O mês de
dezembro de 1.995 chegara trazendo muito Sol, alegria e muitas pessoas bonitas
para o litoral norte e lá estava eu vendendo os sorvetes do Senhor Jairo na
Praia Itamambuca.
Carregava a enorme caixa de isopor de
sorvetes na Praia de Perequê-Açú e caminhava até o trevo onde estava a Rodovia
Rio-Santos sentido Paraty-RJ e lá ficava aguardando pacientemente o ônibus que
transportar-me-ia até a Praia de Itamambuca.
Itamambuca é uma das praias mais lindas
de todo o litoral norte de São Paulo, após aproximadamente uma hora de viagem
apreciando a linda paisagem de belas praias descia na rodovia e caminhava até
um pequeno povoado que localizava-se na estrada de terra distante uns três
quilômetros da Praia de Itamambuca.
Entrava no bar do Zé Prefeito e
degustava algumas cervejas bem geladas e após sentir-me bem preparado e
relaxado colocava a enorme caixa de isopor dentro de um carrinho da sorveteria
que ficava amarrado embaixo de uma enorme árvore e caminhava vagarosamente pela
maravilhosa estrada de terra assobiando lindas canções de Chico Buarque de
Holanda e apreciando maravilhosas casas de ricos turistas e a mente viajava
entre o pousar de um pequeno pássaro ou alguma pequena borboleta em pequenas
árvores que completavam toda a beleza e encanto do local.
Durante o breve percurso sempre acenava
para algum turista que saia das mansões para recolher o jornal ou caminhava
lentamente até o Bar do Zé Prefeito para comprar pães e leite para o café
matinal ao lado de lindos cães.
Ao chegar na praia estacionava meu
carrinho de sorvetes ao lado do quiosque da Conceição e sentava-me
confortavelmente num tosco pedaço de árvore e ficava aguardando meus primeiros
fregueses que não demoravam a aparecer.
Naquele dia a preguiça invadia minha
alma e assim que cheguei na praia observei uma família ao redor de uma mesa
colocada embaixo de um enorme bangalô jogando truco e bebendo cervejas.
Fiquei muito feliz admirando tanta
felicidade reunida entre gritos de truco e copos entornados de geladas cervejas
e resolvi brincar com o pessoal dizendo:
- E aí
pessoal aceitam um ótimo jogador de truco na próxima rodada?
Os olhares
perscrutadores e alguns sorrisos foram lançados e pediram para eu aguardar a
próxima partida que eu iria jogar com a toda a família. Fiquei eternos minutos
aguardando o término da partida e entre a venda de um sorvete e outra um velho
senhor acenava dizendo que eu iria ser seu parceiro no próximo jogo.
O jogo terminou e pediram gentilmente
para eu sentar que eu iria participar do jogo de truco e assim que terminamos
de “bater os reis” e meu parceiro foi definido passamos a jogar cautelosamente
entre uma piscada e outra para sinalizar a presença de alguma boa carta: copas,
sete ouro, espada ou mesmo o zape e após alguns minutos eu e meu parceiro
estávamos fora do jogo sendo humilhado por uma pequena garota que enfiou “seis”
na nossa cabeça e lá estava eu e meu parceiro sentados humildemente no tosco
tronco de árvore culpando-nos simultaneamente pela derrota.
A conversa e as experiências da vida
eram colocadas naturalmente no delicioso clima da praia e foi quando eu disse
ao próspero senhor que torcia para o São Paulo Futebol Clube e ele sorriu e
disse que amava muito o São Paulo e tinha ido até o Japão assistir a final e
comprara uma enorme bandeira que estava hasteada no topo da sua residência e
convidou-me para ir até sua casa com toda sua família.
Tentei recusar o pedido mas não houve
acordo, pediram gentilmente para eu guardar meu carrinho e seguimos à pé até a
casa do meu mais novo amigo que ficava apenas um quilômetro da praia.
Assim que avistei a casa do meu
parceiro de truco não acreditei e meus olhos nunca tinham visto uma casa tão
linda: Era em formato hexagonal, totalmente de vidro e uma enorme bandeira do
São Paulo Futebol Clube tremulando no topo do Castelo. Exclamei: Nossa que
maravilhosa casa!
O meu mais novo amigo pediu que eu
entrasse e assim que vi lindos tapetes brancos na sala recusei, pois os meus
pés estavam um pouco sujos e ele disse:
- Ora Luiz
deixa de frescura e entra logo que irei mostrar minha adega!
Descemos alguns degraus de uma escada
caracol e fiquei diante de uma adega repleta de vinhos de todas as marcas e
procedências colocados numa enorme prateleira com pouca iluminação.
O amigo observou vários litros e resolveu
pegar um que ele tinha comprado na Espanha para brindar a minha presença e
subimos e ficamos confortavelmente sentados ao redor de uma mesa branca ao lado
de uma linda piscina conversando e rindo muito das nossas andanças pelo mundo.
Fazia-se tarde e resolvi ir embora,
pois necessitava pegar o ônibus para Ubatuba e meu amigo disse:
- Poxa Luiz,
não fique preocupado com a sua locomoção, pois pedirei para o meu motorista
levar você até sua residência.
Bem mais despreocupado ainda coube
tempo para bebermos algumas cervejas importadas entre vários sorrisos de
felicidade e quando foi uma hora da manhã resolvi ir embora e foi quando ele
chamou o motorista que apresentou-se e abriu a porta traseira do luxuoso carro
e pediu gentilmente para eu entrar e eu comecei a rir muito e disse:
- Que isso
amigo, não há a necessidade de tanta formalidade, vou no banco dianteiro mesmo!
e assim seguimos viagem até a casa da minha tia Ana e quando chegamos e o lindo
carro parou em frente da casa da tia Ana todos saíram para observar e disseram:
- Que
amizade maravilhosa, tem até motorista particular! E caíram em gargalhadas.
Entrei sorrindo e dei um enorme grito:
Truco!