O que poderia existir de mais belo que a chegada de um circo na periferia da cidade de São Paulo na década de 70? Absolutamente nada era mais belo e emocionante para nós adolescentes moradores no querido bairro Cidade A.E.Carvalho, zona leste da cidade de São Paulo.
Quando aquelas carretas enormes e multicoloridas passavam na Av.Campanelas e estacionavam em frente à Praça Ana das Dores, "a pracinha", nossos corações disparavam de alegria e os corações de nossas mães disparavam de aflição, pois sabiam que seria quase que impossível segurar seus filhos em casa.
A molecada chegava sorrateiramente, perscrutando o local e os trabalhadores braçal com perguntas tolas, tais como: Como é o nome do circo? Quando irá estrear? Tem bichos? Qual é o nome do palhaço?
Os trabalhadores bem mal humorados e suando muito restringiam-se a dar respostas curtas, sempre tirando enormes tábuas dos caminhões, empurrando ferros, esticando lonas, sem parar e sem olhar para cara de ninguém. E nós continuávamos "xeretando" aqui e ali e lá estavam os artistas dentro de um enorme trailler lanchando tranquilamente e rindo alto, denunciando que estavam muito feliz. Os dias iam passando e o circo ia sendo montado, dia e noite de trabalho e após dois ou três dias o mesmo já estava montado. Lindo, majestoso, imponente! mudando toda a paisagem da pracinha.
E eis que chega o grande dia da estreia e nota-se uma enorme placa com os dizeres: Grande estreia! Domingo às 15hs o circo Cigano convida você e sua família para assistir o maior espetáculo da Terra! Acontecia duas sessões, às 15hs e às 20hs e sempre íamos nas duas sessões, sendo que na segunda sempre levávamos nossas namoradinhas.
Alguns alto-falantes eram esparramados pelo lado externo do circo e tocavam várias músicas orquestradas, Carlos Gonzaga com uma música chamada Diana e várias músicas de Roberto Carlos. Entre pipoqueiros, vendedores de algodão doce esparramava-se nossa Felicidade.
Segurando a mão da minha namoradinha comprava os ingressos e um enorme saco de pipocas e entrávamos vagarosamente, prestando atenção em tudo e em todos. Sentávamos na arquibancada feita de madeiras, bem lá no alto e ficávamos aguardando ansiosamente o inicio do espetáculo.
Várias crianças corriam pra lá e pra cá e várias gargalhadas eram ouvidas dentro do camarim. Repentinamente a música cessava, abria-se as cortinas e entrava o apresentador trajando um "flaker" preto e com uma voz rouca anunciava-se o início do espetáculo, sempre agradecendo nossa presença.
O apresentador saia do palco, anunciando dois palhaços que entravam dando piruetas e muito tapas, caiam e levantavam-se constantemente, levando o público ao delírio de tanto rir.
Aplausos e mais aplausos misturavam-se com gargalhadas e alguns assobios. Nossos corações ficavam disparados quando as trapezistas começavam a subir uma escada feita de corda, o silêncio era total até que elas posicionavam-se lá no topo e começavam-se a balançar sem parar até que uma delas lançava-se no ar indo segurar a mão da outra. Sentia as mãos da minha namoradinha toda trêmula e suadas, encostávamos nossos corpos em sinal de apreensão e medo, batíamos palmas nervosamente e ficávamos aliviados quando tudo terminava. E novamente lá estavam os palhaços estapeando-se e risos e gargalhadas ecoavam ao longo do circo. O espetáculo não durava mais que duas horas, mas para nós parecia que eram apenas alguns minutos.Ficávamos muito tristes quando os artistas despediam-se curvando-se elegantemente para agradecer sob muitos aplausos e assobios.
Fechavam-se as cortinas e nossos corações ficavam pequenininhos, era hora de voltar para casa comentando as principais atrações e combinando voltar no próximo final de semana para assistir o maior espetáculo da Terra. O circo, o circo da Periferia
Um comentário:
Epoca que ir ao circo era maravilhoso, agora não se sabe e qdo sabe são muiiiiiiiito caros e longe. brigaduuuuuuu de nos lembrarmos momentos de nossos passados. bjs.
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