19 de out. de 2013

MAPPIN

     


     E assim que desembarcou na antiga rodoviária da estação da Luz, dentro do ônibus observou uma grande movimentação de pessoas que passavam rapidamente com enormes malas pra lá e pra cá.
        O motorista abriu o grande compartimento que ficava na parte debaixo do ônibus, colocou as enormes malas do Senhor João no chão, conferiu o bilhete e fechou rispidamente o enorme “maleiro” e disse:
- Felicidades e muito sucesso nesta grande metrópole!
O senhor João, sua esposa Maria e os seis filhos pequenos pegaram as enormes malas e saíram silenciosamente pelas ruas da redondeza da rodoviária sem destino, entraram num pequeno boteco e pediram alguns pastéis e duas tubaínas e lá ficaram a degustar os pastéis e olhando toda aquela movimentação da rua com muito receio da grande metrópole chamada São Paulo.
        Após saciarem a enorme fome de todos, saíram silenciosamente olhando para o chão enquanto as crianças admiravam com muita alegria e ansiedade tudo e todos.
        Embarcaram em um ônibus lotadíssimo com destino a zona Leste de São Paulo onde poderiam rever um compadre que tinha vindo para a cidade há muitos anos e prontificou-se a recebe-los até que arranjassem um pequeno cômodo por lá mesmo, um emprego e a vida pudesse ganhar o seu rumo na grande cidade.
        Durante o café da manhã o compadre disse ao senhor João:
- Olha compadre, vocês podem ficar aqui na nossa humilde casa morando conosco até “aprumarem” e depois que conseguirem um pequeno cômodo por aqui mesmo. Tenho um pequeno serviço para o senhor!
O senhor João olhou para o compadre e foi logo perguntando:
- Mas que tipo de serviço eu poderia fazer se só sei capinar roçado, cuidar de gado e cortar lenha?
O compadre foi logo explicando que conhecia um senhor que trabalhava numa agência de publicidade e sempre estava precisando de pessoas para carregar algumas placas com propagandas pelo centro de São Paulo.
O senhor João um pouco receoso perguntou:
- Mas, Compadre, será que eu sirvo pra este tipo de serviço? Afinal nem ler e escrever eu sei!
- Ora compadre, é só carregar a placa pra lá e pra cá e ficar orientando o pessoal para ir até a loja, muito fácil o serviço e nem é necessário ser “letrado”.
        No outro dia lá estavam os compadres descendo do ônibus no centro da capital paulista e entrando numa agencia de publicidade e o senhor João foi apresentado para um obeso senhor que fez algumas perguntas para o senhor João e alguns minutos depois lá estava o Senhor João em frente a uma grande loja de departamentos chamada Mappin.
        Após algumas orientações do senhor obeso o senhor João foi “abandonado” em frente ao Mappin com uma enorme placa que cobria todo o seu esquelético corpo e seguiu entrando pela rua Sete de Abril com destino a Praça da República.
        O senhor João muito apreensivo andava pela praça toda e sempre o seu olhar parava naquela enorme loja de departamentos chamada Mappin e então ele ficava imaginando o que poderia ser encontrado naquela linda e majestosa loja com um enorme relógio, muitas letras que ele não conseguia identificar por não saber ler.
        Pessoas passavam apressadas e a maioria nem parava para observar a insignificante presença do senhor João e no finalzinho da tarde quando uma enorme chuva fez todos encostarem embaixo de enormes toldos o senhor João coçou a enorme barba e ficou com muita vontade de entrar naquela linda loja.
        O senhor obeso apareceu e depositou uma quantia em dinheiro na mãos do senhor João desejou uma boa noite e pediu que na manhã seguinte apresentasse no mesmo lugar em que estivera naquela manhã e saiu apressado pelo viaduto do Chá.
        O senhor João parou em frente a grande loja e decidiu entrar e vagarosamente atravessou o andar térreo repleta de pessoas olhando tudo e ficou a imaginar na grandiosidade daquela cidade e foi andando entre alguns esbarrões parou diante de uma enorme vitrine que vendia brinquedos e humildemente perguntou quanto custava aquela pequena bonequinha com um lacinho na cabeça, a vendedora muito atenciosa disse o preço, o senhor João enfiou a mão no bolso da carcomida calça e retirou a quantia exata para adquirir aquela linda bonequinha para levar para sua filhinha caçula.
        Chegou em casa após duas horas dentro do sufocante ônibus, entrou sorrateiramente e depositou a bonequinha ao lado da filhinha que já estava dormindo, tomou um banho e foi dormir ao lado da esposa e ainda teve tempo de dizer sobre o presentinho que tinha comprado na grande loja chamada Mappin.

        Adormeceu muito feliz com a imagem da grande loja de departamentos na cabeça e o rostinho de felicidade da filhinha no dia posterior quando iria ganhar a linda bonequinha comprada no Mappin.

Um comentário:

suely disse...

Foi um lugar que marcou muiiiitas pessoas, afinal marcavamos ate encontros em frente.Tinha ate um policial que fazia e acvontecia se desobedeciamos o transito. muiiito legal! bjs.