A paixão de
um jovem é maravilhosa e foi assim que me apaixonei pela primeira vez quando eu
tinha lá meus quatorze anos de idade por uma garota muito bonitinha e de gestos
delicados que morava no mesmo bairro onde eu morava.
O namoro naquela época existia a
necessidade de pedir aos pais da garota o consentimento para poder namorar e lá
fui eu todo envergonhado e com muito medo de levar uma surra do pai da garota e
de seus três truculentos irmãos solicitar o tal consentimento.
Naquele dia estava acontecendo o
aniversário da minha namoradinha e entre várias felicitações lá estava eu todo
encolhido no sofá da sala esperando o momento oportuno para solicitar o
consentimento do nosso namoro.
Na televisão estava passando um programa
chamado “O Chacrinha” e resolvi tomar coragem, levantei-me, coloquei meu corpo
ereto, pigarreei algumas vezes, arrumei a gola da camisa e chamei o pai da
pequena para falar sobre o nosso namoro e pedir autorização para namorarmos.
O velho senhor quando chegou perto da
minha pessoa pareceu que tinha uns dois metros de altura e enchi o peito e
disse:
- Olha
senhor, estou aqui para pedir o nobre consentimento do senhor para namorar sua
filha.
O pai da garota deu uma sonora gargalhada
e disse que não poderia resolver nada e pediu para eu falar com a mãe da minha
namorada, pois era ela que decidia tudo dentro daquela casa.
E lá fui eu pedir o consentimento para a
mãe da pequena e ela disse que jamais poderia opinar e consentir, pois quem
mandava na casa era o marido.
Como já tinha falado com o pai e o mesmo
jogou toda a responsabilidade para a mãe e a mesma não decidiu nada, resolvi
chamar minha namoradinha para fora da casa e disse que iríamos namorar assim
mesmo, pois tinha ido pedir autorização e não obtive resposta alguma.
O namoro continuou e prometi a minha
namoradinha que no próximo aniversário dela iria dar um presente que ela jamais
esqueceria pelo resto da vida e assim os meses foram passando e o nosso amor
foi aumentando e quando chegamos ao mês de Outubro comecei a reservar algum
dinheiro do meu pífio “salário” de office-boy para comprar um significante e
maravilhoso presente para dar para minha namoradinha.
A dúvida corroia os meus neurônios quanto
ao presente que eu poderia dar para minha namoradinha e entre idas e vindas nos
lotadíssimos ônibus de outrora surgiu a ideia de dar uma caneta tinteiro toda
de ouro e assim que almoçava todos os dias no meu emprego sempre saia pelas
lojas que vendiam canetas pelas ruas centrais de São Paulo para pesquisar as lojas e tentar escolher o
presente para minha namorada.
Faltando alguns dias para o Natal entrei
em uma loja muito linda que vendia canetas de todas as marcas e origens e
comprei uma caneta totalmente banhada a ouro e pedi para o atendente que
embrulhasse com o melhor papel de presente, pois iria dar para minha namorada e
ele todo solícito ainda brincou, dizendo: Poxa, você deve gostar muito desta
sua namorada! Estas canetas são vendidas apenas para executivos e executivas
pelo seu alto custo.
Coloquei a caneta no bolso e sai todo
feliz da loja e não ousei abrir o presente até a véspera do Natal.
Naquela véspera de Natal resolvemos
caminhar pelas ruas do bairro e lá ia eu segurando a mão da minha namoradinha e
quando paramos numa pracinha, sentamos num banco e eu olhei bem nos lindos olhos verdes da minha namorada e depositei carinhosamente o meu presente nas mãos da pequena desejando Feliz Natal e dei um carinhoso beijo na sua face e assim que ela abriu o presente seus olhos lacrimejaram e ela disse:
- Nossa
Luiz, que lindo presente! Nunca ganhei nada mais lindo e valioso que esta linda
caneta, muito obrigado querido! Feliz Natal pra você também!
Saímos de mãos dadas e fomos comemorar a
entrega do presente comendo alguns pastéis com guaraná numa pastelaria
existente no nosso bairro. Uma ótima recordação da véspera do Natal. Apenas uma
caneta tinteiro que jamais ela usou, mas valeu o lindo presente. Um presente de
Natal!