22 de fev. de 2012

GALINHAS

      Hoje é muito fácil comprar galinhas e mais fácil ainda prepará-las, é só chegar ao Supermercado apontar as “penosas”, pesar e pronto. Algumas galinhas já vêm cortadas e temperadas o que facilita enormemente a vida de qualquer dona de casa.
                    Existiu uma época, isto lá pelos anos 60 que tal facilidade não existia, então a maioria das famílias, principalmente aquelas de origem do interior, compravam as galinhas vivas para serem abatidas em casa.
                   Eu com meus sete anos de idade ficava horrorizado com tal atrocidade diante das queridas penosas indo para um enorme tacho com água escaldante para serem depenadas e decepadas diante de tanta crueldade e ficava imaginando: “Como pôde! mamãe é tão boazinha conosco e faz isto com as pobres galinhas” Mas quando as mesmas chegavam ao meu prato, abandonava toda a minha piedade e compreendia perfeitamente o tal sacrifício.
                    Minha mamãe Thereza e meu papai José sempre compravam as galinhas vivas para serem preparadas nos finais de semana e meu sofrimento antecipado começava quando papai pedia para mamãe comprar as galinhas numa granja perto da nossa residência.
                    No dia 23 de dezembro de 1.962, papai pediu para mamãe ir até a granja e comprar três galinhas bem gordas. Mamãe resolveu levar-me até a granja e saímos de casa sob uma tênue garoa característica da época e chegamos à granja onde mamãe escolheu cautelosamente três enormes galinhas e pediu para pesar. Era muito engraçado ver as galinhas querendo fugir do prato, esperneando e gritando e eu torcendo para as mesmas voarem e saírem da granja, mas sempre acabavam sendo dominadas pelas mãos hábeis do granjeiro que pesava, amarrava uma cordinha nos pés das mesmas e dava para mamãe.
                    Tinha um plano maravilhoso para dar liberdade para as queridas galinhas e pedi quase que suplicando se podia levar as mesmas puxando pela cordinha e mamãe foi lacônica diante de um sonoro não. Insisti e ela concordou em me deixar levar apenas uma galinha o que já amenizou meu coração. Iria soltar a cordinha na primeira esquina e deixar a mesma fugir.
                    Era muito engraçado, eu puxando a cordinha, a galinha não obedecendo meus comandos e mamãe sorrindo e pedindo que eu fosse atrás da galinha e espantasse, mas não poderia soltar a cordinha, senão a mesma iria para a rua. Tentei, tentei e a galinha empacou, aí espantei a galinha e soltei a cordinha e a mesma foi para o meio da rua onde um carro atropelou e matou a galinha.
                  Fiquei muito espantado com o fim trágico dos meus planos e comecei a chorar e mamãe calmamente passou a mão na minha cabeça, sorriu e seguimos para casa e eu entre muitos soluços encoberto de tanta culpa pela morte da galinha.
                  Chegamos em casa e mamãe soltou as duas galinhas num cercadinho num pequeno quintal de terra onde não existia muro e ficava no alto, pois morávamos num sobrado que fazia divisa com uma enorme casa em construção.
                  As galinhas até pareciam felizes, pois ciscavam pra cá e pra lá, e eu observando atentamente e fazendo planos mirabolantes para libertar aquelas duas infelizes “penosas” que em breve iriam para o tacho fervente.
                  A idéia era a seguinte: iria pedir pra mamãe para dar milho pras galinhas e iria espantá-las, assim evitaria o sofrimento cruel das galinhas. Cheguei com um ar de súplica para mamãe e pedi se podia dar alguns milhos para as galinhas e a resposta foi um prudente “Não”, insisti choramingando e ela disse:
- Não Luiz! Está chovendo e você pode cair! Insisti, quase que ajoelhando aos pés de mamãe.
- Mas mamãe....deixa-me dar apenas alguns “milhinhos” eu tomo muito cuidado!
- Não e pronto! Falou mamãe um tanto contrariada.
                   Fiquei alguns minutos com um punhado de grãos de milho na mão e resolvi contrariar mamãe e entrei sorrateiramente no cercadinho para “alimentar” (soltar) as galinhas. Repentinamente escorreguei na terra molhada e fui parar lá embaixo sobre um monte de areia. Fiquei alguns minutos gemendo e gritando por socorro. Quando mamãe ouviu-me, desceu as escadas correndo e chegou assustadíssima. Subi as escadas gemendo de dor, com várias escoriações e um braço quebrado. Seguimos para o hospital onde radiografaram meu braço, fizeram vários curativos e enquanto os enfermeiros engessavam o meu braço imitavam uma galinha, sempre sorrindo.
                    Mãe tem sempre razão, portando jamais contrarie sua mamãe, nem que for por apenas algumas galinhas! (rsrsrsrsrsrs)

Um comentário:

SUELY disse...

Isso ai, mãe sempre tem razão. rsrsr