25 de mar. de 2012

TUMULTO NO CASÓRIO

          E a vida andava calmamente lá pelas bandas onde eu morava, eu estava estudando muito para formar-me Técnico em Eletrônica, fazia Inglês, capoeira e ainda sobrava tempo para namorar com uma linda garota chamada Ivete.
       Cheguei à casa da minha tia Nina, onde eu morava e lá estava um lindo convite de casamento da minha irmã Suely colocado sobre minha prancheta de desenho.
       Abri o convite vagarosamente, comecei a ler e decidi que iria aquele casamento acompanhado da minha namorada e imediatamente fui até a casa da senhorita Ivete convidá-la para o casamento e ela disse que iríamos sim.
      No dia do casamento coloquei a minha melhor roupa e minha namorada colocou um lindo vestido azul e lá saímos para pegar ônibus para São Paulo, pois morávamos em Jacareí e o casamento iria acontecer à tarde.
       Não fomos a Igreja e quando chegamos a festa já tinha começado, descemos as escadas de mãos dadas e repentinamente apareceu um rapaz que pegou minha mão e solicitou para que fossemos escutar um barulho de tamborim que vinha de longe, imediatamente safei-me do rapaz e disse:
- Amigo, vim de longe participar do casamento da minha irmã e estou acompanhado deste monumento que é minha namorada, você acha que vou perder meu tempo acompanhando sua insignificante pessoa! Falei em tom de brincadeira, zombando e acreditando que aquele rapaz fosse de boa índole.
       Saí de mãos dadas com minha namorada para cumprimentar todos que estavam na festa. Meu grande erro foi não perceber que o rapaz estava embriagado e estava passando por problemas pessoais, mas não havia como adivinhar a não ser pela sua expressão de sofrimento.
       Após os comprimentos, sentamos num degrau da escada da casa da minha mãe e ficamos observando o pessoal trazer um enorme bolo, refrigerantes, salgadinhos e quando me levantei para ver o bolo mais de perto, surgiu aquele rapaz com um punhal enorme dizendo que iria me matar de qualquer jeito e que eu nunca mais iria zombar de mais ninguém.
       Eu estava de um lado da mesa e o rapaz do outro lado e quando a ameaça surgiu imediatamente não pensei em nada, simplesmente virei a mesa em cima do rapaz e todos ficaram apavorados e queriam saber o que estava acontecendo e foi aí que um primo chamado Edson foi pra cima do rapaz e começou a socá-lo com toda sua força e minha irmã Sônia e minha namorada Ivete colocaram-me pra dentro da casa da minha irmã Sônia e trancaram a porta e diziam:
- Se você sair o rapaz te mata! Fica quietinho e deixa rolar a confusão!
    Era grito pra tudo quanto era lado, barulho de cadeiras, mesa, talheres, pratos, copos voando e espatifando no chão e eu ali andando de um lado para outro e louco pra sair pra socar o infeliz ou talvez ser socado e minha irmã e minha namorada pedindo calma, calma.
     Sinceramente foram uns dos momentos mais infeliz de toda minha vida, escutando o pessoal quebrando tudo e não poder sair, afinal trancaram a porta, esconderam a chave e ficaram na janela impedindo minha saída. Era uma agonia total, um estado de impotência, medo e rancor no meu coração. O pessoal brigando por minha causa e eu ali impotente, covarde, humilhado, trancado e inesperadamente pedi para minha irmã abrir a porta, pois ia conversar com o rapaz e ela disse:
- Meu querido irmão, se eu abrir esta porta você irá conversar com o rapaz no inferno! Você não entende? E abriu a porta e quando sai pra ver o que estava acontecendo observei uma cena aniquiladora para minha alma: Minha mãe tinha dado uma “gravata” no pescoço do rapaz e dizia com todas as forças do coração:
-É meu filho, aqui é família, você não vem estragar a festa de casamento da minha filha senão eu te mato agora FDP!
       Tentei acalmar mamãe e ela dizia: Sai pra lá que eu resolvo isto!
Soltou o rapaz e pediu que ele se retirasse da festa e lá foi o rapaz saindo vagarosamente, com vários hematomas e dizendo que voltava pra dar fim na minha vida.
       A festa continuou sobre um clima de total tensão e um tio chamado Evaristo ficou no portão para barrar o rapaz que voltaria de qualquer jeito, afinal era amigo dele e passados algumas horas o tal do rapaz não voltou e ficou uma grande lição: Jamais zombe de ninguém, principalmente de pessoas que não conhecemos, pois podemos acabar com a festa e ir parar no Céu ou talvez para o Inferno! Ainda bem que esta lição aconteceu quando eu tinha apenas dezoito anos e depois disto nunca mais zombei de ninguém! O mais difícil era aguentar minha namorada Ivete na volta pra casa que me olhava com um olhar de desconfiança e dizia: Que belo casamento! Adorei, vai ficar pra história! E ficou em: MINHAS HISTÓRIAS

