30 de abr. de 2012

DIA DAS BRUXAS


        Trabalhava numa escola estadual como Inspetor de alunos e naquele dia cheguei um pouco apreensivo na escola, pois sabia que teria muito serviço pela frente, afinal estávamos vivendo o tradicional dia das bruxas.
        Logo quando cheguei ao portão principal fui recepcionado por uma equipe de bruxas e capetas que me desejaram um bom dia, entrei calmamente e fui até o pátio onde várias bruxas, capetas, fantasmas e outros demônios estavam presentes tentando assustar tudo e todos.
        Exatamente naquele dia eu não estava para muita brincadeira e qualquer intolerância por parte dos “capetas” eu estava disposto a leva-los para a diretoria, mas felizmente não foi necessário qualquer atitude demoníaca.
        Nunca, jamais eu tinha participado de uma festa do dia das bruxas, principalmente numa escola estadual e aquele dia foi uma experiência muito legal.
        Anda-se pra cá, anda-se pra lá, entra em sala, sai de sala, olha-se um aluno mais “endiabrado” aqui e olha-se outro aluno com uma vela acolá e vamos participando da grande festa da bruxa sem nenhum medo, sem nenhum terror, afinal vivemos em quase todos os recantos deste “mundinho” e jamais qualquer bruxinha poderia colocar medo neste monte de ossos andante.
        Surpreendentes e assustadores os jogos de luzes, de fumaças produzidas por aparelhos, grandes aranhas subindo e descendo as paredes e eu sendo convidado a entrar nas salas para ver o grande show que os alunos realizavam para assustar a todos e quando cheguei numa determinada classe, alguns alunos pegaram na minha mão e saíram arrastando-me para dentro de uma classe que existia um grande corredor, tudo escuro e quando cheguei perto de uma grande mesa, ofereceram-me alguns doces e inesperadamente alguns alunos pegaram minhas pernas e eu levei um grande susto.
        Quando tudo parecia terminado, uma aluna deu-me alguns pirulitos chamados “bruxulino” e pediu para eu levar para minha netinha e disse que tinha sido a bruxa Stefani que tinha mandado os tais pirulitos que manchava toda a boca.
        A festa das bruxas terminou sem nenhum incidente e cheguei em casa exausto e fui dormir e acordei reconfortado em ter um sonho maravilho: Sonhei que estava no Céu! Cansadíssimo de tantas bruxas, vários capetas, monstros e outros demônios, nada melhor que ver um anjinho num breve sonho.

O PRIMEIRO BEIJO

            Abri os olhos sob dois enormes faróis iluminando nossos rostos, desceu da Kombi um senhor com rosto de muito nervoso, chapéu de palha e parou na nossa frente e perguntou:
- O que vocês estão fazendo aí? Um pouco assustado respondi:
- Estamos beijando! Nosso primeiro beijo. Algum problema?
- Sim, há um pequeno problema, esta menina ao qual o senhor está beijando é minha filha! E eu calmamente disse:
- Desculpe-me, eu não sabia que esta linda morena tinha um pai muito bravo! E afastei-me um pouco da garota, com medo de alguma “porrada" atingir meus olhos”.
Aquele senhor muito bravo subiu na Kombi e disse que se a menina não estivesse em casa dentro de alguns minutos iria levar uma surra que jamais iria se esquecer.
Com muito medo e bastante apreensivos colocamos nossos lábios  vagarosamente um sobre o outro e finalizamos aquele primeiro beijo sobre grande pressão, mas com muito amor. Nosso primeiro beijo aos quatorze anos de idade. Bela recordação!

