17 de mai. de 2012

GARÇOM DE QUIOSQUE DE PRAIA


                   Eu conheci um “caboclo”, dono de uma sorveteria em São José dos Campos e combinamos irmos vender sorvetes em Caraguatatuba, Litoral Norte de São Paulo e assim seguimos viagem.
                   Chegamos em Caragua , chovia muito e o parceiro esticou-me uma nota de dez reais, desejou-me boa sorte, acelerou sua perua e deixou-me na rodoviária sem destino e sem nada.
                   Entrei num boteco e gastei o mísero dinheiro em cachaça e sentei-me em frente ao ponto de ônibus que saía para praia da Tabatinga em Caraguatatuba-SP.
                   A chuva não cessava e eu estava sem destino, sem dinheiro, sem amor e sem forças para reagir diante do ocorrido e só restava-me encolher-me e esperar o clarear do dia para voltar para São Paulo.
                   Abaixei a cabeça e comecei a orar mentalmente e apareceu um senhor e perguntou-me se estava tudo bem comigo. Disse a ele que nada estava bem, pois eu tinha sido abandonado naquela rodoviária como um cachorrinho sem dono.
                   O nobre senhor disse-me que era construtor e ofereceu-me o serviço de Ajudante de Pedreiro e assim aceitei o serviço e seguimos para um condomínio para dormirmos e outro dia ir ao trabalho.
                   Chegando ao prédio que estava sendo construído o homem apresentou-me alguns papelões esticados num cômodo e disse que eu fosse dormir que outro dia seria de muito serviço.
                   Pensei bem e disse pra mim mesmo. “ Caramba, eu não mereço dormir nestes papelões!” e assim pedi um adiantamento de dez reais para “lanchar” e fui até a praia mais próxima beber uma caipirinha e conversar sobre as vicissitudes  do cotidiano e assim que cheguei à praia encontrei vários Americanos sentados nas toscas mesas, conversando alegremente e bebendo várias caipirinhas e comento deliciosas porções de camarões.
         Sentei-me numa mesa ao lado dos “gringos” e fiquei a beber a deliciosa caipirinha e observar as ondas que não paravam de rolar e foi quando um gatinho apareceu com muita fome e entrou por baixo das nossas mesas e começou a miar nervosamente.
         Uma garotinha pediu uma porção de camarões e deu ao gatinho e eu fiquei admirado com atitude tão nobre e fui conversar com a menina para poder agradecê pela atitude maravilhosa.
         A garota pediu para eu sentar-me na mesa onde estavam todos os seus parentes e foi apresentando-me um a um da sua família em Inglês e eu usando meu Inglês tosco ia apresentando-me a todos sem nenhum receio de algumas palavras que eu não me lembrava e quando surgia alguma dúvida.
         A família pediu a conta ao proprietário, pagou e foi embora e lá estava eu sem nenhum dinheiro novamente a procura de uma pequena ajuda.
         As horas foram passando e resolvi ir embora também e quando eu estava pagando minha conta o proprietário perguntou-me:
- O senhor fala inglês fluentemente, não quer trabalhar conosco?
Parei um pouco, dei alguns soluços e disse a ele que eu estava bêbado e não estava em condições de fechar nenhum contrato de trabalho por aquele instante.
         O proprietário sorriu e ofereceu-me o trabalho de garçom de estrangeiros e assim combinamos os meus ganhos: Eu poderia beber quantas cervejas eu quisesse um maço de cigarros por dia e uma pequena caixinha para eu saber que ainda existia dinheiro.
         Aceitei o nobre trabalho e a partir daquele dia só atendia pessoas estrangeiras, dormia no quiosque e escutava as ondas do mar vinte e quatro horas por dia. Ganhava-se pouco... mas vivia-se muito!