31 de mar. de 2012

CALÇA XADREZ

              Eu estava decidido, iria comprar tecido para fazer uma calça xadrez, afinal era moda e eu não queria ficar fora da moda lá pelos  anos dourados da minha vida que foi a década de 70.
               Na década de 70, eu tinha apenas quinze anos de idade e com muito esforço em pedalar uma bicicleta pelas ruas do bairro onde eu morava consegui uma namoradinha e fazia questão de gastar a maioria do meu insignificante salário com compras de roupas e tecidos para fazer calças, pois adorava trajar-me muito bem e quando recebi meu salário corri até uma grande loja de tecidos que se localizava na Rua Quintino Bocaiuva, no centro de São Paulo e escolhi um corte de tecido xadrez amarelo e azul.
               O vendedor cortou e embrulhou o tecido xadrez e eu saí da loja todo feliz e chegando em casa pedi para mamãe fazer uma calça pra mim e ela disse:
- Mas Luiz, eu nunca fiz uma calça masculina em toda a minha vida! E eu incentivando mamãe dizia sorrindo:
- Mas mamãe, eu sei que a senhora é capaz! Vamos começar a tirar as minhas medidas! E mamãe toda orgulhosa começou a anotar as medidas e eu todo garboso ficava admirando mamãe esmerar-se em conseguir o melhor.
               No outro dia ao sair para trabalhar, que era uma quarta-feira pedi gentilmente para mamãe aprontar a calça pra mim até sábado, pois tinha um encontro especial com uma nova namoradinha e gostaria de ir com a calça xadrez e ela balançou a cabeça afirmativamente e sorriu.
                 Os dias passaram e mamãe conseguiu fazer minha calça e quando terminou já eram umas quatro horas da tarde de sábado, eu cheguei do clube e corri tomar um banho para colocar a minha calça que tinha ficado linda. Coloquei a calça e vi que tinha ficado um pouco curta, pois naquela época eu usava um sapato com salto carrapeta, que era moda na época e mamãe pediu desculpas e argumentou que tinha feito o melhor e eu disse:
- Não se preocupe mamãe, vou colocar um pouco de água e passar a calça, pois assim ela estica um pouco e fica tudo bem!
E assim passei a calça, vesti a mesma e ficou perfeita e saí todo alegre dando um beijo de agradecimento em mamãe para ir encontrar com a mais nova namoradinha.
               Cheguei a um Parque de Diversão e encontrei com a garota com a calça ainda meio molhada e começamos a conversar, comer pipocas e a calça foi secando, secando e encolhendo, encolhendo e quando eu senti a mesma já tinha encolhido mais de um palmo.
Pedi licença para a garota dizendo que estava com muita dor de cabeça e fui embora correndo do Parque com muita vergonha de ser notado com as calças curtas e cheguei em casa ofegante e mostrei a calça para mamãe e ela não se conteve e deu uma enorme gargalhada e pediu desculpas e eu também sorri muito e dei um abraço em mamãe sobre os olhares curiosos das minhas irmãs que não estavam entendendo nada do ocorrido. A calça xadrez tinha encolhido!

29 de mar. de 2012

ESTRADINHA DE TERRA

         Alguns momentos em nossas vidas são tão sublimes que não há como deixar de descrevê-los e entre os vários momentos que vivi existiram alguns que realmente marcaram minha existência.
         Os preparativos para uma curta viagem numa sexta-feira à noite com destino a roça enchia-me de alegria e satisfação.
        Não havia muito que levar a não ser o prazer pela aventura em “pegar” uma estradinha de terra e lá vamos nós com destino à casa de um tio que morava num paraíso, perto da nascente do rio Tietê, chamado Salesópolis.
         Até chegarmos à cidade de Salesópolis e sairmos da área urbana, minha alma ficava encolhidinha num canto qualquer, apenas prestando atenção em bares e padarias que começavam a fechar, alguns transeuntes que ousavam transitar àquela hora da noite e alguma ambulância que passava rapidamente por nós.
         Chegávamos  à cidade e parecia que tudo modificava, minha alma que até algum tempo atrás jazia num canto pulava e meus olhos enchiam-se de alegria e começávamos a percorrer os primeiros quilômetros da estradinha de terra.
         Uma música instrumental do rádio do carro era ouvida e poucas palavras eram faladas para não atrapalhar o encanto mágico do momento. Surgia a primeira porteira e eu descia vagarosamente para abri-la e o barulho característico da madeira rangendo levava-me décadas atrás quando passávamos por ali, a cavalo e parecia que era a mesma porteira.
         Após abrir várias porteiras e sentirmos prazerosamente vários cheiros de mato, parávamos numa imensa represa e saíamos do carro para contemplar o espetáculo da neblina começando a cobrir a água e aquele vento gelado assoprava nossos pensamentos e fazia a gente esquecer a grande metrópole e viver aquele momento único. Alguns “piados” de pássaros, barulhos vindos da mata e a lua cheia completavam nossa Felicidade.
         Era hora de seguir, pois já passava das duas horas da manhã e nós ali parados no meio da pequena estrada pensando “em nada” e querendo congelar aquele momento que se perpetuaria na nossa alma.
         Quando aproximávamos da Vila, passávamos vagarosamente pela igrejinha que ficava num morro, persignávamos e agradecíamos nossa boa viagem, parávamos o carro em frente à casa do meu tio, batíamos palmas e meu tio saía todo sorridente e pedia gentilmente para entrarmos, sempre solicitando notícias dos parentes.
         Após algumas prosas e boas gargalhadas, meu tio dirigia-se até o fogão a lenha, assoprava vagarosamente algumas brasas que ainda estavam acesas e colocava uma chaleira com água para preparar um café e todos sentávamos ao redor do fogão à lenha e ficávamos proseando e escutando o estalar das madeiras em contato com o fogo até os primeiros raios de Sol que iluminava a cozinha, nossa alma e a nossa Felicidade.

