E lá estava
eu vendendo minhas empadas de bacalhau pelas ruas da Vila Maria Baixa, zona
norte da cidade de São Paulo embaixo de um escaldante Sol de quarenta graus
centigrados.
As vendas estavam acontecendo de uma
maneira..digamos fácil, devido a proximidade da época natalina e a maioria das
pessoas providas de uma “graninha” a mais pela aquisição do tão almejado décimo
terceiro salário e outros benefícios do sofrido cidadão assalariado que tanto
espera este momento.
Entra em loja, sai de loja oferecendo
as empadas e esvaziando minha “malinha” de “nãos” e entre um sim e outro abro a
caixa de isopor e noto que sobraram apenas duas unidades das empadas.
As dores no corpo faziam-se presentes
naquele momento e procurei algum lugar para sentar e avistei um barzinho
repleto de jovens animados e entre várias gargalhadas e apenas uma mesa com
algumas cadeiras vazias sentei-me pesadamente para recompor minhas energias e
seguir em frente e imediatamente fui abordado pelo gentil garçom:
- Pois não
senhor deseja alguma “coisa”?
Levantei a
cabeça e disse que não queria absolutamente nada e estava sentado ali por
alguns minutos somente para recuperar o fôlego e as energias para seguir em
frente com as vendas das minhas empadas.
O garçom sorriu e disse:
- Fique bem
a vontade senhor até chegar o próximo cliente.
Abri a carteira e contei o dinheiro
ganho até aquele momento e vi que existia uma quantia suficiente para degustar
uma boa porção de qualquer petisco e beber uma boa cerveja.
A mente viajava entre um “sim” e um
“não” e imediatamente vi me rodeado por uma legião de “anjos” do mal
sussurrando entre eles e apenas um aproximou da mesa e disse:
- Pois é
querido, vai pedir a cerveja estupidamente gelada e uma porção ou vai esperar o
primeiro ataque cardíaco ou Aneurisma Vascular Cerebral te pegar e te jogar em
uma cama?
Olhei do
outro lado da praça com a boca salivando e avistei outra legião de anjos do bem
acenando e vindo em minha direção e posicionaram a minha direita apenas escutando
o monólogo entre os “anjos” do mal e um anjo do bem aproximou e disse
sussurrando no meu ouvido:
- Sabe Luiz,
não bebe não, levanta daí e vai até aquela doceria do outro lado da avenida e
compra o doce que você mais gosta, pega um ônibus e vai embora.
Várias
gargalhadas ouvi dos “anjos” do mal, zombando e pulando gritavam: Doces! Não
acreditamos que vai trocar várias cervejas por apenas um insignificante doce.
Deixa de dar ouvidos para estes anjos corretos e alimente-se com estes momentos
de prazer que estamos te propiciando.
O suor
descia abundantemente pelo rosto e os jovens sorriam alegremente entre uma
tulipa de cerveja gelada e outra, a visão da doceria parecia distante e entre
várias hesitações ergui a mão acenando para o garçom para que viesse até minha
mesa.
Toda a
legião dos anjos do bem posicionaram ao redor da minha mesa fazendo uma
barreira para que o garçom não aproximasse da minha mesa.
Olhei ao redor e ouvi de um anjo do
bem:
- Então quer
dizer que você quer dormir na praça novamente, quer continuar a beber vários
Corotes e que todos o humilhem, te pisem, te chamem de “Bêbado” dos infernos e
oprimem sua alma, sua mente?
Outro “anjo”
do mal interceptou dizendo:
- Manda este
anjo fdp dormir no inferno, se te quer tão bem porque não o protegeu quando
você estava naquele “aperreio”? Manda ver, pede logo uma Maria mole e várias
cervejas para poder sentir e gozar este maravilhoso momento.
Senti minha
cabeça doer e ao longe fui chamado para vender uma empada, levantei-me e fui
atender uma velha senhora que comprou as duas “derradeiras” empadas e após
pagar seguimos para a doceria comprar alguns doces.
Atravessei a rua e ouvi os “anjos” do
mal dizendo:
- Desta vez
perdemos...mas a gente pega ele em breve.
Entramos na
doceria, comprei vários doces e peguei um ônibus com destino a minha casa e
ainda sobrou tempo para ver a alegria dos anjos do bem sorrindo e zombando os
“anjos” do mal.
O ônibus fechou a porta e olhei pela
janela a legião dos anjos do bem acenando para mim e desejando um feliz regresso.