7 de dez. de 2017

ANJOS DO BEM X "ANJOS" DO MAL



          







             E lá estava eu vendendo minhas empadas de bacalhau pelas ruas da Vila Maria Baixa, zona norte da cidade de São Paulo embaixo de um escaldante Sol de quarenta graus centigrados.
         As vendas estavam acontecendo de uma maneira..digamos fácil, devido a proximidade da época natalina e a maioria das pessoas providas de uma “graninha” a mais pela aquisição do tão almejado décimo terceiro salário e outros benefícios do sofrido cidadão assalariado que tanto espera este momento.
         Entra em loja, sai de loja oferecendo as empadas e esvaziando minha “malinha” de “nãos” e entre um sim e outro abro a caixa de isopor e noto que sobraram apenas duas unidades das empadas.
         As dores no corpo faziam-se presentes naquele momento e procurei algum lugar para sentar e avistei um barzinho repleto de jovens animados e entre várias gargalhadas e apenas uma mesa com algumas cadeiras vazias sentei-me pesadamente para recompor minhas energias e seguir em frente e imediatamente fui abordado pelo gentil garçom:
- Pois não senhor deseja alguma “coisa”?
Levantei a cabeça e disse que não queria absolutamente nada e estava sentado ali por alguns minutos somente para recuperar o fôlego e as energias para seguir em frente com as vendas das minhas empadas.
         O garçom sorriu e disse:
- Fique bem a vontade senhor até chegar o próximo cliente.
         Abri a carteira e contei o dinheiro ganho até aquele momento e vi que existia uma quantia suficiente para degustar uma boa porção de qualquer petisco e beber uma boa cerveja.
         A mente viajava entre um “sim” e um “não” e imediatamente vi me rodeado por uma legião de “anjos” do mal sussurrando entre eles e apenas um aproximou da mesa e disse:
- Pois é querido, vai pedir a cerveja estupidamente gelada e uma porção ou vai esperar o primeiro ataque cardíaco ou Aneurisma Vascular Cerebral te pegar e te jogar em uma cama?
Olhei do outro lado da praça com a boca salivando e avistei outra legião de anjos do bem acenando e vindo em minha direção e posicionaram a minha direita apenas escutando o monólogo entre os “anjos” do mal e um anjo do bem aproximou e disse sussurrando no meu ouvido:
- Sabe Luiz, não bebe não, levanta daí e vai até aquela doceria do outro lado da avenida e compra o doce que você mais gosta, pega um ônibus e vai embora.
Várias gargalhadas ouvi dos “anjos” do mal, zombando e pulando gritavam: Doces! Não acreditamos que vai trocar várias cervejas por apenas um insignificante doce. Deixa de dar ouvidos para estes anjos corretos e alimente-se com estes momentos de prazer que estamos te propiciando.
O suor descia abundantemente pelo rosto e os jovens sorriam alegremente entre uma tulipa de cerveja gelada e outra, a visão da doceria parecia distante e entre várias hesitações ergui a mão acenando para o garçom para que viesse até minha mesa.
Toda a legião dos anjos do bem posicionaram ao redor da minha mesa fazendo uma barreira para que o garçom não aproximasse da minha mesa.
         Olhei ao redor e ouvi de um anjo do bem:
- Então quer dizer que você quer dormir na praça novamente, quer continuar a beber vários Corotes e que todos o humilhem, te pisem, te chamem de “Bêbado” dos infernos e oprimem sua alma, sua mente?
Outro “anjo” do mal interceptou dizendo:
- Manda este anjo fdp dormir no inferno, se te quer tão bem porque não o protegeu quando você estava naquele “aperreio”? Manda ver, pede logo uma Maria mole e várias cervejas para poder sentir e gozar este maravilhoso momento.
Senti minha cabeça doer e ao longe fui chamado para vender uma empada, levantei-me e fui atender uma velha senhora que comprou as duas “derradeiras” empadas e após pagar seguimos para a doceria comprar alguns doces.
         Atravessei a rua e ouvi os “anjos” do mal dizendo:
- Desta vez perdemos...mas a gente pega ele em breve.
Entramos na doceria, comprei vários doces e peguei um ônibus com destino a minha casa e ainda sobrou tempo para ver a alegria dos anjos do bem sorrindo e zombando os “anjos” do mal.
         O ônibus fechou a porta e olhei pela janela a legião dos anjos do bem acenando para mim e desejando um feliz regresso.



