8 de set. de 2012

O PERFUME



         A beleza e o encanto de uma mulher nem sempre está na sua beleza física, mas sim nas suas atitudes, gestos delicados, posicionamento diante de pequenos ou grandes problemas e acima de tudo no perfume que ela usa.
         Tinha lá meus quatorze anos e depois de ser apresentado a uma linda garota e pegar na sua mão fiquei apaixonado pelo delicioso perfume que a pequena usava, foi um encanto ao primeiro olfato e deu uma vontade enorme de perguntar qual era a marca, estilo, sei lá o quê, mas meu olfato foi bombardeado por aquele maravilhoso cheiro de jasmim e a partir daquele momento quando encontrava com a menina fazia questão de pegar na mão da mesma e ficar eternos segundos segurando para que a transferência do aroma agradabilíssimo fosse efetuada para eternidade.
         Os nossos encontros eram rápidos, pois dependia do seu irmão que estudava na mesma classe no período noturno e às vezes trazia a menina mais “cheirosa” da escola e eu num determinado dia pedi o consentimento do seu irmão para poder namorá-la e ele balançou os ombros e pediu muito cuidado com a sua irmã e principalmente com o pai da pequena que era muito bravo.
         Os nossos encontros aconteciam exatamente ao meio dia, pois a mesma estudava no período vespertino e eu trabalhava numa fábrica ao lado da escola e quantas vezes deixei de almoçar para poder encontrar a pequena e ficar sonhando o resto da tarde com aquele perfume encantador.
         Nosso namoro resumia-se a rápidos beijos num pequeno restaurante, quando sobrava dinheiro e vários apertos de mãos para que o perfume ficasse a tarde toda e eu poder cheirar minhas mãos constantemente entre uma datilografada e outra em inúmeras notas fiscais.
         Até hoje não encontrei mais nenhuma mulher que usasse aquele maravilhoso perfume, talvez fosse importado, sei lá, mas nos poucos neurônios que ainda me restam permanece o inefável cheiro de amor.

CURSINHO PRÉ-UNIVERSITÁRIO



         Existiu uma época em que me matriculei num cursinho pré-universitário para poder fazer o vestibular em uma Universidade Pública.
         Eu trabalhava numa indústria de telecomunicações em São José dos Campos SP e frequentemente eu era cobrado com relação em não possuir um curso universitário e resolvi encarar as aulas noturnas em um excelente cursinho.
         Logo nas primeiras aulas descobrimos as raridades existentes entre os professores e a maneira de cativar a atenção dos alunos valia tudo.
         Existia um professor de biologia que se chamava Decourt, era de origem francesa e suas aulas eram um verdadeiro espetáculo, pois o mesmo ministrava todas as aulas declamando poesias e relacionando-as aos tópicos da matéria, simplesmente maravilhoso!
         Outro professor que nós adorávamos era um professor de história que já tinha vários livros de história editados e já tinha viajado o mundo todo e quando citava algum lugar do planeta os detalhes eram tantos que ficávamos maravilhados com os detalhes e existiam alunos que jamais piscava e viajava com o tal professor.
         Naquela época antes de irmos para o cursinho, eu e um amigo chamado Alípio, apelidado de Xaxá passávamos numa pensão para jantarmos e a comida era tão boa que após ingerir tanta comida dava uma vontade enorme de ficar estirado no sofá e logo o Xaxá gritava: Vamos Luiz, como você quer ser engenheiro sonolento deste jeito! Vamos para o Cursinho! E lá seguíamos andando ate o cursinho sempre direcionando nossas conversas para assuntos do cotidiano que talvez pudesse ser pedido no vestibular.
         Alguns finais de semana íamos ao plantão de dúvidas, e as dúvidas eram tantas que a gente achava que deveria existir este plantão 24 horas por dia.
         Lá pelas nove e meia da noite os nossos olfatos eram invadidos com um delicioso cheio de mortadela que alguns alunos levavam como merenda e quantas vezes aceitei humildemente um bom pedaço de pão com mortadela entre análises sintáticas, geometria espacial e outras matérias.
         Consegui cursar o cursinho por apenas três meses, mas foi o suficiente para conhecer professores maravilhosos que se empenhavam em ensinar em apenas uma hora o que deveríamos ter aprendido ao longo de três anos e acreditem: conseguiam colocar nas nossas “ocas” cabeças todo o conteúdo.
         Não terminei o cursinho e também não participei de nenhum grande vestibular de uma Faculdade Pública, mas conheci de perto o empenho e a dedicação destes maravilhosos professores, professores de cursinho pré-universitário