25 de mar. de 2012

TUMULTO NO CASÓRIO

          E a vida andava calmamente lá pelas bandas onde eu morava, eu estava estudando muito para formar-me Técnico em Eletrônica, fazia Inglês, capoeira e ainda sobrava tempo para namorar com uma linda garota chamada Ivete.
       Cheguei à casa da minha tia Nina, onde eu morava e lá estava um lindo convite de casamento da minha irmã Suely colocado sobre minha prancheta de desenho.
       Abri o convite vagarosamente, comecei a ler e decidi que iria aquele casamento acompanhado da minha namorada e imediatamente fui até a casa da senhorita Ivete convidá-la para o casamento e ela disse que iríamos sim.
      No dia do casamento coloquei a minha melhor roupa e minha namorada colocou um lindo vestido azul e lá saímos para pegar ônibus para São Paulo, pois morávamos em Jacareí e o casamento iria acontecer à tarde.
       Não fomos a Igreja e quando chegamos a festa já tinha começado, descemos as escadas de mãos dadas e repentinamente apareceu um rapaz que pegou minha mão e solicitou para que fossemos escutar um barulho de tamborim que vinha de longe, imediatamente safei-me do rapaz e disse:
- Amigo, vim de longe participar do casamento da minha irmã e estou acompanhado deste monumento que é minha namorada, você acha que vou perder meu tempo acompanhando sua insignificante pessoa! Falei em tom de brincadeira, zombando e acreditando que aquele rapaz fosse de boa índole.
       Saí de mãos dadas com minha namorada para cumprimentar todos que estavam na festa. Meu grande erro foi não perceber que o rapaz estava embriagado e estava passando por problemas pessoais, mas não havia como adivinhar a não ser pela sua expressão de sofrimento.
       Após os comprimentos, sentamos num degrau da escada da casa da minha mãe e ficamos observando o pessoal trazer um enorme bolo, refrigerantes, salgadinhos e quando me levantei para ver o bolo mais de perto, surgiu aquele rapaz com um punhal enorme dizendo que iria me matar de qualquer jeito e que eu nunca mais iria zombar de mais ninguém.
       Eu estava de um lado da mesa e o rapaz do outro lado e quando a ameaça surgiu imediatamente não pensei em nada, simplesmente virei a mesa em cima do rapaz e todos ficaram apavorados e queriam saber o que estava acontecendo e foi aí que um primo chamado Edson foi pra cima do rapaz e começou a socá-lo com toda sua força e minha irmã Sônia e minha namorada Ivete colocaram-me pra dentro da casa da minha irmã Sônia e trancaram a porta e diziam:
- Se você sair o rapaz te mata! Fica quietinho e deixa rolar a confusão!
    Era grito pra tudo quanto era lado, barulho de cadeiras, mesa, talheres, pratos, copos voando e espatifando no chão e eu ali andando de um lado para outro e louco pra sair pra socar o infeliz ou talvez ser socado e minha irmã e minha namorada pedindo calma, calma.
     Sinceramente foram uns dos momentos mais infeliz de toda minha vida, escutando o pessoal quebrando tudo e não poder sair, afinal trancaram a porta, esconderam a chave e ficaram na janela impedindo minha saída. Era uma agonia total, um estado de impotência, medo e rancor no meu coração. O pessoal brigando por minha causa e eu ali impotente, covarde, humilhado, trancado e inesperadamente pedi para minha irmã abrir a porta, pois ia conversar com o rapaz e ela disse:
- Meu querido irmão, se eu abrir esta porta você irá conversar com o rapaz no inferno! Você não entende? E abriu a porta e quando sai pra ver o que estava acontecendo observei uma cena aniquiladora para minha alma: Minha mãe tinha dado uma “gravata” no pescoço do rapaz e dizia com todas as forças do coração:
-É meu filho, aqui é família, você não vem estragar a festa de casamento da minha filha senão eu te mato agora FDP!
       Tentei acalmar mamãe e ela dizia: Sai pra lá que eu resolvo isto!
Soltou o rapaz e pediu que ele se retirasse da festa e lá foi o rapaz saindo vagarosamente, com vários hematomas e dizendo que voltava pra dar fim na minha vida.
       A festa continuou sobre um clima de total tensão e um tio chamado Evaristo ficou no portão para barrar o rapaz que voltaria de qualquer jeito, afinal era amigo dele e passados algumas horas o tal do rapaz não voltou e ficou uma grande lição: Jamais zombe de ninguém, principalmente de pessoas que não conhecemos, pois podemos acabar com a festa e ir parar no Céu ou talvez para o Inferno! Ainda bem que esta lição aconteceu quando eu tinha apenas dezoito anos e depois disto nunca mais zombei de ninguém! O mais difícil era aguentar minha namorada Ivete na volta pra casa que me olhava com um olhar de desconfiança e dizia: Que belo casamento! Adorei, vai ficar pra história! E ficou em: MINHAS HISTÓRIAS

RUA 25 DE MARÇO


       Para entender a Rua 25 de Março é necessário vivê-la intensamente, é necessário passar um dia inteiro circulando por lojas, entrar na galeria Pajé, subir os doze andares de elevador e descer a pé pelas escadas passando loja por loja, visitar o shopping 25 e observar a multidão comprando e pesquisando preços.
       Em 1.998 comecei a vender cartões de visita na Rua 25 de março e nas primeiras horas da manhã lá estava eu com meu mostruário de cartões, uma lanterna para iluminar os pedidos, pois quando era horário de verão, ainda estava escuro.
       Descia no metrô São Bento, atravessava a praça, benzia-me diante da Igreja São Bento, pegava um pedaçinho da Rua Florêncio da Abreu e descia a ladeira Porto Geral e lá estava eu no meu escritório a céu aberto. 
      Confesso que no primeiro dia fiquei um pouco assustado, mas com o passar do tempo fui acostumando com o pessoal, pessoas maravilhosas, sofridas, que montavam suas barracas logo nas primeiras horas da madrugada e passavam lá na Rua Vinte e Cinco de Março doze e até quinze horas das suas vidas.
      Vendia meus cartões de visita para os camelôs da Feirinha da madrugada e era muito engraçado quando existia o tal do “RAPA” que era o pessoal da Prefeitura que vinha verificar os camelôs que estavam ilegais vendendo seus produtos. Aí era um corre-corre danado e eu acompanhava meus clientes, ajudando-os a carregar pesados plásticos cheio de brinquedinhos, perfumes e outras mercadorias que eram esparramadas pela rua, afinal tinha que vender meus cartões e até avisava quando o rapa estava aproximando e os camelôs agradeciam e faziam os cartões comigo.
      Muitos camelôs da Rua Vinte e Cinco de Março eram pessoas que vinham do nordeste do Brasil e das experiências que tive foi o prazer de nunca ter recebido um “calote” de nenhum comerciante, eram todos honestíssimos, quando não tinham dinheiro suficiente para pagar os cartões, o que era raro, eles emprestavam de um “conterrâneo” e estavam sempre de bom humor, pois tudo era festa, com chuva, com Sol, sempre estavam a sorrir, às vezes de alegria em ter vendido muito outras vezes de tristeza, mas sempre de bom humor com todos e sempre fazendo algumas piadinhas que era para quebrar o gelo e a sisudez de alguns clientes.
       Garanto que muitas vezes é necessário um pouco de sorte, além da nossa capacidade de persuasão e garanto que tive muita sorte, pois uma das minhas primeiras vendas foi feita para o Senhor José, um camelô que vendia alguns colares, brincos e pulseiras de pedras de todas as cores que vinham de Minas Gerais e estava trabalhando na Rua Vinte e Cinco de Março fazia uns trinta anos, então ele conhecia quase todos os comerciantes e assim foi apresentando-me um a um e meus cartões eram comercializados com alguma tranquilidade e lá pelas dez horas da manhã já tinha vendido de dez a quinze mil cartões para os camelôs.
       O tempo foi passando e eu fui conhecendo várias pessoas da Rua Vinte e Cinco de Março e até já era conhecido como o “Rei dos Cartões”.
       A vida começava a melhorar, os negócios iam de vento em popa com as vendas dos cartões e foi quando observei dois garotos vendendo bonequinhos do Pikachu que soltavam bolinhas de sabão, não tive dúvida, larguei a venda dos cartões de visita, comprei mil bonequinhos e fui vendê-los nas praias de Ubatuba até Santos. 
      Mas a saudades ainda existia e tempos depois voltava a Rua Vinte e Cinco de Março como “comprador” e ficava imaginando como era gostoso aquele tempo que saia as quatro e meia de casa, na zona Leste de São Paulo e passava um período entre os maravilhosos camelôs da Rua 25 de Março.
      Parabéns Rua Vinte e Cinco de Março, o maior centro comercial a céu aberto da América Latina e obrigado por permitir que eu passasse um período maravilhoso entre seus clientes e camelôs! Muitas saudades, muitas boas recordações! Obrigado!

