27 de fev. de 2012

FEIRA DAS FLORES DO CEAGESP

          Só quem já esteve no CEAGESP pode ajudar-me a definir a imensidão que é aquele local, pois na minha modesta opinião acho que o CEAGESP é a “Cara” de São Paulo, primeiro pelo tamanho, realmente é enorme, segundo pela quantidade de pessoas que circulam por lá comercializando seus produtos e por último pela beleza que é a Feira das Flores que acontecia e deve acontecer até hoje: as Terças e sextas-feiras.
         Como tinha a liberdade de ir para qualquer lugar comercializar meus cartões de visita, achei que a Feira das Flores seria um ótimo lugar para vender os cartões, pois a mesma acontecia das 3 da madrugada até as 10 horas da manhã e a concorrência de vendedores de cartões seria bem menor.
         Após comunicar ao dono da gráfica onde eu ia vender meus cartões ele ficou um pouco céptico, esboçou um sorriso de dúvida quanto à aceitabilidade e consentiu a autorização e lá fui eu pra casa dormir mais cedo, pois outro dia teria que acordar às 4 horas da manhã para colocar o pé na estrada, pegar um ônibus e em seguida um trem que me conduziria até o Paraíso das Flores chamado: A Feira das Flores do CEAGESP.
          Logo quando cheguei à estação CEAGESP, lá do alto vi milhares de caminhões estacionados no imenso pátio entre inúmeras pessoas circulando entre vários boxes. Admito que fiquei um pouco assustado com o dinamismo e o agradabilíssimo cheiro das Flores que exalavam das milhares de flores existentes no local.
          Desci as escadas e entrei por um portão lateral e fui oferecendo e vendendo meus cartões de visita para todos os comerciantes de flores.  Após negociar meus cartões de visita tinha um hábito maravilhoso que era de ir até uma lanchonete na entrada principal, pedir uma cerveja e ficar contabilizando os meus pedidos e depois ir embora para passar o serviço para a gráfica.
           No primeiro dia fiquei muito surpreso, pois estava concentrado passando meus pedidos de cartão a limpo e em questão de alguns minutos ouvi vários caminhões entrando e saindo e a feira das flores sendo desmontada e dando lugar para as batatas, milhos, pimentas, hortaliças. Mas a rapidez é impressionante e achava que o CEAGESP tinha realmente a “Cara” de São Paulo, pela agilidade, a quantidade e variedade de produtos, milhares de pessoas circulando entre caminhões, boxes. Tudo aquilo deixava eu apaixonado pelo local e tinha planos de ficar muito tempo por lá. E após conseguir uma boa cartela de clientes para o dono da gráfica comecei a passar nos restantes dos outros boxes para oferecer meus cartões.
             Conheci pessoas maravilhosas no CEAGESP e entre as pessoas tive o imenso prazer em conhecer um Japonês chamado Akira que cultivava e vendia todos os tipos de pimentas que um ser humano pode imaginar e acabei ficando freguês e todas as sextas-feiras comprava vários vidros de deliciosas pimentas para comer com meu prato predileto durante a semana.
             Há um enorme relógio no portão principal que é uma referência para todos que por lá circulam e sempre quando estava perdido no meio de tantos boxes, orientava-me por aquele relógio.
              Acredito que devo ter passado uns quatro meses dentro do CEAGESP e fiz uma excelente Carteira de clientes para a gráfica e em seguida fui vender os meus cartões de visita em outro lugar.
            Deixei de vender os cartões e fui trabalhar com minha irmã que estava montando uma Revista e tive a Felicidade de voltar novamente ao CEAGESP, a Feira das Flores com meu irmão Robson.
              O encanto foi o mesmo, o entusiasmo e o amor pelos locais já conhecidos eram passados para meu querido irmão que também ficou muito emocionado com a Feira das Flores.
             Os espaços publicitários eram oferecidos e a aceitabilidade não estava sendo muito boa porque estávamos vendendo apenas “O Boneco” da revista, estávamos tentando conseguir os primeiros clientes para patrocinar a revista. “Não” seguidos de “não” ouvíamos constantemente e até que num determinado dia meu irmão ficou um pouco aborrecido pela recusa dos espaços publicitários e resolveu  comprar uma planta para enfeitar sua casa e lá ficamos procurando a tal da planta por vários minutos até que ele conseguiu comprar uma linda planta que apelidamos carinhosamente de “TOCO”, colocamos dentro do carro e fomos comemorar a compra do Toco. Ridículo ir até o CEAGESP vender espaço publicitário e acabar comprando um toco! Mas tudo era festa e acabamos comemorando a compra do tal Toco numa lanchonete conhecida, com várias cervejas e porções degustadas sobre vários sorrisos de Felicidade em ter comprado o Tal do Toco e ter conhecido o lugar mais encantador do mundo: A Feira das Flores do CEAGESP. Bela recordação!

