1 de abr. de 2012

VIAGEM DE TREM À SANTOS


          Se existiu outra vida, outra encarnação, posso garantir com toda convicção que eu fui maquinista de trem e morava na praia.
         A minha paixão por trens é inefável, talvez pelo barulho da locomotiva, pelo som maravilhoso das rodas dos trens em contato com os trilhos e aquele cheiro agradabilíssimo de querosene misturado com óleo e o tradicional apito que faz pular nossos corações de alegria.
         Decidimos fazer uma viagem de São Paulo até Santos e naquele domingo ensolarado lá estávamos nós com nossas mochilas repletas de guloseimas, binóculos  e uma filmadora na Estação de trem Júlio Prestes aguardando a chegada da locomotiva que iria nos levar a um dos passeios mais lindo de toda a minha vida.
         Os bilhetes da viagem já estavam comprados com antecedência e ao chegar a Estação Júlio Prestes notamos ao descer as escadas muita alegria entre o pessoal que iria viajar para Santos.
         Chegamos e sentamos num enorme banco de madeira e ficamos aguardando o trem com muita ansiedade e muito feliz e não demorou muito ouvimos um apito e o trem foi chegando mansamente na estação, a locomotiva encostou-se à plataforma e o barulho das rodas em contato com os trilhos, o cheiro forte de querosene misturavam com nossa felicidade.
         As portas dos vagões foram abertas e entramos calmamente a procura dos nossos lugares e notamos que o maquinista estava andando pelos vagões dando-nos boas vindas e dizendo que a viagem demoraria aproximadamente cinco horas, que existia um vagão restaurante e que aproveitássemos todas as paisagens encantadoras que iríamos ver ao longo da viagem.
         As portas dos vagões fecharam e o trem foi saindo vagarosamente da estação emitindo vários apitos e nossos corações repletos de alegria abriam sorrisos de felicidade.
         As primeiras paisagens não eram lá muito encantadoras aos nossos olhares, pois estávamos saindo da grande metrópole e o que víamos eram prédios, carros, rodovias e o mais encantador era o som constante e repetitivo da locomotiva.
         Como a viagem era longa resolvi abrir um pequeno livro para ler e passei os olhos por algumas páginas e constantemente era convocado para ver algum detalhe que passava pela janela do vagão e finalmente abandonei o livro numa das mochilas e comecei a observar os encantos das primeiras paisagens que surgiam, pois estávamos começando a descer a serra e o trem foi diminuindo a velocidade e parou para serem colocados alguns cabos de aço. Ficamos um pouco apreensivos, pois o trem desceria através de alguns cabos de aço, que loucura!
         Novamente alguns apitos foram ouvidos  e o trem estava em movimento e descia a serra vagarosamente e as primeiras florestas da mata atlântica começaram a aparecer entre lindas flores, cachoeiras e voos maravilhosos de grandes pássaros.
         Comecei a filmar a linda paisagem e surpreendentemente fui convidado pela patroa a beber uma cerveja bem gelada no vagão refeitório e não recusei e lá fomos nós degustar a bebida.
         Na volta do vagão refeitório sentimos que o trem estava começando a parar novamente e finalmente parou bem em frente a uma linda cachoeira que descia do alto de um morro e ficou vários minutos parado para que nós apreciássemos aquela linda paisagem.·.
         Alguns passageiros de outro vagão apareceram no vagão onde estávamos e ofereceram alguns pedaços de bolo para adoçar mais ainda nossa magnífica viagem e a viagem foi seguindo e eu não cabia no meio de tanta felicidade.
         Os binóculos eram passados de mão em mão e já conseguíamos avistar bem ao longe o mar e a viagem estava terminando e vagarosamente o trem foi encostando na estação e apitando e nossas mochilas foram retiradas do bagageiro e saímos do vagão sobre grandes suspiros de felicidade e sempre olhando para trás uma máquina, apenas um trem capaz de proporcionar tanta alegria para nós simples mortais da grande metrópole.