3 de abr. de 2012

PESQUISA

                      Era uma das últimas casas a ser pesquisada, bati palmas e fiquei olhando para o pequeno vira-lata que latia e ficava olhando para trás e este era um sinal que na residência existia morador e ali permaneci por uns cinco minutos até que apareceu um senhor com aparência de “louco” e perguntou-me o que eu queria e então disse a ele que precisava que ele respondesse algumas perguntas para mim, pois trabalhava num órgão de pesquisa e ele pediu para eu entrar na garagem e sentar num pedaço de madeira que iria responder minhas perguntas.
         Um tanto desconfiado eu disse a ele que não haveria a necessidade de entrar, pois a entrevista seria rápida, mas o morador insistiu e lá fui eu sentar no pedaço de madeira para ver minha pesquisa concluída.
         Sentamos confortavelmente na madeira e comecei a fazer as primeiras perguntas e inesperadamente o morador levantou-se e saiu correndo para fora do portão e trancou o mesmo pelo lado de fora, deixando-me preso na garagem e disse que iria à casa de uma tia e que voltaria em breve.
         Fiquei um pouco assustado, olhei para os muros e eram muito altos, não dava para pular, a garagem era totalmente fechada, passei as mãos na testa e o suor começava a surgir e então tomei a decisão de aguardar o morador retornar, abri minha mala, saquei um livro que estava lendo, abri na página em que estava o marcador e comecei a ler enquanto aguardava o retorno do louco.
         Passados uns vinte minutos o morador louco apareceu e perguntou-me sorrindo se ele tinha demorado muito e eu balancei os ombros e disse: Imagina, foi rápido, não consegui nem ler dez páginas do meu livro e assim fiz a entrevista do lado de fora do portão e com um medo danado do louco me prender novamente. E a partir daquele dia nunca mais entrei em nenhuma casa. Você tá louco!

O JOGO

 O hábito era antigo, quando saía do serviço, antes de chegar em casa sempre passava num boteco perto de casa para beber uma cerveja, comer algum petisco e prosear um pouco com algum conhecido e desintoxicar um pouco a mente.
O boteco era simples, um enorme balcão, algumas mesas onde sempre ficavam alguns jogadores de baralho jogando um jogo chamado caxeta e um proprietário maravilhoso que sempre tinha aquela cerveja bem gelada e aquele torresmo pururuca que não havia cirurgião cardíaco capaz de retirá-lo das artérias entupidas de tão delicioso que ele era.
Naquele dia cheguei ao boteco cumprimentei todos, sentei no meu banco favorito e senti que algo estranho estava acontecendo, pois todos os jogadores de baralho estavam muito sérios e muito apreensivos, aí pensei: “Deve ser pela quantia que está em jogo” e segui bebericando minha cerveja estupidamente gelada e degustando o maravilhoso torresmo pururuca.
Repentinamente um dos jogadores começou a passar mal, começou a transpirar muito, ficou pálido e todos retiraram o jogador da cadeira e encostaram o mesmo numa outra cadeira, substituíram o jogador e o jogo continuou normalmente.
Às vezes um ou outro jogador olhava de soslaio para o pobre jogador moribundo que jazia naquela cadeira e eu não me contive e cheguei perto do homem e o mesmo estava com a cabeça para trás, gelado e foi aí que gritei para o proprietário que estava limpando algumas garrafas de aguardente que viesse socorrer aquele homem, pois o mesmo estava muito mal.
O proprietário chegou perto do homem, pegou seu pulso, passou a mão na testa e disse: Este acabou de morrer! "Já éra".
Fiquei impressionado com a frieza de todos, paguei aquilo que tinha consumido e fui embora muito chateado sem saber o que tinha acontecido e só fui saber no outro dia que aquele homem tinha realmente morrido na mesa de jogo, tinha sido vítima de um ataque  fulminante do coração. Nunca mais entrei naquele boteco, pois tinha medo de também ter um ataque cardíaco e ninguém me socorrer.

PERSEVERANÇA

        Após enviar dezesseis vezes o mesmo currículo Vitae para uma indústria de equipamentos eletrônicos, via correio, pois naquela época ainda não existia a Internet, finalmente fui chamado para uma entrevista e o gerente com um olhar sisudo e desconfiado questionou: 
 - Pois é “garoto” recebi seu currículo dezesseis vezes, aqui estão eles! E esparramou todos pela mesa e imediatamente disse:
- Quais são suas pretensões e o porquê de tanto currículo assim, você conhece a nossa empresa?
Respirei fundo e passei a descrever a indústria com uma naturalidade incrível, pois já tinha pesquisado a empresa e sabia exatamente o que a mesma produzia, quem eram os compradores dos equipamentos, quais eram os principais fornecedores e até quem trabalhava na indústria.
         O gerente ficou estupefato e começou a questionar como eu poderia ajudar a empresa a crescer e a vender mais e eu disse que poderia trabalhar com pesquisas, pois adorava pesquisar e até sabia um pouco de inglês para futuras pesquisas em outros idiomas e após mais algumas perguntas fui contratado como Auxiliar Técnico em Eletrônica.
         No meu primeiro dia de trabalho fui encaminhado à sala do gerente e o mesmo disse que gostaria que eu fosse a um Instituto de Pesquisa fazer um estudo sobre “oxidação”, pois a maioria dos equipamentos estava com este tipo de problema devido à maresia e que eu só voltasse do Instituto com um relatório pronto e com a solução.
         Antes de sair para minhas pesquisas iniciais fui assessorado por alguns engenheiros que relataram os problemas, tiraram algumas fotos dos equipamentos  afetados e lá fui eu com a cara e a coragem com destino as minhas pesquisas.
         Foram necessários vinte e seis dias de pesquisas, devorando livros, consultando engenheiros, pesquisadores e finalmente eu tinha a solução para o problema que tanto afetava os equipamentos da indústria onde eu estava trabalhando.
         Cheguei muito orgulhoso e apresentei o relatório com a solução para o gerente e ele disse:
- Parabéns senhor Luiz, pode ir pra casa descansar e regresse amanhã, pois irei convocar todos os engenheiros, técnicos e o proprietário da empresa para uma reunião e o Senhor ilustrará nossa solução e acrescentou: muito obrigado!
         Fui pra casa e não consegui dormir pensando em como comportar-me diante de pessoas tão inteligentes e como poderia conduzir a minha “palestra”, demonstração para todos.
         No outro dia lá estava eu abandonado em cima de um pequeno palco com meus conhecimentos, várias folhas de papel, um retroprojetor, um pequeno quadro negro, uma suadeira danada e o meu gerente ao lado.
         Cumprimentei a todos e passei a relatar o meu trabalho no Instituto e prol da qualidade na empresa e fui vagarosamente apresentando a solução e quando terminei a palestra fui aplaudido e fiquei muito comovido.
         Ao descer do palco fui cumprimentado pelo proprietário da empresa que disse: Muito obrigado, vamos colocar seus conhecimentos e sua solução em prática!
         A partir deste dia comecei a acreditar mais em mim e aceitava quase todos os desafios, quase todos eram solucionados, em outros nem sempre encontrava a solução, mas ficou a lição:
Sempre somos capazes e devemos sempre perseverar, avivar nosso espírito para novos desafios e sairmos da nossa zona de conforto para encararmos o Mundo de frente, contra o vento, tempestades e conseguirmos transpor as adversidades em prol de soluções que ajudem a melhorar nosso planeta.