6 de dez. de 2013

A ARQUITETA

        E desde que a pequena Caroline foi abandona pelos pais que a deixaram com a avó chamada Alice o grande sofrimento fez-se presente em todos os momentos da menina Carol que passou a viver sempre ao lado da querida e protetora avó.
        No pequeno quartinho alugado nos fundos de um grande cortiço, o exíguo dinheiro de uma pensão da vó Alice, uma boneca e duas camas separavam o grande sonho de Carol e sua avó: Morar em uma residência digna e sempre a garotinha de apenas seis anos dizia:
- Olha vó Alice, quando eu crescer, vou ser uma construtora de casas e construirei uma linda casa pra gente morar!
Vó Alice passava as mãos pelos lindos cabelos negros da netinha Carol e dizia:
- Dorme minha querida e sonha, porque sonhar é necessário e faz bem pra alma.
     No outro dia lá estava a vó Alice arrumando, limpando uma residência para ganhar o sustento para amparar as necessidades do cotidiano, e como diarista sempre levava a pequena Carol que ficava a admirar os pequenos livros comprados em sebos da periferia e quando abria uma página do livro e aparecia uma casa muito bonita ela saia correndo e ia mostrar para a vó Alice e dizia:
- Olha Vó, nossa casa!
Vovó Alice balançava a cabeça, sorria e dizia:
- Linda muito linda, começa a ler outra história minha querida, esta casa é muito luxuosa pra ser da gente!
- Carol encolhia-se num cantinho da sala que estava sendo limpa e pensava que um dia seria muito inteligente para construir uma linda casa como aquela que estava no livro.
        O tempo foi passando e Carol começou a estudar em uma escola do bairro e sempre seu maior interesse foi desenhar casas e sempre que a professora perguntava o porquê tanto interesse por casas, Carol respondia:
- Porque não temos casa para morar e vou construir uma casa para minha avó Alice!
        O ensino fundamental foi completado com grande êxito e os elogios dos professores sempre enaltecendo a grande facilidade em desenhos da pequena Carol deixavam vó Alice muito feliz.
        O Ensino médio foi totalmente estudado em uma escola Federal na área de Edificações e finalmente após grandes projetos e profundos estudos começou a trabalhar em uma grande Construtora da cidade de São Paulo.
        A vida de cursinho a noite após o trabalho visando fazer uma excelente Faculdade de Arquitetura fez despertar o interesse pela aquela inteligente menina do dono da Construtora que fez uma proposta para Carol.
- Olha garota, por esta construtora já passaram vários estudantes de arquitetura, edificações, engenheiros e peões, mas sua obstinação nos surpreende muito e a melhor coisa que temos que fazer é financiar os seus estudos e a partir de amanhã você não necessita mais vir trabalhar, está despedida!
Os olhos de Carol lacrimejaram e quando ela foi saindo entre soluços o dono da Construtora pediu que ela não ficasse triste, pois a empresa ajudaria naquilo que fosse necessário. Uma bolsa de estudo até o término da Faculdade de Arquitetura e não haveria mais a necessidade de trabalhar todos os dias, apenas quando necessitassem de algum apoio.
        Carol prestou o vestibular e passou em primeiro lugar e começou o curso em uma Faculdade de Arquitetura de primeira linha na cidade de São Paulo e durante os anos que foram passando conheceu Paulo, também estudante de Arquitetura e oriundo de uma família muito rica da cidade de São Paulo e entre as maquetes construídas sempre sobrava tempo para uma boa conversa entre os dois.
        Ao término do terceiro ano do curso já estavam namorando e arquitetando grandes e mirabolantes planos para o futuro e foi quando Paulo fez um pedido para Carol:
- Carol, que tal ao final do nosso curso irmos morar nos Estados Unidos, em Los Angeles?
Carol riu e disse: Sim poderemos ir, após casarmos e construirmos uma linda casa para minha vó Alice!
O tempo foi passando e Carol e Paulo se formaram com grande pompa, grandes méritos e vários elogios dos grandes mestres de arquitetura por terem sidos maravilhosos alunos que tanto ajudaram em grandes projetos de pequenas moradias popular.
        O casamento entre Carol e Paulo aconteceu e o grande sonho de Carol começou a ser construído em um bairro da cidade de São Paulo, uma linda casa para avó Alice e após a casa estar totalmente construída e entregue a querida vó Alice a mesma disse:
- Olha Carol, muito obrigado pela linda casa construída, mas meu maior sonho mesmo é passar meus últimos dias ao seu lado em qualquer parte deste planeta, pois eu te amo muito!
Partiram para Los Angeles, Califórnia, Estados Unidos e montaram uma enorme construtora de piscinas em Beverly Hills, hoje Carol deve ter seus quarenta anos e Paulo uns trinta e sete anos, apenas um filhinho chamado John e a linda e caridosa avó Alice seus oitenta e sete anos que todas as manhãs senta-se em frente da grande mansão em que moram e diz:
- Carol, onde está aquele livrinho que comprei pra você num sebo, para eu mostrar para o John?

