12 de mar. de 2012

O LANCHE

          E lá no curso primário na década de 60, a escola não fornecia absolutamente nada aos seus alunos, a não ser um estudo de qualidade com professores que adoravam lecionar e eram muitos rígidos, a palmatória já tinha sido abolida, mas lembro-me de uma professora que faço questão de não lembrar o nome, pois ela tinha um enorme anel que devia ser da formatura e era este anel que “cantava” direto na nossa cabeça quando nós cometíamos algumas travessuras. Falava um pouquinho mais alto e toma “anelsada” e de tanto bater na minha cabeça com aquele “maldito” anel consegui terminar meu curso primário com vários caroços na cabeça, mas com louvor e participando de um grupo de teatro amador da escola.
         Mas de todas as lembranças que guardo até hoje era da hora do recreio, quando escutávamos o sinal anunciando o recreio, levantávamos silenciosamente, sempre de olho no imponente anel da Mestra e saíamos muito silenciosamente com nossas lancheiras.
         Descia as escadas com a cabeça ardendo de tanto levar anelsada com a lancheira colada no corpo e sentava-me num
enorme banco do pátio e entre alguns olhares de amiguinhos que adoravam meu lanche e queriam trocar alguns pedaços do meu delicioso lanche.
         A simplicidade de colocar alguns ovos, misturar com alguns tomates e colocar no pão fascinava-me e estava preparado meu delicioso lanche que eu tanto adorava.
          Foram quatro anos do curso primário e acredito que devo ter levado pelo menos uns três dias da semana pão com ovo e tomate e um suco de laranja tipo K-Suco.
          Quando mamãe estava preparando meu lanche sentia um pouco de vergonha em levar aquele lanchinho, pois meus amiguinhos levavam pão de forma, queijo, presunto e eu com aquele lanchinho, mas o mesmo era colocado na lancheira e lá ia eu para escola, afinal era o que tínhamos.
           Hoje, passados cinqüenta anos, de vez em quando tento fazer este mesmo lanche pra minha netinha e ela diz:
- Nossa vovô, que delícia!
E eu morrendo de vergonha pergunto:
- Você acha gostoso?
E ela diz: - É melhor que o lanche da Padaria!
Tento explicar a ela que foi quando eu estudava no curso primário e sempre ela pede para eu fazer um lanchinho igual pra levar pra escolinha, mas não faço e digo a ela que na escola tem lanche muito melhor e ela diz:
- Não tem vovô, este lanche é o melhor lanche do Mundo!
Emociono-me e vamos para a escola com o delicioso gostinho do lanche na boca.
            O tempo passou, a receita ficou: Pão com ovo e tomate! Delícia! Bela recordação dos tempos que não voltam mais, mas ainda temos ovos, tomates e pão, então vamos fazer um lanchinho? Coisa de pobre? Imagina, são recordações de momentos inesquecíveis! rsrsrsrs

MÓVEIS VELHOS


          E num determinado dia não há escapatória, há que jogar aquele móvel velho no lixo, às vezes dá uma dorzinha no coração, não pelo valor financeiro, mas por aquele sentimento de aquele móvel ter tanto ajudado à gente a vida toda e de repente somos obrigados a abandonar nosso velho móvel.
         Exatamente agora estou passando por uma experiência de ter que jogar um guarda-roupa de madeira maciça que comprei em 1.987 e vou dizer uma coisa, é muito triste dispensar um guarda- roupa que tanto guardou minhas belas camisas e calças bem passadas pela patroa, roupas das crianças e da patroa, mas quis assim pela ordem do cupim que o mesmo fosse dispensado.
       As lembranças de uma bela época ecoam pela minha mente e jamais pensei que esta árdua tarefa sobraria para minha pessoa.
       Lá está abandonado no portão o guarda-roupa aguardando o “Cata-Treco” vir buscá-lo para tomar um destino ignorado e totalmente desmanchado sem poder ter uma despedida de honra e se ele pudesse falar o diálogo seria mais ou menos assim:
- Pô Luiz, que falta de consideração!
- Mas amigo, sinto muito em ter que jogá-lo fora, mas você está velhinho e cheio de cupim!
- Ah, legal então quer dizer que quando você ficar velhinho, e olha que não falta muito, iremos deixar você no portão para o “Cata-Treco”?
- Mas eu sou humano e você é apenas madeira!
- Qual a diferença, de onde viemos?
- Mas quanto questionamento, chega de conversa e fica quietinho aqui que logo o “Bola Sete! Virá pegar você, entendeu?
        Abandonei o velho guarda-roupa na porta e sai correndo para dentro de casa e sentei-me preocupadamente no sofá tentando achar uma resposta para o mesmo sob uma forte chuva que caia lá fora.
        O barulho da buzina de um caminhão, o mesmo sendo carregado por homens fortes, a chuva caindo e eu sempre pensando como é difícil ser abandonado na velhice, mesmo que seja um guarda-roupa.
- Obrigado guarda-roupa! Desculpe-me ter que jogá-lo fora, pois se faz mister desocupar espaço para que as crianças brinquem! Você entende, não é?
- Ah, claro, se é para dar espaço para uma criança brincar eu me arranjo em qualquer lugar! Está desculpado, a gente se vê num outro lugar, talvez num asilo! rsrsrsrs