Ah, que
delícia ter uma avó! Vó Arminda era nossa visinha do grande cortiço onde
morávamos na Rua Mangalô, no querido bairro da Parada Inglesa, Zona Norte da
cidade de São Paulo.
Estávamos vivendo o maravilhoso ano de
1.960, onde tudo era pureza e até podíamos “emprestar” uma avó: Vó Arminda.
Vó Arminda era de uma bondade angelical,
de uma delicadeza de princesa, de uma serenidade de um amanhecer e de uma calma
de monge.
Ao entardecer, mamãe subia as enormes
escadas do cortiço e depositava-nos nos carinhosos braços da querida vó Arminda
e dizia:
- Olá
comadre, dá para a senhora olhar estes “pestinhas” enquanto eu preparo a janta
para o Zezinho?
Os braços abertos e os grandes olhos azuis
como um grande manto de proteção acolhiam nossas pequeninas almas.
Mamãe descia apressada as escadas para preparar
a janta para o papai e lá nós ficávamos no delicioso colo da vovó Arminda.
O radinho em cima de uma pequena mesa da
cozinha coberta com uma linda toalha de plástico xadrez amarelo e azul começava
a transmitir um jornal chamado: “A HORA DO BRASIL” e o início era sempre assim:
Em Brasília...19 horas. A linda música que antecedia o inicio do jornal
misturado com o delicioso perfume da vó Arminda fazia a gente viajar pelo Mundo
através da voz do grande locutor e descobrir Mundos e lugares jamais imaginados
por nossa mente pueril.
Sentávamos na escada que dava acesso a
pequena cozinha e lá ficávamos escutando a “Voz do Brasil” e várias histórias
contadas com uma voz pausada da linda vó Arminda.
Grandes castelos nos eram apresentados sob
a grande e linda lua cheia e misteriosos monstros faziam a gente se encolher
sob os protetores braços da querida avó.
Vó Arminda tinha um filho que era jogador
profissional de “bilhar” e todas as tardes o querido filho acordava, ia tomar
um banho e depois ficava eternos minutos examinando os tacos de bilhar que
seriam utilizados ao longo da noite onde ganharia o sustento do lar.
O filho da vó Arminda vestia-se com uma
linda calça branca, sapato branco, camisa listrada e um paletó branco e um
lindo chapéu listrado, passava a mão na maleta onde estavam os tacos de bilhar,
benzia-se diante do altar e saia dando um beijo carinhoso na mãe e em todos
nós.
Assim que o filho de vó Arminda saia de
casa, vó Arminda ia até o altar e acendia uma vela para Nossa Senhora de
Aparecida e todos nós rezávamos baixinho pedindo proteção para todos. Vó
Arminda sempre pedia proteção para o filho e nós pedíamos proteção para vó
Arminda.
A alegria em estar ao lado da querida vó
Arminda era desfeita quando mamãe aparecia e dizia:
- Nossa, já
são quase nove horas da noite e o Zezinho ainda não chegou, o que será que
aconteceu?
E lá estávamos nós torcendo para que papai
chegasse bem mais tarde, pois só assim poderíamos ficar sobre o carinhoso
abraço da vó Arminda por mais alguns minutos.
O velho portão abria-se estridentemente e
um grande sorriso de mamãe era percebível a milhares de quilômetros de
distância, era nosso querido papai que acabava de chegar e lá estávamos nós a
dar o último abraço na querida vó Arminda sussurrando ao seu ouvido: Eu te amo
vovó, posso vir amanhã? E sempre aquele sorriso encantador dizendo: Claro
queridos, vocês moram em meu coração!
Um comentário:
É engraçado que me lembro do nome Orminda e tbm de um corredor cheia de portas... e uma arinha ...
Tbm me lembro do Julio de Ermelindo Matarrazo, do sr Heitor.. sei la ...lembranças que vc me proporciona enterargir com meu cerebro. bjs te amo e conto com seu livro.
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