Não
existia hora marcada para iniciarmos nossa partida de futebol na esburacada rua
de terra chamada Caxinguelê que ficava no bairro da Cidade A.E.Carvalho, zona
leste da cidade de São Paulo.
Sempre que conseguíamos reunir mais de dez moleques nós
caminhávamos até a casa do Nelsinho para convidá-lo para o jogo, pois o mesmo
era proprietário da bola.
Quase sempre dona Neusa, mãe do Nelsinho atendia nosso pedido
e liberava o filho e a surrada bola de capotão tão maltratada pelos nossos
grosseiros pés.
A nossa alegria contagiante era notada por todos os moradores
do bairro e lá íamos nós sorrindo entre abraços para nossa pelada de rua.
Não existia técnico de futebol e as escolhas dos jogadores
eram feitas por dois garotos considerados os melhores entre nós e os piores
jogadores sempre acabavam indo para o gol.
Tudo era improvisado e qualquer objeto ao alcance dos nossos
olhos serviam para marcarmos as traves, desde pedaços de tijolos, latas vazias
e até mochilas de alguns garotos vindos da escola que apareciam por lá e
queriam participar do nosso jogo de futebol.
Não existia juiz e as faltas e encontrões erram marcadas pelo excesso
de energia nos dribles sempre que algum jogador caia a mais de um metro de
distância da bola ou quando o Marcão que era o garoto mais forte pedia para
paralisarmos o jogo.
Não existia tempo de jogo e sim um placar pré-definido: Vira
cinco acaba dez.
A bola era posicionada no meio da rua e nós saíamos correndo
dando chute até na alma, similar a uma vaca brava e não demorava muito estávamos
transpirando muito e bastante cansados pelo esforço físico.
A única recomendação do Marcão era para evitarmos chutar a
bola na casa do senhor Nicolau, pois se a mesma caísse no quintal do mesmo o
jogo teria que terminar pois o velhinho não devolvia a nossa bola, somente para
nossas mães.
O momento mais triste das nossas peladas de rua era quando
avistávamos a mãe do Nelsinho que vinha pedir para o filho entrar porque já
estava ficando tarde e ele pegava a bola de capotão colocava embaixo do braço e
saia muito triste pedindo desculpa para todos nós.
O melhor jogador das nossas peladas de rua chamava cazuza, era
um garoto muito franzino e tinha um drible desconcertante e quantas vezes fui
para casa com dores no corpo todo de tanto ser enganado com a agilidade do
cazuza.
O suor descia pelos nossos rostos e o contato do suor com os
nossos olhos cegavam nos momentaneamente e nem sempre o que chutávamos era a
bola e sim a canela de quem estivesse na nossa frente.
Nosso jogo era imediatamente interrompido quando havia a
necessidade de alguma mulher com criança no colo, mulher grávida, velhinhos e
algum carroceiro pediam licença para passar pela rua, fora estas pessoas o
restante que se atrevia a passar pela rua era imediatamente driblado e entre
alguns palavrões avistávamos a bola sendo arremessada na casa do senhor Nicolau
dando por encerrado a partida de futebol de rua.
Os meus joelhos sempre ralados e os dedões dos pés sem os
tampões denunciavam que naquela semana tinha acontecido várias peladas de rua.
Foram raros os gols que eu fiz, mas os poucos gols feitos
faziam eu alimentar a ilusão em querer ser um jogador de futebol no futuro o
que era imediatamente desfeito com um comentário de mamãe:
- Melhor estudar meu filho
pois para jogador de futebol você não leva nem um pouquinho de jeito.
Abria a Cartilha Caminho Suave e ficava sonhando em ser um
jogador de futebol, apenas sonho, apenas um sonho bem distante da realidade.
Mas valeu sonhar e poder participar das gostosas e divertidas peladas de rua.
3 comentários:
Infância feliz foi a sua hoje não podemos deixar nossos filhos brincar na ruas de sampa.
Infância feliz nessa época onde podíamos brincar de bola nas ruas, hoje nossas crianças não sabem e nem podemos deixa-las...éramos felizes.
Hoje pra vc deixar seu filho jogar em chão de terra, é necessário que vamos ao interior, pois tudo é avenida ou calçada,no ultimo caso tem grama sintética..Parques pavimentados...
Antes era viver melhor, mesmo sendo pobre, sonhavamos e eramos felizes. Vc,viveu e tem o que contar, vc é feliz. rsrsr bjs.
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