23 de mar. de 2012

NÃO LEVE A VIDA TÃO A SÉRIO


            Há uma receita infalível para nossa longevidade e esta receita é sorrir mais do que estamos acostumados, mas bem mais. É muito engraçado quando nós sorrimos dos nossos defeitos, das situações embaraçadas que o cotidiano nos oferece como presente por estar por aqui, vivendo, vivendo e muitas vezes esquecendo-se de ser feliz.
            Nesta semana que passou fiz um teste e deixei-me levar pelo conselho de um querido primo que disse que nossa longevidade está diretamente ligada ao nosso viver bem, deixar a vida fluir com mais naturalidade, abandonando a pressa que é nosso algoz e às vezes leva-nos a situações desagradabilíssimas.
           Os detalhes são muito importantes, quantas vezes deixamos passar um momento único em nossa vida porque estamos com pressa e não podemos perder um segundo da nossa existência, mas não lembramos que aquele momento possa ser o último neste planeta.
           Folhear aquele velho álbum de fotografia da família que faz anos que você não vê, ver como mudamos e sentir a revolução que a internet causou em nossas vidas. Afinal quem vai querer saber de um álbum de fotografia nos dias atuais se temos um álbum digital na internet, temos o “Fliker” e tantos outros recursos a nossa disposição.
          Comprar um bom jornal no domingo de manhã e sentar-se confortavelmente numa mesa e ir folheando página por página, ler o editorial, fatos políticos, regionais, a página de esporte, lazer e ficar procurando por grandes cronistas que outrora escreviam textos maravilhosos e hoje já não encontramos mais.
         Colocar uma confortável cadeira no quintal ou na varanda e ficar contando estrelas com a netinha numa noite estrelada e relembrando várias histórias que nossos antepassados nos contava faz nossa alma inflar de tanta felicidade e acrescenta milhares de pontos no nosso ranking da longevidade.
        Olhar nossos colegas de trabalho e reparar como eles são engraçados, cada um de um jeito diferente, com suas idiossincrasias, defeitos, virtudes, caras feias, caras alegres, apressados, lentos e rir disfarçadamente de situações que não estávamos acostumados a reparar até então é muito divertido!
        Poder encarar o espelho e ver aquela ruga que na semana passada não existia e não ficar desesperado, entrar em depressão, que nada, o melhor é dar uma boa gargalhada e dizer pra nós mesmos: É estou ficando velho, isto é muito bom! 
         Sair bem cedinho de bicicleta com aquele vento maravilhoso de Outono batendo no nosso rosto e pedalar sem destino e pararmos na margem de um maravilhoso rio que silenciosamente convida-nos a uma grande reflexão da seriedade desta vida.
         Sentar-se num banco de um parque, abrir aquele livro que faz tempo que está com o marcador na página vinte e nove e recomeçar a leitura silenciosamente sob o encantador e mavioso canto de pássaros e lê-lo até o fim.
         Encontrar velhos amigos e sentar-se num bar distante da grande metrópole e reviver uma época maravilhosa entre um copo e outro de cerveja faz parte do requinte do não levar a vida tão a sério.
         Ir à igreja que faz tempo que abandonamos e poder orar e agradecer tudo de bom que está acontecendo e pedir proteção para continuarmos  trilhando nosso caminho até a hora do juízo final. A fé é muito importante e uma verdadeira aliada da querida longevidade.

         Como é bom assistir a vida sobre outro ângulo de visão e prestar atenção nas pessoas que estão ao nosso redor, pois muitas vezes é apenas uma questão de pequena sincronia para sermos mais feliz, bem mais feliz do que estamos acostumados.
         Resumindo é muito importante sorrir para a vida e sorrir da vida e aproveitarmos o máximo nossa existência que Deus nos proporcionou, pois se deixarmos pra depois pode ser um pouco tarde e quando percebermos seremos acordados com um torrão de terra sobre o nosso caixão, aí amigo (a) será tarde, muito tarde e ficaremos com cara de perplexidade dizendo: “Caramba como passou rápido e eu nem sorri!” Cabe a nós calar e torcer para que exista uma outra vida para podermos dar o devido valor nesta vida e a ter levado tão a sério. Será que valeu a pena? Portanto, façamos nossa parte: Não vamos levar a vida tão a sério! Sorria!

18 de mar. de 2012

MALAS


            E então quando nascemos a alegria é imensa entre nossos pais, pois lá estamos nós com nossos chorinhos manhosos apreciando papai e mamãe desarrumando a mala para retirar as primeiras roupinhas e tentar colocar na gente, sempre meio atrapalhados pela emoção de apertar aqui ou ajustar acolá. Pronto já estamos banhados e prontos para irmos para os colos dos visitantes. A mala é abandonada num canto qualquer e todos os focos são voltados para nossa carinha linda.
            O tempo vai passando e mamãe resolve nos batizar em Aparecida do Norte e lá estamos nós novamente colocando a mala em cima da cama e delicadamente as roupinhas são colocadas e estamos prontos para partir.
             A vida segue e até entrarmos para o curso primário foram várias às vezes em que presenciei as malas serem feitas e desfeitas por mamãe quando papai ia viajar e confesso que em algumas vezes ficava com o coração aflito e alma pequenininha imaginando que talvez papai não voltasse mais e entre algumas lágrimas escutava o barulho do zíper fechar-se e eu corria para o quarto para não presenciar a partida que era muito doida. Mas sempre papai voltava e quando ele chegava eu fazia questão de arrastar a enorme mala pela casa e desfazê-la para ver se encontrava algum presentinho escondido lá no fundo, bem no fundo da mala e meus olhos brilhavam de alegria quando eu os encontrava e aí corria e dava um abraço bem apertado em papai e abandonava a mala totalmente aberta na sala sob os olhares repreensivos de mamãe.
         Nas Férias escolares mamãe anunciava que eu iria passar alguns dias na casa da minha avó Duvina e do avô João em Salesópolis, interior de São Paulo e novamente fazíamos as malas com muita alegria e partíamos para pegar o trem para Mogi das Cruzes e depois um ônibus que deixava a gente num bairro chamado “Terceira” onde encontrávamos com meu avô que estava nos esperando montado em um belo cavalo e ainda trazia mais dois cavalos para irmos até sua residência na roça.
          Assim que descíamos do ônibus, a poeira fazia-se presente e entre abraços e beijos as malas eram colocadas num “Balaio” que estava sobre as costas do cavalo e seguíamos viagem até a roça e eu ficava encantado com a paisagem, o abrir e fechar de porteiras, lindos Ipês de todas as cores e o cavalo andando vagarosamente e às vezes até parando quando encontrava algum pequeno córrego.
           Nossa visita era aguardada por todo o povoado e assim que chegávamos à casa do meu avô os abraços de carinho e saudades eram indescritíveis.
           Entrávamos e lá na cozinha existia um belo fogão à lenha que constantemente ficava aceso para manter o café sempre quentinho e alguns pedaços de lingüiças e torresmos repousavam num varalzinho sob o fogão à lenha.
            Alguns estalos da lenha queimando, mamãe proseando com minha avó e outras vizinhas que vinham nos recepcionar e o barulho do zíper da mala abrindo-se e lá eu ia correndo pegar um velho short para ir jogar bola num campinho que existia ao lado da casa da minha avó.
            E novamente aquele aperto enorme no coração, era hora de voltar para casa e arrumar as malas e então eu pensava:
“Caramba, acho que não deveria existir malas, pois assim não haveria a necessidade de partir!”, mas depois refletia e chegava à conclusão que seria melhor que as mesmas realmente existissem, pois sem elas não seria possível a gente chegar ao nosso destino.
            Até os dezessete anos de idade nossas malas ficaram repousando num canto qualquer da casa e então decidi morar no interior e novamente solicitei a permissão de mamãe para arrumar as malas e morar no interior e ela um pouco triste concordou e enquanto arrumava as minhas malas via um olhar de apreensão no rosto e algumas lágrimas rolavam no rosto de mamãe e o barulho do zíper fechando-se e logo em seguida um abraço muito apertado em mamãe, no papai e nos meus irmãos e eu saindo com duas enormes malas para o meu destino.
         Até hoje quando arrumo as malas para viajar recordo de vários momentos alegres e tristes, Quantas histórias! Quantas malas arrumadas e desarrumadas aconteceram ao longo desses meus cinqüenta e seis anos! 
         Enquanto existir vida e existirem malas meus sonhos ficam repousando num canto da memória e em breve as mesmas serão feitas e poderei esboçar mais um sorriso de Felicidade sob o encantador barulho do zíper fechando-se e eu escutando:
 Pronto já estou feita, podemos partir?

