29 de fev. de 2012

FÉRIAS

         Após trabalhar trezentos e sessenta e cinco dias em uma pequena empresa com o chefe mais chato do mundo, ter que bater o “bendito” ponto, cartão, crachá e ultimamente passarmos apenas o dedo e nossa impressão digital delatar toda a nossa assiduidade, os ônibus lotados, metrô sob um calor infernal, trens parando constantemente, finalmente estamos de férias!
          Acordamos no primeiro dia de férias meio assustados sem saber o que fazer com os trinta dias conseguidos com muito mérito e ficamos vagando entre a sala e a cozinha. Abre a geladeira, assiste televisão, começa a ler um livro e não passamos da terceira página, a inquietação atormenta nosso espírito e então vamos ao quintal alimentar os pássaros e não sabemos onde está o alpiste e acordamos a “patroa” e então ela acorda meio brava dizendo que está na segunda gaveta do armário e volta a dormir, tentamos inutilmente regar aquela flor que tanto amamos e está tão linda, mas não sabemos onde está o regador e novamente a esposa é solicitada para dizer onde está o tal regador. Barulho de água na chaleira e inventamos depois de tanto tempo  fazer um café e levar pra esposa na cama, mas não sabemos onde está o pó de café e novamente acordamos a linda dona do lar. Até que num determinado instante ela fica muito zangada, acorda dirige-se até a cozinha e mostra onde está tudo aquilo que queremos e então dizemos:
- Desculpe-me querida, estou de férias! E ela com a cara de leão de circo diz:
- Pois seria muito melhor se você estivesse trabalhando, pois só assim não seria acordada a esta hora!
- Mas querida já são nove horas!
- E aí, não sabe que meu horário de acordar é dez horas!
E então saia vagando pelo quintal tentando encontrar o verdadeiro significado de “Férias” e quando pensava que tudo estava perdido e eu estava predestinado a passar as minhas férias sendo humilhado, subitamente dizia:
- Arrume as malas, vamos viajar para o Litoral Norte e não se esqueça de levar aquele biquíni branco ao qual você fica muito gostosa!
         A minha amada sorria e derretia-se toda e corria fazer as malas para partirmos para nossas merecidas férias. Nossa? Claro que não, apenas a minha, pois a patroa não fazia nada o ano inteiro e ainda usufruía daquele maravilhoso período.
        Todas as nossas malas eram colocadas no carro e era então que eu observava que estava faltando o principal e logo gritava:
- Mas onde está a Barraca de Camping, querida! E ela falava nervosamente:
- Mas nós vamos acampar Luiz? E minha resposta era:
- Sim, vamos acampar, há alguma objeção?
Humildemente ela ia até o grande porão e retirava a enorme Barraca de Camping e colocava no carro com minha ajuda, é claro.
Entre eu arrumar todas as “tralhas” no carro, beber algumas poucas cervejas restantes na geladeira demorava poucos minutos e todos estávamos preparados para pegar a estrada.
        Novamente nossos conflitos entravam em erupção, pois ela adorava ouvir pagode e eu admirava Música Popular Brasileira e depois de vários minutos entrávamos num consenso e saíamos ouvindo o maravilhoso Chico Buarque de Holanda que logo na descida da serra era substituído por grandes grupos de pagode. Aceitava humildemente e colocava meu protetor auricular e assim os pagodeiros desciam cantando e eu dormindo sob o efeito de algumas cervejas ingeridas antes da partida e pouco ouvia as vozes estridentes dos “maravilhosos” cantores da minha amada.
         Quantas vezes fui acordado durante a viagem e algumas perguntas ecoavam sobre o tal grupo:
- São maravilhosos, não é Luiz? Referindo ao som que estava “rolando” no CD e eu dizia rapidamente entre uma babada e outra:
- Realmente são excelentes! Se você encontrar músicos melhores avise-me! E virava-me para outro lado e continuava a dormir.
         E quando meus sonhos pareciam tornar-se realidade eu era acordado com o carro na areia e sendo chacoalhado para montarmos a barrava de Camping. E então abria os olhos e via a chuva correndo pelos vidros do carro e pedia para parar numa pousada mais próxima e minha patroa chacoalhava e dizia com toda as forças do seu coração:,
- Acorda FDP, chegamos e é necessário montarmos a Barraca! Está chovendo!
Abria a porta vagarosamente e meu corpo quente insistia para que eu ficasse mais alguns minutos dentro do carro, mas não havia acordo, todos me puxavam para fora do veículo e eu saia cambaleando para montar a Barraca.
           Nunca, jamais tinha montado uma barraca de Camping em toda a minha vida e existia a grande necessidade de montarmos rapidamente, pois a chuva insistia em não querer dar uma trégua.
Rapidamente saia à procura de algumas pessoas que pudessem ajudar-me naquela grande empreitada e sempre conseguia depois de percorrer várias barracas algum garoto que sempre dizia que adorava montar Barracas de Camping e assim o garoto montava quase que tudo sozinho a nossa Barraca.
           Agradecíamos ao garoto e começávamos a colocar nossos colchonetes para dentro da barraca e logo após os mantimentos, fogão e tudo aquilo que existia dentro do carro.
            Quando tudo parecia tranqüilo,e todo o pessoal estava dormindo tinha uma grande vontade de beber algumas cervejas bem geladas e saia à procura da tal cerveja e a encontrava num distante quiosque com pessoas cantando e outras dançando e encostava meu umbigo no balcão e pedia uma cerveja.
Com uma voz barítono aparecia uma linda garota e perguntava-me educadamente o que eu queria e dizia a ela que queria uma cerveja muito gelada para beber no balcão e prontamente era atendido.
Após várias cervejas bebidas começava a ensaiar os meus primeiros passos de dança imbuídos sobre o efeito do álcool e assim continuava até que inesperadamente aparecia minha esposa com um enorme facão dizendo que iria cortar meu “bilau”. Rapidamente despedia-me de todos e seguia em passos trôpegos acompanhando minha amada. Que vergonha! Mas não conseguia esquecer minha última parceira de dança, uma moreninha maravilhosa que dançava alegremente por todo o quiosque.
          Chegávamos à Barraca e meu colchonete era apresentado, jogava-me pesadamente sobre o mesmo e adormecia com os passos da linda garota dançando na minha mente. Escutava um raivoso Boa noite e durma com Deus da minha patroa e adormecia sonhando com as minhas férias.
           No outro dia o Sol fazia-se presente, levantava-me sorrateiramente e sentava-me na areia, em frente a barraca de camping e ficava vários minutos refletindo sobre o acontecido  no dia anterior e prometia a mim mesmo que a partir daquele dia não faria mais patifarias.  Ficamos um mês acampados na Praia da Mocóca em Caraguatatuba e aprendi que nossos impulsos e emoções nos levam a cometer alguns absurdos como o ocorrido. Foi uma das melhores férias da minha vida! Quantas patifarias! Bela recordação!