CONTROLE REMOTO



        Uma enorme bandeira do Palmeiras estava hasteada em frente ao bar do Jacaré, grossas fumaças subiam de uma enorme churrasqueira que fora colocada na calçada e os sorrisos de felicidade dos frequentadores misturados com boas doses de cervejas podiam ser ouvidos em todas as esquinas do bairro da Vila Maria Alta, em São Paulo.
         O clima era de final de campeonato onde o Palmeiras iria enfrentar outro time que não me recordo o nome e confesso que senti uma enorme vontade de participar daquela festança toda, mas como meu time não era o Palmeiras optei em ficar sentadinho na calçada na frente da casa da minha irmã Sônia apreciando de longe toda a algazarra dos Palmeirenses.
         Passados alguns minutos apareceu meu sobrinho Evandro no portão e fez o convite que eu estava esperando:
- O tio, que tal a gente beber algumas cervejas no bar do Jacaré e ver esta festa de perto e ainda se dermos sorte poderemos até comer um pedacinho de carne?
Rapidamente levantei-me e seguimos até o bar, pedimos licença e sentamos num banco alto de madeira e pedimos uma cerveja e com um olhar na televisão e outro no abridor fomos servidos sem muita cerimônia pelo Jacaré.
         O jogo estava começando e todos os Palmeirenses acotovelavam-se para ver a escalação do time e nós lá sentadinhos alheios a tudo e a todos. Os gritos de incentivo ao time podiam ser ouvidos a dezenas de quilômetros e subitamente meu sobrinho levantou-se e pediu para eu ficar esperando ele no bar que ele iria até em casa buscar dinheiro e voltaria rapidamente.
Passados alguns minutos lá estava meu sobrinho Evandro de volta e vinha carregando na face um sorriso “maroto”, sentou-se e perguntou quanto estava o jogo e eu disse que o jogo acabara de começar e estava zero a zero e neste exato momento derrubaram um jogador do Palmeiras na área e o juiz assinalou pênalti e pensei que o boteco vinha abaixo tamanho a alegria e felicidade dos torcedores.
         O jogador do Palmeiras tomou distância e o correu para bater o pênalti e exatamente neste instante a imagem da televisão desapareceu e entre milhares de palavrões o Jacaré correu para religar a televisão, subiu num dos bancos de madeira e ligou a televisão e foi muito aplaudido por todos.
         Perguntei ao meu sobrinho o que estava acontecendo e ele com um sorriso de satisfação meneou a cabeça e disse que não sabia de nada.
         O jogo continuava e a televisão fora desligada mais umas duas vezes antes de terminar o primeiro tempo e lá estava o Jacaré a religá-la. Alguns torcedores mais exaltados chegaram a amaldiçoar a quinta geração do dono do boteco e nós lá firme na quinta cervejinha e eis que meu sobrinho comentou:
- Tio, acho que está na hora de irmos embora, pois o pessoal já está desconfiado da gente e quando souberem que estou com o controle remoto da televisão da minha casa seremos apenas duas pessoas mortas e saímos de fininho e meu sobrinho ria alto e balançava o controle remoto. Conseguimos sobreviver para contar mais esta patifaria aprontada pelo meu querido sobrinho Evandro. Controle remoto.

CHURRASCO NA PRAÇA



                       E lá estava aproximando o dia do meu aniversário e resolvi fazer um alegre e surpreendente churrasco em um local diferente, com muito verde, pássaros e vento batendo no rosto.
         Pensei em vários lugares e entre todos surgiu na minha mente uma bela praça localizada num bairro nobre da cidade onde eu morava.
         O sábado amanheceu maravilhoso e imediatamente comecei a preparar as carnes que seriam assadas. Cortei-as e coloquei numa enorme topware e deixei repousando enquanto eu e meu filho de cinco anos fomos encomendar o barril de chopes.
         A situação na choperia foi muito engraçada, pois o proprietário perguntou o local da entrega dos chopes e eu indiquei a tal praça e ele sorriu muito e disse:
- Adorei seu senso de humor...mas qual é o local de entrega?
Insisti que iria fazer um churrasco na praça e ele perguntou-me quantas pessoas iriam participar e ai eu disse:
- Apenas eu, meu filho e minha patroa e se aparecer alguém e quiser beliscar um pedacinho de carne terei o maior prazer em oferecer.
Um pouco desconfiado, anotou o pedido, recebeu o pagamento e disse que em duas horas o chope estaria sendo entregue na praça.
        
         Levei uma churrasqueira, sacos de carvão, as carnes e uma mesinha desmontável e lá estava eu e meu filho abanando o carvão para pegar fogo sob os olhares curiosos das pessoas que moravam em lindas casas que rodeavam a praça.
         Os primeiros pedaços de carnes foram colocados na churrasqueira e o maravilhoso cheiro da carne começou a invadir nosso olfato e foi quando surgiu um caminhão para entregar os chopes e o mesmo foi instalado em cima de um banco de cimento ao lado da churrasqueira.
         Bebi alguns copos de chopes enquanto alguns transeuntes começaram a chegar e curiosos queriam saber quem estava “patrocinando” o churrasco e eu dizia que era meu aniversário e todos podiam comer e beber a vontade.
         A quantidade de pessoas foi aumentando até que chamaram a policia para questionar o verdadeiro motivo e após saberem do motivo ainda ficaram por lá para manter a ordem na praça.
         Após três horas de churrasco, não restou mais nada, apenas uma bela lembrança de um churrasco feito na praça e uma multidão agradecendo e desejando-me Feliz Aniversário.