15 de nov. de 2012
CASA VELHA
A existência da ditadura neste país foi o pior momento que um ser humano pode suportar. Jamais gostaria que meu pai fosse Comunista, mas quando nasci ele já era comunista e tinha suas idéias maravilhosas, já lia Karl Max e tanto assim que queria que eu chamasse: Luis Carlos Prestes da Silva. O tabelião do cartório da Vila Maria disse:
- Olha senhor, infelizmente não podemos colocar o nome do seu filho como o senhor quer, pois já existe um senhor chamado Luis Carlos Prestes, que é comunista e pode dar algum problema para o senhor, que tal apenas Luiz Carlos da Silva?
Meio contrariado meu pai aceitou e lá fui eu chamar: Luiz Carlos da Silva, sem o Prestes, do grande mestre, o grande comunista.
O tempo foi passando e eu ainda não tinha acostumado com o meu nome e quando eu tinha lá meus sete anos era grande minha admiração pelo meu pai, mas não entendia absolutamente nada de Karl Max que tanto meu pai lia as grandes ausências e foi maravilhoso o encontro quando saí da escola e lá estava um taxi com meu pai dentro todo suado e pedindo que eu entrasse rapidamente que iríamos sair deste país, pois estávamos sendo perseguidos. Não entendi absolutamente nada, entrei e fiquei quietinho no banco traseiro do taxi rezando baixinho e quando acordei o motorista do taxi estava a abrir e fechar porteiras e fomos nos refugiar na casa de uma avó que morava na roça.
Estávamos em 1966 e a existência de uma Copa do Mundo é maravilhosa, mas escutar uma copa do mundo por uma rádio que transmitia todos os jogos em castelhano, espanhol não é lá muito vibrante, pois foi assim que ouvi todos os jogos da Copa do Mundo de 1966, pois meu pai precisava saber o que acontecia no Brasil e somente esta emissora transmitia alguma “coisa” do nosso querido “Brasil”.
O tempo foi passando, a copa do Mundo terminou e nada aconteceu conosco, pois tínhamos escondidos dos caçadores de comunistas no melhor lugar do mundo: Na roça, onde FDP nenhum encontraria a gente.
Era hora de pensar para onde iríamos e a decisão foi morar num bairro muito distante da humanidade e lá fomos nós para um bairro de São Paulo, bem distante de todos, numa casinha, muito pequena, uma casa velha.
Não houve mudança de móveis, apenas chegamos e encontramos a casa totalmente vazia, esticamos alguns papelões no chão da humilde casa e repousamos nossos corpos olhando para o nada.
O tempo foi passando e aos poucos meu pai foi comprando alguns móveis e lá ficamos por alguns anos esperando que os caçadores de comunistas desistissem de nos perseguir e a gente ver nosso pais um pouquinho melhor.
Grande idealista foi meu pai José da Silva que tanto eu me orgulho em tentar mudar este Pais, não conseguiu, mas as perseguições foram implacáveis e os refúgios foram vários. Casa Velha.
CAMINHÃOZINHO DE MADEIRA
E o Natal estava aproximando-se e eu devia ter uns cinco anos de idade e ficava atormentando minha mãe para comprar um caminhãozinho de madeira e ela sempre postergando a compra. O caminhãozinho de madeira existia e lá estava ele na pequena lojinha instalada numa pequena ladeira e ficava estacionado bem na frente da loja enchendo os corações de todas as crianças de desejos e todas as mães que possuíam filhos pequenos passavam apressadas pela lojinha, pois os pequenos ficavam fascinados com os maravilhosos caminhãozinhos.
E quando passávamos pela lojinha lá vinha eu com os meus pedidos, minhas súplicas e mamãe às vezes ficava até irritada com os meus pedidos e foi quando falou para o meu pai:
- Zé, é melhor comprar este tal caminhãozinho de madeira para o Luiz, pois o mesmo poderá ficar doente e aí será muito difícil, pois teremos que gastar dinheiro com remédios, hospitais e até coisa pior!
Meu pai parou, pensou e esticou uma nota e disse:
- Pois, passe a mão no moleque e vá comprar este tal caminhãozinho agora! Olhei para mamãe e senti um sorriso angelical na sua face, era véspera de Natal e imediatamente mamãe disse:
- Luiz vamos sair que irei comprar um presente pra você!
A minha alegria era indescritível e lá fomos nos comprar o meu presente de Natal e quando mamãe parou em frente da lojinha que vendia o caminhãozinho e entramos, meu coração começou a bater mais forte e ela disse:
- Pode escolher o caminhão que você quiser, pois iremos comprar e lá fui eu experimentar todos os caminhãozinhos expostos na frente da lojinha e após alguns minutos já tinha escolhido um lindo caminhão vermelho e mamãe pediu para embrulhar e eu imediatamente disse:
- Não mamãe, não é necessário, pois vou puxando o mesmo pela calçada! E assim mamãe pagou e saímos da lojinha e eu ia puxando meu lindo caminhãozinho pelas estreitas calçadas da Vila Mangalô, na Parada Inglesa.
Quanta felicidade, quanta alegria diante do meu lindo caminhãozinho de madeira!
Chegamos em casa e lá fiquei eu arrastando o caminhãozinho por todos os cômodos da casa e imitando o ronco poderoso do motor. Quanta alegria numa véspera de Natal com o meu caminhãozinho de madeira!
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