28 de fev. de 2012

TAXI

          Somente a maior cidade da América Latina, São Paulo poderia proporcionar-me a satisfação de locomover-me diariamente durante um período de dois anos pelas “esburacadas” e lindas ruas da Metrópole.
           Logo no primeiro dia do meu mais novo emprego fui informado que iria fazer inspeções externas de equipamentos de informática e estaria a minha disposição uma Cooperativa de Taxi que me levaria para todos os lugares onde se fizesse necessário. Fui logo indagando ao Gerente da Empresa:
- Mas isto realmente é verdade ou é apenas uma brincadeira?
- É meu querido, nossa empresa fornece taxi para todos os funcionários que façam serviços externos indiferente da posição hierárquica.
- Como devo proceder para chamar um taxi?
- Fácil, você ficará em poder de um boleto e assim que você chegar ao seu destino o motorista dirá a você qual é o valor da corrida, você preencherá o boleto com a quantia e tudo estará certo e posteriormente a empresa acertará com a cooperativa.
           Pensei: Nossa que maravilha! Vou poder andar de taxi na minha querida Sampa! Em pensar que algum dia atrás andava a pé, de ônibus lotadíssimos, metrôs entupidíssimos de almas e trens apertadíssimos. Mais um grandioso presente inesperado!
           E assim comecei minha nova jornada nesta empresa andando de taxi para todos os lugares onde existia inspeção para ser feita.
           Os lugares eram os mais variados: Região do Aeroporto de Congonhas, Alphaville , Sorocaba, Campinas e vários lugares que eventualmente apareciam.
            Então ia para a firma onde a inspeção seria feita e após terminar meu trabalho, ligava e lá estava o taxi a minha disposição para levar até minha residência ou qualquer outro lugar que eu indicasse.
             Existia até uma música na época que não me recordo da cantora que dizia: Vou de taxi! (Acho que era a Eliana). E assim que chamávamos um taxi imediatamente um colega de serviço começava a cantar a tal música zombando do grande privilégio existente para nós inspetores externos.
             Recordo-me quando estava inspecionando duzentos teclados numa indústria e fazia-se necessário algumas horas extras, então liguei para o meu Gerente dizendo que terminaria o serviço somente de madrugada e haveria a necessidade de eu ir para minha cidade naquele dia e ele não hesitou e pediu gentilmente que assim que terminasse o serviço chamasse um taxi e pedisse para o mesmo conduzir-me até o meu destino. Terminei o serviço às 2 horas da manhã, chamei um taxi de luxo que me conduziu até a cidade de Jacareí-Sp, distante uns 100 quilômetros da onde eu estava. Achei sensacional e pensava: caramba, se toda a empresa fosse assim, seria uma maravilha!
        Acabei fazendo várias amizades com motoristas de taxis e existia um motorista que ficamos tanto “amigos” que constantemente ele emprestava sua casa em Caraguatatuba para eu passar minhas férias, ou finais de semana.
        Um acontecimento inusitado aconteceu numa véspera de Natal quando entramos de taxi no mar de carros do estacionamento de um grande shopping e não anotei o local onde deixei o motorista esperando-me e fui comprar um disco e quando retornei não conseguia encontrar novamente o taxi, então tive que esperar quase todos os carros irem embora para localizar o taxi, e o taxímetro rodando, rodando e quando apresentei o Boleto para o meu Gerente ele ainda brincou dizendo por onde eu andara por apresentar um valor muito acima da média? Talvez eu tivesse ido Rio de Janeiro ou Curitiba!
Contei o ocorrido a ele e rimos muito da minha inocência.
            Mas de tanto andar de taxi, acabei não querendo andar mais em outro meio de transporte e aí nos finais de semana quando havia necessidade de locomover-me pegava um taxi particular e então meu bolso reclamava, mas mesmo assim foram necessários vários meses após eu desligar-me da empresa onde eu trabalhava para voltar a andar de ônibus, metrô ou trem e dizia com uma pontinha de saudade: Poxa vida, eu era rico, riquíssimo e não sabia. Que tristeza pegar estas conduções apertadíssimas, mas consegui sobreviver e hoje só pego taxi quando há dinheiro disponível, ou seja, sobrando, então concluindo: Não ando mais de taxi! Que saudades! Qualquer dia destes vou andar de taxi para “matar” a saudade daqueles lindos dias que existia sempre um taxi a minha disposição. Tempos bons não voltam mais! Saudade!

27 de fev. de 2012

FEIRA DAS FLORES DO CEAGESP

          Só quem já esteve no CEAGESP pode ajudar-me a definir a imensidão que é aquele local, pois na minha modesta opinião acho que o CEAGESP é a “Cara” de São Paulo, primeiro pelo tamanho, realmente é enorme, segundo pela quantidade de pessoas que circulam por lá comercializando seus produtos e por último pela beleza que é a Feira das Flores que acontecia e deve acontecer até hoje: as Terças e sextas-feiras.
         Como tinha a liberdade de ir para qualquer lugar comercializar meus cartões de visita, achei que a Feira das Flores seria um ótimo lugar para vender os cartões, pois a mesma acontecia das 3 da madrugada até as 10 horas da manhã e a concorrência de vendedores de cartões seria bem menor.
         Após comunicar ao dono da gráfica onde eu ia vender meus cartões ele ficou um pouco céptico, esboçou um sorriso de dúvida quanto à aceitabilidade e consentiu a autorização e lá fui eu pra casa dormir mais cedo, pois outro dia teria que acordar às 4 horas da manhã para colocar o pé na estrada, pegar um ônibus e em seguida um trem que me conduziria até o Paraíso das Flores chamado: A Feira das Flores do CEAGESP.
          Logo quando cheguei à estação CEAGESP, lá do alto vi milhares de caminhões estacionados no imenso pátio entre inúmeras pessoas circulando entre vários boxes. Admito que fiquei um pouco assustado com o dinamismo e o agradabilíssimo cheiro das Flores que exalavam das milhares de flores existentes no local.
          Desci as escadas e entrei por um portão lateral e fui oferecendo e vendendo meus cartões de visita para todos os comerciantes de flores.  Após negociar meus cartões de visita tinha um hábito maravilhoso que era de ir até uma lanchonete na entrada principal, pedir uma cerveja e ficar contabilizando os meus pedidos e depois ir embora para passar o serviço para a gráfica.
           No primeiro dia fiquei muito surpreso, pois estava concentrado passando meus pedidos de cartão a limpo e em questão de alguns minutos ouvi vários caminhões entrando e saindo e a feira das flores sendo desmontada e dando lugar para as batatas, milhos, pimentas, hortaliças. Mas a rapidez é impressionante e achava que o CEAGESP tinha realmente a “Cara” de São Paulo, pela agilidade, a quantidade e variedade de produtos, milhares de pessoas circulando entre caminhões, boxes. Tudo aquilo deixava eu apaixonado pelo local e tinha planos de ficar muito tempo por lá. E após conseguir uma boa cartela de clientes para o dono da gráfica comecei a passar nos restantes dos outros boxes para oferecer meus cartões.
             Conheci pessoas maravilhosas no CEAGESP e entre as pessoas tive o imenso prazer em conhecer um Japonês chamado Akira que cultivava e vendia todos os tipos de pimentas que um ser humano pode imaginar e acabei ficando freguês e todas as sextas-feiras comprava vários vidros de deliciosas pimentas para comer com meu prato predileto durante a semana.
             Há um enorme relógio no portão principal que é uma referência para todos que por lá circulam e sempre quando estava perdido no meio de tantos boxes, orientava-me por aquele relógio.
              Acredito que devo ter passado uns quatro meses dentro do CEAGESP e fiz uma excelente Carteira de clientes para a gráfica e em seguida fui vender os meus cartões de visita em outro lugar.
            Deixei de vender os cartões e fui trabalhar com minha irmã que estava montando uma Revista e tive a Felicidade de voltar novamente ao CEAGESP, a Feira das Flores com meu irmão Robson.
              O encanto foi o mesmo, o entusiasmo e o amor pelos locais já conhecidos eram passados para meu querido irmão que também ficou muito emocionado com a Feira das Flores.
             Os espaços publicitários eram oferecidos e a aceitabilidade não estava sendo muito boa porque estávamos vendendo apenas “O Boneco” da revista, estávamos tentando conseguir os primeiros clientes para patrocinar a revista. “Não” seguidos de “não” ouvíamos constantemente e até que num determinado dia meu irmão ficou um pouco aborrecido pela recusa dos espaços publicitários e resolveu  comprar uma planta para enfeitar sua casa e lá ficamos procurando a tal da planta por vários minutos até que ele conseguiu comprar uma linda planta que apelidamos carinhosamente de “TOCO”, colocamos dentro do carro e fomos comemorar a compra do Toco. Ridículo ir até o CEAGESP vender espaço publicitário e acabar comprando um toco! Mas tudo era festa e acabamos comemorando a compra do tal Toco numa lanchonete conhecida, com várias cervejas e porções degustadas sobre vários sorrisos de Felicidade em ter comprado o Tal do Toco e ter conhecido o lugar mais encantador do mundo: A Feira das Flores do CEAGESP. Bela recordação!

