Levantei-me as duas horas da manhã com uma vontade enorme de
beber algumas cervejas em um quiosque na praia do Perequê-Açu em Ubatuba, São
Paulo, Brasil.
A princípio não haveria a necessidade de ir até o quiosque,
pois eu já tinha passado o dia todo naquela mesma praia vendendo sorvetes, mas
algo impulsionava a minha ida para conversar com pessoas jamais vistas,
respirar o delicioso ar da madrugada e receber a maravilhosa brisa vinda do
mar.
Em poucos minutos coloquei-me em pé e fui caminhando pela rua
deserta pensando nas novas amizades feitas na praia e às vezes ria alto de
alguma piada que eu escutara entre a venda de um picolé e outro.
Cheguei sorrateiramente no quiosque e logo fui saudado pelo
Rodrigo, um dos sócios do quiosque que disse:
- Caramba Luiz, isto é que é
gostar de praia! Acabou de sair daqui agora a pouco e já está de volta?
Sorri amigavelmente,
balancei a cabeça e respondi:
- Pois é Rodrigo, senti
falta do barulho das ondas e como não conseguia dormir vim aqui para ver o
amanhecer do dia enquanto degusto algumas porções de camarão e algumas cervejas
bem geladas.
Não foi necessário mais nenhuma palavra, o Rodrigo afastou uma
cadeira e disse:
- Pode sentar amigo, hoje
você encontrará duas pessoas muito especiais assim como você.
Não demorou muito e a cerveja já estava servida em um copo
decorado com o logo do quiosque e eu com os olhos perdidos no mar a imaginar os
pescadores que já estavam se preparando para colocar os barcos no mar e entre
um gole e outro eu olhava o quiosque totalmente vazio, alguns galos a cantar ao
longe e o Rodrigo sempre dizendo que as pessoas especiais já estavam chegando.
Repentinamente entrou um casal no quiosque e foram saudar o
proprietário Rodrigo e depois de vários abraços e sorrisos caminharam em
direção a mesa em que eu estava sendo servido e o Rodrigo disse:
- Ai está Luiz, estas duas
pessoas são as mais raras que conheci ao longo dos meus dez anos de praia.
Cumprimentamo-nos e o casal sentou-se educadamente ao meu lado e
apresentaram-se:
Mayara e Luigi eram casados
e não moravam no Brasil, eram italianos e uma vez por ano faziam questão de
reservar um mês para passear pelas belas praias brasileiras e Ubatuba sempre
estava no roteiro dos dois.
Fiquei um pouco apreensivo com os dois e quando acabamos de
nos apresentar, Mayara levantou-se e deu um abraço bem apertado em mim e assim
procedeu o Luigi que disse:
- Se vocês soubessem como gostamos
de vocês, é algo inexplicável!
E eu perguntei: O que vocês
mais gostam da gente, de nós brasileiros?
Luigi pediu licença e disse:
Da maneira espontânea de fazer amizade, do sorriso, da alegria, do gingado, da
maneira como somos tratados em todos os lugares por onde passamos por aqui, do
clima.
Sutilmente perguntei o que eles faziam da vida, se trabalhavam
ou simplesmente passeavam pelo mundo e a resposta veio da voz pausada e um
pouco rouca da nova amiga Mayara.
- Sabe Luiz, trabalhamos em
um asilo, com pessoas que estão nos seus últimos momentos entre nós e adoramos
aquilo que fazemos.
Foi então que nossa porção
de camarão chegou e eu perguntei:
Sim, entendo perfeitamente,
mas o que vocês fazem neste asilo?
- Somos voluntários, somos
médicos e nossa missão é atender todos com muito carinho e amor e os olhos de
Mayara lacrimejaram momentaneamente.
Então eu estava diante de dois médicos e aproveitei o momento
e pedi licença para contar uma piada de médicos e ambos balançaram a cabeça
positivamente e após o término da piada ríamos muito e Mayara disse:
- É isto que nos leva a
gostar de vocês: A alegria, o sorriso leve e solto esparramado por onde anda,
pessoas simples e de bem com a vida, exalando bem estar e sem neuras.
Contei um bom pedaço da minha vida e ficaram encantados em
saber que eu era apenas um simples vendedor de sorvetes na praia, sabia falar
inglês e adorava a madrugada, ver o raiar do Sol e conhecer novas pessoas.
Ouvi calado entre um gole de cerveja e outro um pouco da vida
dos meus novos amigos e levantamo-nos para apreciar o raiar do Sol que naquele
exato momento já estava começando a aparecer no horizonte.
Demos as mãos e rezamos a Deus agradecendo aquele momento sublime
que nos dera de presente e após alguns minutos calados e encantados com rara
beleza voltamos a nossa mesa e foi quando eu disse que iria embora e o Luigi
disse:
- Mas Luiz, já vai?
Gostaríamos de convidá-lo a mostrar algumas praias que você conhece, ficaríamos
encantados com sua presença entre nós!
Esbocei um sorriso de
satisfação e alegria e aceitei o convite e após nos despedirmos do Rodrigo
caminhamos até o Trailer em que eles estavam dirigindo por Ubatuba e fomos
conhecer novas praias durante duas semanas repletas de alegria, conforto,
simplicidade.
Uma bela amizade feita na
simplicidade de uma noite em um quiosque entre muitos risos e alegria de viver:
Viver com pessoas simples, alegres e inteligentes assim como Mayara e Luigi.
Obrigado amigos!
Um comentário:
Que lindo! É bem assim, ser simples é apenas ver um sorriso e devolver esse gesto, com o um espelho.. A vida nos dá o que damos aos outros. Amo vc pelo simples fato de vc ser o que é. Maluco,inteligente e sabe viver, conforme a musica. bjs.
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