Entre abraços e beijos são servidos pelos empregados da mansão enquanto aguardam os empregados da grande construtora chegarem para mais um dia de trabalho.

24 de nov. de 2013

MARIA DA CARIDADE

A minha vida andava muito tranquila, afinal eu tinha conseguido um emprego numa padaria como balconista e ganhava o suficiente para manter os meus gastos do cotidiano.
Entre eu atender um freguês e outro ainda existia inspiração para cantarolar alguma canção do querido cantor Roberto Carlos e a cada dia que passava o meu carisma foi esparramado pelos quatro cantos da pacata cidade do interior.
Naquela Sexta-feira entrei na padaria e entre um abraço e outro nas minhas colegas de serviço antes de começar a servir os primeiros fregueses fui chamada pelo dono da padaria para atender um telefonema.
- Alô, é a senhora Maria da Caridade? E eu respondi um pouco apreensiva.
- Sim, sou eu mesmo, em que posso ser útil?
- Olha dona Maria, aqui quem fala é o diretor do abrigo de menores e tenho uma proposta para a senhora em acolher algumas crianças adolescentes que a senhora tanto conhece.
Um pouco espantada eu disse:
- Olha moço, o senhor deve estar enganado, afinal eu não conheço nenhuma criança! E desliguei o telefone e fui lavar as louças que estavam sobre a pia da padaria e enquanto a água da torneira deslizava pelo ralo, o barulho de copos e pratos sendo colocados no escorredor fiquei pensando o que aquele senhor queria comigo e imediatamente fui convocada para atender um novo telefonema e para a minha surpresa do outro lado estava a mesma voz suplicando a minha presença no abrigo.
Desliguei o telefone e pedi para o dono da padaria para ir até o abrigo e assim caminhei até o mesmo e lá chegando fui recebido por uma senhora muito simpática que levou-me até uma sala onde estava o diretor do abrigo.
- Olá dona Maria da Caridade, pode sentar que tenho uma proposta maravilhosa para a senhora.
Um lindo quadro da Santa Ceia estava na parede e enquanto o diretor do abrigo falava dos menores eu ficava imaginando ao lado de todas crianças desamparadas do Mundo e foi quando o diretor pediu para a bondosa senhora do abrigo para ir buscar as duas crianças para eu vê-las e passados alguns minutos dois adolescentes entraram e ficaram na minha frente com as cabecinhas abaixadas e um olhar de abandono.
Levantei-me e fui até os adolescentes e dei um demorado abraço repleto de carinho nos dois e deixei rolar algumas lágrimas pelo meu rosto e aceitei a adoção não só dos dois e disse laconicamente que aceitaria adotá-los se pudesse adotar também os irmãozinhos dos mesmos.
O diretor cofiou a longa barba, abriu alguns papéis e ficou de dar a resposta no dia posterior.
Cheguei na padaria e recomecei o meu trabalho de balconista e enquanto eu estava atendendo um freguês o telefone tocou novamente e eu fui atender e escutei a mesma voz do diretor do abrigo:
- Dona Maria da Caridade, aqui quem fala é o diretor do abrigo e a decisão já está tomada, pode passar aqui no abrigo e levar todas as crianças solicitadas para a sua residência enquanto a senhora aguarda o processo de adoção. Felicidades e muito obrigado por este nobre gesto de caridade.
No dia seguinte lá fui eu até o abrigo no horário marcado pegar as crianças para conduzir até minha residência e dar todo o meu carinho para todos.
A alegria estava no rosto de todos e as crianças que no total eram oito estavam perfiladas e cada qual com uma malinha na mão e quando eu estava colocando todas as crianças numa Kombi para conduzir para minha casa o diretor aproximou-se de mim e disse:
- Dona Maria da Caridade, esta criança é a mais novinha, tem apenas quatro meses e necessita de muita atenção e depositou a pequenininha nos meus braços.
O motor da velha perua roncou, o motorista engatou a primeira marcha e alguns pingos de chuva começaram a cair e eu fiquei olhando para as crianças e deixei novamente meu rosto ser molhado por mais algumas lágrimas de felicidade e foi quando eu escutei:
- Obrigado mamãe! Deus abençoe a senhora!
Chegamos na minha casa e eu fiquei pensando como faria para abrigar tanta criança no exíguo espaço existente na minha propriedade, como faria naquele dia para abrigar a todos, onde dormiriam, como alimentá-las e foi quando escutei a campainha tocar e quando fui atender quase tive um enfarte.
Um enorme caminhão estava parado em frente à minha casa e alguns homens começaram a descarregar beliches, colchões, cobertores, mantimentos e após tudo ser colocado no devido lugar ouvi um Muito Obrigado do motorista do caminhão e ainda recebi um enorme abraço do diretor do abrigo que deixou um número de telefone disponibilizando vinte e quatro horas por dia para qualquer necessidade.
Pedi para minha filha ficar com todas as crianças e entrei silenciosamente no meu quarto, ajoelhei-me diante de Nossa Senhora da Aparecida e fiz uma oração para que me desse muita força, saúde e perseverança em criar aquelas lindas crianças até tornarem-se adultas e pudessem seguir o próprio caminho.