MEU PRIMEIRO CELULAR

          Há a necessidade de estarmos “antenados” com as novas Tecnologias e quando eu pensei que já tinham inventado quase tudo nesta vida surge este maravilhoso aparelhinho chamado celular.
               Quando os primeiros equipamentos apareceram por aqui em 1.997 eu tinha um velho “BIP” que utilizava para manter contatos com meus clientes de Plano de Saúde. Mas meu verdadeiro plano era sair dos “Planos de Saúde” e migrar para outra atividade qualquer e foi nesta época que surgiu a oportunidade de vender Cartões de Visita.
                Os clientes “bipavam”,eu  anotava o número e corria até um orelhão para retornar o chamado e acertar uma visita. Era muito triste estar bebendo uma cerveja bem gelada numa galeria qualquer do centro de Sampa, receber um chamado via “BIP” e ter que sair correndo para não perder o cliente e deixar o copo quase cheio sobre o balcão da lanchonete. Aquilo me deixava muito triste e eu fazia planos para adquirir um aparelho celular o mais breve possível.
                 Comecei a vender cartões de visitas para o Luis, dono de uma gráfica digital que tinha um escritório na Rua Sete de Abril, no centro de São Paulo, bem em frente a TELESP, o que aguçava ainda mais  minha vontade de ter o tal do celular. Mas nunca sobrava dinheiro suficiente para comprar o tal do aparelho, visto que o equipamento custava muito caro. E lá eu ia seguindo com meu velho aparelhinho BIP e sempre sonhando em fazer uma boa venda de cartões para adquirir um celular, até que num determinado dia a sorte resolveu acompanhar-me e sai de casa de madrugada para oferecer meus cartões de visitas para os camelôs da Rua Vinte e Cinco de Março, na antiga e surpreendente Feirinha da Madrugada.
            Lá pelas dez horas da manhã de um determinado dia já tinha vendido vários cartões e ia embora quando fui abordado por um camelô pedindo se eu poderia fazer apenas cem cartões de visita para ele, disse educadamente que só vendia múltiplos de mil, ou seja: mil, dois mil e assim por diante e ele disse que os produtos que ele comercializava eram poucos e não havia clientes suficientes para poder fazer um pedido de mil cartões. Foi então que fiz uma brincadeira com ele e disse:
- Olha amigo, só faço cem cartões pra você se você apresentar-me um próspero comerciante que faça dez mil cartões comigo.
Ele riu humildemente, colocou a mão no queixo e ficou pensativo até que inesperadamente disse:
- Pois é senhor vendedor de cartões, tenho um primo que é muito rico e vou dar o endereço dele para o senhor fazer uma visita, quem sabe ele faça alguns cartões com o senhor! Mas preciso de cem cartões!
Passei a mão no meu bloquinho de pedidos e imediatamente anotei o pedido de cem cartões para o humilde camelô. Sabia que não poderia apresentar apenas um pedido de cem cartões e tinha resolvido que iria fazer mil cartões e arcaria com o resto do custo. Coloquei o endereço do primo rico no bolso e segui meu caminho e quando estava dentro da estação São Bento do Metrô, resolvi voltar e ir até o tal do primo rico ver se conseguia mais um significante pedido de cartões de visita.
            Quando cheguei em frente ao endereço, fiquei muito surpreso, pois eu estava em frente a um shopping, peguei o elevador e apresentei-me a secretária e ela pediu que eu aguardasse alguns minutos que ela iria anunciar-me ao próspero comerciante.
             Entrei e apresentei-me ao “Primo rico” do comerciante da rua vinte e cinco de Março e ele cordialmente perguntou-me:
- Quem enviou você até aqui? E eu contei toda a história dos cartões e que ele tinha um primo que vendia alguns carrinhos de plásticos e foi exatamente aquele primo que pediu para eu ir falar com ele.
O comerciante sorriu e levantou-se da cadeira e disse:
- Onde está este querido primo que não o vejo faz anos! Dei o endereço a ele e o comerciante encomendou quarenta mil cartões para uma nova loja que ele estava inaugurando sobre artigos exotéricos.
          Como o Luis, dono da gráfica não fazia aquele tipo de cartões encomendados, procurei um amigo que tinha uma gráfica com várias máquinas no Tatuapé e ele fez os cartões.
          O dono da gráfica do Tatuapé entregou os cartões ao rico comerciante e pediu para eu passar na gráfica para receber minha comissão e ele foi logo dizendo:
- Muito obrigado pelo pedido, quanto lhe devo?
Eu zombando, brinquei dizendo que precisava de dinheiro suficiente para comprar um bom celular, pois estava cansado de tanto usar meu simples “BIP”, ele sorriu e deu uma quantia que dava pra comprar dois celulares. E lá fui eu para a região da Rua Santa Efigênia comprar meu primeiro celular. Era enorme, parecia um tijolo, pesado, mas... funcionava!
            Sai da loja todo encantado com meu celular e liguei pra todos os meus contatos e acabei com todo meu crédito. A partir deste dia andava com meu pesado celular preso a minha cinta e sempre que precisava telefonar usava-o e ficava agradecendo aquele humilde camelô que tinha proporcionado tal conforto.
            Depois muitos outros celulares eu tive, mas este conseguido com uma brincadeira serviu-me de lição: Nunca duvide de uma pessoa por sua insignificante posição social, pois ela pode surpreender você a qualquer momento, assim como aconteceu comigo e a partir deste dia passei a não duvidar de mais ninguém nesta vida. E viva o Celular! 

26 de fev. de 2012

RÁDIO

          Existem pessoas que ouvem rádio apenas por ouvir, lá está o rádio ligado a pessoa ouve e a palavra do locutor entra por um ouvido e sai pelo outro.
Mas há pessoas que realmente amam as transmissões radiofônicas, como é o meu caso, pois adoro ouvir rádio e é um hábito que meu pai deixou-me como herança e até hoje sou muito grato pelo presente maravilhoso que papai deixou: Ouvir rádio.
           Ouço rádio desde criancinha, pois na nossa casa existia um rádio a pilha que papai adorava ouvir os programas esportivos, especialmente Futebol devido à grande paixão que papai nutria pelo São Paulo Futebol Clube e lembro-me de mamãe lavando louças à noite eu sentadinho numa cadeira e o radinho tocando lindas músicas de outrora.
           Acreditem, quando eu tinha seis anos de idade  até a Voz do Brasil adorava ouvir junto com uma senhora chamada Arminda, que eu carinhosamente chamava-a de Vó Arminda e então ficávamos sentados numa escada na entrada da cozinha ouvindo A Voz do Brasil enquanto mamãe preparava o jantar.
            Mas pra quase tudo existe uma explicação e o amor pelo rádio foi em função da não existência da Televisão e como era bom aqueles tempos sem televisão!
            O tempo foi passando e o rádio tornou-se um amigo, um verdadeiro companheiro, pois carregava o mesmo para todos os lugares por onde eu andava quando era possível.
            Uma transmissão radiofônica que recordo até hoje foi quando estávamos em 1.966 hospedados na casa de uma avó em Salesópolis, interior de São Paulo e ouvimos todos os jogos da nossa querida Seleção Brasileira de Futebol pelo rádio. Eu ficava sentado no chão admirando os gestos nervosos de papai a cada lance transmitido pelo competente locutor e então imaginava o estádio lotado e a gente assistindo aquelas partidas. Creio que isto me ajudou muito no meu desenvolvimento, pois sempre fazia maravilhosos teatros mentais e viajava com todas as transmissões radiofônicas.
               Quando me tornei adolescente e as grandes paixões começaram a estraçalhar meu insano coração, adorava colocar o radinho de pilha embaixo do travesseiro sintonizado numa emissora que tocava lindas músicas e lá minha mente buscava aquela linda garota e trazia pra bem pertinho do meu coração.
               Mas o grande presente veio de um tio, tio Evaristo que quando completei dezoito anos ele deu-me de presente: um lindo rádio a pilha, marca Philco, cor verde.
               Nesta época eu estudava muito e o meu rádio sempre estava sintonizado numa emissora que transmitia músicas clássicas, pois havia necessidade de concentração e esta emissora proporcionava tal concentração.
               O amor que eu tinha por este equipamento era indescritível, pois quando me formei e comecei a trabalhar em fábricas, quase todas as fábricas onde trabalhei fazia questão de levar meu querido radinho verde e deixar sintonizado numa estação preferida por mim. Foram várias fábricas que levei este rádio até que numa determinada fábrica acabei deixando ele lá e furtaram o mesmo.
               Mas não desanimei e logo em seguida comprei outro equipamento e continuei a ouvir a magia das grandes transmissões de Hélio Ribeiro, o maior comunicador de todos os tempos que tinha um programa maravilhoso na década de 1.970 na Rádio Bandeirantes AM.
                Foram milhares de músicas ouvidas em vários programas, várias partidas de futebol que minha mente até hoje recorda e pessoas importantíssimas ajudaram-me a proporcionar momentos tão maravilhosos. Marconi e meu querido papai José da Silva que por onde passou deixou sublimes recordações que até hoje trago dentro do meu coração: Ouvir rádio com a alma!