27 de abr. de 2012

ASSOBIO


        Estava eu sentado num banco de um enorme pátio durante o intervalo do café do meu serviço e observando alguns trabalhadores que se esforçavam em deixar a área limpa e escutava um mavioso assobio vindo da parte de trás do banco.
         Virei a cabeça para observar quem estava assobiando aquela linda canção e fiquei surpreso quando o trabalhador braçal interrompeu a canção para desejar-me um bom dia. Retribui o bom dia e fiquei a imaginar o porquê das pessoas não mais assobiarem.
         Lembro-me do meu pai quando estava barbeando-se assobiava lindas canções, do velho comerciante encaixotando frutas e assobiando e até eu também assobiava algumas músicas.
         Será que não mais assobiamos pelo motivo da poluição sonora romper nossos sentimentos? Ou perdemos a alegria diante do cotidiano?
         Um velho hábito que ainda sinto muita falta, ver as pessoas assobiarem alguma canção e expandirem a alma enquanto deixam-se carregar pelo tempo em busca do amanhã.
         Fiquei ali por algum instante observando e escutando o trabalhador assobiar aquela linda canção enquanto capinava os matos e mostrava um rosto de muita felicidade. Como sou muito observador e questionador fui perguntar ao trabalhador porque ele estava tão feliz e ele parou de assobiar, sorriu e disse-me que naquele dia tinha sido pai pela primeira vez e não aguentava de tanta felicidade. Não me contive, dei-lhe um enorme abraço e muitas felicitações e pedi a ele que jamais deixasse de ser feliz.
         Entrei para trabalhar com aquela canção do trabalhador na mente e inesperadamente comecei a assobiar a mesma canção sob os olhares apreensivos dos meus colegas de serviço.

AULAS DE MATEMÁTICA


     
        Aquele sábado amanheceu chuvoso, acordei e abri os olhos lentamente e fiquei imaginando o que faria na próxima semana.
         A chuva não cessava e o barulho que produzia sobre o velho telhado de amianto chegava a ser romântico se não fosse minha situação de desempregado.
         Sentei-me na cama, coloquei os pés no chão e fiz minhas orações matinais e resolvi tomar uma atitude que mudaria completamente a minha vida.
         Durante o café matinal comentei com minha irmã que iria dar algumas aulas de matemática e solicitei que me ajudasse a divulgar minha nova atividade, pois precisava ganhar alguns “trocados” e ela sugeriu que eu colocasse uma placa divulgando minha mais nova atividade em frente de casa e aguardasse os primeiros alunos.
         Fiz uma pequena placa com os dizeres: Aulas de Reforço de Matemática para o Ensino Fundamental – Professor Luiz e meu telefone e coloquei em frente da casa da minha irmã e fiquei aguardando os primeiros alunos.
         O final de semana foi de intensa chuva e ninguém apareceu solicitando aulas de matemática e eu continuei minhas leituras sentado confortavelmente numa velha poltrona carcomida pelo tempo e imaginando como seriam as aulas de matemática.
         Na segunda-feira quando eu estava preparando-me para ir para a biblioteca estudar um pouco, minha irmã chegou e anunciou que tinha um garoto que gostaria de conhecer-me, pois estava necessitando de algumas dicas de matemática para fazer uma prova muito difícil na escola particular onde ele estudava e pediu-me para ir até a casa do garoto.
         Quando cheguei o pai do garoto foi logo perguntando quanto eu cobrava por hora para fazer seu filho passar de ano e eu tinha pensado em tudo, menos no valor e disse a ele que iniciaríamos os estudos e depois que ele fosse aprovado a gente acertaria o valor.
         A assim começamos nossos estudos e solicitei ao garoto o que ele gostaria de aprender e ele disse-me:
- Necessito aprender equação do segundo grau e alguns gráficos, pois não entendo nada!
Pensei: “Este presente caiu do Céu”, pois o que eu mais sabia na minha vida era equação do segundo grau, pois muito tempo atrás tinha aprendido muito equação do segundo grau para conquistar uma garota.
         Todos os dias lá estava eu na casa do meu “aluninho” resolvendo equações do segundo grau e muitos exercícios foram resolvidos e estudamos durante toda a semana, pois o aluno faria a prova na Sexta-feira.
         Após o garoto ter feito a prova ele passou em casa e era perceptível o seu rosto de felicidade e disse-me que tinha ido muito bem na prova.
         No domingo de manhã o aluno apareceu em casa e disse que o seu pai queria falar comigo para “pagar” as aulas de matemática e lá fui eu receber qualquer quantia, pois na situação em que eu estava qualquer dinheiro que fosse suficiente para sobreviver seria bem-vindo.
         Cheguei à casa do meu aluno e vi toda a família reunida em volta de uma mesa repleta de comida e imediatamente o pai do aluno pediu para eu sentar e almoçar, pois ele estava muito feliz comigo e pediu para sua “patroa” preparar uma deliciosa bacalhoada para comemorar a vitória do seu filho.
         Apresentou-me a todos como o “Professor de Matemática” do seu filho e enquanto íamos almoçando ele pedia para eu colocar um preço no meu trabalho e eu disse a ele que necessitava de dinheiro suficiente para comprar algumas roupas e locomover a procura de um novo emprego.
         Sorriu, abriu o talão de cheque e começou a preencher uma folha, assinou e depositou em minhas mãos um cheque com um valor muito alto e disse: Este valor é suficiente? E eu disse a ele que aquele valor seria suficiente para eu passar uns três meses desempregado e ele sorriu e saímos abraçados até a porta.
         Sob a fina garoa, retirei o cheque do bolso da camisa e observei a quantia grafada e novamente agradeci minha querida colega de classe que fizera eu tanto estudar para conquistá-la. Não a conquistei, mas o retorno chegou muitos anos mais tarde em “Aulas de Matemática”.