Acabei saindo da padaria para cuidar das crianças em tempo integral e a partir daquele dia a minha vida se transformou em uma alegria inefável e hoje quando estou sozinha fico pensando naquele dia em que fui abraçada por aquelas mãozinhas  e não resisto e deixo rolar algumas lágrimas de Felicidade e fecho os meus olhos e digo tartamudeando: Obrigado Senhor por dar-me tanta força e alegria ao lado dos meus anjinhos!

19 de out. de 2013

MAPPIN

     


     E assim que desembarcou na antiga rodoviária da estação da Luz, dentro do ônibus observou uma grande movimentação de pessoas que passavam rapidamente com enormes malas pra lá e pra cá.
        O motorista abriu o grande compartimento que ficava na parte debaixo do ônibus, colocou as enormes malas do Senhor João no chão, conferiu o bilhete e fechou rispidamente o enorme “maleiro” e disse:
- Felicidades e muito sucesso nesta grande metrópole!
O senhor João, sua esposa Maria e os seis filhos pequenos pegaram as enormes malas e saíram silenciosamente pelas ruas da redondeza da rodoviária sem destino, entraram num pequeno boteco e pediram alguns pastéis e duas tubaínas e lá ficaram a degustar os pastéis e olhando toda aquela movimentação da rua com muito receio da grande metrópole chamada São Paulo.
        Após saciarem a enorme fome de todos, saíram silenciosamente olhando para o chão enquanto as crianças admiravam com muita alegria e ansiedade tudo e todos.
        Embarcaram em um ônibus lotadíssimo com destino a zona Leste de São Paulo onde poderiam rever um compadre que tinha vindo para a cidade há muitos anos e prontificou-se a recebe-los até que arranjassem um pequeno cômodo por lá mesmo, um emprego e a vida pudesse ganhar o seu rumo na grande cidade.
        Durante o café da manhã o compadre disse ao senhor João:
- Olha compadre, vocês podem ficar aqui na nossa humilde casa morando conosco até “aprumarem” e depois que conseguirem um pequeno cômodo por aqui mesmo. Tenho um pequeno serviço para o senhor!
O senhor João olhou para o compadre e foi logo perguntando:
- Mas que tipo de serviço eu poderia fazer se só sei capinar roçado, cuidar de gado e cortar lenha?
O compadre foi logo explicando que conhecia um senhor que trabalhava numa agência de publicidade e sempre estava precisando de pessoas para carregar algumas placas com propagandas pelo centro de São Paulo.
O senhor João um pouco receoso perguntou:
- Mas, Compadre, será que eu sirvo pra este tipo de serviço? Afinal nem ler e escrever eu sei!
- Ora compadre, é só carregar a placa pra lá e pra cá e ficar orientando o pessoal para ir até a loja, muito fácil o serviço e nem é necessário ser “letrado”.
        No outro dia lá estavam os compadres descendo do ônibus no centro da capital paulista e entrando numa agencia de publicidade e o senhor João foi apresentado para um obeso senhor que fez algumas perguntas para o senhor João e alguns minutos depois lá estava o Senhor João em frente a uma grande loja de departamentos chamada Mappin.
        Após algumas orientações do senhor obeso o senhor João foi “abandonado” em frente ao Mappin com uma enorme placa que cobria todo o seu esquelético corpo e seguiu entrando pela rua Sete de Abril com destino a Praça da República.
        O senhor João muito apreensivo andava pela praça toda e sempre o seu olhar parava naquela enorme loja de departamentos chamada Mappin e então ele ficava imaginando o que poderia ser encontrado naquela linda e majestosa loja com um enorme relógio, muitas letras que ele não conseguia identificar por não saber ler.
        Pessoas passavam apressadas e a maioria nem parava para observar a insignificante presença do senhor João e no finalzinho da tarde quando uma enorme chuva fez todos encostarem embaixo de enormes toldos o senhor João coçou a enorme barba e ficou com muita vontade de entrar naquela linda loja.
        O senhor obeso apareceu e depositou uma quantia em dinheiro na mãos do senhor João desejou uma boa noite e pediu que na manhã seguinte apresentasse no mesmo lugar em que estivera naquela manhã e saiu apressado pelo viaduto do Chá.
        O senhor João parou em frente a grande loja e decidiu entrar e vagarosamente atravessou o andar térreo repleta de pessoas olhando tudo e ficou a imaginar na grandiosidade daquela cidade e foi andando entre alguns esbarrões parou diante de uma enorme vitrine que vendia brinquedos e humildemente perguntou quanto custava aquela pequena bonequinha com um lacinho na cabeça, a vendedora muito atenciosa disse o preço, o senhor João enfiou a mão no bolso da carcomida calça e retirou a quantia exata para adquirir aquela linda bonequinha para levar para sua filhinha caçula.
        Chegou em casa após duas horas dentro do sufocante ônibus, entrou sorrateiramente e depositou a bonequinha ao lado da filhinha que já estava dormindo, tomou um banho e foi dormir ao lado da esposa e ainda teve tempo de dizer sobre o presentinho que tinha comprado na grande loja chamada Mappin.