25 de fev. de 2012

PIZZA CHEIROSA

         Sempre adorei preparar massas de pizzas e através de um livrinho do SESI consegui uma receita maravilhosa e estava disposto a colocar em pratica meus ridículos dotes culinários.
          Existia um dia para preparar as massas de pizzas e este dia era aos sábados à tarde, pois dispunha de mais tempo e enquanto preparava as massas ia lá tomando minhas geladas cervejinhas.
          Olho na receita e começava a preparar as primeiras massas que ficaram horríveis, mas o pessoal de casa comia para não desanimar a minha pessoa.
           Passados vários sábados e desesperadas tentativas em acertar o verdadeiro ponto da massa, consegui com muito esforço e vários goles de cervejas acertar a tal da massa.
           Num determinado sábado, tinha ido fazer hora extra numa fábrica onde eu trabalhava e já tinha deixado todos os ingredientes preparados para quando eu chegar do serviço era só fazer a massa, rechear as pizzas e colocá-las para assar e servir para toda a minha família.
           Cheguei do serviço lá pelas quatro horas da tarde e resolvi fazer as massas das pizzas antes de tomar o meu banho e assim comecei os preparativos, sempre acompanhado pelo meu filho Márcio que prestava atenção em tudo o que eu fazia e às vezes fazia algumas perguntas sobre os ingredientes e pedia pedacinhos de queijo, mussarela, ele ia comendo vagarosamente sentado ao meu lado e eu calmamente jogando farinha de trigo pra cá, jogando farinha de trigo pra lá e enrolando, “socando” a tal da massa até que finalmente a massa ficou pronta. Imediatamente coloquei a massa sobre a pia de mármore e comecei a esticar a massa e colocá-las em formas para em seguida rechear as mesmas.
              As pizzas foram colocadas nas formas e coloquei todos os recheios e deixei-as no forno apagado enquanto fui tomar um banho para posteriormente poder levá-las ao forno e assá-las.
              Terminei de tomar banho, vesti uma bermuda e voltei para cozinha para colocar as pizzas para assar. Passados alguns minutos as mesmas já estavam totalmente prontas.
              Convidei toda a família para comermos as pizzas e minha esposa foi chamar sua mãe para poder comer alguns pedaços de pizzas conosco.
              O cheiro não estava muito agradável, mas pensei que devia ser pelo excesso de queijo e assim que comecei a cortar as mesmas, senti que a faca estava enroscando em alguma coisa estranha. Levantei cautelosamente os ingredientes (o queijo, mussarela, tomate) e vi que existia algo diferente daquilo que eu tinha colocado nos ingredientes e finalmente consegui descobrir o que estava acontecendo com minhas pizzas.
              Enquanto eu estava tomando banho, meu filho Márcio, na sua linda idade de quatro anos e que adorava fazer umas “patifarias” colocou as minhas meias suadas entre a massa e os recheios.
              Estupefato, fiquei um pouco nervoso e perguntei quem tinha feito aquilo e imediatamente meu filho Márcio disse:
- Fui eu papai, achei que poderia ficar mais gostosa a pizza!
               Sorri nervosamente e pedi para minha esposa,  minha sogra e meu filho aguardarem mais um pouco que iria preparar mais algumas pizzas, só que desta vez fiz questão de verificar cautelosamente se não existia nenhum par de meias por perto e sempre de olho no meu querido filho Márcio. Oh crianças, sempre aprontando! Belas recordações!

SÁBADO - DIA DE FEIJOADA

             A maioria dos brasileiros adora feijoada, este prato tipicamente nacional conhecido por nós desde os tempos da escravidão no Brasil. A origem da feijoada é de uma criatividade inigualável: sobrava resto de pedaços de porco que seriam jogados fora os escravos aproveitavam e cozinhavam tudo num grande tacho, levavam a um fogão à lenha e após ficar um bom tempo cozinhando eles comiam prazerosamente.
             Nossa família sempre apreciou uma suculenta feijoada e como mamãe adorava cozinhar, constantemente éramos presenteados com este saboroso “prato”.
             Ao longo da minha existência participei de várias feijoadas preparadas por mamãe, de todas aconteceu uma que me recordo perfeitamente como se fosse hoje.
              Morávamos numa humilde e simples casa numa chácara repleta de milhos, mandiocas, bananeiras e ali minha infância aconteceu repleta de felicidade e carinho dos meus pais. Esta chácara ficava localizada num bairro chamado Ponte Rasa, zona leste da cidade de São Paulo e atrás da nossa “velha casinha” existia um improvisado fogão à lenha construído pelas hábeis mãos de papai e que constantemente eram preparadas suculentas feijoadas aos sábados.
                Numa sexta-feira, papai pediu para mamãe comprar os ingredientes para preparar uma feijoada e deixar de molho da sexta-feira para o sábado e assim foi feito.
              Logo nas primeiras horas da manhã eu ficava encarregado de acender o fogão a lenha para começar os preparativos para a tal da feijoada e lá vinha mamãe com as panelas, as carnes previamente dessalgadas e os condimentos e iniciava o preparo do prato preferido por todos da família.
              Aquele sábado amanheceu nublado, prenunciando que iria chover muito, mas mesmo assim foi dada continuidade nos preparativos da feijoada e logo após o fogão ser aceso por mim, as panelas foram colocadas e fomos brincar no imenso terreno da nossa querida chácara. Esconde-se aqui, corre para baixo das bananeiras, entre os milharais, acompanhávamos os passos de uma enorme pata com seus maravilhosos patinhos nadando num pequeno laguinho e sentíamos o maravilhoso cheiro da deliciosa feijoada que estava sendo preparada por mamãe.
              Uma pequena mesa foi cuidadosamente arrumada dentro da nossa cozinha e todos sentamo-nos para iniciar a degustação da feijoada. Exatamente neste momento o céu ficou muito escuro e parecia que o Mundo ia acabar e vários raios começaram a ser despejados do céu e a cada raio e trovão que ouvíamos papai brincava dizendo que o “Pedrão” estava fazendo mudança no céu e mamãe dizia:
- Zé para com isto, pois São Pedro pode castigar você! E papai ria alegremente.
                 Começamos comer a feijoada e papai optou em sentar em cima de botijão de gás vazio e elegremente comiámos nossa feijoada preparado com muito esmero por mamãe e os raios e trovões não paravam de cair e eis que mamãe pediu para o papai sair de cima do botijão de gás, pois era perigoso ser atingido por algum raio e papai balançava os ombros com um certo desdém do “Pedrão”.
                 Todos os pratos foram servidos e comiámos alegremente quando repentinamente um raio atingiu papai que caiu no chão. Nós ficamos horrorizados com o acontecido e corremos para “acudir” papai que aos poucos foi recuperando-se e voltamos a comer a feijoada mas com enorme receio de sermos atingidos por algum raio.
                Era muito engraçado ver a cara de papai assustadíssimo e dizendo para mamãe: Poxa Tereza, você tem uma boca! E mamãe dizia: Não falei que os Santos podem castigar as zombarias.
Rimos muito e acabando de comer a feijoada fomos todos ouvir rádio com papai enquanto mamãe limpava toda a cozinha.

