E quando eu cheguei em Jacareí, interior da cidade de São
Paulo no início da década de 1.970, fiquei encantado em saber que existia uma
praça onde os jovens podiam paquerar livremente as lindas garotas existentes
naquela época na aconchegante e linda cidade.
Naquela época
eu tinha dezessete anos de idade e algumas meninas que participavam das alegres
partidas de ping-pong que aconteciam no quintal da casa da minha tia achavam
que eu era “bonito” embora eu tinha lá as minhas dúvidas quando encarava o espelho
e via o meu rosto repleto de espinhas durante os demorados banhos dos finais de
semana.
Aos sábados
quando eu retornava da “Prainha”, um aprazível local a beira do despoluído rio Paraíba
onde eu ia ler os grandes clássicos da literatura Brasileira solicitado pelo
mestre de Língua Portuguesa, entrava no meu quarto que dividia com dois primos
e dirigia até o nosso guarda-roupa comunitário para escolher as roupas que
usaria durante as paqueras no largo da matriz.
Naquela época
era “moda” usarmos calça boca de “sino”, um tipo de calça que cobria totalmente
nossos sapatos devido a dimensão exagerada de pano, camisas “gola olímpica”,
estilo perfeito para tapar algumas marcas existentes em nossos pescoços após
avassaladores namoros e frenéticos beijos nas bocas de lindas meninas, sapatos
com enormes saltos que chamávamos carinhosamente de “carrapeta” e cintos com
enormes fivelas estampadas algum personagem da época, meias e cuecas eram
deixadas em segundo plano, pois as mesmas não seriam vistas pelo público alvo,
então não havia a necessidade de tanto esmero com estas peças.
A escolha das
roupas que seriam usadas durante a nossa paquera exigia grande concentração e
uma boa dose de vasta imaginação.
As roupas eram
delicadamente retiradas dos cabides e colocadas sobre a cama, um olhar
apreensivo, a mão sob o queixo e uma expressão de dúvida franziam nosso olhar.
Os pensamentos levavam-me
ao meio da praça e via-me com uma elegante calça azul-escuro listrada de branco,
uma linda camiseta branca “gola olímpica” bordada com o meu nome completo na
parte frontal para tornar-se facilmente identificável diante das meninas,
sapatos lustrosos e eu diante da linda menina dos olhos azuis e um corpo
escultural enaltecendo minhas roupas, meu perfume de terceira categoria a meu
rosto espinhento.
Abandonava as
minhas divagações, abria os olhos e pronto, já estava decidido e escolhida a roupa com a
qual eu iria ao encontro da minha princesa da praça. Guardava todas as outras
roupas e deixava sobre a cama somente aquela qual seria usada.
Após longos
minutos sonhando acordado andava vagarosamente até o banheiro cantarolando
alegremente uma música de Chico Buarque de Holanda ou do Caetano Veloso,
adorava aquela que dizia: “Caminhando contra o vento, sem lenço, sem documento”,
para um demorado banho.
A minha ablução
só era interrompida quando minha tia Nina batia na porta do banheiro e dizia sorrindo:
- Oh Luiz, o banho só lava o corpo e não a alma repleta de
felicidade!
Soltava uma enorme gargalhada, fechava a torneira e saia
enrolado em uma confortável toalha estampada com a foto do Pateta e entrava
sorrateiramente no meu quarto.
Passados alguns
minutos lá estava eu diante do espelho especulando o meu visual e tentando
tirar alguma espinha mais atrevida que instalara no meu rosto nos últimos dias
e passados alguns minutos eu já estava totalmente preparado e muito feliz com
minha aparência.
Sentava-me na
minha cama e ficava folheando uma revista chamada “POP” enquanto aguarda meu primo
tomar banho e assim que ele estava arrumado caminhávamos até o portão e
enquanto fechávamos o portão eu tecia algum comentário animador:
- Não adianta a gente se arrumar tanto, com nossa melhor
roupa, com o nosso “melhor” perfume de terceira categoria se não temos o
essencial: Um bom “papo”, diálogo e um poder de persuasão aguçado!
- Pois é Luiz, você está repleto de razão, mas mesmo assim
vale a pena a gente tentar, quem sabe a gente encontra uma linda cinderela
ignorante, bem mais tolinha que a gente e aí sim estamos feitos! Ríamos do
diálogo e saíamos apressados com destino a praça.
Chegávamos na
praça e nossos olhares miravam em todas as direções a procura da nossa princesa
encantada e quando avistávamos alguma linda garota, lentamente curvávamos
diante do monumento, passávamos a língua entre os lábios e reverenciávamos a
nobre dama sempre enaltecendo toda a beleza existente naquele corpo.
Algumas meninas
eram simpáticas e educadas e agradeciam nossas pífias cantadas, mas a maioria
nem olhavam para nossos rostos e passavam olhando para o outro lado da praça o
que nos irritava muito e grandes e sublimes palavrões eram tartamudeados entre
uma ou mais mordidas nos lábios.
As meninas
circulavam pela praça no sentido horário e os meninos giravam no sentido
anti-horário e assim ficava muito fácil avistarmos tudo e todos durante nossa
paquera na praça.
Alguns
alto-falantes eram colocados em alguns pontos estratégicos na praça e os mesmos
transmitiam lindas músicas daquela época e só eram interrompidos para anunciar
um enlace matrimonial, algum evento importante e falecimento de pessoas
influentes da cidade e seguia tocando a música e nós andando e andando pela
praça e nada de achar nossa musa encantada.
Era muito
engraçado quando eu e meu primo ficávamos encantados com alguma pequena, aí
fazíamos uma estranha e engraçada aposta para ver quem iria abordar a menina
primeiro e quem perdesse era obrigado a “plantar uma bananeira” em plena praça,
ou seja, colocar a cabeça no solo e levantar os dois pés para o alto e ficar
pelo menos uns três minutos naquela posição.
Risos nervosos
e lá vinha a garota mais linda da cidade e entre um cutucão e outro parávamos
na frente da menina e pedíamos carinhosamente se poderia falar um pouquinho
conosco e lembro-me que quantas vezes “sacaneava” com o meu primo, pois pedia a
palavra e a abordagem da vez e contava todo a nossa aposta para a menina e a
mesma aceitava somente para ver o meu primo plantar a tal da bananeira e após
colocar os pés no chão e ver que estávamos sorrindo a menina despedia-se e ía
embora dizendo que éramos “loucos”.
O tempo ia
passando e às vezes conseguíamos alguma paquera e imediatamente convidávamos a
menina para irmos a uma pequena e mal iluminada pastelaria perto da praça para
comer alguns pastéis e beber Tubaína.
Algumas meninas
aceitavam nosso humilde e hilário convite, mas a maioria nos abandonavam em
plena praça pedindo para convidar nossa querida mãe para tal convite. Ríamos
muito alto da situação e continuávamos a procura de outra garota que aceitasse
convite tão “pobre”.
Chegava a hora
de retornar para nossa residência pois já passava das onze horas da noite e as
poucas meninas que ainda insistiam em ficar na praça conseguiam ser mais feias
do que nós.
Recolhíamos
nossas emoções e saíamos da praça muito feliz em fazer-se presente e até
conseguir abordar algumas meninas porém sem sucesso e assim seguíamos de braços
dados com nossa querida e inseparável amiga “Esperança” que jamais nos
abandonava em instante algum.
Deitávamos em
nossas camas e ficávamos lembrando dos maravilhosos e divertidos momentos na
Praça e entre um sorriso e outro adormecíamos e sonhávamos com aquela linda
menina dos olhos azuis que muito tempo mais tarde tornar-se-ia nossa querida
namorada.