        Adormeceu muito feliz com a imagem da grande loja de departamentos na cabeça e o rostinho de felicidade da filhinha no dia posterior quando iria ganhar a linda bonequinha comprada no Mappin.

8 de out. de 2013

PAQUERAS NA PRAÇA DA MATRIZ

     
  

         E quando eu cheguei em Jacareí, interior da cidade de São Paulo no início da década de 1.970, fiquei encantado em saber que existia uma praça onde os jovens podiam paquerar livremente as lindas garotas existentes naquela época na aconchegante e linda cidade.
         Naquela época eu tinha dezessete anos de idade e algumas meninas que participavam das alegres partidas de ping-pong que aconteciam no quintal da casa da minha tia achavam que eu era “bonito” embora eu tinha lá as minhas dúvidas quando encarava o espelho e via o meu rosto repleto de espinhas durante os demorados banhos dos finais de semana.
         Aos sábados quando eu retornava da “Prainha”, um aprazível local a beira do despoluído rio Paraíba onde eu ia ler os grandes clássicos da literatura Brasileira solicitado pelo mestre de Língua Portuguesa, entrava no meu quarto que dividia com dois primos e dirigia até o nosso guarda-roupa comunitário para escolher as roupas que usaria durante as paqueras no largo da matriz.
         Naquela época era “moda” usarmos calça boca de “sino”, um tipo de calça que cobria totalmente nossos sapatos devido a dimensão exagerada de pano, camisas “gola olímpica”, estilo perfeito para tapar algumas marcas existentes em nossos pescoços após avassaladores namoros e frenéticos beijos nas bocas de lindas meninas, sapatos com enormes saltos que chamávamos carinhosamente de “carrapeta” e cintos com enormes fivelas estampadas algum personagem da época, meias e cuecas eram deixadas em segundo plano, pois as mesmas não seriam vistas pelo público alvo, então não havia a necessidade de tanto esmero com estas peças.
         A escolha das roupas que seriam usadas durante a nossa paquera exigia grande concentração e uma boa dose de vasta imaginação.
         As roupas eram delicadamente retiradas dos cabides e colocadas sobre a cama, um olhar apreensivo, a mão sob o queixo e uma expressão de dúvida franziam nosso olhar.
         Os pensamentos levavam-me ao meio da praça e via-me com uma elegante calça azul-escuro listrada de branco, uma linda camiseta branca “gola olímpica” bordada com o meu nome completo na parte frontal para tornar-se facilmente identificável diante das meninas, sapatos lustrosos e eu diante da linda menina dos olhos azuis e um corpo escultural enaltecendo minhas roupas, meu perfume de terceira categoria a meu rosto espinhento.
         Abandonava as minhas divagações, abria os olhos e pronto,  já estava decidido e escolhida a roupa com a qual eu iria ao encontro da minha princesa da praça. Guardava todas as outras roupas e deixava sobre a cama somente aquela qual seria usada.
         Após longos minutos sonhando acordado andava vagarosamente até o banheiro cantarolando alegremente uma música de Chico Buarque de Holanda ou do Caetano Veloso, adorava aquela que dizia: “Caminhando contra o vento, sem lenço, sem documento”, para um demorado banho.
         A minha ablução só era interrompida quando minha tia Nina batia na porta do banheiro e dizia sorrindo:
- Oh Luiz, o banho só lava o corpo e não a alma repleta de felicidade!
Soltava uma enorme gargalhada, fechava a torneira e saia enrolado em uma confortável toalha estampada com a foto do Pateta e entrava sorrateiramente no meu quarto.
         Passados alguns minutos lá estava eu diante do espelho especulando o meu visual e tentando tirar alguma espinha mais atrevida que instalara no meu rosto nos últimos dias e passados alguns minutos eu já estava totalmente preparado e muito feliz com minha aparência.