24 de fev. de 2012

O PODER DAS PALAVRAS


          Entrei na lanchonete e sentei-me num enorme balcão repleto de lindas meninas pré-universitárias. Levantei a mão e imediatamente o atendente veio ver o que eu queria e eu disse:
- Quero um lanche de pernil, uma cerveja bem gelada e se sobrar algum tempinho pede para aquela linda morena vir falar comigo!
O atendente riu e saiu apressado para preparar o meu pedido e eu fiquei esperando pacientemente com os olhos vidrados naquela linda menina toda vestida de branco, cabelos longos e pretos, um corpo escultural e uns olhos verdes maravilhosos.
O atendente chegou com meu pedido e eu imediatamente disse a ele que o pedido estava incompleto e ele sorriu e saiu sem dizer nada.
          Todos os dias eu passava naquela lanchonete e sempre encontrava a linda garota dos olhos verdes que já tinha notado meu interesse por ela através dos meus olhares diretos e freqüentes piscadas. Às vezes ela esboçava algum sorriso e virava o rosto sempre passando as mãos pelos lindos cabelos. 
         Numa sexta-feira a lanchonete estava repleta de lindas garotas e lá estava minha musa sentada no mesmo banquinho de sempre e resolvi arriscar todo o meu insignificante poder de persuasão e além da cerveja pedi ao atendente uma boa dose de conhaque para animar meus ânimos e criar coragem suficiente para abordar aquela oitava maravilha do Mundo. Após ingerir a dose de conhaque, levantei-me discretamente e dirigi-me calmamente até a linda garota e pedi gentilmente se podia conhecê-la e quando já estava esperando um surpreendente e fatídico “Não” ela disse “Sim”. Quase tive um enfarto e minha garganta secou e engasguei e consegui com muito esforço apresentar-me e dizer que estuda..... e ela imediatamente disse:
- Você faz Medicina?  Fiquei vermelho e perguntei a ela como tinha adivinhado e ela apontou uma linda jaqueta branca que eu estava usando e tinha emprestado do meu amigo Takeo que fazia Medicina na USP.
Rapidamente disse que sim e ela disse:
- Que legal eu também quero ser médica, estou estudando muito no cursinho para prestar o Vestibular para Santa Casa. Ela perguntou-me onde eu estava indo e eu disse que iria estudar na casa de um amigo da Faculdade, foi então que ela disse:
- Minhas aulas terminam às 23 horas, você não quer passar aqui no cursinho para a gente se conhecer melhor?
“Já tinha mentido sobre o que eu fazia e resolvi sustentar a “mentira” para conseguir namorar aquele “monumento” e pensava:” Caramba, a menina além de linda ainda é inteligente! Vou ficar milionário e nunca mais serei humilhado pelo meu colega Israel em falar que eu só conseguia namorar com garotas feias. 
          Cabulei as aulas do curso Colegial e fiquei sentado numa praça pensando profundamente o quê iria dizer aquela linda garota, fazia um verdadeiro teatro mental.
          Faltando alguns minutos para as 23 horas lá estava eu esperando a garota descer os degraus do cursinho e finalmente ela apareceu no topo da escada sorridente e enviando-me um beijinho entre as colegas que desciam discutindo os assuntos abordados na sala de aula.
          A garota chegou e abraçou minha cintura e deu-me um carinhoso beijinho no meu rosto e falou:
- Pronto, aqui estou, você poderia levar-me até minha casa?
A resposta demorou a sair e disse imediatamente que sim e seguimos pelas escuras ruas do bairro trocando informações pessoais, até o momento que ela começou a fazer várias perguntas sobre o curso de Medicina e eu não sabia responder e resolvi falar a verdade e disse:
- Olha querida, sou apenas um pobre garoto da periferia e estudante do curso colegial e esta jaqueta que estou vestindo é de um amigo que realmente faz Medicina na USP... mas....Esperei alguns segundos e já estava preparado para o tradicional pontapé no traseiro quando surpreendentemente ela disse:
- Sabe Luiz, adorei sua “cantada” e até que você saiu-se muito bem neste seu maravilhoso teatro da mentira, ainda bem que você redimiu-se e admitiu sua ignorância. E riu mostrando uns dentes alvos e brilhantes, mas mesmo assim gostaria de namorar você! 
          Com as mãos trêmulas e suadas e morrendo de vergonha abracei-a e dei um “saboroso” beijo nos seus lábios carnudos.
Despedimo-nos e prometi que na outra semana a gente se encontrava, pois assim que saísse da aula passaria no cursinho e levaria ela para casa.
          Os minutos, os dias foram passando-se e eu consegui apaixonar-me perdidamente pela linda garota até que num determinado dia ela pediu que fosse buscá-la mais cedo que tinha algo muito importante para falar comigo. Já estava preparado, daquele dia não passaria, iria acontecer o fim do nosso relacionamento e quando nos encontramos as palavras foram bem claras:
- Olha Luiz, você é um “cara” muito lindo, mas não há como continuarmos a namorar, pois existe um abismo cultural muito grande entre nós e fica a dica: Procure estudar e quem sabe daqui uns 10 ou 20 anos a gente consegue conversar algo em comum.
          Confesso que algumas lágrimas esboçaram em cair, os olhos marejaram e sai perambulando pelas ruas sem destino, com o coração despedaçado e muito humilhado e segui pra casa com um único objetivo: A partir daquele dia começaria a estudar muito e tornar-me-ia alguém muito inteligente ou no mínimo equiparar-se-ia aquela garota que mudou o destino da minha vida.
          Contei o acontecido ao meu pai e ele riu muito e disse que queria conhecer a garota, pois ela realmente estava falando a verdade. Nova humilhação e passados alguns meses vim morar em Jacareí com apenas um propósito na minha vida. Estudar, estudar e estudar. 
          Estes são os poderes das palavras que quando proferidas por alguém que a gente ama pode transformar nossas vidas.
          Obrigado linda garota por tão sinceras e transformadoras palavras que até hoje ecoam na minha mente. Vamos estudar!