17 de mar. de 2012

DONA CREUSA - A COMADRE

            Conheci a Dona Creusa, a comadre, como a chamávamos carinhosamente através da minha irmã Silvinha e quis o destino que nós fossemos vizinhos por algum tempo.
         Sempre que nos encontrávamos na casa da minha querida irmã Silvinha eu constantemente contava “causos” engraçados e ela ria fartamente.
         Lembro-me de um fatídico dia, um sábado à tarde em que bebi algumas cervejas a mais que o costume permitia e cheguei em casa cansadíssimo e resolvi fritar algumas coxinhas, coloquei o óleo para esquentar e fui deitar para descansar do dia das vendas das coxinhas pelo bairro da Vila Maria Alta.
         Adormeci e quando acordei sob gritos da comadre pela janela do banheiro e pela vizinha da frente dizendo que minha casa estava pegando fogo.
         Espantadíssimo, peguei a panela e joguei-a no quintal e joguei água em cima o que propagou mais ainda o fogo e existia outra vizinha que gritava freneticamente da sacada que tudo estava pegando fogo e eu ria e dizia que nós estávamos no Inferno!
         Assim que o fogo cessou apareceu minha irmã Silvinha muito brava dizendo que quase tinha matado a comadre de susto e com a fumaça que invadiu toda a casa. Pedi mil desculpas e voltei a dormir muito arrependido com o ocorrido e morrendo de vergonha de olhar para a comadre.
         Passados alguns dias encontrei a comadre na casa da minha irmã e ela disse sorrindo:
- Caramba seu Luiz, quase matou a gente de susto! E eu timidamente coloquei a culpa no cansaço e “puxei” outro assunto.
         Às vezes a comadre pedia para eu capinar o quintal da casa onde ela morava e eu demorava vários finais de semana para capinar alguns metros quadrados e ela ria muito e dizia que eu estava muito cansado e pedia para deixar para outro final de semana e assim que terminava de capinar ela remunerava-me com uma quantia em dinheiro e eu ficava muito feliz.
        O último encontro que tivemos foi quando fui ao asilo comprar algumas calças e camisas e ela ajudou-me a escolher as roupas e disse-me que estava até feliz morando no asilo.
       Realmente a comadre era uma pessoa muito querida por todos, especialmente pela minha irmã Silvinha e tenho certeza que a esta hora ela deve estar participando de uma grande festa no Céu e deixou a gente muito triste com a sua partida. .....Mas a vida é assim mesmo, chega um determinado momento a gente tem que fazer a malinha e partir. Obrigado Dona Creusa por ter participado de momentos alegres e às vezes tristes entre nós nesta vidinha fugaz e pedimos a sua proteção onde quer que a senhora esteja.

PACIÊNCIA

       Remexendo no almoxarifado da minha memória que ainda não está informatizado e é composto de várias fichas amareladas pelo tempo a procura das sete virtudes, encontro uma ficha na letra “P” escrito “PACIÊNCIA”, retiro-a cuidadosamente, assopro a poeira e coloco-me a pensar pacientemente no novo texto chamado: PACIÊNCIA.
             Algumas anotações na parte superior da ficha questiona-me a existência da minha paciência e o que eu ando fazendo para mantê-la ao meu lado ou se eu já a perdi ha muito tempo. Novamente entro em grande reflexão e tenho um olhar global entre todas as pessoas e observo que muitas pessoas nunca tiveram Paciência e outras já perderam a mesma faz tempo.
             É muito comum notar a ausência da Paciência em alguns Setores Públicos, filas quilométricas de grandes supermercados, no trânsito caótico das grandes metrópoles, no nosso trabalho, nos nossos estudos e até na nossa convivência familiar.
             O que fazer para mantê-la sempre pertinho da gente assim como um filho recém nascido? Fácil, muito fácil: Apenas devemos usar a Empatia quando tratarmos com pessoas de difícil relacionamento. Mas e em relação ao trânsito, a fila do banco, nos supermercados e nos setores Públicos? Bom, aí é necessário passar a mão na cabeça da querida Paciência, sentar-se num banco de um sossegado jardim e ter uma boa conversa de entendimento e seria mais ou menos assim:
- Querida, jamais quero perde-la, mas é necessário que você ajude-me e fique sentadinha ao meu lado, pois vamos “pegar” a marginal Tietê neste horário, horário de grande movimentação de carros, entendeu?
- Ah sim, entendi, jamais quero afastar-me de você!
- Então fique sentadinha aí ao meu lado enquanto eu dirijo.
E assim é dada a partida no carro e alguns quilômetros são percorridos na marginal e quando olho para o banco do passageiro não vejo mais ninguém, olho pra trás e vejo que a Paciência abandonou-me na primeira curva e lá estou eu sem a Paciência.
             Ser paciente é ser caridoso, é entender que mesmo a Paciência não teve paciência com tal situação e no primeiro acesso a direita, voltar e encontrá-la andando calmamente, parar o carro e convidá-la a entrar e seguir viagem entre milhares de buzinas, fechadas, barulho de motores, cheiro de combustível.
            Quando chegamos em casa, depois de várias horas parado no infernal trânsito da grande metrópole, convidá-la gentilmente para entrar e ela diz:
- Nossa, agora você me perde de vez!
Alguns sorrisos são ouvidos entre nós, um beijo na patroa e outros nas crianças e o ar de felicidade no semblante da Paciência sentadinha do sofá parecendo que não irá nos abandonar naquele momento.
Ufa, estamos em casa para descansar e quando deitamos e vamos fazer nossas orações para agradecer a Paciência ela aparece surpreendentemente ao nosso lado e diz:
- Obrigada! Seja paciente, senão você me perde! Amanhã estaremos juntos novamente! Boa noite!
     As luzes apagam-se e os sonhos são maravilhosos.