27 de mai. de 2017

O vendedor de empadas



       Desde que chegara da ilha as portas e os horizontes pareciam muito distantes e os primeiros trocados sumiram dos bolsos da surrada calça jeans. Após longa pesquisa em mal dormidas noites aquele senhor grisalho,  resolveu fazer e vender empadas pelo comércio local da pacata cidade de Jacareí.
       As primeiras empadas não saíram muito boas devido à falta de experiência e entre um tropeção e outro na massa começaram a aparecer os primeiros clientes que até solicitavam algumas encomendas ao longo da semana.
       O tempo foi passando e o senhor atingiu a perfeição na arte de fazer empadas de todos os sabores e assim ia seguindo a vida entre frango com catupiry, palmito, camarão, bacalhau e outros sabores. Decidiu mudar de cidade e acabou optando por Guarulhos e seguiu fazendo e vendendo as empadas pelo comércio local da cidade.
       As novas amizades começaram a aparecer e situações inusitadas eram constantes no cotidiano do vendedor de empadas que seguia em frente com sua caixinha de isopor no ombro e um sorriso no rosto em busca de novos clientes.
       Em um determinado dia após vender seis empadas para uma simpática senhora a mesma disse que não tinha onde armazenar para levar para casa e após alguns minutos abriu uma bolsa e pegou seis porta dentadura e colocou as empadas cuidadosamente e seguiu para casa toda sorridente e feliz.
       As histórias continuavam a surgir constantemente e um senhor dono de uma papelaria comprava as empadas porque lembrava da mãe que fazia empadas e o pai ia vender no comércio local.
       De porta em porta as empadas eram comercializadas diariamente e os fregueses começaram a aumentar até que um rico comerciante ofereceu um local para que as empadas fossem comercializadas sem o sacrifício de ficar andando e andando pelas ruas da cidade.
       Hoje o comércio de empadas na cidade tornou-se uma referência e lá está aquele senhor fazendo e vendendo as melhores empadas de Guarulhos.

6 de mai. de 2017

Inspiração

             E todas às vezes em que eu necessitava galgar mais um degrau da minha existência, aportava em uma “residência” que tanto inspirava-me em estudar e progredir em todos os aspectos da minha existência.
        As mágoas de outrora transformavam em fonte de inspiração, o papel em branco, a mente vagava entre um aceno e outro eu deixava rolar uma lágrima do fundo da alma, empunhava a caneta e escrevia pensamentos do momento que nem sempre eram profícuos.
        Entre um trago e outro no cigarro paraguaio, goles de cerveja de quinta categoria tentava encontrar soluções inatingíveis para o caos do momento. Alguns cachorros latiam no quintal da residência e meu pensamento transportava-me para uma infância bem distante em que os cachorros anunciavam bons presságios.
        Foram inúmeras as vezes em que levantei da cadeira para buscar inspiração para o meu novo texto, o barulho do vento e a chuva traziam um pouco de tristeza, lembranças ecoavam na minha alma vazia naquele momento.
        Felizmente após alguns momentos de reflexão e um pequeno acesso à internet a luz apareceu através de um edital de um Concurso Público para o cargo de Monitor de Creche, de uma Prefeitura do interior do Estado de São Paulo, analisei o edital, o número de vagas, a banca e resolvi investir no cargo e a partir daquele momento o tempo ocioso eram gastos com intensas leituras de matérias específicas.
        Quanto a prova objetiva o medo parecia distante, mas existia a prova prática e o receio de ter desaprendido a trocar uma fralda e preparar uma mamadeira permeavam minha mente.
        As alegrias e o entusiasmo em poder voltar a um passado bem distante quando ajudava minha patroa com estas atividades quando meus filhos eram crianças deram-me forças em lançar-me de corpo e alma em busca daquele cargo público.
        O sono, o cansaço e as horas de estudos às vezes faziam minha inspiração jazer em algum canto da residência em busca de novos ares, novas amizades e assim prosseguia com muita perseverança em busca desta nova etapa da minha vida.
        O tempo foi passando e meu grau de confiança foi aumentando e eis que chega o grande dia da prova. Rodoviária do Tietê sentido interior..

        Entre o vaivém dos pensamentos volto as apostilas em busca de mais um entusiasmo e uma boa dose de inspiração.