VENDEDORES DE VASSOURAS

          E novamente encontrava-me sem vínculo empregatício e via-me obrigado a encarar os “bicos da vida” para poder dar algum dinheiro para minha irmã Sônia, visto que morava em sua residência e tinha uma vergonha danada em dormir, comer e não contribuir com absolutamente nada.
          Num determinado dia convidei meu querido sobrinho Evandro para irmos até uma fábrica de vassouras e comprar algumas vassouras e rodos e sairmos pelas ruas vendendo de casa em casa.
          Imediatamente ele aceitou e lá fomos nós até a fábrica fazer a aquisição das tais vassouras que seriam vendidas no dia seguinte. Compramos uma dúzia de vassoura e uma dúzia de rodo, cada um de nós pagamos a metade do valor e combinamos que enquanto não vendêssemos todas as vassouras e rodos não voltaríamos para casa.
          No dia seguinte, bem pela manhã separamos as vassouras e os rodos e saímos batendo de porta em porta oferecendo nossos produtos para a população da Vila Maria Alta, zona norte de São Paulo.
          Inicialmente nossas vendas não estavam sendo aceitas, pois era um sábado chuvoso, aquele sábado que todos adoram dormir até um pouco  mais tarde e quando batíamos palmas ou tocávamos a campainha de alguma casa, alguns diziam palavras impróprias e de baixo calão. Mas não desistimos e continuamos oferecendo nossos higiênicos produtos e lá pelas dez horas da manhã uma moradora do bairro aceitou comprar a primeira vassoura, vendida pelo meu sobrinho Evandro.
          Meus ombros já estavam doendo muito e sentia uma vontade enorme de jogar todas aquelas vassouras e rodos no lixo e voltar para casa, mas não podia fazer nada daquilo que meu pensamento queria, pois metade do dinheiro da aquisição pertencia ao meu sobrinho.
          Sobe rua, desce rua, aperta campainha, ninguém atende e às vezes, balbuciando praguejávamos alguns moradores que nem sequer abria a porta para falar: Não obrigado, não quero!
          O relógio apontava duas horas da tarde, algumas vassouras e rodos já tinham sido vendidos e a fome aumentava, foi quando decidimos entrar num boteco para comer um lanche.  Colocamos humildemente as vassouras e os rodos em pé perto da porta do boteco e entramos para lanchar. Pedimos alguns salgadinhos, o Evandro pediu um refrigerante e eu solicitei uma cerveja bem gelada e o proprietário atendeu-nos prontamente. Conversa vai, conversa vem, oferecemos nossas vassouras para o dono do boteco que acabou ficando com uma e descontamos no pagamento da nossa conta.
          Vila Maria tornou-se pequena para nosso negócio e partimos para Vila Medeiros e os ombros latejavam de tanta dor, fomos e voltamos e conseguimos vender apenas três dos nossos produtos.
          Num determinado instante o Evandro parou perto de um Posto de gasolina, na Estrada da Conceição e anunciou que precisava retornar pra casa, pois tinha que ir viajar com sua tia e precisava da metade do lucro dos produtos.
          Tentei explicar para ele que precisávamos vender tudo para poder dividir o lucro e ele iradamente disse:
- Se o Senhor não der minha parte agora, irei denunciá-lo no Programa do Ratinho. Ri e disse calmamente a ele:
- Olha aqui garoto, não vou dar absolutamente nada pra você enquanto não vendermos todos os rodos e vassouras, ainda faltam seis unidades, e tá falado. Bóra andando que começou a garoar de novo!
          Os olhos do meu sobrinho marejaram, não sei se era de dor nas costas ou minhas ríspidas palavras que tinham ferido sua alma e então ele saiu na frente pisando duro e entrou num “cortiço” com as seis unidades dos nossos produtos. Fiquei aguardando o seu retorno e eis que o meu sobrinho subiu as escadas, sem nenhum produto e contando alegremente o dinheiro que tinha arrecadado com a venda.
          Dividimos o lucro das vendas e pedi explicações de como ele tinha vendido tão rapidamente os produtos e ele calmamente disse-me:
- Sabe tio, precisava viajar, então ofereci de porta em porta no cortiço e falava que o Senhor era muito bravo e se eu voltasse com alguma unidade quando chegasse em casa levava uma surra enorme.
          Sorri e agradeci meu sobrinho passei a mão na sua cabeça e algumas lágrimas brotaram nos meus olhos.  Ele partiu alegremente para sua viagem e eu fui beber algumas cervejas no bar, após dar uma parte do dinheiro ganho para minha irmã. Eta vidinha difícil! rsrsrsrsrs

23 de fev. de 2012

PASTELARIA DA PENHA


          Andava empinando minhas pipas sossegadamente num enorme terreno baldio perto de casa, chegava em casa todo suado, colocava a lata com a linha e as pipas “aparadas” num enorme prego e ia tomar um banho para em seguida jantar e ir para o Ginásio.
          Uma vida ociosa, pois estudava no período noturno e tinha o dia todo para desfrutar das delícias do “não fazer nada” e não fazia o mínimo esforço em recolocar-me no mercado de trabalho, ainda adolescente achava que trabalhar era para adultos e não para garotos como eu.
          Em um determinado dia cheguei em casa e mamãe deu-me a triste notícia:
- Luiz, você começa a trabalhar amanhã! E meu coração disparou e eu disse:
- Mas mamãe, não estou preparado psicologicamente, necessito de um tempo para digerir notícia tão ruim! Ela sorriu e perguntou:
- Sabe Luiz, gostaria de saber em qual Faculdade você graduou-se para ser tão vagabundo! Aquela colocação feriu meus brios e resolvi perguntar medrosamente onde era que ia trabalhar e perguntei tartamudeando onde seria o local da tortura e ela disse secamente:
- Você irá trabalhar numa Pastelaria na Penha, o Senhor Machado conseguiu este nobre serviço de balconista pra você.
          Não sabia se ria ou chorava, optei em calar-me e aceitar humildemente o novo emprego conseguido pelo nosso vizinho motorista de ônibus, o Senhor Machado, embora naquele exato momento odiei o Senhor Machado com todas as forças do meu coração.
          No dia posterior ao anúncio do emprego, levantei-me bem cedinho e fiquei esperando o Senhor Machado passar com o ônibus que ele dirigia, pois o mesmo iria apresentar-me ao meu futuro patrão.
          A Pastelaria ficava no ponto final da linha de ônibus ao qual o Senhor machado dirigia e lá chegando entramos na Pastelaria e eu um tanto amedrontado e muito desconfiado fui apresentado ao proprietário que não era muito de conversas, ele estendeu a mãos educadamente e pediu para entrar na Pastelaria, ou seja, do lado de dentro do balcão. Eu Olhava tudo e aos poucos ele foi passando qual seria minha nova atividade e em seguida, após uma breve apresentação da Pastelaria pediu que eu o acompanhasse até um escuro quartinho onde estava umas quinhentas canas para serem descascadas e logo em seguida iriam ser moídas para fazer a tal da garapa, o caldo de cana.
          Depositou um enorme facão na minha mão e pediu para eu começar a descascar, raspar a casca das canas e saiu. Peguei o facão e novamente odiei o Senhor Machado, fiquei alguns minutos observando o obscuro e nojento quartinho e contra a minha vontade comecei lentamente a descascar as primeiras canas. Era um serviço muito simples, consistia em colocar a cana em pé e raspá-la até não enxergar nenhuma casca e colocá-la em pé num outro monte que estava formando-se.
          Nenhum EPI (Equipamento de Proteção Individual) foi fornecido e quando eu já tinha descascado umas 50 canas algumas bolhas já se faziam presente nas minhas frágeis mãos, o suor descia pelo rosto e a camiseta já estava toda suada e nada do proprietário pedir para eu parar com toda aquela tortura, até que num determinado momento, imensamente irado, levantei-me do carcomido caixote de madeira e dirigi-me ao proprietário e apresentei meu pedido de demissão e ele surpreso aceitou e pediu para eu ir embora, pois achava que eu não gostava muito de trabalhar.
- Mas eu quero receber pelas horas trabalhadas! Respondi e ele com um sorriso de piedade disse:
- Mas você não trabalhou quase nada, não recebe. Mostrei minhas mãos cheias de bolhas e insisti que eu deveria receber pelo menos alguns “trocados”. Não teve acordo e ele pediu para eu sair da Pastelaria e ir embora.
          Calmamente, sai de trás do balcão e disse que estava com fome e queria comer alguns pastéis com caldo de cana e fui prontamente atendido. Enquanto comia os pastéis ficava observando os ônibus que encostavam na frente da Pastelaria e após comer todos os pastéis e beber todo o caldo de cana, vi que um motorista tinha entrado no ônibus e o mesmo tinha ligado o motor do mesmo, saí numa tremenda disparada e entrei correndo para o interior do coletivo que imediatamente partiu e o dono das canas correu para receber os pasteis e o caldo de cana, aos gritos de paga, paga. Coloquei o rosto para fora do ônibus e disse sorrindo e fazendo uma careta para ele: Na outra encarnação eu te pago! Um abraço amigo! E mostrava as minhas mãos toda cheia de calos. Até hoje não sei se ele recebeu posteriormente do Senhor Machado, só sei que até hoje quando entro numa pastelaria e vejo alguém servindo caldo de cana, minhas mãos começam a doer e lembro-me carinhosamente desta passagem maravilhosa da minha vida. Caldo de Cana? Sim. Descascar canas? Jamais!
        Atualmente o interessante é que minha netinha adora caldo de cana, e vira e mexe estamos no Mercadão Municipal da cidade bebendo alguns caldos de cana e sempre minha mente volta a este acontecimento e quando escuto o barulho da máquina de moer cana esboço um sorriso e lembro desta passagem sofrida da minha vida, porém muito engraçada.