14 de mar. de 2012

MEU ANJO DA GUARDA NA PENSÃO

           Pensão é o único lugar do mundo onde você entra e seu anjo da guarda fica sentado na calçada. Então você convida-o para entrar e ele diz:
- Você tá doido entrar neste lugar! Entra você e se por acaso você estiver em perigo é só dar um grito que eu entro correndo pra te ajudar! Afinal sou o seu anjo da guarda e minha missão é ajudá-lo, a protegê-lo, mas desculpe-me amigão desta vez você vai sozinho, estou com o saco cheio de você se meter em várias enrascadas e sobrar pra mim. Chega!
           E então lá vou eu com algumas roupas, com o coração apertado e logo sou conduzido ao meu quarto que o administrador apresenta várias beliches e apenas uma cama e diz:
- Olha Sr.Luiz, pode ficar com esta cama, pois a mesma está vaga e aqui temos um armarinho para colocar suas roupas, lá fora tem uma cozinha e se o Senhor quiser fazer algum miojo fique bem à vontade. Ah, esqueci, temos dois banheiros. Um para o pessoal daqui de baixo e outro lá em cima para o pessoal dos quartos de cima.  Entendido? Ah, ia esquecendo-me: É terminantemente proibido entrar mulher, a não ser aquelas que moram aqui. Boa noite!
            Fechou violentamente a porta e saiu e eu fiquei lá largado entre alguns pensionistas que estavam dormindo e roncavam muito. Sentei-me na cama e fiquei olhando minha sacolinha com algumas roupas, um pequeno livro de poesia e deu uma vontade muito grande de gritar para meu anjo da guarda, mas fui forte e abri vagarosamente o armarinho e comecei a dispor minhas peças de roupas silenciosamente, pois era necessário não fazer barulho, pois se acordasse os pensionistas não saberia qual seria a reação dos mesmos e aí sim teria que chamar meu anjo da guarda que ainda estava sentado na calçada. Ingrato, não iria mais rezar para ele, estávamos com nossas relações de amizade interrompidas!
          Separei uma toalha carcomida, um pequeno pedaço de sabonete e fui tomar um banho antes de deitar-me, entrei olhando para todos os lugares e abri o chuveiro e comecei a banhar-me sob grande reflexão e após cinco minutos e quando eu estava totalmente cheio de sabão pelo  corpo, inesperadamente a água foi interrompida, não havia mais água no chuveiro. Novamente tive vontade de gritar para meu anjo da guarda, mas não podia dar o braço a torcer, então me enrolei na toalha e fui falar com o Administrador que a água havia acabado e ele disse com um sorriso amarelo:
- Olha amigo, a água não acabou não, esqueci de dizer pra você que todos os pensionistas têm apenas cinco minutos para tomar um banho e apenas um e se não conseguir tomar o banho neste tempo a mesma é interrompida através de um “timer” que interrompe o banho automaticamente! E eu com uma cara de espantado balancei a cabeça humildemente e fui para o meu quarto joguei-me na cama com uma vontade muito grande de chorar.
            Quando já estava quase dormindo na cama, acendeu a luz do quarto e apareceu um homem magro com uma cara de zangado e parecia que estava um pouco embriagado e disse:
- Esta cama é minha, o que você está fazendo aí? E eu levantei-me espantado tentei explicar a ele que tinha sido o Administrador que tinha pedido para eu ficar com aquela cama. Ele saiu nervosamente e foi falar com o administrador e eu fiquei sentado na cama aguardando o desenrolar do acontecimento com uma cara de muito medo. Imediatamente chegou o administrador e pediu gentilmente para eu mudar de lugar e ir para um beliche, pois aquele senhor estava ausente da pensão fazia umas três semanas e ele pensou que o mesmo tinha ido embora, mas voltou.
          Lentamente fui para o beliche e deitei-me com um certo receio daquele “caboclo” e não tive dúvida: Chamei meu anjo da guarda que imediatamente apareceu com um belo sorriso no rosto e disse:
- Eu sabia que você não ficaria sem minha proteção! O que está acontecendo? E eu disse:
- Pô anjo, tá acontecendo coisas incríveis, dá uma forcinha, fica comigo esta noite até passar este medo e amanhã se você quiser pode ir embora. Então meu anjo da guarda aproximou-se, deu um forte abraço em mim e disse:
- Pode dormir Luiz, que fico aqui ao lado do seu beliche protegendo você, não tenha medo!
E assim adormeci sob a proteção do meu querido anjo da guarda que nunca mais me abandonou durante alguns meses que fiquei naquela pensão e até hoje me acompanha, mas sempre de olho nas minhas atitudes e diante de qualquer deslize ele vai sentar-se na calçada novamente. Estamos nos entendendo perfeitamente depois desta lição da pensão. 

12 de mar. de 2012

O LANCHE

          E lá no curso primário na década de 60, a escola não fornecia absolutamente nada aos seus alunos, a não ser um estudo de qualidade com professores que adoravam lecionar e eram muitos rígidos, a palmatória já tinha sido abolida, mas lembro-me de uma professora que faço questão de não lembrar o nome, pois ela tinha um enorme anel que devia ser da formatura e era este anel que “cantava” direto na nossa cabeça quando nós cometíamos algumas travessuras. Falava um pouquinho mais alto e toma “anelsada” e de tanto bater na minha cabeça com aquele “maldito” anel consegui terminar meu curso primário com vários caroços na cabeça, mas com louvor e participando de um grupo de teatro amador da escola.
         Mas de todas as lembranças que guardo até hoje era da hora do recreio, quando escutávamos o sinal anunciando o recreio, levantávamos silenciosamente, sempre de olho no imponente anel da Mestra e saíamos muito silenciosamente com nossas lancheiras.
         Descia as escadas com a cabeça ardendo de tanto levar anelsada com a lancheira colada no corpo e sentava-me num
enorme banco do pátio e entre alguns olhares de amiguinhos que adoravam meu lanche e queriam trocar alguns pedaços do meu delicioso lanche.
         A simplicidade de colocar alguns ovos, misturar com alguns tomates e colocar no pão fascinava-me e estava preparado meu delicioso lanche que eu tanto adorava.
          Foram quatro anos do curso primário e acredito que devo ter levado pelo menos uns três dias da semana pão com ovo e tomate e um suco de laranja tipo K-Suco.
          Quando mamãe estava preparando meu lanche sentia um pouco de vergonha em levar aquele lanchinho, pois meus amiguinhos levavam pão de forma, queijo, presunto e eu com aquele lanchinho, mas o mesmo era colocado na lancheira e lá ia eu para escola, afinal era o que tínhamos.
           Hoje, passados cinqüenta anos, de vez em quando tento fazer este mesmo lanche pra minha netinha e ela diz:
- Nossa vovô, que delícia!
E eu morrendo de vergonha pergunto:
- Você acha gostoso?
E ela diz: - É melhor que o lanche da Padaria!
Tento explicar a ela que foi quando eu estudava no curso primário e sempre ela pede para eu fazer um lanchinho igual pra levar pra escolinha, mas não faço e digo a ela que na escola tem lanche muito melhor e ela diz:
- Não tem vovô, este lanche é o melhor lanche do Mundo!
Emociono-me e vamos para a escola com o delicioso gostinho do lanche na boca.
            O tempo passou, a receita ficou: Pão com ovo e tomate! Delícia! Bela recordação dos tempos que não voltam mais, mas ainda temos ovos, tomates e pão, então vamos fazer um lanchinho? Coisa de pobre? Imagina, são recordações de momentos inesquecíveis! rsrsrsrs

