22 de dez. de 2012

PRESENTE DE NATAL



      A paixão de um jovem é maravilhosa e foi assim que me apaixonei pela primeira vez quando eu tinha lá meus quatorze anos de idade por uma garota muito bonitinha e de gestos delicados que morava no mesmo bairro onde eu morava.
      O namoro naquela época existia a necessidade de pedir aos pais da garota o consentimento para poder namorar e lá fui eu todo envergonhado e com muito medo de levar uma surra do pai da garota e de seus três truculentos irmãos solicitar o tal consentimento.
      Naquele dia estava acontecendo o aniversário da minha namoradinha e entre várias felicitações lá estava eu todo encolhido no sofá da sala esperando o momento oportuno para solicitar o consentimento do nosso namoro.
      Na televisão estava passando um programa chamado “O Chacrinha” e resolvi tomar coragem, levantei-me, coloquei meu corpo ereto, pigarreei algumas vezes, arrumei a gola da camisa e chamei o pai da pequena para falar sobre o nosso namoro e pedir autorização para namorarmos.
      O velho senhor quando chegou perto da minha pessoa pareceu que tinha uns dois metros de altura e enchi o peito e disse:
- Olha senhor, estou aqui para pedir o nobre consentimento do senhor para namorar sua filha.
      O pai da garota deu uma sonora gargalhada e disse que não poderia resolver nada e pediu para eu falar com a mãe da minha namorada, pois era ela que decidia tudo dentro daquela casa.
      E lá fui eu pedir o consentimento para a mãe da pequena e ela disse que jamais poderia opinar e consentir, pois quem mandava na casa era o marido.
      Como já tinha falado com o pai e o mesmo jogou toda a responsabilidade para a mãe e a mesma não decidiu nada, resolvi chamar minha namoradinha para fora da casa e disse que iríamos namorar assim mesmo, pois tinha ido pedir autorização e não obtive resposta alguma.
      O namoro continuou e prometi a minha namoradinha que no próximo aniversário dela iria dar um presente que ela jamais esqueceria pelo resto da vida e assim os meses foram passando e o nosso amor foi aumentando e quando chegamos ao mês de Outubro comecei a reservar algum dinheiro do meu pífio “salário” de office-boy para comprar um significante e maravilhoso presente para dar para minha namoradinha.
      A dúvida corroia os meus neurônios quanto ao presente que eu poderia dar para minha namoradinha e entre idas e vindas nos lotadíssimos ônibus de outrora surgiu a ideia de dar uma caneta tinteiro toda de ouro e assim que almoçava todos os dias no meu emprego sempre saia pelas lojas que vendiam canetas pelas ruas centrais de São Paulo para pesquisar as lojas e tentar escolher o presente para minha namorada.
      Faltando alguns dias para o Natal entrei em uma loja muito linda que vendia canetas de todas as marcas e origens e comprei uma caneta totalmente banhada a ouro e pedi para o atendente que embrulhasse com o melhor papel de presente, pois iria dar para minha namorada e ele todo solícito ainda brincou, dizendo: Poxa, você deve gostar muito desta sua namorada! Estas canetas são vendidas apenas para executivos e executivas pelo seu alto custo.
      Coloquei a caneta no bolso e sai todo feliz da loja e não ousei abrir o presente até a véspera do Natal.
      Naquela véspera de Natal resolvemos caminhar pelas ruas do bairro e lá ia eu segurando a mão da minha namoradinha e quando paramos numa pracinha, sentamos num banco e eu olhei bem nos lindos olhos verdes da minha namorada e depositei carinhosamente o meu presente nas mãos da pequena desejando Feliz Natal e dei um carinhoso beijo na sua face e assim que ela abriu o presente seus olhos lacrimejaram e ela disse:
- Nossa Luiz, que lindo presente! Nunca ganhei nada mais lindo e valioso que esta linda caneta, muito obrigado querido! Feliz Natal pra você também!
      Saímos de mãos dadas e fomos comemorar a entrega do presente comendo alguns pastéis com guaraná numa pastelaria existente no nosso bairro. Uma ótima recordação da véspera do Natal. Apenas uma caneta tinteiro que jamais ela usou, mas valeu o lindo presente. Um presente de Natal!