SENHOR VICENTE - (O GARÇOM)

          Quem teve o Sr. Vicente como garçom, não precisa de mais nada nesta vida! O Sr. Vicente quando nasceu já estava predestinado a servir a todos os clientes que aparecessem na Rua 24 de Maio, no Centro de São Paulo.
          O bar foi apresentado por minha irmã Selma e como eu adorava fazer um happy-hour nos finais da tarde, adorava beber alguns chopes e desfazer as complicações do cotidiano, aceitei em conhecer o tal do bar do Sr.Vicente.
          Cheguei um pouco desconfiado, afinal o bar estava instalado numa galeria, minúsculo, sem opções de ver a rua, a Avenida Paulista, o que aquele bar poderia oferecer a um bom bebedor de chopes?
           Fui apresentado ao Sr.Vicente e imediatamente ele curvou-se elegantemente diante da minha insignificante pessoa, apertou minha mão e disse:
- Estamos aqui para servi-los, fique a vontade, a casa é toda sua!
            A cordialidade do Sr.Vicente encantou meu coração, era um senhor já idoso, lá pela casa dos 60 anos, carregava sempre um sorriso estampado no rosto e nunca ficava parado, sempre estava carregando uma bandeja lotadíssima de chopes, porções para nos servir.
             Confesso que eu era um pouco “chato” e fazia questão de ser sempre o último freguês a sair do bar do Senhor Vicente, sempre tendo que arregaçar as calças, pois a casa já estava fechando, e ele jamais reclamava, apenas pedia gentilmente para que eu erguesse os pés, pois iria começar a lavar a casa e dizia que sempre havia tempo para beber mais um chope.
             A sexta-feira era o tradicional dia em que conseguíamos reunir a maioria do pessoal e chegávamos sempre alegres e imediatamente o Sr.Vicente reunia várias mesas na parte inferior do bar (subsolo) sempre conversando conosco, perguntando de fulano, cicrano e até da nossa família. Encantador aquele momento, as mesas eram colocadas uma ao lado da outra e geralmente ajudávamos para podermos iniciar nossos primeiros goles e degustarmos nossas primeiras porções.
               Eu trabalhava na Barra Funda, pegava o metro e descia na Estação República, caminhava pela Rua 24 de Maio e lá estava eu na frente do Bar do Sr.Vicente que eu considerava um verdadeiro Oasis no meio daquele transito infernal, barulho de buzinas, afinal estávamos vivendo na Metrópole onde tudo era possível.
               Existiu uma época que todos os dias à tarde nós encontrávamos para bebermos nossos chopes e conversarmos sobre o cotidiano e nossa turma era composta por pessoas muito legais: A minha querida irmã Selma, O Jair, Cilene, Sérgio, eu e alguns conhecidos que apareciam esporadicamente como convidados para juntar-se a nós e poder passar alguns momentos de plena felicidade.
               Uma bela recordação que tenho até hoje é que quando ficávamos até o inicio da madrugada, isto geralmente acontecia na sexta-feira o senhor Vicente fazia questão em acompanhar-nos até o ponto de ônibus que ficava na Praça do Correio e dizia que aquele gesto visava proteger-nos dos possíveis assaltos que acontecia na região. Já tinha freqüentado várias outras casas noturnas, bares, mas nunca tinha visto nada igual: O garçom acompanhar o freguês até o seu destino. Lindo, maravilhoso!  E assim o Sr.Vicente ia conquistando nossos corações e os nossos paladares e quando tínhamos que nos reunir para um happy-hour logo alguém da turma dizia: Bar do Sr.Vicente! Pronto lá estávamos nós sempre alegre e feliz ao lado do melhor garçom do Mundo: Senhor Vicente.
          Obrigado Senhor Vicente por momentos de tanta Felicidade e por ter participado em vários momentos da nossa existência sempre alegre e uma cordialidade incomparável.

22 de fev. de 2012

CHOPES NO RIO DE JANEIRO

Em 1.990 trabalhava numa indústria de informática em São Paulo, desempenhado o cargo de Técnico em Controle de Qualidade e constantemente viajava para vários lugares do Estado de São Paulo e às vezes para o Rio de Janeiro.
          Morava na casa da minha mãe na Vila Maria Alta, bairro da zona norte da cidade de São Paulo e tinha alguns hábitos maravilhosos  que era ler jornais todos os dias, beber chopes no bar do Sr.Vicente, na Rua 24 de Maio, no centro de São Paulo.
          Num determinado sábado, levantei-me bem cedo e fui comprar o jornal da Tarde, o jornal que eu lia diariamente e alguns pães na padaria perto do escadão e vim dando uma “espiada”no jornal enquanto retornava para a casa da minha mãe. Chegando em casa, depositei os pães sobre a mesa e sentei-me numa pequena poltrona e comecei a folhear o jornal despreocupadamente, até que uma página chamou-me atenção: A foto de uma chopperia na Avenida  Nossa Senhora de Copacabana, no Rio de Janeiro. A matéria era excelente, feito por um jornalista que devia “amar” beber chop, dava detalhes do armazenamento do chop, data da fundação da choperia, quantidade de pessoas que a casa suportava, fotos da choperia entre outros detalhes que todo amante da degustação de chop espera.
            Fiquei lendo a matéria e a boca foi enchendo de água, melhor se fosse de chop e assim ao terminar de ler a maravilhosa reportagem decidi que iria experimentar aquele divino chop naquele dia.
            Consultei meu saldo bancário e vi que era suficiente para ir até o Rio, beber vários chopes e voltar naquele mesmo dia. Esperei mamãe acordar e disse a ela que iria até o Rio, ela sorriu e disse-me que talvez fosse mais econômico e rápido beber alguns por aqui mesmo, ou seja em São Paulo.
           Estava decidido a comprovar a veracidade da reportagem e da credibilidade do Jornal, além da minha voraz sede, pois era um amante contumaz de chopes e adorava viajar de avião.
            Liguei para um taxi e embarquei com destino ao Aeroporto de Congonhas pegar uma Ponte aérea com destino ao Rio de Janeiro para degustar o melhor chop do Rio de Janeiro, segundo a reportagem.
            Vôo rápido, desci no Aeroporto Santos Dumont e mostrei a reportagem para um motorista de taxi dizendo que precisava chegar o mais rápido aquela choperia e ele brincando disse: Pelo visto você deve gostar muito de chop, para vir de São Paulo até o Rio somente para beber alguns chopes! Sorri prazerosamente e em alguns minutos estávamos na frente da choperia. Paguei o motorista de taxi e entrei como um rei na choperia.
          Sentei-me numa confortavelmente numa cadeira e imediatamente fui atendido por um atencioso garçom que me mostrou um cardápio variado. Estendi o jornal e disse que vinha de São Paulo por causa da reportagem e estava decidido a beber vários chopes, ele sorriu e disse que eu estava na casa certa e realmente era o melhor chop do Rio de Janeiro.
          Após várias canecas ingeridas, pedi uma porção de camarão e assim fiquei eterno minutos certificando da veracidade da reportagem, até que deu “meio segundo”, levantei-me apressadamente como todo bom Paulistano, paguei a conta, agradeci a todos e fiz o percurso de volta a São Paulo.
          Cheguei com a alma lavada, o gostinho de chop na boca, o ronco do avião na cabeça e Feliz muito Feliz em poder degustar um delicioso chop na cidade Maravilhosa.
          Dinheiro foi feito pra isto, momentos de prazeres, não interessando a distância e sim a vontade do momento. Agora? Sou pobre e tomo algumas cervejas nos botecos da vida.rsrsrsrs