MÓVEIS VELHOS


          E num determinado dia não há escapatória, há que jogar aquele móvel velho no lixo, às vezes dá uma dorzinha no coração, não pelo valor financeiro, mas por aquele sentimento de aquele móvel ter tanto ajudado à gente a vida toda e de repente somos obrigados a abandonar nosso velho móvel.
         Exatamente agora estou passando por uma experiência de ter que jogar um guarda-roupa de madeira maciça que comprei em 1.987 e vou dizer uma coisa, é muito triste dispensar um guarda- roupa que tanto guardou minhas belas camisas e calças bem passadas pela patroa, roupas das crianças e da patroa, mas quis assim pela ordem do cupim que o mesmo fosse dispensado.
       As lembranças de uma bela época ecoam pela minha mente e jamais pensei que esta árdua tarefa sobraria para minha pessoa.
       Lá está abandonado no portão o guarda-roupa aguardando o “Cata-Treco” vir buscá-lo para tomar um destino ignorado e totalmente desmanchado sem poder ter uma despedida de honra e se ele pudesse falar o diálogo seria mais ou menos assim:
- Pô Luiz, que falta de consideração!
- Mas amigo, sinto muito em ter que jogá-lo fora, mas você está velhinho e cheio de cupim!
- Ah, legal então quer dizer que quando você ficar velhinho, e olha que não falta muito, iremos deixar você no portão para o “Cata-Treco”?
- Mas eu sou humano e você é apenas madeira!
- Qual a diferença, de onde viemos?
- Mas quanto questionamento, chega de conversa e fica quietinho aqui que logo o “Bola Sete! Virá pegar você, entendeu?
        Abandonei o velho guarda-roupa na porta e sai correndo para dentro de casa e sentei-me preocupadamente no sofá tentando achar uma resposta para o mesmo sob uma forte chuva que caia lá fora.
        O barulho da buzina de um caminhão, o mesmo sendo carregado por homens fortes, a chuva caindo e eu sempre pensando como é difícil ser abandonado na velhice, mesmo que seja um guarda-roupa.
- Obrigado guarda-roupa! Desculpe-me ter que jogá-lo fora, pois se faz mister desocupar espaço para que as crianças brinquem! Você entende, não é?
- Ah, claro, se é para dar espaço para uma criança brincar eu me arranjo em qualquer lugar! Está desculpado, a gente se vê num outro lugar, talvez num asilo! rsrsrsrs

11 de mar. de 2012

AGRADECIMENTO

           Tudo começou como uma brincadeira e como gosto muito de contar algumas histórias, certo dia minha sobrinha Samantha disse: Pô tio, porque que o senhor não cria um blog e começa a contar estas histórias maravilhosas que o senhor conta pra nós.
          Naquele momento não foi possível montar o blog, pois não possuía um microcomputador e ficava imaginando eu criando um blog e ter que ir até a Lan-House para postar minhas crônicas, seria muito hilário, então resolvi postergar até o dia que conseguisse comprar um Micro.
         Trabalhava de porteiro num Parque Público na cidade onde moro e até que surgiu a oportunidade de comprar um micro usado da querida colega de trabalho Célia que vendeu o micro para eu pagar em três vezes. Que alegria! Só que o microcomputador sem a Internet é a mesma coisa como casamento sem lua de mel. E assim lá ficava o micro abandonado numa mesinha sem nenhuma utilidade, até que conseguimos instalar a internet e a partir deste dia nossa vida teve uma grande transformação.
        Cheguei do serviço cansadíssimo e resolvi montar o tal do blog e “fuçando” daqui, “fuçando” Dalí consegui montar o blog e imediatamente postei as primeiras crônicas que já estavam escritas e a partir deste dia postava algumas crônicas sem grandes pretensões que alguém tivesse a coragem de lê-las, apenas como um arquivo para que posteriormente após minha morte, alguém pudesse ter alguma recordação deste pobre moribundo.
        Mas quis o destino que algumas pessoas começaram a ler as tais crônicas e comecei a gostar de saber que existia alguém que se atravesse a perder preciosos segundos da vida em ler as minhas pífias crônicas.
       Hoje, após alguns meses, consegui postar umas sessenta crônicas, muitas delas falando do meu cotidiano de agora e de tempos atrás e sinceramente não tenho muito definido quem são meus leitores, apenas sei através de alguns comentários que chegam esporadicamente que tenho alguns fiéis leitores que são meus irmãos e alguns parentes e outros que talvez leiam por ler.
       Mas é muito gratificante saber que alguém em qualquer parte deste planeta de vez em quando da uma “espiada” naquilo que vivemos e estamos vivendo.
       Gostaria de agradecer a todos os “Meus Leitores” de coração os acessos ao meu blog que neste mês ultrapassou os cinco mil acessos, pouco, muito pouco se compararmos com outros blogs profissionais, mas para as minhas pretensões é muito, pois sou apenas um “escrevinhador” da periferia e jamais quero lucrar com minhas pífias Historinhas, apenas que todos vocês que lêem continuem a ler, pois minha intenção é em breve editar um livro e distribuir a todos que lêem e continuam a ler o meu blog.
         Obrigado leitor do meu blog lucasicom.blogspot.com, somente vocês para proporcionar grande     prazer e alavancar ainda mais minha vontade de contar a cada dia que passa mais “causos” deste andante do Mundo. Um beijo enorme no coração de todos! Muito Obrigado!

