11 de jul. de 2011

O QUEIJO


              Eu estava no limiar da sobriedade e do alcoolismo. Carregava uma enorme mochila nas costas repleta de problemas sentimentais insolúveis e quando a noite aproximava-se eu ia tirando um a um e esparramava-os pela  mente dominada pelo álcool e tentava achar soluções fenomenais sob altos devaneios etílicos.
              Certo dia após “tomar todas” e já estar devidamente embriagado, cheguei à casa de mamãe cantarolando uma linda música de Chico Buarque com quatro garrafas de cervejas geladas em baixo dos braços.
              Desci os vários degraus existentes no estreito corredor esbarrando nas paredes e consegui chegar a passos trôpegos até a cozinha. Vagarosamente abri a porta, entrei e sentei-me pesadamente numa cadeira. Procurei um abridor de garrafa e após alguns minutos consegui encontrar um, abri uma das garrafas de cerveja, despejei vagarosamente num copo e bebi o primeiro gole e comecei a observar tudo que estava ao meu redor. Tudo girava, fechei os olhos e quando eu os abri observei um queijo em cima do armário de cozinha. Refleti profundamente e cheguei a conclusão que mamãe tinha se esquecido de guardar o queijo na geladeira. Peguei o queijo e fui guardá-lo na geladeira, mas inesperadamente deu uma vontade enorme de comer um pedaço daquele queijo. Cortei um pequeno pedaço e enfiei rapidamente na boca e o resto eu guardei na geladeira com medo de alguém notar.
                Voltei novamente para a cadeira, enchi o copo de cerveja e senti que o tal queijo estava com um gostinho de sabão, não dei muita importância, afinal nada era mais grave do que os meus problemas naquele momento. Mais alguns goles de cerveja e minha boca começou a espumar e comecei a cuspir incessantemente até que consegui acordar mamãe e assim que ela apareceu na minha frente questionei-a sobre a procedência do queijo, do gosto duvidoso, da validade e mamãe calmamente disse: Pois é meu filho, isto que você comeu não é queijo e sim sabão de coco.
               Esbocei um sorriso espumante e escondi-me de vergonha atrás de uma garrafa gelada de cerveja. Até hoje quando vejo um saboroso queijo branco sinto certo gostinho de sabão de coco na boca. Lembro-me do caso, limpo a boca e degusto assim mesmo, com ou sem cerveja.