         Sentava-me na minha cama e ficava folheando uma revista chamada “POP” enquanto aguarda meu primo tomar banho e assim que ele estava arrumado caminhávamos até o portão e enquanto fechávamos o portão eu tecia algum comentário animador:
- Não adianta a gente se arrumar tanto, com nossa melhor roupa, com o nosso “melhor” perfume de terceira categoria se não temos o essencial: Um bom “papo”, diálogo e um poder de persuasão aguçado!
- Pois é Luiz, você está repleto de razão, mas mesmo assim vale a pena a gente tentar, quem sabe a gente encontra uma linda cinderela ignorante, bem mais tolinha que a gente e aí sim estamos feitos! Ríamos do diálogo e saíamos apressados com destino a praça.
         Chegávamos na praça e nossos olhares miravam em todas as direções a procura da nossa princesa encantada e quando avistávamos alguma linda garota, lentamente curvávamos diante do monumento, passávamos a língua entre os lábios e reverenciávamos a nobre dama sempre enaltecendo toda a beleza existente naquele corpo.
         Algumas meninas eram simpáticas e educadas e agradeciam nossas pífias cantadas, mas a maioria nem olhavam para nossos rostos e passavam olhando para o outro lado da praça o que nos irritava muito e grandes e sublimes palavrões eram tartamudeados entre uma ou mais mordidas nos lábios.
         As meninas circulavam pela praça no sentido horário e os meninos giravam no sentido anti-horário e assim ficava muito fácil avistarmos tudo e todos durante nossa paquera na praça.
         Alguns alto-falantes eram colocados em alguns pontos estratégicos na praça e os mesmos transmitiam lindas músicas daquela época e só eram interrompidos para anunciar um enlace matrimonial, algum evento importante e falecimento de pessoas influentes da cidade e seguia tocando a música e nós andando e andando pela praça e nada de achar nossa musa encantada.
         Era muito engraçado quando eu e meu primo ficávamos encantados com alguma pequena, aí fazíamos uma estranha e engraçada aposta para ver quem iria abordar a menina primeiro e quem perdesse era obrigado a “plantar uma bananeira” em plena praça, ou seja, colocar a cabeça no solo e levantar os dois pés para o alto e ficar pelo menos uns três minutos naquela posição.
         Risos nervosos e lá vinha a garota mais linda da cidade e entre um cutucão e outro parávamos na frente da menina e pedíamos carinhosamente se poderia falar um pouquinho conosco e lembro-me que quantas vezes “sacaneava” com o meu primo, pois pedia a palavra e a abordagem da vez e contava todo a nossa aposta para a menina e a mesma aceitava somente para ver o meu primo plantar a tal da bananeira e após colocar os pés no chão e ver que estávamos sorrindo a menina despedia-se e ía embora dizendo que éramos “loucos”.
         O tempo ia passando e às vezes conseguíamos alguma paquera e imediatamente convidávamos a menina para irmos a uma pequena e mal iluminada pastelaria perto da praça para comer alguns pastéis e beber Tubaína.
         Algumas meninas aceitavam nosso humilde e hilário convite, mas a maioria nos abandonavam em plena praça pedindo para convidar nossa querida mãe para tal convite. Ríamos muito alto da situação e continuávamos a procura de outra garota que aceitasse convite tão “pobre”.
         Chegava a hora de retornar para nossa residência pois já passava das onze horas da noite e as poucas meninas que ainda insistiam em ficar na praça conseguiam ser mais feias do que nós.
         Recolhíamos nossas emoções e saíamos da praça muito feliz em fazer-se presente e até conseguir abordar algumas meninas porém sem sucesso e assim seguíamos de braços dados com nossa querida e inseparável amiga “Esperança” que jamais nos abandonava em instante algum.
         Deitávamos em nossas camas e ficávamos lembrando dos maravilhosos e divertidos momentos na Praça e entre um sorriso e outro adormecíamos e sonhávamos com aquela linda menina dos olhos azuis que muito tempo mais tarde tornar-se-ia nossa querida namorada.



