7 de jun. de 2012

A MUDANÇA


        E lá estava eu debruçado em cima da minha prancheta tentando terminar mais um dos inúmeros desenhos técnicos para entregar na segunda-feira na Escola Técnica onde eu estudava quando minha tia abriu a porta do meu quarto e disse que minha namorada queria falar comigo.
         Fui até o portão e minha namorada disse-me entre soluços e muitas lágrimas que iria embora da cidade onde morávamos e perguntou-me se eu não gostaria de acompanha-la. Um enorme ponto de interrogação postou-se na minha mente e tentei acalma-la pedindo que ficasse e tentasse contornar a situação, pois no outro dia sairíamos para procurar uma casa numa cidade vizinha e assim iríamos morar juntos.
         No outro dia saímos bem cedo e fomos procurar uma singela casa onde pudesse aconchegar nossas almas e após muita caminhada e vários ônibus tomados conseguimos achar uma humilde casinha num bairro distante do centro da cidade, num cortiço rodeado de lindas árvores e muito mato.
         Acertamos com a proprietária do cortiço e dissemos que no outro dia a gente mudava para a casinha. Segui para minha casa para preparar a mudança que consistia em vários livros, algumas roupas e minha prancheta de desenho e minha namorada foi dormir num hotel da cidade.
         No outro dia fui até a casa de um colega que tinha uma picape e descrevi o meu problema e ele imediatamente disse que poderia transportar as poucas coisas que nós tínhamos. Encostou a picape na frente da minha casa e colocamos toda a minha tralha em cima da caminhonete e seguimos viagem até a singela casinha do cortiço.
         Durante o trajeto pedi que meu colega parasse numa lojinha, pois necessitava comprar alguns apetrechos para nosso novo lar e assim comprei: duas colheres, dois garfos, dois copos, uma panelinha pequena e seguimos viagem.
         Chegamos a noite no cortiço, meu colega ajudou-me a descarregar, desejou-nos boa sorte e acelerou seu carro e foi embora. Entramos e colocamos o colchão num canto do cômodo e os talheres em cima da minha prancheta e sentamos no chão e começamos a refletir no que seria nossa vida e após muito pensar resolvi sair para comprar um lanche para comermos.
         Passados alguns dias tudo parecia que ia melhorando, pois minha namorada estava trabalhando numa indústria e eu tinha pedido a conta do meu serviço para estudar para um concurso público e após alguns meses fui aprovado e comecei a trabalhar também.
         Fizemos muitas amizades com o pessoal que morava no cortiço e recordo-me de uma senhora que tinha vários filhos e minha namorada ficou muito amiga desta senhora e aos sábados ela vinha até a porta da nossa humilde casinha preparar uma deliciosa feijoada no improvisado fogão à lenha que eu tinha construído e todos nós comíamos com muito prazer a suculenta feijoada, pois a mulher cozinhava muito bem.
         Quando eu chegava da escola, lá pelas onze horas da noite, lá estava minha namorada esperando-me para namorarmos um pouco embaixo de um abacateiro sob a maravilhosa lua cheia e entre um beijo e outro escutávamos barulhos de vários carros que seguiam para Campos do Jordão e barulhos de grilos e sapos que ajudavam o momento ficar mais maravilhoso e encantador.
         Ficamos muitos meses morando neste cortiço e decidimos morar perto da minha escola e todo o encanto ficou marcado no nosso coração, por termos feitos várias amizades e o local, embora muito afastado do centro da cidade proporcionava vários momentos de alegria e amor.

BAR DO FISGUETE


         Dos vários bares que conheci ao longo dos meus cinquenta e seis anos de idade, existiu um bar que jamais irei esquecê-lo, chamava-se Bar do Fisguete.
         Diferente de tudo aquilo que um experiente boêmio possa desejar o bar ficava localizado no final da Avenida Conselheiro Antônio Prado, em Jacareí-Sp, de uma simplicidade invejável lá estava o querido e saudoso Fisguete para receber todos os boêmios no finalzinho da noite.
         Muito linda era a hora da abertura do bar, nunca antes das onze da noite e fechava apenas quando saísse o último freguês.
         Uma televisão antiga preto e branco pendurada numa das paredes, um enorme balcão e vários boêmios postados ao redor bebericando todos os tipos de bebidas alcoólicas existentes naquela época e degustando deliciosos churrascos no pão ou apetitosas almôndegas que repousavam numa estufa clamando uma boa mordida.
         Conheci o Bar após sair de uma choperia e ainda sentir muita sede de beber a famosa “saideira” e após rodarmos quase toda a cidade lá estava nosso Oasis e assim que chegamos ao bar ficamos um pouco apreensivos, mas mesmo assim entramos e sentamos numa carcomida mesinha e ficamos bebericando nossa “última” cerveja da noite.
         A partir deste dia sempre fazíamos uma parada no bar do Fisguete nas madrugadas e assim íamos seguindo e acabei descobrindo o que existia de mais engraçado e inusitado... era a corrida de São Fisguete, que acontecia no dia 30 de Dezembro para não existir concorrência com a São Silvestre.
         Resolvi participar e antes da corrida existia uma grande concentração no próprio bar do Fisguete e assim fazíamos nosso aquecimento entre cachaças, cervejas, vinhos e boas risadas.
         O mais engraçado é que só podia participar da corrida quem estivesse devidamente alcoolizado, caso estivesse sóbrio, era eliminado assim que a corrida começava, foi o que aconteceu comigo, pois eu não estava devidamente alcoolizado e após cem metros fui gentilmente retirado da corrida por importantes fiscais semi alcoolizados.
         A estrutura era enorme, pois existia até uma ambulância acompanhando os atletas e socorrendo os mesmo de possíveis quedas e era muito divertido, pois eram apenas mil metros a serem percorridos e quando a largada era anunciada via-se alguns atletas que mal conseguiam dar alguns passos e saiam da avenida e vencia quem chegava por último e a concentração novamente era no bar.
         Até hoje quando me lembro do bar do Fisguete sinto uma certa tontura e dou gostosas gargalhadas do que existiu de mais belo para todos os boêmios de plantão daquela época: Bar do Fisguete!