúzia de rodo, cada um de nós pagamos a metade do valor e combinamos que enquanto não vendêssemos todas as vassouras e rodos não voltaríamos para casa.
          No dia seguinte, bem pela manhã separamos as vassouras e os rodos e saímos batendo de porta em porta oferecendo nossos produtos para a população da Vila Maria Alta, zona norte de São Paulo.
          Inicialmente nossas vendas não estavam sendo aceitas, pois era um sábado chuvoso, aquele sábado que todos adoram dormir até um pouco  mais tarde e quando batíamos palmas ou tocávamos a campainha de alguma casa, alguns diziam palavras impróprias e de baixo calão. Mas não desistimos e continuamos oferecendo nossos higiênicos produtos e lá pelas dez horas da manhã uma moradora do bairro aceitou comprar a primeira vassoura, vendida pelo meu sobrinho Evandro.
          Meus ombros já estavam doendo muito e sentia uma vontade enorme de jogar todas aquelas vassouras e rodos no lixo e voltar para casa, mas não podia fazer nada daquilo que meu pensamento queria, pois metade do dinheiro da aquisição pertencia ao meu sobrinho.
          Sobe rua, desce rua, aperta campainha, ninguém atende e às vezes, balbuciando praguejávamos alguns moradores que nem sequer abria a porta para falar: Não obrigado, não quero!
          O relógio apontava duas horas da tarde, algumas vassouras e rodos já tinham sido vendidos e a fome aumentava, foi quando decidimos entrar num boteco para comer um lanche.  Colocamos humildemente as vassouras e os rodos em pé perto da porta do boteco e entramos para lanchar. Pedimos alguns salgadinhos, o Evandro pediu um refrigerante e eu solicitei uma cerveja bem gelada e o proprietário atendeu-nos prontamente. Conversa vai, conversa vem, oferecemos nossas vassouras para o dono do boteco que acabou ficando com uma e descontamos no pagamento da nossa conta.
          Vila Maria tornou-se pequena para nosso negócio e partimos para Vila Medeiros e os ombros latejavam de tanta dor, fomos e voltamos e conseguimos vender apenas três dos nossos produtos.
          Num determinado instante o Evandro parou perto de um Posto de gasolina, na Estrada da Conceição e anunciou que precisava retornar pra casa, pois tinha que ir viajar com sua tia e precisava da metade do lucro dos produtos.
          Tentei explicar para ele que precisávamos vender tudo para poder dividir o lucro e ele iradamente disse:
- Se o Senhor não der minha parte agora, irei denunciá-lo no Programa do Ratinho. Ri e disse calmamente a ele:
- Olha aqui garoto, não vou dar absolutamente nada pra você enquanto não vendermos todos os rodos e vassouras, ainda faltam seis unidades, e tá falado. Bóra andando que começou a garoar de novo!
          Os olhos do meu sobrinho marejaram, não sei se era de dor nas costas ou minhas ríspidas palavras que tinham ferido sua alma e então ele saiu na frente pisando duro e entrou num “cortiço” com as seis unidades dos nossos produtos. Fiquei aguardando o seu retorno e eis que o meu sobrinho subiu as escadas, sem nenhum produto e contando alegremente o dinheiro que tinha arrecadado com a venda.
          Dividimos o lucro das vendas e pedi explicações de como ele tinha vendido tão rapidamente os produtos e ele calmamente disse-me:
- Sabe tio, precisava viajar, então ofereci de porta em porta no cortiço e falava que o Senhor era muito bravo e se eu voltasse com alguma unidade quando chegasse em casa levava uma surra enorme.
          Sorri e agradeci meu sobrinho passei a mão na sua cabeça e algumas lágrimas brotaram nos meus olhos.  Ele partiu alegremente para sua viagem e eu fui beber algumas cervejas no bar, após dar uma parte do dinheiro ganho para minha irmã. Eta vidinha difícil! rsrsrsrsrs