A chuva caia
torrencialmente naquele domingo à noite, e nós namorados insistíamos em dar
alguns beijos embaixo de vários trovões e relâmpagos. A minha namorada estava
confortavelmente encostada na porta de uma garagem e minha calça estava sendo totalmente
molhada por alguns pingos de chuva atrevidos que o pequeno alpendre não
conseguia segurar.
Os beijos eram avassaladores e os “eu
te amo” entre sussurros eram abafados
pelo barulho dos trovões e eis que num determinado instante afastei a pequena e
olhei bem nos fundos dos seus lindos olhos verdes e disse:
- Minha
querida, hoje é o último dia que estamos nos vendo, a partir de amanhã vou
embora desta cidade e só voltarei após formar-me, pois vou morar no interior e
cursar uma Faculdade para formar-me engenheiro.
As primeiras lágrimas começaram a
brotar dos seus olhos, dei mais um carinhoso beijo na minha namorada e saí
embaixo da chuva sem olhar para trás e lá ficou a pequena em choro.
No outro dia lá estava eu com minhas
malas na Estação da Luz, na antiga rodoviária de São Paulo em busca do meu
sonho, formar-me, estudar, estudar e estudar...
O tempo foi passando e eu fui morar na
casa de uma tia no interior e matriculei-me num curso preparatório para o
vestibular e trabalhava durante o dia e fazia o cursinho à noite e os estudos
eram constantes, eu estava vivendo um mundo totalmente diferente de tudo aquilo
que passou pela minha vida, pois respirava aulas, redações, apostilas e tudo
aquilo que relacionasse com vestibulares.
Aos domingos à noite eu e meu primo
íamos à pequena praça da matriz para apreciar as belas meninas que ficavam
circulando na praça e lá ficávamos até umas dez horas da noite entre paqueras e
várias piscadas de olhos para as lindas meninas.
Eu e meu primo adorávamos “sacanear” um
com o outro e virava e mexia lá estávamos nós aprontando uma “brincadeira”
sadia e foi quando num belo domingo ensolarado apareceu a minha ex- namoradinha
que eu tinha deixado em prantos e tocou a campainha da casa da minha tia e
falou que queria falar comigo e imediatamente pedi a ela que entrasse ela muito
zangada entregou-me uma carta e quando abri a carta para lê-la e mesma estava repleta
de erros de português e corrigida e com uma nota (dois e meio) e cheia de
observações e riscos com caneta da cor vermelha e ela perguntou-me:
- Que falta
de sensibilidade a sua, eu mando uma carta de amor pra você e você tem a
indelicadeza de corrigir e devolver pra mim, eu sei que sou meio burrinha, mas
o meu amor por você é muito inteligente! Quero explicações!
Li a carta e fiquei estupefato em saber
que não tinha sido eu que corrigi a mesma e imediatamente chamei meu primo e
ele saiu sorrindo e assumiu a culpa e disse que tinha sido ele que recebeu a
carta e levou pra professora de Português corrigir e depois remeteu de volta a
carta para minha ex-namoradinha.
Alguns sorrisos, alguns beijinhos, a
carta foi colocada na bolsa da minha ex-namoradinha e lá fomos nós beber um
refrigerante com cachorro quente na padaria próxima de casa e entre um gole de
refrigerante e outro eu ganhava um beijinho da minha ex-namoradinha e ela
sempre fazia questão de mostrar-me a carta e sorria alegremente. Bela
recordação, a carta corrigida e eu quase apanhei da minha ex-namoradinha. Hoje
ela é professora aposentada de Língua Portuguesa e mora confortavelmente num
belo apartamento no centro de Sampa.Valeu...A Carta...Uma linda carta de Amor!