Eu tinha apenas nove anos de idade, isto lá pela década de 60, exatamente em 1964, morava na Rua Mangalot, na Parada Inglesa, bairro da zona norte de São Paulo.
Vivia uma vida de príncipe e estudava numa boa escola do nobre bairro e tinha um vizinho que ficamos muito amigos chamado Cosme.
Cosme era um garoto muito bonzinho, falava muito baixo e sorria alegremente para a vida e constantemente eu o via indo para escola onde eu estudava.
Eu estudava a tarde e sempre mamãe ia levar-me a Escola Primária e sempre Cosme nos acompanhava, pois o mesmo ia sozinho para escola. Entre sorrisos, algum chute em pequenas pedras que estava no nosso caminho estreitou nossos pequenos laços de amizade.
Eu e Cosme estudávamos na mesma escola, na mesma sala de aula do terceiro ano do curso Primário e ficamos muitos amigos. A classe era a mesma, a Professora Judite adorava Cosme, pois ele era um garoto muito inteligente.
Naquela época antes de entrarmos para a classe a gente cantava o Hino Nacional e aguardávamos a professora na fila, era um respeito muito grande com nossos mestres.
Com o passar do tempo e já estando acostumado com o trajeto, mamãe liberou para que eu fosse sozinho para escola e sempre ia junto com o meu amiguinho Cosme. Naquela época nós éramos muito comportados, pois andávamos na beira da pouca movimentada rua, falávamos sobre nossas brincadeiras da nossa escola e jamais parávamos antes de chegar na escola.
Inesperadamente mamãe pediu-me gentilmente que eu fosse sozinho para escola e não tivesse a companhia de ninguém, inicialmente achei estúpido o pedido, mas procurei seguir o conselho de mamãe e refutava a presença do amiguinho Cosme que tanto insistia em ir junto comigo para escola. Dizia que mamãe não queria absolutamente ninguém indo junto comigo para escola e ele sempre me dizia que não haveria problemas em nos encontrarmos após perdermos nossas mães de vista e assim a gente seguia sendo amiguinhos: Após atravessarmos o imenso jardim e sairmos do raio de visão das nossas mães a gente se encontrava e íamos felizes para nossa escola sempre chutando algumas pedras, falando sobre nossa professora, rindo alto e falando baixo, muito baixo para que nossas mães jamais percebessem que a gente se encontrava escondido delas.
Já chegando no final do ano, saia de casa e ficava aguardando o meu amiguinho Cosme e nada dele aparecer, aguardava alguns minutos e seguia muito triste para escola sem a presença do amigo.
Foram vários dias sem a presença de Cosme e num determinado dia enquanto estava aguardando o meu amiguinho Cosme passou um carro da funerária e alguns carros seguindo o mesmo, abaixei a cabeça em sinal de respeito, persignei-me e segui para escola muito triste, com o coração apertado, muito apertado.
Naquele dia senti algo muito estranho, uma tristeza muito profunda no meu coração e ao chegar em casa mamãe comentou que meu amiguinho Cosme tinha morrido e tinha sido enterrado naquela tarde. Desabei a chorar desesperadamente enquanto era contido por mamãe que também me acompanhou nas lágrimas de sentimentos pelo meu amiguinho Cosme.