6 de mar. de 2012

FESTA NO CÉU


        A temperatura estava amena, eram várias pessoas esperando a vez de ser recepcionado pelo porteiro que tinha um semblante calmo e sereno e todos estavam felizes por estarem naquele lugar. A cordialidade entre as pessoas que estavam na fila fazia-se presente. Não havia pressa e todos falavam baixinho para não atrapalhar o porteiro que parecia estar um pouco preocupado, pois naquele dia chegaram várias pessoas e a comissão de recepção estava aguardando feliz os novos moradores daquele local do lado de dentro sentados num banco ao redor de um lindo gramado com flores e pássaros e após uma longa espera foi a vez daquele senhor com um sorriso angelical no rosto, aproximou-se e cordialmente disse:
- Boa tarde, meu nome é Agostinho Raimundo da Silva. O porteiro sorriu e disse:
- Olá Sr.Agostinho, tudo bem com o senhor? Estávamos aguardando a sua chegada!
- Tudo bem graças ao senhor, sabe como é né mandaram-me pra cá, mas não explicaram direito qual será minha função neste local e gostaria de algumas explicações. E o porteiro disse:
- Pois não senhor Agostinho, o que gostaria de saber?
- Em primeiro lugar gostaria de saber se por aqui tem algum radinho de pilha para eu escutar meus programas durante as madrugadas!
- Mas senhor Agostinho, O senhor está no Céu e por aqui não temos nenhum radinho, isto é lá na terra, por aqui estamos todos imbuídos em aguardar pessoas boas e generosas assim como o senhor!
- Existe um bom caminhão para eu dirigir?
- Oh, claro que não, aqui todos andamos a pé!
- Nossa que bom, eu adoro andar a pé!
- Mas e o pessoal que ficou lá na terra, como farei para vê-los?
- Não se desespere tudo tem seu tempo e em breve após algumas reuniões com seus acompanhantes que estão aguardando pacientemente sentados naquele banquinho, o senhor receberá a resposta desta pergunta. Está vendo?
E quando o Sr. Agostinho ergueu a cabeça para observar quem o aguardava, recebeu alguns “tchauzinhos! de duas pessoas que parecia familiar. Abaixou a cabeça e os olhos lacrimejaram. E então o porteiro pediu gentilmente para ele entrar e encontrar com aquelas duas pessoas que mostraria tudo o que deveria ser feito.
        O Sr.Agostinho entrou em passos lentos e aproximou-se das pessoas que o aguardavam e ficou surpreso quando alegremente levantou-se um senhor calvo e caminhou na sua direção e disse:
- Agostinho! Prazer em revê-lo irmão! Quanto tempo! E dá um abraço carinhoso no seu irmão e em seguida chega uma senhora elegante e também o cumprimenta e diz: Poxa vida, que alegria em recebê-lo por aqui! José da Silva e Thereza Miranda da Silva estavam pacientemente aguardando a sua chegada.
- Como está o pessoal lá embaixo? Quero noticias! E o Sr.Agostinho diz:
- Ah, lá embaixo está tudo bem, agradeço de coração a todos por preocuparem-se comigo, mas sabe quando chega à hora Não há jeito!
- Mas não se preocupe irmão, aqui é bem melhor, afinal o clima é maravilhoso as pessoas são selecionadas a dedo pelo querido porteiro e fique muito feliz por estar por aqui. Em breve encontraremos pessoas que você não via há anos, lembra-se do Ermelindo? E o Sr.Agostinho disse:
- Claro que lembro, onde ele está?
- Logo ali adiante e logo mais conduziremos você para encontrar com seu pai Raimundo e sua mãe Maria que os aguardam ansiosamente.
- Nossa que bom, afinal encontrarei com pessoas que não via fazia anos!
- Você sabia que o Céu hoje está em festa para recepcioná-lo?
- Mas como assim?
- Ora, quando uma pessoa muito querida vem pra cá todos nós fazemos uma festa muito grande, assim aconteceu comigo e com a Thereza.
- Mas como é esta festa, têm bolo, refrigerante, salgados?
- Não, imagine! É uma festa de recepção onde todos os seus conhecidos comparecem para felicitá-lo e saber como estão todos na Terra. Todos ficam sentados num enorme banco conversando baixinho e sempre é muito gratificante receber pessoas assim como você.
- Mas vamos andando que já começaram a colocar os primeiros bancos e você estará lá na frente respondendo todas as perguntas que os demais farão.
- Quais serão as perguntas? Perguntou o Sr.Agostinho.
- Mas que curiosidade, vamos aguardar porque é surpresa, mas fique tranqüilo que você ficará muito feliz!
E assim, sentaram-se vagarosamente em enormes bancos e ficaram calados ouvindo o cantar maravilhoso de alguns pássaros que pousaram numa pequena árvore ao lado do banco.
Abaixaram a cabeça e começaram a orar pelas pessoas que ficaram na Terra, enquanto aguardavam as outras pessoas conhecidas chegarem para começar a Festa no Céu para recepcionar o querido Senhor Agostinho Raimundo da Silva.

2 de mar. de 2012

MARMITA

          Hoje estava mudando os canais na televisão para encontrar um desenho animado para minha netinha assistir quando repentinamente deparei com um programa matutino destinado as donas do lar que estava ensinando a preparar marmitas, deixei por algum instante no programa e deu uma vontade imensa de escrever uma simples crônica sobre a bela época que eu era um marmiteiro, aliás, fui marmiteiro quase a vida toda, devido a minha posição social um pouquinho desprestigiada, mas isto não vem ao caso e passamos a descrever a história:
              As primeiras marmitas que eu levei para o serviço eu tinha dezessete anos de idade e era sempre mamãe que preparava minhas marmitas. Minha primeira marmita era de alumínio, comprada na lojinha da Dona Matilde e nunca me esqueço do preparo da minha primeira marmita. Mamãe levantava-se bem cedinho e ia cozinhar o arroz para que eu levasse a comida fresquinha. Colocava a marmita sobre o fogão e em seguida começava a fazê-la, primeiro colocava o feijão e logo após o arroz e em seguida um delicioso e cheiroso bife, pronto a marmita já estava pronta. Colocava-a cuidadosamente numa pequena mochila e seguia para o trabalho.
               A marmita ficava repousando dentro de uma velha geladeira e quando era meio dia ia esquentá-la, então não existia o tal do micro-ondas e a mesma era esquentada num tal de banho-maria.
               E então era só começar a comer e confesso que no primeiro dia fiquei um pouco constrangido, mas com o passar dos tempos assumi ser um marmiteiro Sênior e sabia todas as nuances de como preparar, carregar, esquentar e comer as marmitas.
              Lembro-me embarcando nos lotadíssimos ônibus na Cidade A.E. Carvalho para ir trabalhar no centro da cidade e sempre lá estava eu com minha inseparável marmita de alumínio e quantas vezes ficava muito envergonhado quando alguma linda menina pedia se podia segurar a tal marmita e eu sempre agradecia e dizia que não era necessário pois ia descer logo, pois morria de vergonha da menina colocar a minha marmita no  colo e as lindas pernas da menina ficassem toda gelada, pois a marmita estava bem gelada por passar a noite dentro na nossa geladeira. Imagine que num determinado dia dei minha marmita para uma menina conhecida segurar e ela depositou a mesma nas suas pernas e teve a indelicadeza de perguntar o que tinha naquele embrulho e eu quase morri de vergonha diante de risadinhas abafadas e cara de desdém do pessoal que estava ao nosso redor, a partir deste dia nunca mais deixei ninguém carregar minha gostosa e gelada marmita e mantinha-a sempre perto do meu corpo com a devida prudência em não esbarrar em ninguém.
              Certa época trabalhava numa Faculdade e levava marmita e quase todos os dias e tinha uns “amigos” que eram muito “sacanas” e adoravam uma patifaria e brincadeiras que às vezes irritavam e foi num determinado dia que chegando ao meu serviço deixei a marmita numa geladeira e depois de esquentada depositei-a na mesa e abri a mesma e levei um grande susto: Não havia a tal da mistura, tinham roubado a mesma. Imediatamente tampei a mesma e fui reclamar com nosso gerente administrativo sobre o sumiço da minha mistura e ele envolvido em grandes tarefas da Faculdade pediu para eu aguardar pacientemente na sala de espera que iria atender-me. Passados eternos minutos e meu estômago já estava roncando tomei uma decisão radical: Fui a geladeira, abri-a e lá estavam quatro marmitas repousando na geladeira a espera de seus donos. Abri as quatro marmitas, retirei as misturas de todas e coloquei na minha marmita e comi prazerosamente sabendo perfeitamente que todos os funcionários marmiteiros seriam chamados para conversar com nosso gerente e foi muito engraçado ver as caras dos funcionários reunidos e levando uma tremenda bronca do gerente pelo sumiço das misturas. A partir deste dia nunca mais sumiu nenhuma mistura e as marmitas ficavam em paz aguardando seus donos.
             Lembro de vários episódios envolvendo meu amor por marmitas e a grande gozação era quando eu levava ovo na marmita e sempre um engraçadinho dizia que eu adorava “zoiudo” e tinha uma criação de galinhas em casa, inicialmente ficava um pouco irritado, mas com o passar o tempo levava tudo na esportiva e entrava no clima de “tiração de sarro” e tudo seguia bem.
              Hoje são raras as pessoas que ainda levam as tradicionais marmitas de alumínio, pois existem os “top-ware” da vida e depois que inventaram o tal ticket alimentação a nossa querida marmita tende a cair no esquecimento de todos, mas ainda continuo levando minhas marmitas preparadas com muito esmero pela minha filha. E ainda falam que levar marmita é coisa de pobre, pobre nada o importante é mantermos nossos “buchos” cheios e que se dane os ricos ou aqueles que nunca levaram uma marmita gelada para o serviço, pois não terão uma história engraçada como esta! Bela recordação! Marmita!