MEU PRIMEIRO CELULAR

          Há a necessidade de estarmos “antenados” com as novas Tecnologias e quando eu pensei que já tinham inventado quase tudo nesta vida surge este maravilhoso aparelhinho chamado celular.
               Quando os primeiros equipamentos apareceram por aqui em 1.997 eu tinha um velho “BIP” que utilizava para manter contatos com meus clientes de Plano de Saúde. Mas meu verdadeiro plano era sair dos “Planos de Saúde” e migrar para outra atividade qualquer e foi nesta época que surgiu a oportunidade de vender Cartões de Visita.
                Os clientes “bipavam”,eu  anotava o número e corria até um orelhão para retornar o chamado e acertar uma visita. Era muito triste estar bebendo uma cerveja bem gelada numa galeria qualquer do centro de Sampa, receber um chamado via “BIP” e ter que sair correndo para não perder o cliente e deixar o copo quase cheio sobre o balcão da lanchonete. Aquilo me deixava muito triste e eu fazia planos para adquirir um aparelho celular o mais breve possível.
                 Comecei a vender cartões de visitas para o Luis, dono de uma gráfica digital que tinha um escritório na Rua Sete de Abril, no centro de São Paulo, bem em frente a TELESP, o que aguçava ainda mais  minha vontade de ter o tal do celular. Mas nunca sobrava dinheiro suficiente para comprar o tal do aparelho, visto que o equipamento custava muito caro. E lá eu ia seguindo com meu velho aparelhinho BIP e sempre sonhando em fazer uma boa venda de cartões para adquirir um celular, até que num determinado dia a sorte resolveu acompanhar-me e sai de casa de madrugada para oferecer meus cartões de visitas para os camelôs da Rua Vinte e Cinco de Março, na antiga e surpreendente Feirinha da Madrugada.
            Lá pelas dez horas da manhã de um determinado dia já tinha vendido vários cartões e ia embora quando fui abordado por um camelô pedindo se eu poderia fazer apenas cem cartões de visita para ele, disse educadamente que só vendia múltiplos de mil, ou seja: mil, dois mil e assim por diante e ele disse que os produtos que ele comercializava eram poucos e não havia clientes suficientes para poder fazer um pedido de mil cartões. Foi então que fiz uma brincadeira com ele e disse:
- Olha amigo, só faço cem cartões pra você se você apresentar-me um próspero comerciante que faça dez mil cartões comigo.
Ele riu humildemente, colocou a mão no queixo e ficou pensativo até que inesperadamente disse:
- Pois é senhor vendedor de cartões, tenho um primo que é muito rico e vou dar o endereço dele para o senhor fazer uma visita, quem sabe ele faça alguns cartões com o senhor! Mas preciso de cem cartões!
Passei a mão no meu bloquinho de pedidos e imediatamente anotei o pedido de cem cartões para o humilde camelô. Sabia que não poderia apresentar apenas um pedido de cem cartões e tinha resolvido que iria fazer mil cartões e arcaria com o resto do custo. Coloquei o endereço do primo rico no bolso e segui meu caminho e quando estava dentro da estação São Bento do Metrô, resolvi voltar e ir até o tal do primo rico ver se conseguia mais um significante pedido de cartões de visita.
            Quando cheguei em frente ao endereço, fiquei muito surpreso, pois eu estava em frente a um shopping, peguei o elevador e apresentei-me a secretária e ela pediu que eu aguardasse alguns minutos que ela iria anunciar-me ao próspero comerciante.
             Entrei e apresentei-me ao “Primo rico” do comerciante da rua vinte e cinco de Março e ele cordialmente perguntou-me:
- Quem enviou você até aqui? E eu contei toda a história dos cartões e que ele tinha um primo que vendia alguns carrinhos de plásticos e foi exatamente aquele primo que pediu para eu ir falar com ele.
O comerciante sorriu e levantou-se da cadeira e disse:
- Onde está este querido primo que não o vejo faz anos! Dei o endereço a ele e o comerciante encomendou quarenta mil cartões para uma nova loja que ele estava inaugurando sobre artigos exotéricos.
          Como o Luis, dono da gráfica não fazia aquele tipo de cartões encomendados, procurei um amigo que tinha uma gráfica com várias máquinas no Tatuapé e ele fez os cartões.
          O dono da gráfica do Tatuapé entregou os cartões ao rico comerciante e pediu para eu passar na gráfica para receber minha comissão e ele foi logo dizendo:
- Muito obrigado pelo pedido, quanto lhe devo?
Eu zombando, brinquei dizendo que precisava de dinheiro suficiente para comprar um bom celular, pois estava cansado de tanto usar meu simples “BIP”, ele sorriu e deu uma quantia que dava pra comprar dois celulares. E lá fui eu para a região da Rua Santa Efigênia comprar meu primeiro celular. Era enorme, parecia um tijolo, pesado, mas... funcionava!
            Sai da loja todo encantado com meu celular e liguei pra todos os meus contatos e acabei com todo meu crédito. A partir deste dia andava com meu pesado celular preso a minha cinta e sempre que precisava telefonar usava-o e ficava agradecendo aquele humilde camelô que tinha proporcionado tal conforto.
            Depois muitos outros celulares eu tive, mas este conseguido com uma brincadeira serviu-me de lição: Nunca duvide de uma pessoa por sua insignificante posição social, pois ela pode surpreender você a qualquer momento, assim como aconteceu comigo e a partir deste dia passei a não duvidar de mais ninguém nesta vida. E viva o Celular!