1 de out. de 2013

TRUCO NA PRAIA

   
   


         O mês de dezembro de 1.995 chegara trazendo muito Sol, alegria e muitas pessoas bonitas para o litoral norte e lá estava eu vendendo os sorvetes do Senhor Jairo na Praia Itamambuca.
         Carregava a enorme caixa de isopor de sorvetes na Praia de Perequê-Açú e caminhava até o trevo onde estava a Rodovia Rio-Santos sentido Paraty-RJ e lá ficava aguardando pacientemente o ônibus que transportar-me-ia até a Praia de Itamambuca.
         Itamambuca é uma das praias mais lindas de todo o litoral norte de São Paulo, após aproximadamente uma hora de viagem apreciando a linda paisagem de belas praias descia na rodovia e caminhava até um pequeno povoado que localizava-se na estrada de terra distante uns três quilômetros da Praia de Itamambuca.
         Entrava no bar do Zé Prefeito e degustava algumas cervejas bem geladas e após sentir-me bem preparado e relaxado colocava a enorme caixa de isopor dentro de um carrinho da sorveteria que ficava amarrado embaixo de uma enorme árvore e caminhava vagarosamente pela maravilhosa estrada de terra assobiando lindas canções de Chico Buarque de Holanda e apreciando maravilhosas casas de ricos turistas e a mente viajava entre o pousar de um pequeno pássaro ou alguma pequena borboleta em pequenas árvores que completavam toda a beleza e encanto do local.
         Durante o breve percurso sempre acenava para algum turista que saia das mansões para recolher o jornal ou caminhava lentamente até o Bar do Zé Prefeito para comprar pães e leite para o café matinal ao lado de lindos cães.
         Ao chegar na praia estacionava meu carrinho de sorvetes ao lado do quiosque da Conceição e sentava-me confortavelmente num tosco pedaço de árvore e ficava aguardando meus primeiros fregueses que não demoravam a aparecer.
         Naquele dia a preguiça invadia minha alma e assim que cheguei na praia observei uma família ao redor de uma mesa colocada embaixo de um enorme bangalô jogando truco e bebendo cervejas.
         Fiquei muito feliz admirando tanta felicidade reunida entre gritos de truco e copos entornados de geladas cervejas e resolvi brincar com o pessoal dizendo:
- E aí pessoal aceitam um ótimo jogador de truco na próxima rodada?
Os olhares perscrutadores e alguns sorrisos foram lançados e pediram para eu aguardar a próxima partida que eu iria jogar com a toda a família. Fiquei eternos minutos aguardando o término da partida e entre a venda de um sorvete e outra um velho senhor acenava dizendo que eu iria ser seu parceiro no próximo jogo.
         O jogo terminou e pediram gentilmente para eu sentar que eu iria participar do jogo de truco e assim que terminamos de “bater os reis” e meu parceiro foi definido passamos a jogar cautelosamente entre uma piscada e outra para sinalizar a presença de alguma boa carta: copas, sete ouro, espada ou mesmo o zape e após alguns minutos eu e meu parceiro estávamos fora do jogo sendo humilhado por uma pequena garota que enfiou “seis” na nossa cabeça e lá estava eu e meu parceiro sentados humildemente no tosco tronco de árvore culpando-nos simultaneamente pela derrota.
         A conversa e as experiências da vida eram colocadas naturalmente no delicioso clima da praia e foi quando eu disse ao próspero senhor que torcia para o São Paulo Futebol Clube e ele sorriu e disse que amava muito o São Paulo e tinha ido até o Japão assistir a final e comprara uma enorme bandeira que estava hasteada no topo da sua residência e convidou-me para ir até sua casa com toda sua família.
         Tentei recusar o pedido mas não houve acordo, pediram gentilmente para eu guardar meu carrinho e seguimos à pé até a casa do meu mais novo amigo que ficava apenas um quilômetro da praia.
         Assim que avistei a casa do meu parceiro de truco não acreditei e meus olhos nunca tinham visto uma casa tão linda: Era em formato hexagonal, totalmente de vidro e uma enorme bandeira do São Paulo Futebol Clube tremulando no topo do Castelo. Exclamei: Nossa que maravilhosa casa!
         O meu mais novo amigo pediu que eu entrasse e assim que vi lindos tapetes brancos na sala recusei, pois os meus pés estavam um pouco sujos e ele disse:
- Ora Luiz deixa de frescura e entra logo que irei mostrar minha adega!
         Descemos alguns degraus de uma escada caracol e fiquei diante de uma adega repleta de vinhos de todas as marcas e procedências colocados numa enorme prateleira com pouca iluminação.
         O amigo observou vários litros e resolveu pegar um que ele tinha comprado na Espanha para brindar a minha presença e subimos e ficamos confortavelmente sentados ao redor de uma mesa branca ao lado de uma linda piscina conversando e rindo muito das nossas andanças pelo mundo.
         Fazia-se tarde e resolvi ir embora, pois necessitava pegar o ônibus para Ubatuba e meu amigo disse:
- Poxa Luiz, não fique preocupado com a sua locomoção, pois pedirei para o meu motorista levar você até sua residência.
         Bem mais despreocupado ainda coube tempo para bebermos algumas cervejas importadas entre vários sorrisos de felicidade e quando foi uma hora da manhã resolvi ir embora e foi quando ele chamou o motorista que apresentou-se e abriu a porta traseira do luxuoso carro e pediu gentilmente para eu entrar e eu comecei a rir muito e disse:
- Que isso amigo, não há a necessidade de tanta formalidade, vou no banco dianteiro mesmo! e assim seguimos viagem até a casa da minha tia Ana e quando chegamos e o lindo carro parou em frente da casa da tia Ana todos saíram para observar e disseram:
- Que amizade maravilhosa, tem até motorista particular! E caíram em gargalhadas. Entrei sorrindo e dei um enorme grito:

