Estava eu lá despreocupado, lendo os meus gibis do Zorro, do Super Homem, do Batman, Homem Aranha e quando mamãe chegou do açougue anunciou meu novo serviço. Iria trabalhar com o senhor Mário, um Português que tinha um açougue na esquina da rua onde morávamos. Eu não me contive e perguntei a mamãe:
- Mas mamãe o que eu vou fazer num açougue?Não sei nem cortar um pãozinho direito, imagina eu cortando pedaços de boi! E mamãe disse que já tinha combinado até quanto eu iria receber e foi então que perguntei:
- Quantos milhares de dinheiro receberei? E mamãe disse:
- Você não receberá dinheiro algum, apenas um quilo da melhor carne por dia trabalhado!
Desmanchei-me em gargalhadas e supliquei a mamãe que desmanchasse o contrato, pois estaria disposto a fazer qualquer outra coisa, menos trabalhar por carne, sem ver a cor do dinheiro.
Mamãe insistiu e no outro dia lá estava eu na frente do açougue do senhor Mário esperando o mesmo abrir o estabelecimento de comercio do boi.
O senhor Mário chegou, desejou-me bom dia, entramos no açougue e o meu primeiro serviço foi aprender a encher linguiça.
Era muito engraçado eu colocando pedaços de carnes e passando por uma máquina e a linguiça saía prontinha do outro lado. Até que era divertido o meu serviço.
Atendia alguns fregueses, enchia linguiça e no final do expediente ajudava a fazer uma faxina no açougue. Mas jamais o senhor Mário permitia que eu cortasse carne, pois ele tinha medo de eu acidentar-me. Ao fechar o açougue o bondoso Português cortava vários bifes de primeira qualidade, embrulhava e dava para eu levar para casa.
Os dias foram passando, as linguiças foram sendo feitas, o açougue andava muito limpo, até que num determinado dia resolvi que não queria mais receber os meus proventos em carne e sim em dinheiro. E o Senhor Mário falou: Não há problemas, todos os dias dou um dinheiro pra você, só que as carnes você não levará mais.
Fiquei muito feliz e contei a quebra de contrato para mamãe que não gostou da troca, pois assim que eu dava o dinheiro recebido para ela, eu tinha que voltar ao açougue ou ao mercadinho para comprar “mistura”.
Trabalhei muito tempo com o senhor Mário no açougue, ora recebendo o meu salário em dinheiro, ora recebendo em carne, até que ele vendeu o açougue e começou a construir uma linda casa e lá fui eu trabalhar de servente na construção da linda casa do Sr.Mário.
O senhor Mário era um ótimo patrão, um amigo de todos e gostava muito da nossa família. Bela recordação! Aprendiz de açougueiro com o saudoso senhor Mário.