19 de jan. de 2016

TIA NINA

...Bati palmas no portão, alguns cachorros vieram me recepcionar e em seguida apareceu a querida tia Nina com um sorriso maravilhoso estampado no rosto. Tia Nina sempre foi e ainda é muito risonha e quando recebia visitas em sua casa ficava muito feliz.Caminhou lentamente até o portão, abriu-o e deu-me um carinhoso abraço e desejou-me uma boa estadia na sua residência.Pedi a benção e beijei a mão da tia Nina  que imediatamente começou a perguntar sobre meus pais, minhas irmãs, se todos estavam bem de saúde. Carregamos a pequena mala até um quarto e ela apresentou minha cama, o guarda-roupa e disse que eu iria dividir o mesmo com dois primos: O Edson e o Evanildo. Eu já tinha conversado com tia Nina sobre o meu objetivo em morar em Jacareí, pois ficava perto de São José dos Campos onde estava a ETEP, escola onde eu iria estudar.O tempo foi passando e tia Nina sempre alegre nos acolhia na sua residência e no seu coração. Comecei a trabalhar em uma construtora para poder manter me e meu único objetivo era estudar muito para tornar-me engenheiro e assim o tempo foi passando e minha juventude na casa da tia Nina foi maravilhosa. Sonhos e realidades misturavam-se cotidianamente e minha mente vagava entre o presente e um futuro cheio de alegria ao lado de pessoas maravilhosas. Como eu trabalhava perto da casa da tia Nina todos os dias eu ia almoçar em casa e entre o embarcar no velho ônibus preto do DNER e descer na Avenida Siqueira Campos e subir a rua Santa Cecília até o bairro do Avareí avistava muitos conhecidos. Na hora do almoço ligava meu radinho de pilha Philco e ficava ouvindo um programa na rádio Bandeirantes com o comunicador Hélio Ribeiro que traduzia lindas músicas que tanto acalentava meu coração.Nos finais de semana sempre acontecia partidas de ping-pong e entre um café e outro ainda sobrava tempo para paquerar lindas meninas que frequentava a casa da tia Nina.Fiquei hospedado na casa da tia Nina durante aproximadamente uns dois anos e foi muito gratificante e prazeroso aquele tempo que ainda trago na minha memória época de plena felicidade..Muito obrigado tia Nina por poder proporcionar época tão linda na minha vida.

31 de ago. de 2015

A DESPEDIDA

             Após quatro meses morando na casa do meu querido primo José Siqueira Junior em Guarulhos, São Paulo, Brasil, chegou a hora de partir. Tinha feito concurso público para trabalhar na Prefeitura de Ilhabela e me chamaram para assumir o cargo e foi em um domingo de fevereiro de 2015 que entre abraços e beijos  coloquei minha surrada barraca de camping nas costas e segui rumo a Ilha...Ilhabela.
               Eu estava muito feliz com a minha convocação e ao mesmo tempo bastante triste em ter que partir e deixar a linda família Siqueira. A despedida foi breve e assim que fechei o portão da casa e comecei a descer a rua sem saída algumas lágrimas brotaram nos meus olhos, respirei fundo, aprumei a barraca de camping no ombro e cheguei no ponto de ônibus da avenida Guarulhos. A mente vagava entre o movimentado trânsito  da avenida, encolhi minha alma, respirei fundo e peguei o ônibus para a rodoviária do Tietê. Ainda na avenida Guarulhos lembrava dos dias ensolarados em que eu vendia sorvetes para o comércio local e quando o ônibus entrou na via Dutra ainda coube a doce lembrança da querida Ednéia, proprietária da sorveteria e que tanto me ajudou. A escassez financeira assustava minha alma e planos mirabolantes movimentavam meus carcomidos neurônios em busca de soluções em como manter me em uma ilha com apenas alguns míseros trocados.
                 A movimentada rodoviária do Tietê estava repleta de pessoas chegando e partindo, num vai e vem frenético como pulsa a veia da querida cidade de São Paulo. Abraços de chegadas e lágrimas de partidas misturavam-se com gritos e alegria de algumas crianças que corriam  pelo imenso corredor da plataforma de embarque. Fechei os olhos e fiz mentalmente uma oração a todos que me ajudaram e me acolheram, persignei-me e entrei calado no ônibus com destino a São Sebastião. Sentei na poltrona dezesseis, abri meu livro e comecei a ler e quando percebi já estávamos na estrada. Alguns sorrisos de felicidade eram interrompidos  por algumas brecadas do motorista do ônibus ...a viagem prosseguia. Na região de Jacareí até São José dos Campos fechei as cortinas da janela do ônibus para apagar algumas lembranças  de pessoas, lugares..mas nada adiantou...As pessoas que tanto amei bailavam na minha mente  e algumas lágrimas de plantão apareceram nos meus olhos durante este trajeto. Na descida da Tamoios consegui cochilar e quando acordei já estávamos em São Sebastião..Ilhabela.