Truco!

30 de set. de 2013

A CASA DE PRAIA





Existiu uma época em que eu trabalhava numa indústria de computadores em São Paulo e constantemente locomovia-me pelas ruas da grande metrópole de taxi, pois o serviço era feito em outras fábricas que forneciam periféricos para empresa onde eu trabalhava e foi assim que acabei conhecendo um motorista que tinha uma casa em Massaguaçú em Caraguatatuba, litoral norte de São Paulo.
     Nossas constantes conversas durante o trajeto que às vezes era muito longo sempre giravam em torno de praias, férias, descanso entre várias buzinadas de carros que passavam por nós freneticamente em busca do não chegar atrasado e entre várias cortadas e alguns sorrisos chegávamos ao nosso destino.
     Em um determinado dia o motorista ofereceu a sua casa da praia para eu descansar com minha família durante minha férias e imediatamente aceitei e disse que passaria os trinta dias no litoral e foi assim que nos despedimos com a entrega da chave da casa e no outro dia estávamos descendo a serra com destino a tão sonhada férias na praia.
     A nossa alegria era inefável e assim que chegamos na casa deparamos com um enorme quintal, um lindo e frondoso abacateiro que serviu para colocarmos nossas redes de descanso e após uma longa e demorada limpeza estávamos preparados para apreciar o que existe de mais belo neste Mundo: A Praia.
     Levantamos bem cedo e fomos conhecer nossos vizinhos e dissemos que iriamos a praia e pedimos que dessem uma “espiada” na casa e a simpatia e a humildade do senhor João, um velho caiçara que prontamente disse:
- Pode ir sossegado que nós ficaremos olhando a casa, fiquem tranquilos que aqui é tudo parente.
     Com o passar dos dias nossa amizade com o velho caiçara e sua família ficou estabelecida e já os considerava como se fossem membros da nossa família.
     Passamos os trintas dias na mais perfeita harmonia durante a minha férias, passeamos muito e voltamos “tostados” pelo escaldante Sol de 40 graus e cheio de felicidade para São Paulo.
     Foram várias as nossas voltas à casa da praia e existiu uma época que quase todos os finais de semana lá estávamos nós para um merecido e repousante momento de alegria e felicidade que aquela casa, nosso vizinho e o Mar tanto preenchiam nossas almas.
     Num determinado final de semana chegamos a noite na casa e assim que terminamos a limpeza e colocamos todas nossas “tralhas” dentro da casa fomos fazer uma breve visita ao senhor João e foi quando a sua esposa disse:
- Nossa, que bom que vocês vieram, entra que vou servir um cafezinho pra vocês!
A minha patroa ficou conversando demoradamente com a dona Mariana, esposa do senhor João e foi quando ela falou que estava muito feliz, pois o seu marido tinha conseguido um emprego de caseiro na casa de praia de um influente médico cirurgião de São Paulo e naquele momento o senhor João estava limpando a casa do doutor e se nós aceitarmos poderia nos levar até a mansão do proprietário para dar um “alô” para o senhor João.
     Saímos muito feliz e passados alguns minutos estávamos diante de um castelo com câmaras por todo o muro e lá estava o senhor João a abrir a pesada porta e convidando a gente para entrar e apreciar o luxo que era a casa onde ele trabalhava como caseiro.
     Entramos cautelosamente e deparamos com uma linda piscina com água bem azul, limpinha, limpinha, algumas mesas colocadas ao redor e algumas lâmpadas iluminando todo o ambiente e imediatamente o humilde senhor João falou se quiséssemos poderíamos tomar um banho na piscina, pois os patrão não viria naquele final de semana e a piscina era toda nossa. Olhei para a patroa e questionei a nossa entrada e ela sorriu marotamente e disse:
- Se o senhor João está nos convidando não há objeção, entremos agora.
Corremos até nossa casa e trouxemos nossas roupas de banho, dois salames, algumas cervejas, um refrigerante e lançamos nossos corpos intrusos naquela linda piscina e após alguns minutos em que nossa felicidade parecia não caber em todo o litoral apareceu o senhor João com ar de muita culpa e pediu gentilmente para sairmos apressados da piscina que o seu patrão tinha chegado sem avisar e havia a necessidade de sairmos rapidamente pela porta dos fundos e lá estávamos nós saindo pelas portas dos fundos com as roupas nas mãos, o salame e algumas latas de cervejas e sorrindo muito pelo hilário momento que jamais esqueceremos.

