8 de abr. de 2012

O VERDADEIRO AVÔ


         O verdadeiro avô é aquele que participa vinte e quatro horas por dia na criação dos seus netos, não aquele avô relapso que se restringe a dar alguns presentes em datas comemorativas, passar as mãos na cabeça dos pequenos, desejar tudo de bom e ir embora.
         Observo alguns avôs que sustentam um ar de superioridade em afirmar que tem doze netos, não sei quantos bisnetos e blá, blá, blá, aí não aguento e logo pergunto: Mas onde estão todos estes netos? Eu não os vejo!
         Tenho observado por aqui a raridade de avôs acompanhando seus netinhos ou netinhas nas atividades pelo parque que frequentamos, eu e minha netinha. Quando os vejo, faço questão de parar e puxar alguns segundos de prosa e dar os parabéns. Aí fico me perguntando: Será que sumiram todos os avôs, morreram todos ou eu é que sou um avô "bobão vivo" que faço questão de acompanhar minha netinha em todas as atividades, seja na escola, na alfabetização, nas brincadeiras de amarelinha, contar historinhas. Então me questiono: É, acho que estou na contramão da história. Não existem mais avôs!
         Lembro-me dos meus avôs e jamais naquela época tenho recordação de um avô passear comigo num parque, aliás, acho que naquela época não existia nem parque. Porque isto acontecia e está acontecendo até hoje? Seria pelo regime patriarcal em que fomos criados em que a criação era para as mães, avós e outros subalternos? Não sei, estou tentando achar a resposta em famosos antropologistas e não encontro resposta alguma.
         Haveria falta de amor por um neto ou todos estariam de saco cheio com a vida e estariam pensando somente nos próximos remédios a serem ingeridos para sufocar a dor de uma distância não compreendida?
         Realmente necessito de uma resposta e conclamo a todos os avôs para que no próximo final de semana a gente se encontre para discutir este distanciamento tão grande entre avôs e netinhos.
         Avôs existem, não há duvidas, mas onde estão? Talvez bebendo em algum boteco da vida, jogado o corpo flácido num velho sofá ou num asilo com uma saudade enorme de seus netinhos que faz tempo que não os vê.
         Faço o melhor papel de avô e sou participativo, pelo menos quando fechar os olhos para embarcar para outra vida sei que minha netinha dirá: Pois é, embarcou, quero ver onde arrumarei outro velhinho legal assim! Meu avô!

BICICLETA


           Se todo brasileiro tivesse uma bicicleta em casa e  fizesse uso da mesma cotidianamente e abandonasse o carro pelo menos uma vez por semana na garagem com certeza estariam contribuindo enormemente   em não poluir  tanto nosso planeta e viveriam alguns anos a mais.
         Mas possuir uma bicicleta não dá “status” para ninguém, aliás, muitos associam a quem tem uma bicicleta a pessoa de baixa remuneração, sem condições de comprar um carro e então continuam jogando toneladas de substâncias poluentes nos nossos pulmões, causando centenas de congestionamentos ao longo das nossas rodovias, atropelando, matando e exibindo luxuosos e reluzentes veículos.
         Se pararmos para refletir a quantidade de benefícios que andar de bicicleta nos traz, certamente começaríamos a andar de bicicleta agora mesmo.
         Tenho a minha bicicleta desde quando eu era garoto e jamais a abandonei, pois faço da mesma o meu meio de transporte cotidianamente, pois vou ao trabalho e volto de bicicleta, ao supermercado, ao passeio com minha netinha e a quase todos os lugares onde posso estacionar minha velha “magrela”.
         Neste domingo acordei bem cedinho, preparei um delicioso lanche, um cantil com água e saí pedalando sem destino, pois pedalar domingo de manhã na cidade onde moro é maravilhoso, pois não existe trânsito.
         Vento batendo no rosto, sensação de liberdade, apreciando os lindos ipês floridos e chácaras com muitos animais e fui parar na beira do rio Paraíba.
         Encostei minha bicicleta numa árvore, sentei-me confortavelmente num gramado e fiquei observando um senhor idoso e um garotinho pescando alguns poucos peixes existentes no rio e vários papagaios sobrevoando o rio e dando um verdadeiro espetáculo.
         Após alguns minutos de plena contemplação de ver o nascer do Sol, subi na minha bicicleta e voltei para casa pedalando vagarosamente e observando as primeiras pessoas chegando à padaria para comprar pães, de carro.
         Deu uma vontade enorme de pedir para o pessoal vir de bicicleta, mas como não conheço quase ninguém, continuei a pedalar e cheguei em casa e fui preparar o delicioso café matinal e refletindo sobre os benefícios de andar de bicicleta.Vamos pedalar!

