28 de jun. de 2011

FAZENDO E VENDENDO COXINHAS

Estávamos no início de 2.008, a ideia de fazer coxinhas tinha vindo depois de uma longa viagem à Ubatuba. Depois de várias tentativas de fazer uma coxinha diferente de todas aquelas já existente, conseguimos fazer uma que era diferente de todas as outras. Fizemos um verdadeiro “laboratório experimental” com temperos, recheios e o sabor foi ficando cada vez mais afinado com o paladar de todos.
      Após um período de dois meses em Ubatuba na casa da tia Ana, onde testamos várias receitas, chegamos a uma que colocamos o nome de Coxinha Caiçara e era esta receita que apresentei para minha filha e disse que a partir daquele momento iríamos viver de fazer as tais coxinhas e vendê-las pelo comércio local da Vila Maria Alta em São Paulo-SP e redondeza.
      Minha filha ficou estupefata com a ideia, mas como não tinha outra opção, pois morávamos numa pequena casa de aluguel, eu minha filha e minha netinha. Abraçou a ideia para não passarmos necessidades e assim começamos nossa atividade de salgadeiros, especificamente fazendo a tal da coxinha caiçara.
      Fazer as coxinhas não era problema, pois já tinha dado certo no litoral e não tinha como dar errado na capital, já que o sabor era deliciosíssimo, a textura surpreendente, sequinha. Combinamos um preço bem razoável, fizemos as primeiras quarenta unidades e saí pelo comércio local em busca de nossos novos clientes. A dificuldade foi enorme no início, pois ninguém conhecia nossas coxinhas e todos se mostravam cépticos em relação ao nosso produto. Foi uma grande batalha no início para provar para todos os novos clientes que estávamos vendendo um produto de qualidade, muito delicioso e que todos deveriam provar.
      Trabalhar por conta própria é muito bom, mas exige um esforço enorme. Levantava-me às 6 horas da manhã e ia comprar os ingredientes num mercado próximo de casa, preparava tudo, desde colocar o frango para cozinhar, até os temperos para podermos fazer a noite.
      Lá pelas 8 horas da manhã começava a fritar vinte coxinhas e ia vendê-las pela redondeza, vender salgados de manhã não é lá tarefa muito fácil, mas precisávamos e não tinha para onde correr e lá ia eu com minha caixa de isopor, uma garrafa de café que oferecia de brinde aos meus clientes. Quando estava próximo do meio-dia já tinha vendido todas as coxinhas e aí retornava para casa, almoçava e ficava esperando dar 2 horas da tarde para fritar mais vinte coxinhas e sair à tarde.
     Os clientes já estavam conquistados, tinha em média uns vinte clientes fiéis que adoravam nossas coxinhas, o restante era conquistado dia a dia, andando muito, tomando muita chuva, entrando em quase todos os estabelecimentos comerciais e esbanjando carisma, bom humor e sempre enaltecendo a grande diferença das nossas coxinhas e das outras encontradas pelos bares e padarias do bairro.
      Todos os dias era uma grande batalha, pois dependíamos de vender as quarenta coxinhas todos os dias e o dinheiro arrecadado era para pagar o aluguel, água, luz, comprar fraldas e leite para a netinha e um pouco de comida para nós.
      Foram oito meses vendendo todos os dias em média quarenta coxinhas e algumas histórias interessantes aconteceram neste período. Num sábado quando minha filha estava fritando as coxinhas o gás acabou e ela desabou a chorar dizendo que estava cansada de ser pobre, soltei um grande sorriso e disse que também estava cansado, mas não era de ser pobre e sim de andar como um burro pelas ruas do bairro, ela sorriu entre algumas lágrimas e foi comprar o gás fiado.
       O secretário de uma escola estadual pediu para vendermos as coxinhas num sábado à tarde na escola, pois alguns alunos estariam na escola para aulas de recuperação. Fizemos cinquenta coxinhas e fomos até a escola e chegando lá, simplesmente não havia ninguém, as aulas foram adiadas. Ficamos aflitos, sentamos na beira da guia e ficamos imaginando o que faríamos, até que escutamos barulho de instrumentos musicais vindo do clube  Thomas Mazzoni, fomos correndo até lá, onde estava acontecendo uma final de campeonato de time de futebol, tinha muita gente, subi as arquibancadas e fui vendendo, vendendo e após uma hora já tinha vendido todas as coxinhas, fomos embora muito feliz e com grande alívio , tínhamos garantido nossa próxima remessa de coxinhas, naquele dia compramos até uma pizza para comemorar nossas vendas.
         Numa sexta feira a tarde apareceu meu sobrinho Leandro e seu filho Diego comprou toda a “carga” de coxinhas, ele ainda trouxe várias latas de cervejas, onde bebemos e comemos todas as coxinhas. Raras vezes isto acontecia, mas de vez em quando acontecia. 
         Às vezes, a tarde, convidávamos minha irmã Silvinha e meu sobrinho John Lennon para tomar café com coxinhas em casa, ficávamos muito feliz com a presença da minha irmã na nossa humilde casa, inesquecíveis aqueles momentos.
         Muitas passagens aconteceram, umas tristes outras alegres e aprendemos uma lição maravilhosa que jamais passaremos fome neste País, desde que estejamos propensos a “meter a mão na massa”, suar a camisa e queimar a barriga no fogão. Conseguimos sobreviver! Vai uma coxinha aí?

Um comentário:

SUELY disse...

A necessidade faz dar reviravoltas e saidas mirabolantes, que qdo se tornam passado, vemos que vcs são incriveis, com Deus tudo deu certo. bjs.