29 de set. de 2013

O PESCADOR



         
      

             Eu já estava vendendo sorvetes fazia um bom tempo nas belas praias de Ubatuba e todos os dias meus olhos deslumbravam a linda natureza entre Ubatuba e a praia de Itamambuca.
         Saia bem cedinho da sorveteria e pegava um ônibus que ia para Picinguaba, descia na estrada e caminhava uns três quilômetros e lá estava eu diante da oitava maravilha do mundo chamada: Praia de Itamambuca, no litoral Norte de São Paulo.
         Naquele domingo ensolarado resolvi levar mais picolés e assim que cheguei na praia avistei um rapaz que estava pescando e constantemente lançava sua linha de pesca ao mar, ficava eternos minutos esperando o peixe e nada, nada de peixe, o rapaz enrolava humildemente a linha de pesca e novamente lançava a mesma ao mar embaixo de um escaldante sol de 40 graus.
         Como eu não ficava parado com o meu carrinho de sorvetes ficava prestando atenção a persistência do rapaz em querer pescar um peixe, qualquer peixe e sempre que passava pelo mesmo dizia:
- Vai ficar com a família amigo, abandone esta pescaria!
O rapaz sorria e dizia:
- Pois é sorveteiro, irei pescar um enorme peixe e você irá me ajudar a transportar o mesmo, pois será enorme.
         O tempo foi passando e eu já tinha vendido quase todos os meus picolés e o rapaz lá firme lançando constantemente sua linha ao  mar e nada de peixe e inesperadamente a linha de pesca ficou esticada e o rapaz soltou um grito de Felicidade:
Consegui um peixe!
        Corremos para perto do rapaz para presenciar a luta em enrolar e soltar a linha e a linha de pesca cada vez mais esticada e eu pensando: “Só falta arrebentar” um outro senhor prontificou a ajudar o pescador iniciante a retirar o peixe do mar e mansamente o mesmo foi ficando mais perto de todos e quando tiraram o peixe do mar todo nós ficamos estupefatos com o enorme peixe que o rapaz pescara: Um enorme peixe de uns trinta quilos.
         Como era lindo admirar o ar de felicidade do pescador e assim que o mesmo foi retirado do anzol fui chamado para ajudar a transportar o mesmo em cima do meu carrinho de sorvetes até um quiosque e todos diziam:
- Pescador que é pescador devolve o peixe para o mar!
E o pescador dizia: De jeito nenhum, este vou levar pra minha casa e terei mistura durante uma semana!
         Colocou o peixe dentro de uma enorme caixa de isopor e colocou dentro de uma Brasília amarela com placa de Santo André, acelerou e deu tchauzinho a todos.
         Ficamos na praia perplexos e os comentários que eu escutava sobre a persistência do pescador eram dos mais variados:
Parabéns pescador! Paciência é tudo!