14 de out. de 2012

CHAPÉU DE PALHA



         Lá na roça existia um grande armazém e eu quando ia passar minhas férias escolar adora ficar sentado em cima de grandes sacos de arroz apreciando a caboclada que entrava e saia do armazém.
         Os meus pequenos e observadores olhos de garoto de apenas sete anos sempre estavam atentos aos pequenos detalhes e enquanto eu fazia algumas caricias no velho gato do proprietário do armazém via os mínimos detalhes que hoje já não existem mais: Um enorme tambor cheio de óleo que seria vendido por litro, alguns tambores de leite que também seriam vendidos por litro, fumos, cigarros de palha e muitos chapéus de palha pendurados num varalzinho chamavam muito minha atenção.
         Uma pequena mesinha era colocada fora do armazém e lá reuniam os caboclos para jogar baralho, um jogo chamado truco, muito barulhento e às vezes eu e meu amiguinho gato ficávamos muito assustados com a gritaria provocada pelo jogo de truco e quantas vezes pensei que iria sair briga, mas nada acontecia, o cigarro de palha era mudado de posição na boca, o gole de cachaça era sorvido e o baralho era embaralhado e as cartas eram rapidamente colocadas sobre a mesa e o jogo continuava sempre entre o mexer de lábios e piscadas entre os parceiros de jogo.       
         Alguns carros de boi passavam em frente ao armazém e o velho gatinho encolhia-se todo, levantava-me e ia “espiar” aquela maravilha tão desconhecida aos meus olhos. O barulho produzido pelas rodas do carro de boi em atrito com a madeira era inefável, os balaios pendurados, grandes barricas de leite e lá na frente um caboclinho com lindas botas de couro e um imponente chapéu de palha sobre a cabeça iluminavam todo o nosso dia.
         Encostou o carro de boi em frente o armazém, tirou o chapéu e entrou humildemente pedindo licença e disse:
- Bom dia nho Mané! Gostaria de comprar um chapéu de “paia”. Imediatamente todos os chapéus de palha foram colocados sobre o  balcão e lá ficou o caboclinho a escolher qual que caberia melhor na sua cabeça. Escolhe aqui, escolhe lá, experimenta este, experimenta aquele e finalmente o caboclinho resolveu comprar um enorme chapéu de palha que coube perfeitamente na sua cabeça.
         O gato desceu dos sacos de arroz e foi enroscar-se no pé do “peão” e eu imediatamente fui pegar o gato para continuar em cima dos sacos de arroz.
         Ajustou o lindo chapéu de palha na cabeça, ergueu as calças, pediu uma cachaça, bebeu e saiu do armazém sorrindo e dando adeus para todos e lá ficamos olhando para tudo e para todos e imaginando como a vida na roça era bela, pela simplicidade e humildade das pessoas.