17 de abr. de 2012

APRENDIZ DE AÇOUGUEIRO


            Estava eu lá despreocupado, lendo os meus gibis do Zorro, do Super Homem, do Batman, Homem Aranha e quando mamãe chegou do açougue anunciou meu novo serviço.  Iria trabalhar com o senhor Mário, um Português que tinha um açougue na esquina da rua onde morávamos. Eu não me contive e perguntei a mamãe:
- Mas mamãe o que eu vou fazer num açougue?Não sei nem cortar um pãozinho direito, imagina eu cortando pedaços de boi! E mamãe disse que já tinha combinado até quanto eu iria receber e foi então que perguntei:
- Quantos milhares de dinheiro receberei? E mamãe disse:
- Você não receberá dinheiro algum, apenas um quilo da melhor carne por dia trabalhado!
Desmanchei-me em gargalhadas e supliquei a mamãe que desmanchasse o contrato, pois estaria disposto a fazer qualquer outra coisa, menos trabalhar por carne, sem ver a cor do dinheiro.
Mamãe insistiu e no outro dia lá estava eu na frente do açougue do senhor Mário esperando o mesmo abrir o estabelecimento de comercio do boi.
O senhor Mário chegou, desejou-me bom dia, entramos no açougue e o meu primeiro serviço foi aprender a encher linguiça.
Era muito engraçado eu colocando pedaços de carnes e passando por uma máquina e a linguiça saía prontinha do outro lado. Até que era divertido o meu serviço.
Atendia alguns fregueses, enchia linguiça e no final do expediente ajudava a fazer uma faxina no açougue. Mas jamais o senhor Mário permitia que eu cortasse carne, pois ele tinha medo de eu acidentar-me. Ao fechar o açougue o bondoso Português cortava vários bifes de primeira qualidade, embrulhava e dava para eu levar para casa.
Os dias foram passando, as linguiças foram sendo feitas, o açougue andava muito limpo, até que num determinado dia resolvi que não queria mais receber os meus proventos em carne e sim em dinheiro. E o Senhor Mário falou: Não há problemas, todos os dias dou um dinheiro pra você, só que as carnes você não levará mais.
Fiquei muito feliz e contei a quebra de contrato para mamãe que não gostou da troca, pois assim que eu dava o dinheiro recebido para ela, eu tinha que voltar ao açougue ou ao mercadinho para comprar “mistura”.
         Trabalhei muito tempo com o senhor Mário no açougue, ora recebendo o meu salário em dinheiro, ora recebendo em carne, até que ele vendeu o açougue e começou a construir uma linda casa e lá fui eu trabalhar de servente na construção da linda casa do Sr.Mário.
O senhor Mário era um ótimo patrão, um amigo de todos e gostava muito da nossa família. Bela recordação! Aprendiz de açougueiro com o saudoso senhor Mário.

