7 de set. de 2012

HOTÉIS



         Foram vários os hotéis por onde eu hospedei-me, alguns cinco estrelas, outros não existia estrelas, apenas uma entrada, uma cama e um velho guarda-roupa carcomido.
         De todos os hotéis por onde passei guardo com muita satisfação e alegria um hotel sofisticado que ficava na Avenida São João, bem em frente ao Largo Paissandú, no centro da cidade de São Paulo.
         Conheci este hotel quando eu era office-boy, na década de 70, quando eu ia entregar algumas correspondências na portaria para o zelador e ficava imaginando que quando eu completasse dezoito anos iria hospedar-me naquele lindo hotel.
         Dois dias após completar meus dezoito anos, reservei alguns trocados e lá fui eu hospedar-me no meu sonho de adolescente. Avisei mamãe que iria dormir num hotel e ela desabou em risos e perguntou-me o porquê, se a cama onde eu dormia não estava boa. Contei da minha vontade enorme em conhecer o hotel e ela concordou e ainda perguntou-me quando eu ia saindo se eu não ia levar nenhuma garota para fazer companhia e eu disse que não, pois era apenas para conhecer e viver outro ambiente jamais visto aos meus olhos de garoto da periferia.
         Cheguei ao hotel e fui recebido com boas vindas e um enorme sorriso do zelador que foi logo anunciando que não receberia correspondências nos finais de semana e logo disse a ele que gostaria imensamente de hospedar-me naquele magnífico hotel e ele imediatamente disse:
- Sabe garoto, vou hospedá-lo no melhor apartamento que existe neste hotel! Passou a mão num enorme molho de chaves, pegamos o elevador e fomos até o último andar do prédio, caminhamos lentamente e a chave foi colocada na fechadura, ele abriu a porta e eu quase tive um ataque cardíaco diante de tanto luxo e beleza.
         Desejou-me boa tarde, fechou lentamente a porta e saiu rindo alto pelo enorme corredor do prédio.
         Abri as cortinas vagarosamente e ainda consegui ver o por do Sol da maior cidade da América Latina. Joguei-me na confortável cama e fiquei imaginando tomar um banho naquela enorme banheira existente no banheiro.
         Era muito luxo e beleza aos meus olhos e resolvi descer para comer um lanche chamado Bauru no tradicional Ponto Chic e após saciar minha fome e sede voltei ao meu paraíso.
         Enchi a banheira de água, entrei cautelosamente na mesma e fiquei bebericando algumas cervejinhas, lendo uma revista que acabara de comprar numa banca de jornal chamada “POP” e imaginando que era um garoto muito “rico” em poder desfrutar daquele momento maravilhoso em hospedar-me pela primeira vez num hotel.
         Após vários anos morando no interior, quando ia visitar minha querida cidade de São Paulo fazia questão de hospedar-me neste hotel que existe na minha mente até hoje e ainda escuto na minha mente o carrinho andando pelo corredor trazendo o maravilhoso café matinal. Belas recordações da primeira noite num hotel!

LAVA RÁPIDO


- Oi bem, acorda, hoje é sábado, que tal irmos lavar meu carro?
         Assim eu era cordado quase todos os sábados e fingia estar dormindo para ganhar mais alguns afagos e abrir os olhos e encontrar um sorriso angelical convidando-me para lavar um velho carro fabricado em 1.975 caindo aos pedaços. A vontade de falar um “não” era tentadora, mas diante de tantos “mimos”, afagos e um ar de felicidade estampado no rosto da pequena, curvava-me diante do momento, dava um carinhoso beijo e levantava alegremente.
         Todos os nossos cafés matinais aos sábados eram demorados e colocávamos nossas conversas em dia e entre um sorriso adormecido, uma mordida no lanche preparado antecipadamente pela patroa, observava o sol invadir nossa cozinha convidando-nos para mais um lindo dia.
         Após bebermos o café, eu colocava uma bermuda, uma camiseta regata e um chinelo e seguíamos alegremente até o lava rápido que ficava próximo do nosso lar.
         Naquela época não existia “DVD” e eu sempre comprava algumas fitas cassete de MPB para ouvir ao longo do percurso até o lava rápido e para agradar a patroa também comprava algumas fitas de “pagode”.
         Ao chegar ao lava rápido onde conhecíamos quase todas as pessoas, pedíamos uma lavagem completa e eu imediatamente ia até os lavadores passar as instruções “secretas” e assim dizia aos garotos que lavavam os carros:
- Garotada, não há a mínima necessidade de “pressa”, quanto mais demorar mais caixinha vocês ganharão!  Isto porque eu adorava jogar truco e beber algumas cervejas e quando encontra parceiros bons no jogo de truco passava quase toda a tarde lavando o tal do carro e a patroa irritada questionava a demora e eu sempre dizia:
- Calma linda, “cabeça de gelo” é que a garotada está caprichando na lavagem e afinal seu carro ficará maravilhoso e todos ficarão admirando o brilho dos dois: do carro e do seu brilho, minha estrela!
         Em seguida as cartas tinham sido distribuídas e eu tinha pegado as três melhores cartas do jogo, chamava a patroa e pedia gentilmente para ela ir até a dupla adversária e gritar bem alto nos ouvidos dos marmanjos: TRUCO!
         Obviamente que os meus desejos não eram atendidos e ela pedia gentilmente para irmos embora, pois o carro já tinha sido lavado já fazia mais de meia hora.
         Levantava-me contrariado com um sorriso amarelado e despedia do meu parceiro anunciando que no próximo sábado o jogo continuaria.
         “Entrávamos no carro que estava muito limpo e cheiroso, pagávamos e eu sempre dava uma “gorda” caixinha” para os garotos lavadores e íamos embora escutando pagode e eu batucando no painel frontal do carro sob efeito de várias cervejas e um sábado maravilhoso que íamos ao lava rápido.