1 de mar. de 2012

O PRESENTE

              Todas as tardes quando eu chegava do estafante serviço  tinha um hábito de desintoxicar a mente. Após um demorado banho, vestia um velho calção de banho e ficava várias horas na varanda lendo um clássico da literatura, bebericando um bom copo vinho gelado e  apreciando a bela paisagem da periferia.   Eu morava num sobrado que ficava na parte mais alta do bairro e da minha varanda tinha uma visão panorâmica espetacular.  O clima era perfeito, uma confortável cadeira de descanso colocada estrategicamente para observar todos os ângulos e cantos da bela paisagem de várias casas sem o reboco, pois o bairro ainda estava sendo formado e também tinha uma visão maravilhosa do Metrô. Uma mesinha de centro, algumas samambaias penduradas e um canarinho que cantava todo o tempo.
           Foi desta maravilhosa varanda que comecei a esboçar minhas primeiras pífias crônicas. Escrevia as crônicas num caderno e após escritas as mesmas eram guardas a sete chaves para ninguém lê-las, pois tinha receio que observassem meus erros de português que naquela época eram muitos.
            Nossa vizinha era uma senhora muito pobrezinha e morava numa casa muito pequena e criava uma criancinha de três anos de idade  e do alto da minha varanda observava todos os movimentos da pequena criança correndo pra cá, correndo pra lá, sempre sozinha, às vezes parava e começava fazer pequenos buracos no chão de terra e repentinamente levantava-se e saía correndo atrás de uma galinha e era muito divertido o diálogo com a galinha que ela carinhosamente chamava de có-có.
             Minha vida estava muito tranqüila, tinha um bom emprego, uma ótima casa pra morar, boa comida, uma maravilhosa família e aquela confortável varanda para todos os meus devaneios  mentais vespertinos.
             Várias vezes saia da varanda com um peso enorme no coração e ficava imaginando: Enquanto estamos vivendo maravilhosamente bem existia aquela garotinha que talvez estivesse passando fome e resolvi falar com minha esposa para pesquisar como vivia aquela garotinha, quem era e se a mesma estava precisando de alguma “coisa” e prontifiquei-me a ajudar naquilo que fosse necessário.
             No outro dia quando estava na varanda, a porta abriu-se vagarosamente e minha esposa apareceu segurando a mão da menininha e apresentou-me: Aqui está sua filha Luiz! Levantei-me um pouco assustado, caminhei vagarosamente até a linda criança e  dei um beijinho na criança e comecei a conversar com a mesma até que minha esposa disse:
- Esta é a Amanda, o pai está pelo mundo e a mãe mora muito distante daqui e ela é criada pela avó com todas as dificuldades  de uma pequena renda deixada pelo marido recentemente falecido.
         Amanda era linda, franzina, cabelos todo cacheadinho moreninha e uns olhos alegres, cheio de esperança que a vida um dia sorriria para ela.
Meus olhos lacrimejaram, corri até o armário e peguei uma caixa de chocolates e dei a ela que ficou muito feliz. A partir daquele dia quase todos os dias via Amanda e meu carinho pela aquela menininha foi crescendo imensamente, pois além de ser muito bonitinha, era educada e chamava-me carinhosamente de Pai.
          Começamos a ajudar Amanda, comprando roupas, enviando cestas básicas para sua avó, lindas sandálias e passados alguns meses Amanda já fazia parte da nossa família e ficava várias horas correndo pela sala, cozinha e brincando de vídeo-game e às vezes colocava a cabecinha na porta da varanda e dizia carinhosamente: Oooooi Papai! Passava a mão na sua cabeça e ela saia correndo dizendo para minha esposa que eu queria pegá-la por ter atrapalhado minhas leituras.
           Às vezes brincava com ela dizendo se ela não parasse de correr pela casa toda iria levá-la até o metrô Sé e então rodaria a mesma inúmeras vezes e largaria ela lá. Ela sorria angelicalmente e dizia: Mas..papai vamos agora! Vai ser muito legal a gente brincar de roda-roda no metrô e então ela sorria e saia correndo novamente pela casa toda e ia contar pra esposa que iríamos brincar de roda-roda no metrô Sé! Ríamos muito daquele momento.
           Após um farto jantar perguntei a minha patroa se não seria possível adotar aquela menininha e ela vir morar conosco e ela ficou de pensar e falar com a avó para ver se era possível.
           O mês de dezembro começara e a lista de presentes natalinos já estava sendo montada e nunca nos esquecíamos da querida Amanda. Após um maravilhoso natal repleto de presentes e uma mesa divina com comidas de todas as espécies aproximava-se meu aniversário que era dia 27 de dezembro e todos estavam programando dar-me um maravilho presente e então a ansiedade fazia-se presente constantemente.
           No dia do meu aniversário minha esposa ligou-me e pediu para eu ir direto pra casa, pois iríamos sair para comemorar meu aniversário e assim foi feito.
           Cheguei em casa e fiquei um pouco assustado, pois todas as luzes  estavam apagadas e quando abri a porta da sala, acendeu-se a luz e quase todos os meus amigos começaram a cantar Parabéns para mim. Um lindo bolo disposto numa elegante mesa da sala, várias taças de cristal dispostas sobre a mesa e um vinho importado completava o maravilhoso cenário. Foi quando minha esposa pediu para vendar meus olhos que ela ia trazer meu presente e vendou meus olhos e logo em seguida ela pediu para eu abrir e ver o lindo presente que eu tinha ganhado: Abri os olhos e não vi absolutamente nada e a esposa falou pra mim, olha pra baixo e veja seu lindo presente! Quando avistei Amanda com os bracinhos esticados querendo um abraço e dizendo: Sou eu seu presente Papai! Feliz Aniversário! Quase tive um enfarto de tanta emoção, abracei Amanda e dei um carinhoso beijo no seu rostinho. Tínhamos conseguido que Amanda viesse morar conosco, aquele era meu presente: Uma filha! Foi criada com muito carinho enquanto esteve conosco e passados algum tempo voltou para casa da avó. Presente maravilhoso, devidamente guardado a sete chaves na minha memória e agora todos sabemos.