1 de out. de 2013

TRUCO NA PRAIA

   
   


         O mês de dezembro de 1.995 chegara trazendo muito Sol, alegria e muitas pessoas bonitas para o litoral norte e lá estava eu vendendo os sorvetes do Senhor Jairo na Praia Itamambuca.
         Carregava a enorme caixa de isopor de sorvetes na Praia de Perequê-Açú e caminhava até o trevo onde estava a Rodovia Rio-Santos sentido Paraty-RJ e lá ficava aguardando pacientemente o ônibus que transportar-me-ia até a Praia de Itamambuca.
         Itamambuca é uma das praias mais lindas de todo o litoral norte de São Paulo, após aproximadamente uma hora de viagem apreciando a linda paisagem de belas praias descia na rodovia e caminhava até um pequeno povoado que localizava-se na estrada de terra distante uns três quilômetros da Praia de Itamambuca.
         Entrava no bar do Zé Prefeito e degustava algumas cervejas bem geladas e após sentir-me bem preparado e relaxado colocava a enorme caixa de isopor dentro de um carrinho da sorveteria que ficava amarrado embaixo de uma enorme árvore e caminhava vagarosamente pela maravilhosa estrada de terra assobiando lindas canções de Chico Buarque de Holanda e apreciando maravilhosas casas de ricos turistas e a mente viajava entre o pousar de um pequeno pássaro ou alguma pequena borboleta em pequenas árvores que completavam toda a beleza e encanto do local.
         Durante o breve percurso sempre acenava para algum turista que saia das mansões para recolher o jornal ou caminhava lentamente até o Bar do Zé Prefeito para comprar pães e leite para o café matinal ao lado de lindos cães.
         Ao chegar na praia estacionava meu carrinho de sorvetes ao lado do quiosque da Conceição e sentava-me confortavelmente num tosco pedaço de árvore e ficava aguardando meus primeiros fregueses que não demoravam a aparecer.
         Naquele dia a preguiça invadia minha alma e assim que cheguei na praia observei uma família ao redor de uma mesa colocada embaixo de um enorme bangalô jogando truco e bebendo cervejas.
         Fiquei muito feliz admirando tanta felicidade reunida entre gritos de truco e copos entornados de geladas cervejas e resolvi brincar com o pessoal dizendo:
- E aí pessoal aceitam um ótimo jogador de truco na próxima rodada?
Os olhares perscrutadores e alguns sorrisos foram lançados e pediram para eu aguardar a próxima partida que eu iria jogar com a toda a família. Fiquei eternos minutos aguardando o término da partida e entre a venda de um sorvete e outra um velho senhor acenava dizendo que eu iria ser seu parceiro no próximo jogo.
         O jogo terminou e pediram gentilmente para eu sentar que eu iria participar do jogo de truco e assim que terminamos de “bater os reis” e meu parceiro foi definido passamos a jogar cautelosamente entre uma piscada e outra para sinalizar a presença de alguma boa carta: copas, sete ouro, espada ou mesmo o zape e após alguns minutos eu e meu parceiro estávamos fora do jogo sendo humilhado por uma pequena garota que enfiou “seis” na nossa cabeça e lá estava eu e meu parceiro sentados humildemente no tosco tronco de árvore culpando-nos simultaneamente pela derrota.
         A conversa e as experiências da vida eram colocadas naturalmente no delicioso clima da praia e foi quando eu disse ao próspero senhor que torcia para o São Paulo Futebol Clube e ele sorriu e disse que amava muito o São Paulo e tinha ido até o Japão assistir a final e comprara uma enorme bandeira que estava hasteada no topo da sua residência e convidou-me para ir até sua casa com toda sua família.
         Tentei recusar o pedido mas não houve acordo, pediram gentilmente para eu guardar meu carrinho e seguimos à pé até a casa do meu mais novo amigo que ficava apenas um quilômetro da praia.
         Assim que avistei a casa do meu parceiro de truco não acreditei e meus olhos nunca tinham visto uma casa tão linda: Era em formato hexagonal, totalmente de vidro e uma enorme bandeira do São Paulo Futebol Clube tremulando no topo do Castelo. Exclamei: Nossa que maravilhosa casa!
         O meu mais novo amigo pediu que eu entrasse e assim que vi lindos tapetes brancos na sala recusei, pois os meus pés estavam um pouco sujos e ele disse:
- Ora Luiz deixa de frescura e entra logo que irei mostrar minha adega!
         Descemos alguns degraus de uma escada caracol e fiquei diante de uma adega repleta de vinhos de todas as marcas e procedências colocados numa enorme prateleira com pouca iluminação.
         O amigo observou vários litros e resolveu pegar um que ele tinha comprado na Espanha para brindar a minha presença e subimos e ficamos confortavelmente sentados ao redor de uma mesa branca ao lado de uma linda piscina conversando e rindo muito das nossas andanças pelo mundo.
         Fazia-se tarde e resolvi ir embora, pois necessitava pegar o ônibus para Ubatuba e meu amigo disse:
- Poxa Luiz, não fique preocupado com a sua locomoção, pois pedirei para o meu motorista levar você até sua residência.
         Bem mais despreocupado ainda coube tempo para bebermos algumas cervejas importadas entre vários sorrisos de felicidade e quando foi uma hora da manhã resolvi ir embora e foi quando ele chamou o motorista que apresentou-se e abriu a porta traseira do luxuoso carro e pediu gentilmente para eu entrar e eu comecei a rir muito e disse:
- Que isso amigo, não há a necessidade de tanta formalidade, vou no banco dianteiro mesmo! e assim seguimos viagem até a casa da minha tia Ana e quando chegamos e o lindo carro parou em frente da casa da tia Ana todos saíram para observar e disseram:
- Que amizade maravilhosa, tem até motorista particular! E caíram em gargalhadas. Entrei sorrindo e dei um enorme grito:

Truco!