28 de out. de 2012

A CARTA



        A chuva caia torrencialmente naquele domingo à noite, e nós namorados insistíamos em dar alguns beijos embaixo de vários trovões e relâmpagos. A minha namorada estava confortavelmente encostada na porta de uma garagem e minha calça estava sendo totalmente molhada por alguns pingos de chuva atrevidos que o pequeno alpendre não conseguia segurar.
         Os beijos eram avassaladores e os “eu te amo” entre sussurros  eram abafados pelo barulho dos trovões e eis que num determinado instante afastei a pequena e olhei bem nos fundos dos seus lindos olhos verdes e disse:
- Minha querida, hoje é o último dia que estamos nos vendo, a partir de amanhã vou embora desta cidade e só voltarei após formar-me, pois vou morar no interior e cursar uma Faculdade para formar-me engenheiro.
         As primeiras lágrimas começaram a brotar dos seus olhos, dei mais um carinhoso beijo na minha namorada e saí embaixo da chuva sem olhar para trás e lá ficou a pequena em choro.
         No outro dia lá estava eu com minhas malas na Estação da Luz, na antiga rodoviária de São Paulo em busca do meu sonho, formar-me, estudar, estudar e estudar...
         O tempo foi passando e eu fui morar na casa de uma tia no interior e matriculei-me num curso preparatório para o vestibular e trabalhava durante o dia e fazia o cursinho à noite e os estudos eram constantes, eu estava vivendo um mundo totalmente diferente de tudo aquilo que passou pela minha vida, pois respirava aulas, redações, apostilas e tudo aquilo que relacionasse com vestibulares.
         Aos domingos à noite eu e meu primo íamos à pequena praça da matriz para apreciar as belas meninas que ficavam circulando na praça e lá ficávamos até umas dez horas da noite entre paqueras e várias piscadas de olhos para as lindas meninas.
         Eu e meu primo adorávamos “sacanear” um com o outro e virava e mexia lá estávamos nós aprontando uma “brincadeira” sadia e foi quando num belo domingo ensolarado apareceu a minha ex- namoradinha que eu tinha deixado em prantos e tocou a campainha da casa da minha tia e falou que queria falar comigo e imediatamente pedi a ela que entrasse ela muito zangada entregou-me uma carta e quando abri a carta para lê-la e mesma estava repleta de erros de português e corrigida e com uma nota (dois e meio) e cheia de observações e riscos com caneta da cor vermelha e ela perguntou-me:
- Que falta de sensibilidade a sua, eu mando uma carta de amor pra você e você tem a indelicadeza de corrigir e devolver pra mim, eu sei que sou meio burrinha, mas o meu amor por você é muito inteligente! Quero explicações!
         Li a carta e fiquei estupefato em saber que não tinha sido eu que corrigi a mesma e imediatamente chamei meu primo e ele saiu sorrindo e assumiu a culpa e disse que tinha sido ele que recebeu a carta e levou pra professora de Português corrigir e depois remeteu de volta a carta para minha ex-namoradinha.
         Alguns sorrisos, alguns beijinhos, a carta foi colocada na bolsa da minha ex-namoradinha e lá fomos nós beber um refrigerante com cachorro quente na padaria próxima de casa e entre um gole de refrigerante e outro eu ganhava um beijinho da minha ex-namoradinha e ela sempre fazia questão de mostrar-me a carta e sorria alegremente. Bela recordação, a carta corrigida e eu quase apanhei da minha ex-namoradinha. Hoje ela é professora aposentada de Língua Portuguesa e mora confortavelmente num belo apartamento no centro de Sampa.Valeu...A Carta...Uma linda carta de Amor!