3 de out. de 2011

DATILOGRAFIA



         Hoje olhando para o teclado do computador  fico maravilhado com as mudanças ocorridas nos últimos... ”me deixa eu pensar” trinta anos, é exatamente por ai.   Lá pela década de 70  lembro-me que quando completávamos  treze  anos  nossos  pais  começavam a procurar uma escola de datilografia, que geralmente localizava-se nos bairros em que morávamos. Naquela época todos os bairros tinham uma escolinha de datilografia, onde recebiam os alunos carinhosamente para o aprendizado que eles levariam para uma vida inteira.
Comigo não foi diferente, logo aos treze anos minha mãe conseguiu matricular-me numa escola de datilografia que ficava no bairro onde morávamos. Era uma escola muito singela, com umas três máquinas Remington em cima de algumas mesinhas carcomidas pelo tempo, algumas folhas de papel sulfite e um professor magrelo com umas folhas amareladas que rapidamente colocou-as ao lado da máquina e passou a dar-me as primeiras instruções: colocar a folha na máquina, fazer as primeiras tabulações e orientar-me quando as duras teclas que deveriam ser apertadas seqüencialmente imprimindo a mesma força para todos os dedos.
Meio atrapalhado e sempre observando a habilidade do professor magrelo, ficava imaginando onde alguém poderia aproveitar um datilógrafo medíocre como eu.
Mas eu não esmorecia e todo o dia lá estava eu, suando em bicas  a apertar as duras teclas da velha máquina de escrever Remington, até que num determinado dia disseram que eu já estava preparado para ser um datilógrafo. Ri muito e não acreditei,  cheguei com meu diplominha e coloquei na gaveta do guarda-roupa e fiquei pacientemente aguardando uma oportunidade de mostrar toda a minha habilidade de datilógrafo que tinha aprendido com o professor “caveirinha”.
   Não demorou muito e comecei a trabalhar numa Cia. De seguros e aí toda a minha habilidade fora demonstrada com grande habilidade e muitas folhas caídas pelo chão, até tornar-me um exímio datilógrafo e desafiar algumas empresas em querer trabalhar por produção.
   Mas isto aconteceu faz muito tempo e muitos jovens de hoje jamais têm a noção o que é uma máquina de escrever e não sabem nem de longe o que é ser datilógrafo e ter que agüentar o professor nas quentes tardes de verão, sem ventilador... Ufa, como adoro nossos dias.....mas sinto saudades  da antiga e amiga máquina de escrever  Remington, que virou peça de museu, assim como eu estou virando! rsrsrsrsr

SONHO DE INTUIÇÃO



 
                                                     
        
       Mamãe era espírita, acreditava em alguns sonhos e dependendo do sonho que ela tivesse durante a noite, nós éramos orientados a não realizarmos determinadas tarefas ou tomarmos qualquer atitude diante dos seus sonhos. Eu achava tudo aquilo uma grande bobagem, nunca acreditei que pudéssemos sonhar e durante o sonho alguém dizer o que poderíamos  fazer ou não no dia seguinte, realmente era cético com relação aos sonhos de mamãe, até o dia que aconteceu um fato que fez mudar todos os meus conceitos de espiritualidade.
   Morávamos no bairro Cidade A.E. Carvalho, zona Leste de São Paulo e papai todo o dia saia de casa às 6h30min para tomar o ônibus que o levava até o centro de São Paulo, onde era o seu trabalho. Num determinado dia quando se preparava para sair de casa, presenciei o seguinte dialogo:
- Zezinho, pega o próximo ônibus, sonhei que o ônibus que você pega todos os dias acidentou-se!
- Ah, Thereza,  deixa eu ir trabalhar e esquece seus sonhos!
- Mas.... Amor, chega um pouquinho atrasado hoje, só hoje! Faz isso por nós!
- Thereza,  deixa eu passar, senão vou acabar perdendo o ônibus!
   E mamãe colocou-se na frente de papai impedindo-o de passar e eu apenas observando toda aquela cena e achando muito ridículo.... Eu pensava: “ Poxa, que coisa estúpida acreditar em sonhos!”
  Papai tentou desvencilhar-se de mamãe e ela agarrou-o pela cintura não permitindo que ele partisse.  Eu estava notando que papai começava a ficar zangado com tudo aquilo e passaram-se uns dez minutos e papai saiu muito contrariado e ela entrou, sentou-se numa cadeira e rezou uma prece, chamada Cáritas e disse:
- Tudo que eu pude fazer eu fiz, entrego na mão do Senhor!
Benzeu-se e foi fazer o serviço doméstico e eu saí para trabalhar, despedindo-se de mamãe, pois eu também trabalhava no centro de São Paulo como Office-boy e saia de casa às 7hs.
  Peguei o ônibus normalmente e quando o ônibus aproximava-se do Viaduto Pires do Rio, notei que o trânsito começou a parar na Avenida Radial Leste e todos nós ficamos apreensivos em saber o que estava acontecendo e o ônibus em que eu estava passou vagarosamente sobre o viaduto e observei que um ônibus da CMTC tinha caído num brejo, que hoje é a Av.Salim Farah Maluf e muitas pessoas estavam feridas e alguns mortos.
  Meu coração começou a disparar e comecei a suar muito em pensar em tudo aquilo que mamãe tinha falado e talvez papai estivesse naquele coletivo. Assim que o ônibus chegou ao centro de São Paulo, desci rapidamente e fui até o local em que papai trabalhava para certificar se ele estava lá. Assim que eu o vi, não me contive, desabei a chorar convulsivamente e entre soluços e com a cabeça no peito de papai dizia: Mamãe tinha razão, era para o senhor estar naquele ônibus! Papai passou carinhosamente a mão na minha cabeça e pediu para eu ir trabalhar porque estava tudo bem.
   Quando chegamos em casa naquele dia mamãe apenas disse:
- Viu como eu tinha razão e a partir deste fato comecem a acreditar nos meus sonhos!                                                                                              Carinhosamente abraçamos mamãe e a partir daquele dia todos os sonhos que mamãe tinha e orientava para que fizéssemos determinada “ação", rigorosamente era atendida. Vai lá saber o que poderia acontecer! Para não arriscar éramos obedientes e acreditávamos em todos os conselhos de mamãe, principalmente eu que agradeço de coração em estar vivo até hoje graças a vários sonhos de mamãe!