LUTHIER

                E quando soube que a profissão que papai exerceu durante toda a vida era Luthier, não me contive e decidi escrever um pouco sobre a nobre profissão de papai.
         Quando eu era apenas um garoto tive o prazer de trabalhar durante uma semana numa oficina de instrumentos musicais, na verdade não era bem “trabalhar” e sim um breve castigo para poder valorizar um pouco o dinheiro gasto em um curso de Admissão que andava cabulando para ir nadar numa lagoa chamada Cisper.
         O trajeto até chegarmos à oficina era de trem e levávamos marmitas e assim que chagávamos na oficina tudo se transformava.
         Como era bonita a loja, com todos os instrumentos dispostos em maravilhosas vitrines, alguns raios de sol que penetravam na loja davam mais encanto aos lindos sax, trombones, pistões, bombardines e outros instrumentos.
         Mas toda a beleza ficava na loja, pois assim que entrávamos na oficina tudo ficava cinzento, pedacinhos de metais esparramados pelo chão, paredes rotas e um cheiro horrível de fumaça.
         Os operários cumprimentavam-se, trocavam de roupas e dirigiam-se para suas bancadas feitas com madeiras e onde se podia ver que todas tinham um torno, um maçarico, uma enorme gaveta com vários tipos de ferramentas e um banquinho.
         Papai levou-me até o meu local de trabalho que ficava no fundo da oficina, deu-me alguns pedaços de flanelas e apresentou-me um lindo sax que estava pendurado num cavalete e disse que poderia começar a trabalhar, pois eu seria o mais novo lustrador de instrumentos de sopro da oficina. Lembro-me que era necessário colocar uma determinada pasta para que o brilho tornasse mais intenso e lá fui eu dando as primeiras “flaneladas” no instrumento que parecia que estava sorrindo da minha cara.
         Era assustador quando todos os maçaricos estavam funcionando simultaneamente, pois parecia que estávamos no inferno, era fogo pra tudo quanto era lado e eu ali, com um olho no instrumento e outro nos maçaricos e ficava pensando: Acho que esta oficina vai explodir a qualquer momento!
         Chegou a hora de almoçar e meu pai colocou nossas marmitas para esquentar em banho-maria e todos comeram maravilhosamente bem, menos eu que estava com o estômago embrulhado, virado e com muito enjoo.
         Era maravilhoso ver a habilidade de papai que com alguns martelinhos ia desamassando parte por parte dos instrumentos e em seguida ligava o maçarico e aplicava no instrumento e martelava novamente eu ficava imaginando que em breve aquele instrumento poderia estar integrando alguma orquestra do nosso país e embalando sonhos de pessoas ávidas de apenas alguns momentos de felicidade.
         Após um longo e estafante dia de trabalho, retornávamos para casa com a mão doendo de tanto lustrar os instrumentos, mas feliz, muito feliz em ter ficado ao lado de papai durante todo o dia.
         Foi apenas uma semana de trabalho ao lado do meu querido papai, pois consegui contrair uma terrível diarreia e fiquei em casa e aprendi a valorizar muito a nobre profissão do meu pai José da Silva, O Luthier.