29 de mar. de 2012

ESTRADINHA DE TERRA

         Alguns momentos em nossas vidas são tão sublimes que não há como deixar de descrevê-los e entre os vários momentos que vivi existiram alguns que realmente marcaram minha existência.
         Os preparativos para uma curta viagem numa sexta-feira à noite com destino a roça enchia-me de alegria e satisfação.
        Não havia muito que levar a não ser o prazer pela aventura em “pegar” uma estradinha de terra e lá vamos nós com destino à casa de um tio que morava num paraíso, perto da nascente do rio Tietê, chamado Salesópolis.
         Até chegarmos à cidade de Salesópolis e sairmos da área urbana, minha alma ficava encolhidinha num canto qualquer, apenas prestando atenção em bares e padarias que começavam a fechar, alguns transeuntes que ousavam transitar àquela hora da noite e alguma ambulância que passava rapidamente por nós.
         Chegávamos  à cidade e parecia que tudo modificava, minha alma que até algum tempo atrás jazia num canto pulava e meus olhos enchiam-se de alegria e começávamos a percorrer os primeiros quilômetros da estradinha de terra.
         Uma música instrumental do rádio do carro era ouvida e poucas palavras eram faladas para não atrapalhar o encanto mágico do momento. Surgia a primeira porteira e eu descia vagarosamente para abri-la e o barulho característico da madeira rangendo levava-me décadas atrás quando passávamos por ali, a cavalo e parecia que era a mesma porteira.
         Após abrir várias porteiras e sentirmos prazerosamente vários cheiros de mato, parávamos numa imensa represa e saíamos do carro para contemplar o espetáculo da neblina começando a cobrir a água e aquele vento gelado assoprava nossos pensamentos e fazia a gente esquecer a grande metrópole e viver aquele momento único. Alguns “piados” de pássaros, barulhos vindos da mata e a lua cheia completavam nossa Felicidade.
         Era hora de seguir, pois já passava das duas horas da manhã e nós ali parados no meio da pequena estrada pensando “em nada” e querendo congelar aquele momento que se perpetuaria na nossa alma.
         Quando aproximávamos da Vila, passávamos vagarosamente pela igrejinha que ficava num morro, persignávamos e agradecíamos nossa boa viagem, parávamos o carro em frente à casa do meu tio, batíamos palmas e meu tio saía todo sorridente e pedia gentilmente para entrarmos, sempre solicitando notícias dos parentes.
         Após algumas prosas e boas gargalhadas, meu tio dirigia-se até o fogão a lenha, assoprava vagarosamente algumas brasas que ainda estavam acesas e colocava uma chaleira com água para preparar um café e todos sentávamos ao redor do fogão à lenha e ficávamos proseando e escutando o estalar das madeiras em contato com o fogo até os primeiros raios de Sol que iluminava a cozinha, nossa alma e a nossa Felicidade.