RUA 25 DE MARÇO


       Para entender a Rua 25 de Março é necessário vivê-la intensamente, é necessário passar um dia inteiro circulando por lojas, entrar na galeria Pajé, subir os doze andares de elevador e descer a pé pelas escadas passando loja por loja, visitar o shopping 25 e observar a multidão comprando e pesquisando preços.
       Em 1.998 comecei a vender cartões de visita na Rua 25 de março e nas primeiras horas da manhã lá estava eu com meu mostruário de cartões, uma lanterna para iluminar os pedidos, pois quando era horário de verão, ainda estava escuro.
       Descia no metrô São Bento, atravessava a praça, benzia-me diante da Igreja São Bento, pegava um pedaçinho da Rua Florêncio da Abreu e descia a ladeira Porto Geral e lá estava eu no meu escritório a céu aberto. 
      Confesso que no primeiro dia fiquei um pouco assustado, mas com o passar do tempo fui acostumando com o pessoal, pessoas maravilhosas, sofridas, que montavam suas barracas logo nas primeiras horas da madrugada e passavam lá na Rua Vinte e Cinco de Março doze e até quinze horas das suas vidas.
      Vendia meus cartões de visita para os camelôs da Feirinha da madrugada e era muito engraçado quando existia o tal do “RAPA” que era o pessoal da Prefeitura que vinha verificar os camelôs que estavam ilegais vendendo seus produtos. Aí era um corre-corre danado e eu acompanhava meus clientes, ajudando-os a carregar pesados plásticos cheio de brinquedinhos, perfumes e outras mercadorias que eram esparramadas pela rua, afinal tinha que vender meus cartões e até avisava quando o rapa estava aproximando e os camelôs agradeciam e faziam os cartões comigo.
      Muitos camelôs da Rua Vinte e Cinco de Março eram pessoas que vinham do nordeste do Brasil e das experiências que tive foi o prazer de nunca ter recebido um “calote” de nenhum comerciante, eram todos honestíssimos, quando não tinham dinheiro suficiente para pagar os cartões, o que era raro, eles emprestavam de um “conterrâneo” e estavam sempre de bom humor, pois tudo era festa, com chuva, com Sol, sempre estavam a sorrir, às vezes de alegria em ter vendido muito outras vezes de tristeza, mas sempre de bom humor com todos e sempre fazendo algumas piadinhas que era para quebrar o gelo e a sisudez de alguns clientes.
       Garanto que muitas vezes é necessário um pouco de sorte, além da nossa capacidade de persuasão e garanto que tive muita sorte, pois uma das minhas primeiras vendas foi feita para o Senhor José, um camelô que vendia alguns colares, brincos e pulseiras de pedras de todas as cores que vinham de Minas Gerais e estava trabalhando na Rua Vinte e Cinco de Março fazia uns trinta anos, então ele conhecia quase todos os comerciantes e assim foi apresentando-me um a um e meus cartões eram comercializados com alguma tranquilidade e lá pelas dez horas da manhã já tinha vendido de dez a quinze mil cartões para os camelôs.
       O tempo foi passando e eu fui conhecendo várias pessoas da Rua Vinte e Cinco de Março e até já era conhecido como o “Rei dos Cartões”.
       A vida começava a melhorar, os negócios iam de vento em popa com as vendas dos cartões e foi quando observei dois garotos vendendo bonequinhos do Pikachu que soltavam bolinhas de sabão, não tive dúvida, larguei a venda dos cartões de visita, comprei mil bonequinhos e fui vendê-los nas praias de Ubatuba até Santos. 
      Mas a saudades ainda existia e tempos depois voltava a Rua Vinte e Cinco de Março como “comprador” e ficava imaginando como era gostoso aquele tempo que saia as quatro e meia de casa, na zona Leste de São Paulo e passava um período entre os maravilhosos camelôs da Rua 25 de Março.
      Parabéns Rua Vinte e Cinco de Março, o maior centro comercial a céu aberto da América Latina e obrigado por permitir que eu passasse um período maravilhoso entre seus clientes e camelôs! Muitas saudades, muitas boas recordações! Obrigado!