Lá na roça
existia um grande armazém e eu quando ia passar minhas férias escolar adora
ficar sentado em cima de grandes sacos de arroz apreciando a caboclada que
entrava e saia do armazém.
Os meus pequenos e observadores olhos
de garoto de apenas sete anos sempre estavam atentos aos pequenos detalhes e
enquanto eu fazia algumas caricias no velho gato do proprietário do armazém via
os mínimos detalhes que hoje já não existem mais: Um enorme tambor cheio de
óleo que seria vendido por litro, alguns tambores de leite que também seriam
vendidos por litro, fumos, cigarros de palha e muitos chapéus de palha
pendurados num varalzinho chamavam muito minha atenção.
Uma pequena mesinha era colocada fora
do armazém e lá reuniam os caboclos para jogar baralho, um jogo chamado truco,
muito barulhento e às vezes eu e meu amiguinho gato ficávamos muito assustados com
a gritaria provocada pelo jogo de truco e quantas vezes pensei que iria sair
briga, mas nada acontecia, o cigarro de palha era mudado de posição na boca, o
gole de cachaça era sorvido e o baralho era embaralhado e as cartas eram
rapidamente colocadas sobre a mesa e o jogo continuava sempre entre o mexer de
lábios e piscadas entre os parceiros de jogo.
Alguns carros de boi passavam em frente
ao armazém e o velho gatinho encolhia-se todo, levantava-me e ia “espiar” aquela
maravilha tão desconhecida aos meus olhos. O barulho produzido pelas rodas do
carro de boi em atrito com a madeira era inefável, os balaios pendurados, grandes
barricas de leite e lá na frente um caboclinho com lindas botas de couro e um
imponente chapéu de palha sobre a cabeça iluminavam todo o nosso dia.
Encostou o carro de boi em frente o
armazém, tirou o chapéu e entrou humildemente pedindo licença e disse:
- Bom dia
nho Mané! Gostaria de comprar um chapéu de “paia”. Imediatamente todos os
chapéus de palha foram colocados sobre o balcão e lá ficou o caboclinho a
escolher qual que caberia melhor na sua cabeça. Escolhe aqui, escolhe
lá, experimenta este, experimenta aquele e finalmente o caboclinho resolveu
comprar um enorme chapéu de palha que coube perfeitamente na sua cabeça.
O gato desceu dos sacos de arroz e foi
enroscar-se no pé do “peão” e eu imediatamente fui pegar o gato para continuar
em cima dos sacos de arroz.
Ajustou o lindo chapéu de palha na
cabeça, ergueu as calças, pediu uma cachaça, bebeu e saiu do armazém sorrindo e
dando adeus para todos e lá ficamos olhando para tudo e para todos e imaginando como a vida na roça
era bela, pela simplicidade e humildade das pessoas.