9 de dez. de 2012

SORVETE DE MORANGO



          Existia uma sorveteria perto da casa da minha irmã Sônia, na Vila Maria Alta – SP pertencente a uma japonesa que fornecia o carrinho e cobrava pelos picolés um preço bem “pequenininho” e quanto eu não estava empregado com carteira assinada lá estava eu a retirar alguns sorvetes para vendê-los pelas ruas do bairro.
         Era lá numa quarta-feira de verão de muito calor resolvi retirar uns cem picolés e logo às oito horas lá estava eu a escolher quais picolés iria vender naquele dia, enchi o carrinho com quase todos os tipos de sorvetes e saí pelas ruas do bairro vendendo um aqui outro acolá entre várias buzinadas e quando chegou meio dia percebi que se eu não andasse mais um pouco não conseguiria vender todos os sorvetes e a direção foi ir para Vila Maria Baixa e quando cheguei à Praça Eduardo Coathing estacionei meu carrinho na praça e fiquei pacientemente aguardando os fregueses naquela tarde muito quente.
         Apareceu um garotinho de uns nove anos e disse que morava na favela e não tinha dinheiro para pagar o sorvete e gostaria muitíssimo de chupar um picolé de morango, pois estava muito calor.
         Olhei bem para o garotinho, com um chinelinho todo velhinho, uma camisetinha regata com alguns furinhos e uma surrada bermuda jeans e não tive dúvida, retirei um sorvete de morango e dei ao garotinho e foi neste exato momento que apareceu uma mulher muito elegante e disse:
- Eu já disse pra você não pedir nada pra ninguém e outra coisa, olhe bem para este sorveteiro, se você não estudar vai ficar igual a ele, vendendo picolés pelas ruas... Já disse, vamos embora pra casa e devolve este picolé para este insignificante sorveteiro.
         Não me contive, chamei a mulher, olhei bem nos fundos dos seus olhos  e disse:
- Olha aqui sua FDP mal agradecida, dei o sorvete gratuitamente para o garotinho pensando tratar-se de apenas mais um pobrezinho, mas pelo visto vemos que não tem nada a ver com a pobreza e outra coisa se estou a vender picolés pelas ruas é porque ainda não apareceu uma boa oportunidade de emprego, pois tenho estudo, falo inglês e você é uma mal agradecida, peguei o carrinho a saí humildemente, empurrando o carrinho de sorvetes pela praça com os olhos lacrimejados, foi quando se abriu a porta de uma VAN e apareceu várias pessoas dizendo que pertenciam a equipe de um programa de televisão e aquilo era apenas uma “PEGADINHA”. Eu estava tão magoado que mandei todos para o inferno e falei algumas palavras de baixo calão para toda equipe e saí quase que chorando da praça empurrando meu carrinho com uns trinta sorvetes que faltavam para serem vendidos.
         Quando eu estava preparando-me para subir o morro para Vila Maria Alta, cansadíssimo apareceu um carro, parou e disse que gostaria de comprar alguns sorvetes e perguntou-me quantos sorvetes eu tinha e disse que aproximadamente uns trinta e o senhor comprou todos e esticou um papel para eu assinar pedindo autorização para publicar a “Pegadinha” da Praça e ainda receberia uns trocados pela publicação. Assinei os papeis pela autorização da publicação e pedi um “cachê” três vezes maior ao estipulado e fui embora para casa com um dinheiro muito bom e fiquei aguardando a minha aparição na TV, o que não aconteceu, talvez eles tenham pensado duas vezes antes de publicar o acontecido. Garanto a todos que me senti um pouco inconfortável com aquele momento e depois quando se lembrava desta “passagem” ria muito e ficava pensando: Nossa como eu era bobinho com este velho e bondoso coração sempre querendo ajudar o próximo. Mas valeu pela “Pegadinha”. Agora risos, outrora humilhação, mas valeu!