23 de jan. de 2015

O GUARDA-CHUVA




         



           Todas as vezes que chove em me lembro de você e ainda tenho aquele lindo guarda-chuva cor de rosa que você me deu naquele dia que sai de casa em busca de um abrigo. O tempo passou e fiz questão de guardar o guarda-chuva no meu velho guarda-roupa do meu quarto e todas às vezes que abro a porta do mesmo sinto uma saudade imensa de você.
           O tempo passou e hoje estou internado em um asilo, sozinho, rodeado de muitas árvores e muita solidão a espera de uma visita sua, todos os dias ao entardecer fico horas na frente do portão esperando sua presença que nunca acontece. 
         Outro dia começou a chover e eu retirei carinhosamente o guarda-chuva do guarda-roupa e fui até o portão esperá-la e como chovia muito o enfermeiro veio e perguntou quem eu estava esperando e quando eu disse que era você, ele sorriu carinhosamente, passou o braço sobre o meu ombro e pediu que eu entrasse pois ninguem viria visitar-me naquele dia tão chuvoso.                 Entrei silenciosamente e fui direto para o meu quarto e fiquei olhando a sua foto que fiz questão de colocá-la na parede para lembrar dos momentos felizes que passamos juntos .Talvez hoje você até esteja casada morando em outro país, muito feliz ao lado de seu marido e lindos filhos e até tenha esquecido da minha pessoa, mas saiba que jamais esqueci você.
           As pessoas por aqui são muito atenciosas comigo e na hora do almoço quando a comida é servida  faço questão de amassar todos os grãos de feijão e levar a colher a boca vagarosamente assim como fazia para alimentá-la quando você era apenas uma garotinha.
           Outro dia eu estava sentado em um banco do jardim do asilo quando avistei uma garotinha andando de bicicleta pela calçada na frente do asilo e imediatamente veio a doce lembrança de quando a ensinei a andar de bicicleta no Parque Brasil, lembra-se? 
            As alegrias por aqui resumem-se em folhear meus livros que escrevi diversas crônicas relatando os sublimes momentos vividos ao seu lado, fico horas lendo as crônicas embaixo de uma frondosa árvore, fecho-o, algumas lágrimas correm pelo meu enrugado rosto e entro para jantar e juntar-se com minha amiga solidão. Fecho os olhos e sonho com você e repentinamente sou acordado pelo enfermeiro dizendo que tenho uma visita e quando abro os olhos vejo você a minha frente sorridente trazendo um lindo buquê de flores. Entre abraços e lágrimas fecho novamente meus olhos e volto a dormir o sono eterno.




19 de dez. de 2014

A FORMATURA

   


   
 A chuva no dia da minha formatura começou cedo, muito cedo e entre abraços e beijos entrei no carro do meu irmão Robson entre alguns pingos que insistiam em molhar meu lindo vestido de formatura.
      A primeira marcha foi engatada e entre vários faróis vermelhos e verdes minha alma estava muita branda e meus olhos um pouco lacrimejados de emoção pelo momento único da minha vida. 
    Sentei-me delicadamente no banco traseiro do carro, abri minha bolsinha e retirei um terço e comecei a rezar agradecendo a longa caminhada e toda a minha felicidade não cabia na grande metrópole.Ah...como eu estava feliz! Gostaria que todos estivessem presentes naquele momento...mas nem todos estavam presentes, algumas pessoas não estariam lá, pois já tinham partido para outro mundo
     .O carro parou em frente a uma linda faculdade e ouvi a voz do meu irmão: Podem descer e desçam rápido pois terei que estacionar o carro um pouco mais na frente. Paramos e ainda faltavam mais algumas orações para serem rezadas e entre alguns pingos de chuva corremos para dentro da grande festa de formatura.  
     Entramos e logo avistei várias colegas de classe com um brilho nos olhos e entre abraços e beijos fiquei humildemente parada em frente a uma grande janela  observando os pingos da chuva que escorriam pela grande janela.
     Alguns raios e trovões faziam-se presentes e logo fiz uma comparação com aqueles dias de provas difíceis, as saídas rápidas de casa para não perder a aula. Abaixei a cabeça e pensei nos meus pais: José da Silva e Thereza Miranda da Silva e um pouco trémula balbuciei algumas palavras entre algumas lágrimas que desciam pelo meu rosto.
    Repentinamente uma colega de classe tocou o meu braço e disse: Você está feliz Silvinha? Abracei-a e agradeci a todos por estarem presentes naquele momento.
      Entre fotos e lágrimas a chuva continuou a cair e entre abraços e beijos senti-me plenamente feliz e novamente agradeci ao Senhor. Formei-me! Obrigada Senhor! Obrigada a todos que passaram por aquele momento todo especial.Nossa formatura.