O VIRA-LATA



      Em frente a um grande supermercado existente na cidade onde moro existe um rapaz que todos os dias monta sua enorme churrasqueira e lá fica a vender os deliciosos churrascos até umas dez horas da noite.
      Eu e minha netinha fomos fazer algumas compras no supermercado e ao sair do mesmo minha netinha viu aquela quantidade enorme de fumaça saindo da churrasqueira e todo o delicioso e agradável cheiro de carne assada e fez-me um convite irrecusável:
- Vovó o que acha de comermos um churrasquinho daquele moço?                            E eu rapidamente aceitei tão delicioso convite e sentamo-nos confortavelmente em frente da churrasqueira em frente a uma oficina mecânica que estava fechada e pedimos dois churrascos de carne e começamos a comer, apreciando a fumaça subir e os carros passarem pela movimentada avenida.
      Um vira-lata atravessou a rua e chegou perto do pessoal que estava comendo churrascos e começou a comer alguns pedaços de carne que estavam pelo chão e imediatamente minha netinha disse:
- Olha vovó este lindo cachorrinho deve estar com muita fome!
      O proprietário dos churrascos pegou uma garrafa pet cheio de água e jogou no vira-lata para espantar o mesmo e imediatamente minha netinha fez o seguinte comentário:
- Nossa que moço maldoso! Será que ele não vê que o cachorrinho está com muita fome?
      Assim que terminamos de comer nossos churrascos minha netinha pediu se eu podia pagar mais um churrasco pra ela, pois ela estava com muita fome e concordei e assim que ela pegou o churrasco correu até o vira-lata e deu a ele.
      Muito envergonhado o dono dos churrascos pediu desculpas e elogiou o gesto da minha netinha em dar um churrasco inteiro para o vira-lata.
      Seguimos para casa e eu fiquei a refletir sobre o gesto bondoso da minha netinha e o olhar diferente de uma criança que vê um mundo totalmente diferente dos adultos.

O GATO



      O final do dia estava chegando e eu estava muito cansado, pois tinha trabalhado o dia todo vendendo meus sucos de laranja numa linda praia do litoral norte do estado de São Paulo.
       Coloquei minha enorme caixa de isopor em cima de um rústico banco de madeira e sentei-me pesadamente ao lado da mesma e solicitei ao garoto que estava servindo os fregueses uma cerveja muito gelada.
       Olhei para um simples cartaz colocado na entrada do rústico quiosque os preços das porções que eram vendidas e não tive coragem de pedir uma porção de camarão, pois o preço estava muito alto e assim continuei a beber minha cerveja e enquanto eu estava esfregando meus pés na limpa areia e observando o mar, apareceu uma enorme família de Americanos e sentaram em outra mesa e pediram várias porções de camarões e várias bebidas e ficaram a falar alegremente enquanto deliciavam com as fartas e deliciosas porções.
       A noite caia silenciosamente quando vi entrar no quiosque um gatinho todo sujinho e ficou a andar para lá e para cá dentro do quiosque a procura de algum pedaço de camarão, peixe ou outro alimento que saciasse sua fome de gato de rua.
       Uma menininha pertencente à família dos Americanos disse ao seu pai em inglês:
- Papai olha que gatinho mais lindo, podemos pagar uma porção de camarão a este pobre bichano?
       O pai acenou a cabeça afirmativamente e dentro de alguns minutos lá estava o bichano a comer os enormes e deliciosos camarões e eu ficava a pensar:
“Caramba este pobre gatinho comendo esta deliciosa porção de camarão e eu aqui a ver navios!”
       A família pagou a conta em foi embora e lá ficou o gatinho degustando a enorme porção de camarão e foi então que tive uma ideia fantástica:
Solicitei um prato para o garoto garçom e pedi licença para o gatinho e tirei alguns camarões do pobre gatinho sob o olhar surpreso do proprietário que sorriu muito e disse:
- Está certíssimo em ajudar o gatinho a comer os camarões, afinal ele não aguentaria mesmo comer todos os camarões!
Rimos muito e pedi mais algumas cervejas e o gatinho foi embora sem se despedir da gente.