E lá estava
eu debruçado em cima da minha prancheta tentando terminar mais um dos inúmeros
desenhos técnicos para entregar na segunda-feira na Escola Técnica onde eu
estudava quando minha tia abriu a porta do meu quarto e disse que minha namorada
queria falar comigo.
Fui até o portão e minha namorada
disse-me entre soluços e muitas lágrimas que iria embora da cidade onde
morávamos e perguntou-me se eu não gostaria de acompanha-la. Um enorme ponto de
interrogação formou-se na minha mente e tentei acalma-la pedindo que ficasse e
tentasse contornar a situação, pois no outro dia sairíamos para procurar uma
casa numa cidade vizinha e assim iríamos morar juntos.
No outro dia saímos bem cedo e fomos
procurar uma singela casa onde pudesse aconchegar nossas almas e após muita
caminhada e vários ônibus tomados conseguimos achar uma humilde casinha num
bairro distante do centro da cidade, num cortiço rodeado de lindas árvores e
muito mato.
Acertamos com a proprietária do cortiço
e dissemos que no outro dia a gente mudava para a casinha. Segui para minha
casa para preparar a mudança que consistia em vários livros, algumas roupas e
minha prancheta de desenho e minha namorada foi dormir num hotel da cidade.
No outro dia fui até a casa de um
colega que tinha uma picape e descrevi o meu problema e ele imediatamente disse
que poderia transportar as poucas coisas que nós tínhamos. Encostou a picape na
frente da minha casa e colocamos toda a minha tralha em cima da caminhonete e
seguimos viagem até a singela casinha do cortiço.
Durante o trajeto pedi que meu colega
parasse numa lojinha, pois necessitava comprar alguns apetrechos para nosso
novo lar e assim comprei: duas colheres, dois garfos, dois copos, uma panelinha
pequena e seguimos viagem.
Chegamos à noite no cortiço, meu colega
ajudou-me a descarregar, desejou-nos boa sorte e acelerou seu carro e foi embora. Entramos e
colocamos o colchão num canto do cômodo e os talheres em cima da minha
prancheta e sentamos no chão e começamos a refletir no que seria nossa vida e
após muito pensar resolvi sair para comprar um lanche para comermos.
Passados alguns dias tudo parecia que
ia melhorando, pois minha namorada estava trabalhando numa indústria e eu tinha
pedido a conta do meu serviço para estudar para um concurso público e após
alguns meses fui aprovado e comecei a trabalhar também.
Fizemos muitas amizades com o pessoal
que morava no cortiço e recordo-me de uma senhora que tinha inúmeros filhos e
minha namorada ficou muito amiga desta senhora e aos sábados ela vinha até a
porta da nossa humilde casinha preparar uma deliciosa feijoada no improvisado
fogão à lenha que eu tinha construído e todos nós comíamos com muito prazer a
suculenta feijoada, pois a mulher cozinhava muito bem.
Quando eu chegava da escola, lá pelas
onze horas da noite, lá estava minha namorada esperando-me para namorarmos um
pouco embaixo de um abacateiro sob a maravilhosa lua cheia e entre um beijo e
outro escutávamos barulhos de vários carros que seguiam para Campos do Jordão e
barulhos de grilos e sapos que ajudavam o momento ficar mais maravilhoso e
encantador.
Ficamos muitos meses morando neste
cortiço e decidimos morar perto da minha escola e todo o encanto ficou marcado
no nosso coração, por termos feitos várias amizades e o local, embora muito afastado
do centro da cidade proporcionava vários momentos de alegria e amor.