16 de fev. de 2013

VÓ ARMINDA



      Ah, que delícia ter uma avó! Vó Arminda era nossa visinha do grande cortiço onde morávamos na Rua Mangalô, no querido bairro da Parada Inglesa, Zona Norte da cidade de São Paulo.
      Estávamos vivendo o maravilhoso ano de 1.960, onde tudo era pureza e até podíamos “emprestar” uma avó: Vó Arminda.
      Vó Arminda era de uma bondade angelical, de uma delicadeza de princesa, de uma serenidade de um amanhecer e de uma calma de monge.
      Ao entardecer, mamãe subia as enormes escadas do cortiço e depositava-nos nos carinhosos braços da querida vó Arminda e dizia:
- Olá comadre, dá para a senhora olhar estes “pestinhas” enquanto eu preparo a janta para o Zezinho?
      Os braços abertos e os grandes olhos azuis como um grande manto de proteção acolhiam nossas pequeninas almas.
      Mamãe descia apressada as escadas para preparar a janta para o papai e lá nós ficávamos no delicioso colo da vovó Arminda.
      O radinho em cima de uma pequena mesa da cozinha coberta com uma linda toalha de plástico xadrez amarelo e azul começava a transmitir um jornal chamado: “A HORA DO BRASIL” e o início era sempre assim: Em Brasília...19 horas. A linda música que antecedia o inicio do jornal misturado com o delicioso perfume da vó Arminda fazia a gente viajar pelo Mundo através da voz do grande locutor e descobrir Mundos e lugares jamais imaginados por nossa mente pueril.
      Sentávamos na escada que dava acesso a pequena cozinha e lá ficávamos escutando a “Voz do Brasil” e várias histórias contadas com uma voz pausada da linda vó Arminda.
      Grandes castelos nos eram apresentados sob a grande e linda lua cheia e misteriosos monstros faziam a gente se encolher sob os protetores braços da querida avó.
      Vó Arminda tinha um filho que era jogador profissional de “bilhar” e todas as tardes o querido filho acordava, ia tomar um banho e depois ficava eternos minutos examinando os tacos de bilhar que seriam utilizados ao longo da noite onde ganharia o sustento do lar.
      O filho da vó Arminda vestia-se com uma linda calça branca, sapato branco, camisa listrada e um paletó branco e um lindo chapéu listrado, passava a mão na maleta onde estavam os tacos de bilhar, benzia-se diante do altar e saia dando um beijo carinhoso na mãe e em todos nós.
      Assim que o filho de vó Arminda saia de casa, vó Arminda ia até o altar e acendia uma vela para Nossa Senhora de Aparecida e todos nós rezávamos baixinho pedindo proteção para todos. Vó Arminda sempre pedia proteção para o filho e nós pedíamos proteção para vó Arminda.
      A alegria em estar ao lado da querida vó Arminda era desfeita quando mamãe aparecia e dizia:
- Nossa, já são quase nove horas da noite e o Zezinho ainda não chegou, o que será que aconteceu?
      E lá estávamos nós torcendo para que papai chegasse bem mais tarde, pois só assim poderíamos ficar sobre o carinhoso abraço da vó Arminda por mais alguns minutos.
      O velho portão abria-se estridentemente e um grande sorriso de mamãe era percebível a milhares de quilômetros de distância, era nosso querido papai que acabava de chegar e lá estávamos nós a dar o último abraço na querida vó Arminda sussurrando ao seu ouvido: Eu te amo vovó, posso vir amanhã? E sempre aquele sorriso encantador dizendo: Claro queridos, vocês moram em meu coração!

Um comentário:

suely disse...

É engraçado que me lembro do nome Orminda e tbm de um corredor cheia de portas... e uma arinha ...
Tbm me lembro do Julio de Ermelindo Matarrazo, do sr Heitor.. sei la ...lembranças que vc me proporciona enterargir com meu cerebro. bjs te amo e conto com seu livro.