15 de abr. de 2012

O BEIJO

         E lá estava eu, encostado na varanda e apreciando a deliciosa chuva que caía torrencialmente e aguçando minha mente para uma passagem na minha vida que passo a descrever:
         Eu estava estudando a oitava série do curso ginasial no Ginásio Estadual Cidade de Hiroshima, em Itaquera, zona Leste da cidade de São Paulo.
         Todo ser humano além da sua capacidade tem que ter um pouquinho de sorte, e disto jamais posso reclamar, pois acho que tive e ainda tenho muita sorte nesta vida.
         No ginásio onde eu estudava tinha uma menina que além de muito bela, era inteligente, coordenadora de classe e para minha sorte, estudava na minha sala.
         Adorava quando ela reunia toda a classe para pedir mais empenho, menos bagunça e seus olhos verdes ficavam mais lindos quando ela ficava séria, nervosa e seus lábios carnudos tremiam e eu viajava naquelas palavras que pareciam um bálsamo aos meus ouvidos.
         Eu simplesmente adorava minha querida coordenadora de classe chamada Cleuza, pois além de muito bonita, era inteligente, trajava-se com uma calça jeans, uma camiseta branca e uma sapatilha vermelha.
         Eu tinha certeza que jamais poderia um dia beijar os lábios carnudos da minha querida coordenadora de classe, pois existiam vários garotos muito bonitos que faziam visitinhas frequentes a nossa classe para apreciar o que existia de mais belo naquela escola e confesso que ficava muito nervoso com a presença daqueles garotos e foram várias vezes que eu fechei a porta na cara dos meninos. Ciúmes daquilo que não pertencia a minha pessoa.
         Lá pelo final do ano, tínhamos uma prova muito difícil e quando soube que minha querida colega de classe precisava de uma nota alta para passar, fiz uma proposta para a lindinha:
         Faço a minha prova e a sua, mas como recompensa quero apenas um beijo destes seus lábios carnudos. Ela sorriu, mostrando os dentes de marfim e aceitou a proposta.
         Eu não cabia de felicidade e imediatamente fui procurar um colega inteligentíssimo chamado Dulcidio, que estudava química na Osvaldo Cruz. Descrevi que necessitava aprender equação do segundo grau, pois eu teria uma prova e precisava saber muito, pois iria fazer a minha prova e da minha colega.
         Ele sorriu e aceitou o desafio, mas fez outra proposta, pois queria que eu apresentasse uma colega para um futuro namoro. Aceitei e passamos a estudar todos os dias para fazer as provas e ganhar um beijo daquela linda coordenadora de classe.
         Após várias semanas de estudo, eu já estava preparado para fazer as provas e naquela Sexta-feira à noite, quando a professora distribuiu as folhas, sentei-me atrás da querida colega.
         Fiz a prova e passei para ela e imediatamente comecei a fazer a minha e assim que terminei, solicitei a ela que me esperasse no pátio, pois queria minha recompensa. O Beijo!
         A querida colega sorriu e saiu vagarosamente e ficou esperando-me no pátio e lá fomos nos para um muro fora da escola para beijarmos e finalizar o contrato.
         Assim que começamos a beijar, começou a chover muito forte e a linda garota pediu para adiarmos nosso beijo e disse que num outro dia a gente continuaria aquele beijo. O tempo passou e nunca mais encontrei a querida colega Cleuza para finalizarmos aquele significante beijo. Eu fiz a minha parte e ela ficou devendo aquele tão sofrido beijo, mas ajudou-me muito nesta vida, pois equação do segundo grau sei até hoje e quando começo a resolver alguma equação do segundo grau em vários concursos que participo, ainda sinto aqueles macios e deliciosos lábios carnudos da menina mais linda da minha escola.