E lá estava
eu parado na calçada da Rua Vinte e Cinco de Março esquina com a Ladeira Porto
Geral no centro de São Paulo observando um garoto que vendia uns bonequinhos chamados
Pikachu que soltavam lindas bolinhas de sabão.
O andar apressado dos transeuntes, os
olhares curiosos nas vitrines e enormes carrinhos transportando enormes caixas
e os carregadores sempre dizendo: ô o pedado, ô o pesado, ô o pesado. As lindas
bolinhas de sabão estourando nas cabeças dos frenéticos e avassaladores
compradores sempre apressados para comprar um presente na época do final do
ano.
Cheguei perto do garoto pedindo licença a
alguns compradores e perguntei o preço do bonequinho e ele disse que vendia
cada bonequinho a dois reais e foi quando eu disse que estaria interessado em
comprar dois mil bonequinhos Pikachu para revender nas praias do litoral norte
de São Paulo.
O garoto parou de assoprar as bolinhas de
sabão e perguntou surpreso: Quantas peças os senhor quer comprar mesmo? E eu
disse que queria duas mil peças e ele disse: Se for duas mil peças faço a
cinquenta centavos cada Pikachu e foi então que eu disse: Fechado, quando você
pode entregar as peças? E ele disse que entregaria a peças em apenas três dias
na minha residência.
Fui para casa e contei a minha “patroa”
que iríamos viajar para o Litoral Norte e ela começou a rir e disse: Mas viajar
pra onde? Você não tem nem onde cair morto, está desempregado e ainda quer
viajar com o meu dinheiro, não vamos e ponto final.
Levantei-me do sofá e fui fumar um
cigarro na varanda pensando na “delicada” resposta e surpreendentemente voltei
e disse:
- Olha se
você não quiser viajar fica por aqui, pois eu irei viajar para a praia e tirar umas
férias vendendo alguns bonequinhos Pikachu que soltam bolinhas de sabão.
Imediatamente ela quis saber quais eram os
meus planos e lembrou-se das Bandeiras do Brasil que montamos uma confecção e
deu certo e toda delicada disse:
- Qual é o
investimento inicial e quanto vou lucrar? E foi então que passei a descrever
minuciosamente toda a estratégia para podermos passear nas praias do litoral
Norte sem gastar absolutamente nada, apenas vendendo os bonequinhos que
soltavam bolinhas de sabão.
Passados os três dias encostou-se à
frente da nossa residência uma perua Kombi caindo aos pedaços e desceu o garoto
e entregou as duas mil peças combinadas.
No outro dia já estávamos descendo a
serra em direção ao litoral com o carro abarrotado de bonequinhos Pikachu, uma
caixa de detergente e muito feliz com nosso novo empreendimento e quando o
transito parava ela comentava:
- Luiz você
é louco, estamos indo para a praia sem nenhum tostão e se nós não conseguirmos
vender nada, o que faremos?
Ria e falava calmamente: Poxa, você
parece que não conhece o meu espírito empreendedor!
Deixa comigo
que eu resolvo quando chegarmos lá embaixo e continuei a escutar Chico Buarque,
Caetano Veloso e Milton Nascimento.
Chegando a Caraguatatuba paramos na
pensão da dona Maria que alugava alguns quartinhos a um preço muito baixo e
acertamos ficar em um quartinho por uma semana e falamos que iríamos vender os
bonequinhos Pikachu que soltavam bolinhas de sabão nas praias e a dona Maria
sorriu e disse:
- Pois é
Luiz, que bom você estar de volta e com um novo produto, boa sorte querido
amigo!
Arrastamos os dois pesados sacos de
bonequinhos até o quarto e deitamos na surrada cama e ficamos torcendo para que
no outro dia o dia amanhecesse ensolarado e as praias estivessem lotadas de
turistas.
Logo que o dia amanheceu, colocamos uns
trezentos bonequinhos no velho carro e fomos a uma linda praia de Ubatuba
vender nossos bonequinhos e quando chegamos à praia já estava lotada de
turistas.
Calmamente coloquei sabão em
aproximadamente cem bonequinhos, dei cinquenta para a patroa e fiquei com
cinquenta, pois cada um venderia um pouco.
Foi muito engraçado vê-la de óculos escuro,
chapéu e assoprando o bonequinho para sair às bolinhas de sabão enquanto eu
sentei-me na frente de um quiosque e passei a assoprar os bonequinhos enquanto
ela andava pela praia e quando ela passava pelo quiosque dizia:
- E aí
camarada, não vai trabalhar não, vai ficar aí parado? E eu dizia sorrindo:
- Vai
oferecendo os bonequinhos e não me enche o “saco” e volta daqui à uma hora e
todos os bonequinhos estarão vendidos.
O meu primeiro freguês foi um garotinho
gordinho que comprou e perguntou quando custava o bonequinho e eu disse:
- Olha
garotinho, este bonequinho é grátis, você não vai pagar absolutamente nada por
ele, só que gostaria que você ajudasse-me assoprando as bolinhas de sabão pela
praia, dentro do quiosque e quando alguma criança perguntar quem está vendendo
você fala que sou eu que irei ficar parado na frente deste quiosque.
E lá saiu o gordinho cheio de felicidade
assoprando o bonequinho pela praia e enchendo as costas dos turistas de
detergente quando a bolinha de sabão estourava. Passados alguns minutos começou
a aparecer os primeiros fregueses e formou-se uma enorme fila para aquisição
dos bonequinhos Pikachu que soltavam bolinhas de sabão.
Em menos de uma hora eu já tinha vendido
todos os bonequinhos e fui ajudar a “patroa” a vender o restante dos
bonequinhos.
Em apenas três horas tínhamos vendidos
todos os cem bonequinhos e até o anoitecer conseguimos vender mais uns
cinquenta e a praia ficou muito linda com a maioria das crianças soltando
maravilhosas bolinhas de sabão.
Foram quinze dias vendendo os tais bonequinhos
que soltavam bolinhas de sabão em várias praias e a experiência foi
maravilhosa, pois além de estarmos na praia vendendo ainda sobrava um tempinho à
noite para comermos algumas porções de camarão e bebermos alguns chopes.
Voltamos muito feliz para São Paulo e
assim que paramos o carro na garagem assoprei várias bolinhas de sabão e disse:
Bolinhas de sabão, que belo empreendimento! Obrigado querida!