Não existia
cerca, não existia portão, existia apenas uma grande amizade de outrora que não
necessitava palmas para recepcioná-lo e lá estava o grande amigo de papai
chamado: Ermelindo.
Ermelindo quando vinha nos visitar, na
verdade vinha visitar nosso querido pai José da Silva e nossa mãe Thereza
Miranda da Silva e a sua visita era momento de grande satisfação para todos
nós.
Seu jeito simples, suas atitudes singelas
muito nos agradava e após alguns apertos de mãos e alguns abraços sentava-se
pesadamente no sofá e imediatamente perguntava:
- Pois é
Tereza, já está pronto o café?
Mamãe sorria e dizia: Pois é Ermelindo
você ainda não trouxe o pó de café! Grandes gargalhadas ecoavam pela sala e
logo nosso querido amigo Ermelindo começava a conversar com meu pai perguntando
sobre o cotidiano e eu encolhido no fundo do sofá esperando maravilhosas
histórias que viriam ao longo da querida visita.
Os dias vividos pelos grandes amigos em
tempos passados às vezes incomodavam-me e eu ficava a imaginar que realmente
amizade existe e isto era comprovado através de lindas narrativas de momentos sublimes
vividos entre os dois amigos.
As histórias eram contadas e o sorriso de
papai comprovava a veracidade e quando tudo estava ficando um pouco monótono o
querido amigo Ermelindo “lascava” uma piada que eu ficava “vermelho” de tanta
vergonha e todos riam como se nada tivesse acontecido.
Mamãe servia o café para todos e
sentava-se ao lado de papai e lá ficavam a conversar sobre um tempo maravilhoso,
um tempo da roça, um tempo que existia festa na Vila, no povoado e que todos
participavam de uma festa do Divino que comiam um tal de ”Fogado”, que era uma
enorme panela repleta de carne, batatas e muita criatividade preparada com
muito carinho por todas as mulheres da roça.
Os amigos falavam de quase tudo vividos
naquela época maravilhosa dos anos 50 e tudo aquilo me deixava um pouco saudoso
de uma época que não vivi, mas gostaria muito de viver. Talvez eu tenha nascido
numa época errada, pois na realidade gostaria muito de ter nascido em 1900 ou talvez
até antes.
O enorme prazer atrelado ao grande
sacrifício de acender um fogão à lenha nas primeiras horas da manhã, uma
lamparina com seu cheiro de querosene e sapos coachando ao anoitecer enquanto
os nossos pais contavam histórias dos antepassados muito me faziam feliz.
O tempo ia passando e os momentos vividos
por papai e Ermelindo iam sendo contados com muita naturalidade e eu lá no
fundo do sofá ficava imaginando as maravilhas que eram os tempos vividos pelos
amigos.
Existia serenata, existia carta de amor
escrita com caneta tinteiro, existia amizade que o nosso amigo Ermelindo trazia
com tanta sinceridade, existia São Paulo que tanto eles amavam, adoravam o São
Paulo F.C. existia amizade que tanto nos orgulha uma visita do nosso querido
amigo Ermelindo.
Saudosas pessoas que passaram por nossas
vidas e deixaram tantas lembranças agradáveis: José da Silva e Ermelindo,
grandes amigos.