GALINHAS

      Hoje é muito fácil comprar galinhas e mais fácil ainda prepará-las, é só chegar ao Supermercado apontar as “penosas”, pesar e pronto. Algumas galinhas já vêm cortadas e temperadas o que facilita enormemente a vida de qualquer dona de casa.
                    Existiu uma época, isto lá pelos anos 60 que tal facilidade não existia, então a maioria das famílias, principalmente aquelas de origem do interior, compravam as galinhas vivas para serem abatidas em casa.
                   Eu com meus sete anos de idade ficava horrorizado com tal atrocidade diante das queridas penosas indo para um enorme tacho com água escaldante para serem depenadas e decepadas diante de tanta crueldade e ficava imaginando: “Como pôde! mamãe é tão boazinha conosco e faz isto com as pobres galinhas” Mas quando as mesmas chegavam ao meu prato, abandonava toda a minha piedade e compreendia perfeitamente o tal sacrifício.
                    Minha mamãe Thereza e meu papai José sempre compravam as galinhas vivas para serem preparadas nos finais de semana e meu sofrimento antecipado começava quando papai pedia para mamãe comprar as galinhas numa granja perto da nossa residência.
                    No dia 23 de dezembro de 1.962, papai pediu para mamãe ir até a granja e comprar três galinhas bem gordas. Mamãe resolveu levar-me até a granja e saímos de casa sob uma tênue garoa característica da época e chegamos à granja onde mamãe escolheu cautelosamente três enormes galinhas e pediu para pesar. Era muito engraçado ver as galinhas querendo fugir do prato, esperneando e gritando e eu torcendo para as mesmas voarem e saírem da granja, mas sempre acabavam sendo dominadas pelas mãos hábeis do granjeiro que pesava, amarrava uma cordinha nos pés das mesmas e dava para mamãe.
                    Tinha um plano maravilhoso para dar liberdade para as queridas galinhas e pedi quase que suplicando se podia levar as mesmas puxando pela cordinha e mamãe foi lacônica diante de um sonoro não. Insisti e ela concordou em me deixar levar apenas uma galinha o que já amenizou meu coração. Iria soltar a cordinha na primeira esquina e deixar a mesma fugir.
                    Era muito engraçado, eu puxando a cordinha, a galinha não obedecendo meus comandos e mamãe sorrindo e pedindo que eu fosse atrás da galinha e espantasse, mas não poderia soltar a cordinha, senão a mesma iria para a rua. Tentei, tentei e a galinha empacou, aí espantei a galinha e soltei a cordinha e a mesma foi para o meio da rua onde um carro atropelou e matou a galinha.
                  Fiquei muito espantado com o fim trágico dos meus planos e comecei a chorar e mamãe calmamente passou a mão na minha cabeça, sorriu e seguimos para casa e eu entre muitos soluços encoberto de tanta culpa pela morte da galinha.
                  Chegamos em casa e mamãe soltou as duas galinhas num cercadinho num pequeno quintal de terra onde não existia muro e ficava no alto, pois morávamos num sobrado que fazia divisa com uma enorme casa em construção.
                  As galinhas até pareciam felizes, pois ciscavam pra cá e pra lá, e eu observando atentamente e fazendo planos mirabolantes para libertar aquelas duas infelizes “penosas” que em breve iriam para o tacho fervente.
                  A idéia era a seguinte: iria pedir pra mamãe para dar milho pras galinhas e iria espantá-las, assim evitaria o sofrimento cruel das galinhas. Cheguei com um ar de súplica para mamãe e pedi se podia dar alguns milhos para as galinhas e a resposta foi um prudente “Não”, insisti choramingando e ela disse:
- Não Luiz! Está chovendo e você pode cair! Insisti, quase que ajoelhando aos pés de mamãe.
- Mas mamãe....deixa-me dar apenas alguns “milhinhos” eu tomo muito cuidado!
- Não e pronto! Falou mamãe um tanto contrariada.
                   Fiquei alguns minutos com um punhado de grãos de milho na mão e resolvi contrariar mamãe e entrei sorrateiramente no cercadinho para “alimentar” (soltar) as galinhas. Repentinamente escorreguei na terra molhada e fui parar lá embaixo sobre um monte de areia. Fiquei alguns minutos gemendo e gritando por socorro. Quando mamãe ouviu-me, desceu as escadas correndo e chegou assustadíssima. Subi as escadas gemendo de dor, com várias escoriações e um braço quebrado. Seguimos para o hospital onde radiografaram meu braço, fizeram vários curativos e enquanto os enfermeiros engessavam o meu braço imitavam uma galinha, sempre sorrindo.
                    Mãe tem sempre razão, portando jamais contrarie sua mamãe, nem que for por apenas algumas galinhas! (rsrsrsrsrsrs)

21 de fev. de 2012

CARNAVAL EM 1.970


     Em 1.970 o desfile das escolas de samba acontecia na Av. São João, no centro da cidade de São Paulo e grandes escolas de São Paulo por lá apresentavam seus componentes em maravilhosas evoluções.
      O único canal de TV que falava algo sobre o desfile era a TV Cultura e algumas emissoras de rádios, e nós assistíamos com muita curiosidade na nossa TV Videobel em preto e branco.      Existia uma brincadeira que nós adorávamos que consistia em jogar água nas pessoas através de multicoloridas bisnagas de plástico e nem sempre era compreendida por alguns adultos e lembro-me de surras memoráveis que mamãe aplicava com suas temidas varas de marmelo porque algum vizinho não adepto da brincadeira vinha reclamar que estava todo molhado e eu tinha sido o autor da brincadeira. Apanhava e voltava a espirrar água nos vizinhos e corria gargalhando, afinal era Carnaval e valia tudo, até duas ou três surras no mesmo dia.      Após o desfile das escolas de samba o resultado era anunciado sempre sobre grandes protestos das escolas rivais e os Jornais estampavam a Escola Campeã sempre dando grande destaque aos minúsculos trajes de belas passistas.      Nós garotos da época adorávamos as fotos e ficávamos vários minutos em frente da banca de jornal do nosso bairro apreciando os jornais a beleza que era o Carnaval e imaginando: Que Maravilha que é este nosso País! Quantas mulheres lindas e seminuas, até que o jornaleiro acabava com nossa curiosidade, recolhendo o jornal e pedindo gentilmente para irmos embora.      No sábado posterior ao Carnaval nós moradores da zona leste da cidade de São Paulo ganhávamos um maravilhoso presente que era um desfile da escola de samba Nenê de Vila Matilde pelas ruas do bairro da Vila Matilde somente para os moradores e curiosos.       Neste dia, Lalá que morava na Vila Esperança fazia questão de levar-nos, para assistir o desfile do muro da sua residência. Era lindo ver todos os muros das residências repletos de pessoas com confetes e serpentinas para arremessar nos integrantes da escola de samba.       Os primeiros tambores, tamborins, cuícas, reco-recos, eram ouvidos, era hora de ajeitar-se o mais confortavelmente em cima do muro e ficar olhando o final da rua onde a Comissão de frente já ensaiava os primeiros passos e lá vinha a fantástica e imponente Escola de Samba Nenê da Vila Matilde, que naquele ano tinha sido campeã do Carnaval Paulistano      O coração disparava e imediatamente colocava todos as serpentinas e confetes ao lado para arremessar nos componentes da escola.        Os olhares encantadores, os passos perfeitos do Mestre Sala e da Porta-Bandeira emocionava a todos e os primeiros confetes e serpentinas eram arremessados e sempre eram agradecidos com gestos dos integrantes de abaixar a cabeça e curvar o corpo para frente. Um bailar encantador, maravilhoso, sublime.        As alas iam apresentando-se com perfeita harmonia e víamos bem pertinho mulheres maravilhosas em minúsculos trajes e homens em cima de enormes carros alegóricos, Ala das baianas e nossa alma ia enchendo-se de Felicidade. Muitos gritos eram ouvidos e saudações e palmas misturavam-se com o maravilhoso som da bateria da Nenê.         O Senhor Nenê, que era presidente da escola fazia questão de colocar todos os componentes da escola de samba pelas ruas estreitas da Vila Matilde e vinha sempre na frente agradecendo a todos a nossa presença com gestos, curvando o corpo para frente e tirando o chapéu em agradecimento. Gesto maravilhoso e inesquecível.         A apresentação da passagem da Escola de Samba pela rua da casa do Lalá, na Vila Matilde foi o que guardei e ainda guardo com tanto carinho de todos os Carnavais já vividos ao longo dos meus 56 anos de idade. Viva o Carnaval! Salve todas as Escolas de Samba! Em especial a Nenê da Vila Matilde. Obrigado a todos por proporcionar grandes momentos na minha vida! Muito lindo! Belas recordações do carnavais Paulistano de outrora.