20 de jun. de 2014

Simples, Alegre e Inteligente

   
Andando por este mundo de vez em quando tropeçamos com pessoas de todo o tipo e às vezes temos sorte em encontrar pessoas que conseguem nos cativar pelo sorriso e pelas primeiras palavras.
       Levantei-me as duas horas da manhã com uma vontade enorme de beber algumas cervejas em um quiosque na praia do Perequê-Açu em Ubatuba, São Paulo, Brasil.
       A princípio não haveria a necessidade de ir até o quiosque, pois eu já tinha passado o dia todo naquela mesma praia vendendo sorvetes, mas algo impulsionava a minha ida para conversar com pessoas jamais vistas, respirar o delicioso ar da madrugada e receber a maravilhosa brisa vinda do mar.
       Em poucos minutos coloquei-me em pé e fui caminhando pela rua deserta pensando nas novas amizades feitas na praia e às vezes ria alto de alguma piada que eu escutara entre a venda de um picolé e outro.
       Cheguei sorrateiramente no quiosque e logo fui saudado pelo Rodrigo, um dos sócios do quiosque que disse:
- Caramba Luiz, isto é que é gostar de praia! Acabou de sair daqui agora a pouco e já está de volta?
Sorri amigavelmente, balancei a cabeça e respondi:
- Pois é Rodrigo, senti falta do barulho das ondas e como não conseguia dormir vim aqui para ver o amanhecer do dia enquanto degusto algumas porções de camarão e algumas cervejas bem geladas.
       Não foi necessário mais nenhuma palavra, o Rodrigo afastou uma cadeira e disse:
- Pode sentar amigo, hoje você encontrará duas pessoas muito especiais assim como você.
       Não demorou muito e a cerveja já estava servida em um copo decorado com o logo do quiosque e eu com os olhos perdidos no mar a imaginar os pescadores que já estavam se preparando para colocar os barcos no mar e entre um gole e outro eu olhava o quiosque totalmente vazio, alguns galos a cantar ao longe e o Rodrigo sempre dizendo que as pessoas especiais já estavam chegando.
       Repentinamente entrou um casal no quiosque e foram saudar o proprietário Rodrigo e depois de vários abraços e sorrisos caminharam em direção a mesa em que eu estava sendo servido e o Rodrigo disse:
- Ai está Luiz, estas duas pessoas são as mais raras que conheci ao longo dos meus dez anos de praia. Cumprimentamo-nos e o casal sentou-se educadamente ao meu lado e apresentaram-se:
Mayara e Luigi eram casados e não moravam no Brasil, eram italianos e uma vez por ano faziam questão de reservar um mês para passear pelas belas praias brasileiras e Ubatuba sempre estava no roteiro dos dois.
       Fiquei um pouco apreensivo com os dois e quando acabamos de nos apresentar, Mayara levantou-se e deu um abraço bem apertado em mim e assim procedeu o Luigi que disse:
- Se vocês soubessem como gostamos de vocês, é algo inexplicável!
E eu perguntei: O que vocês mais gostam da gente, de nós brasileiros?
Luigi pediu licença e disse: Da maneira espontânea de fazer amizade, do sorriso, da alegria, do gingado, da maneira como somos tratados em todos os lugares por onde passamos por aqui, do clima.
       Sutilmente perguntei o que eles faziam da vida, se trabalhavam ou simplesmente passeavam pelo mundo e a resposta veio da voz pausada e um pouco rouca da nova amiga Mayara.
- Sabe Luiz, trabalhamos em um asilo, com pessoas que estão nos seus últimos momentos entre nós e adoramos aquilo que fazemos.
Foi então que nossa porção de camarão chegou e eu perguntei:
Sim, entendo perfeitamente, mas o que vocês fazem neste asilo?
- Somos voluntários, somos médicos e nossa missão é atender todos com muito carinho e amor e os olhos de Mayara lacrimejaram momentaneamente.
       Então eu estava diante de dois médicos e aproveitei o momento e pedi licença para contar uma piada de médicos e ambos balançaram a cabeça positivamente e após o término da piada ríamos muito e Mayara disse:
- É isto que nos leva a gostar de vocês: A alegria, o sorriso leve e solto esparramado por onde anda, pessoas simples e de bem com a vida, exalando bem estar e sem neuras.
       Contei um bom pedaço da minha vida e ficaram encantados em saber que eu era apenas um simples vendedor de sorvetes na praia, sabia falar inglês e adorava a madrugada, ver o raiar do Sol e conhecer novas pessoas.
       Ouvi calado entre um gole de cerveja e outro um pouco da vida dos meus novos amigos e levantamo-nos para apreciar o raiar do Sol que naquele exato momento já estava começando a aparecer no horizonte.
       Demos as mãos e rezamos a Deus agradecendo aquele momento sublime que nos dera de presente e após alguns minutos calados e encantados com rara beleza voltamos a nossa mesa e foi quando eu disse que iria embora e o Luigi disse:
- Mas Luiz, já vai? Gostaríamos de convidá-lo a mostrar algumas praias que você conhece, ficaríamos encantados com sua presença entre nós!
Esbocei um sorriso de satisfação e alegria e aceitei o convite e após nos despedirmos do Rodrigo caminhamos até o Trailer em que eles estavam dirigindo por Ubatuba e fomos conhecer novas praias durante duas semanas repletas de alegria, conforto, simplicidade.

Uma bela amizade feita na simplicidade de uma noite em um quiosque entre muitos risos e alegria de viver: Viver com pessoas simples, alegres e inteligentes assim como Mayara e Luigi. Obrigado amigos!

Um comentário:

suely disse...

Que lindo! É bem assim, ser simples é apenas ver um sorriso e devolver esse gesto, com o um espelho.. A vida nos dá o que damos aos outros. Amo vc pelo simples fato de vc ser o que é. Maluco,inteligente e sabe viver, conforme a musica. bjs.