29 de out. de 2011

LAVAR ROUPA NA MINA

     Bacia na cabeça, alguns baldes, muitas roupas sujas e lá íamos nós descendo a ladeira rumo a nossa Felicidade chamada: Lavar roupa na mina.
      Não faz muito tempo não, apenas 41 anos atrás, 1970 foi a época que morávamos na Cidade A.E. Carvalho, bairro da periferia de São Paulo. Eu tinha 15 anos e adorava acompanhar mamãe até a mina, pois mesmo tendo que carregar os baldes cheios de roupas não me importava, pois sabia que sempre todos nós estaríamos muito feliz ao lado de mamãe e de minhas queridas irmãzinhas.
     Naquela época, eu tinha uma namoradinha que também nos acompanhava e prontamente oferecia ajuda e eu ficava “morrendo de vergonha”... mas chegávamos na mina, as  roupas eram despejadas na grama e nós saíamos para brincar ao redor de um pequeno lago, sempre orientados por mamãe para não nos afastarmos muito da sua vista.
     Muitas mulheres  iam lavar roupas na mina e às vezes eu ficava surpreso com a quantidade de pessoas, penso agora que até deveria haver um rodízio e que aquela “lavação” era mais um encontro social do que uma necessidade, pois falavam incessantemente das vicissitudes do cotidiano com muita naturalidade, ouvia-se muitas risadas e roupas sendo “socadas” numa enorme pedra ao lado da mina.
    Nós adolescentes corríamos ao redor da mina, brincávamos de quase tudo e quando éramos chamados por mamãe já era hora de regressar para nosso lar.
    Nós adorávamos quando mamãe colocava as roupas para quarar e depois passava na água, pois assim era possível ficarmos mais alguns minutos na tão adorável mina.
   Não existia um dia fixo para irmos à mina, era necessário fazer Sol e ter muita roupa suja para a nossa alegria fazer-se presente.
   Muitas vezes eu levava algum livro para ler, indicado pela escola e não conseguia ler mais que três páginas, pois não encontrava concentração no meio de tanta conversa, risos, mães “ralhando” com os filhos por estarem fazendo alguma peraltice ou sendo incomodado pela namorada querendo algum beijinho escondido da multidão.
    Quantas alegrias vivemos naquela época! Foram várias entre um tempo difícil, era água de poço, mas existia a mina que era nossa maior alegria!